DI_90BF24a
Without Title
ID | 90 |
Participant | M. Silva |
Gender | Feminino |
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muito
obrigada
desculpe
a
dimensão
do
material
mas
/
eh
/
hhh
/
está
feito
já
está
feito
hhh
o
que
é
que
lhe
pareceu
isso
tudo
?
para
além
de
aborrecido
ah
interessante
hhh
ah
não
é
é
é
para
o
estudo
portanto
fazer
julgo
que
está
pelas
palavras
que
apareceram
assim
que
está
adequado
tem
interesse
tem
interesse
então
aqui
para
a
nossa
região
ah
a
questão
do
an
por
exemplo
o
an
para
o
on
não
é
?
é
eu
não
digo
que
não
saia
às
vezes
porque
é
é
natural
é
natural
porque
a
própria
esta
região
é
assim
/
é
o
on
/
é
o
pão
e
e
[
/
]
e
e
é
uma
coisa
que
nós
[
/
]
nós
aqui
na
cidade
temos
muito
...
arreigado
arreigado
não
e
[
/
]
e
nós
professores
se
tentamos
corrigir
aos
miúdos
pois
é
o
que
eu
lhe
ia
perguntar
que
é
o
é
?
oh
é
muita
vez
por
exemplo
e
e
[
/
]
e
prolongar
o
an
"
oh
mãe
pois
dá-me
pão
"
pois
nós
somos
sempre
ah
eh
eh
eh
eu
então
exigia
este
ano
estou
sem
alunos
sim
?
porque
o
ano
passado
acabei
com
um
esgotamento
e
ah
e
eles
diziam
[
/
]
e
eu
já
dizia
alguns
já
tinham
isso
por
disco
que
eu
dizia
eh
"
o
conceição
dá-me
pão
"
hhh
hhh
eles
já
tinham
isso
no
disco
"
oh
senhora
professora
olhe
que
ele
está
a
dizer
"
/
tentava
corrigir
/
não
digo
que
também
não
me
saia
às
vezes
porque
isso
é
natural
realmente
e
os
bês
com
os
vês
também
como
é
que
se
faz
para
explicar
às
crianças
que
esta
zona
aqui
é
terrível
falam
normalmente
com
[
/
]
com
esse
tipo
de
característica
ah
fonética
que
devem
escrever
de
outra
maneira
?
...
é
difícil
para
alguns
é
difícil
/
e
para
a
leitura
?
mas
eu
até
tenho
...
ao
dar
logo
na
primeira
classe
tenho
de
começar
logo
no
primeiro
ano
/
sim
ao
dar
os
ditongos
/
fazes
a
distinção
entre
o
ditongo
oral
e
o
nasal
e
ao
explicar
o
ditongo
nasal
o
ã
õe
ãe
...
explicar
mesmo
fazer
essa
correção
/
para
os
obrigar
em
casa
até
a
emendar
os
próprios
pais
e
e
uma
maneira
que
eu
costumava
levar
os
meus
alunos
era
isso
mesmo
/
era
dizer-lhes
a
eles
que
corrigissem
os
pais
pois
de
modo
a
introduzir
a
a
para
lhes
dar
a
vontade
de
de
de
eu
fazia
isso
com
muita
coisa
até
por
exemplo
com
os
coletivos
eles
chegavam
a
casa
e
eu
tinha
pais
que
às
vezes
vinham
dizer
"
oh
senhora
professora
está
a
arranjar-me
um
rico
sarilho
em
casa
"
porque
ele
veio-me
perguntar
o
que
é
uma
vara
o
que
é
uma
cáfila
e
não
sei
quê
e
eu
não
sei
e
depois
ele
goza
e
depois
mais
não
sei
quê
e
e
com
essas
palavras
também
hum
hum
e
alguns
consegue-se
outros
hhh
é
difícil
principalmente
depois
a
escrever
...
que
aqui
também
há
muita
mania
do
do
eu
eu
ah
"
eu
queres
?
"
é
impossível
o
quis
e
e
o
e
eu
foi
quis
"
eu
quis
e
ele
"
q
ah
e
o
foi
então
eu
foi
não
?
eu
foi
então
eu
já
tive
logo
nos
primeiros
anos
/
para
aí
no
sexto
ano
que
trabalhei
/
tinha
na
sala
um
miúdo
que
dizia
sempre
"
senhora
professora
eu
já
fez
eu
professora
eu
já
fez
"
/
eu
disse
"
oh
filho
não
é
fe
não
é
fez
é
fiz
/
quando
fores
tu
tens
de
dizer
eu
fiz
"
mas
eram
miúdos
com
com
muitos
problemas
hum
hum
e
até
que
eu
tanta
vez
disse
na
sé
/
aqui
na
escola
da
cidade
na
sé
/
hum
hum
tanto
vez
disse
aquilo
que
o
miúdo
um
dia
levantou-se
diz
ele
"
senhora
professora
já
fiz
"
os
miúdos
estavam
tão
habituado
ao
dizer
"
oh
filho
não
é
já
fez
é
já
fiz
"
hhh
diz
um
"
oh
palerma
não
é
já
fiz
é
já
fez
"
hhh
hhh
hhh
quer
dizer
o
disco
yyy
/
hhh
/
saiu
ao
contrário
hhh
saiu
hhh
ele
finalmente
tinha
dito
bem
saiu
ao
contrário
é
verdade
e
a
outra
coisa
são
os
verbos
em
er
então
?
também
é
outra
coisa
que
a
pro
o
é
ou
iu
comer
comeu
não
é
?
e
os
verbos
terminados
em
ir
é
iu
mas
aqui
aqui
no
norte
é
muito
o
iu
ele
saeu
,
ele
abreu
hhh
em
vez
de
e
é
uma
conson
[
/
]
consumição
não
digo
também
que
não
saia
às
vezes
a
a
hum
hum
[
/
]
a
nós
próprios
porque
ouve-se
tantas
vezes
mas
é
outra
coisa
que
se
costuma
corrigir
/
e
eu
como
durante
muitos
anos
dei
explicações
&
ah
aos
alunos
do
ciclo
/
verificava
eu
tentei
[
/
/
]
é
verificava
muito
isso
/
e
tentava
sempre
corrigir
mas
lá
está
/
mas
as
formas
dialectais
mantinham-se
o
que
significa
que
é
muito
difícil
são
as
tais
palavras
mantinham-se
é
incrível
corrigir
isso
desde
logo
é
tem
que
ser
logo
na
na
logo
no
primeiro
ano
tem
que
se
começar
logo
na
escola
primária
porque
é
uma
tendência
natural
da
língua
é
e
pronto
é
porque
depois
em
casa
também
falam
assim
claro
em
casa
falam
sempre
da
mesma
maneira
é
o
caso
da
palavra
/
aqui
no
norte
que
se
usa
muito
/
o
enxertar
hum
é
enx
encetar
qualquer
coisa
como
sabe
aqui
dizem
enxertar
e
eu
consumo
então
que
a
certa
altura
uma
vez
o
miúdo
disse
o
miúdo
já
adulto
/
hum
hum
eu
preparei-o
para
fazer
o
segundo
ano
ele
já
era
adulto
/
e
ele
uma
vez
/
e
ele
disse
ele
disse-me
qualquer
coisa
que
enxertou
e
eu
disse
"
Joaquim
não
me
diga
enxertou
"
já
é
um
homem
ele
já
trabalhava
/
era
carpinteiro
é
encetar
ele
olhou
para
mim
/
parou
/
daí
a
bocado
disse
"
olhe
D.
Madalena
eu
tenho
muita
consideração
pela
senhora
/
hhh
/
mas
nunca
vou
dizer
isso
e
eu
vou
acreditar
que
é
assim
?
porque
pela
consideração
que
tenho
pela
senhora
pela
preparação
já
que
me
tem
dado
/
mas
eu
custa-me
a
acreditar
"
/
hhh
/
eu
disse
"
oh
filho
eu
também
não
quero
que
acredite
eu
vou-lhe
buscar
o
dicionário
"
fui-lhe
buscar
o
dicionário
enciclopédico
e
mostrei-lhe
encetar
principiar
começar
mas
ele
"
tem
razão
mas
eu
vou-lhe
dizer
da
razão
<da
minha>
[
/
]
da
minha
reacção
hum
é
que
a
minha
professora
primária
dizia
enxertar
"
...
pronto
ele
já
era
um
homem
e
dizia-lhe
assim
?
não
ela
ela
ele
ele
dise-me
quem
era
e
eu
sabia
que
a
senhora
tinha
um
campo
de
certeza
que
não
foi
nesse
contexto
que
ela
lhe
disse
a
palavra
enxertar
...
"
foi
porque
eu
ia
lá
buscar
não
sei
o
quê
e
ela
foi
ia
buscar
a
lavagem
"
antes
ia-se
buscar
para
para
dar
[
/
/
]
para
alimentar
os
porcos
na
aldeia
e
era
numa
aldeia
que
ele
morava
"
eu
ia
lá
a
casa
buscar
a
lavagem
e
não
sei
quê
e
ela
anda
cá
bebe
um
calinhos
de
vinho
do
porto
"
"
ai
não
quero
não
quero
"
"
não
opá
não
não
tens
problema
que
já
fizeste
a
enxertada
"
e
eu
vejo-me
aflita
aqui
também
mesmo
na
cidade
com
essa
palavra
os
miúdos
ai
é
?
tem
que
se
levar
o
ano
passado
levamo-lo
mas
é
o
quê
?
enxertar
enxertar
[
/
/
]
vamos
ao
ribeiro
/
é
outra
coisa
enxertar
é
fazer
um
enxerto
depois
ele
veio
ao
levámo-los
a
escola
foi
toda
a
tarde
aos
viveiros
da
Câmara
e
o
senhor
jardineiro
pedia
até
para
explicar
propositadamente
o
que
era
um
enxerto
/
o
que
era
a
enxertia
/
claro
para
ver
se
a
palavra
ficava
mais
mas
lá
está
depois
não
conseguíamos
bem
o
outro
não
acreditava
em
mim
porque
a
professora
dizia
o
outro
sim
sim
portanto
ah
a
outra
professora
tinha
outra
norma
e
são
são
palavras
e
e
em
casa
também
diziam
mas
é
que
toda
a
gente
diz
é
é
toda
a
gente
eu
mesmo
tenho
na
família
quem
diga
já
me
já
vai-se
às
vezes
corrigir
porque
às
tantas
às
vezes
até
me
dizem
assim
"
ainda
bem
que
não
dizes
asneiras
nenhumas
"
mas
eu
não
digo
até
sei
são
tantos
anos
a
ouvir
hhh
hhh
já
é
natural
não
é
?
hhh
até
sai
mas
já
já
há
muitos
anos
que
trabalha
nesta
escola
ou
não
?
nesta
há
doze
há
doze
anos
/
foi
na
altura
em
que
ela
abriu
ou
não
/
estava
aberta
talvez
há
uns
dois
ou
três
anos
hum
hum
talvez
uns
dois
ou
três
trabalhou
noutras
escolas
cá
em
braga
portanto
trabalhei
na
Sé
e
na
Maximinos
hum
hum
há
diferenças
entre
esta
escola
e
as
outras
muito
sensíveis
ou
não
?
hum
em
termos
de
população
hum
/
sim
aqui
talvez
aqui
talvez
seja
agora
pior
por
causa
do
bairro
é
?
embora
eu
também
tinha
só
na
sé
é
que
não
tive
ciganos
tinha
em
maximinos
também
tive
ciganos
também
não
iam-lhe
dar
problemas
miúdos
de
etnia
cigana
não
aqui
nesta
escola
temos
mais
problemas
com
miúdos
do
bairro
chamado
bairro
do
bairro
social
/
hum
hum
de
famílias
que
ou
que
vendem
droga
ou
que
andam
na
droga
/
miúdos
que
nos
causam
mesmo
problemas
porque
que
tipos
de
problemas
?
não
têm
educação
/
é
?
capazes
de
mandar
a
professora
dar
uma
volta
e
saiem
ao
intervalo
/
temos
aí
dois
à
tarde
ah
/
sei
lá
e
não
ligarem
nenhuma
e
insultarem
as
miúdas
não
obedecem
/
os
pais
ainda
o
pais
ainda
foram
convocados
há
dias
para
uma
reunião
e
não
aparecem
se
calhar
não
vieram
à
reunião
mas
depois
foram
convocados
para
vir
confrontar
os
outros
pais
/
porque
vieram
fazer
queixa
que
um
desses
miúdos
apalpava
as
pequenas
e
chamava-lhes
nomes
claro
e
as
mães
insurgiram-se
e
a
mãe
veio
e
disse
até
que
acabava
por
ficar
com
pena
dela
/
não
sabia
mais
o
que
lhe
havia
de
fazer
dá
a
entender
que
à
pancada
o
miúdo
não
devia
ir
e
não
senhora
/
pois
não
é
à
pancada
não
é
?
mas
ela
também
disse
"
eu
já
não
sei
o
que
hei
de
fazer
"
e
ele
e
ele
agora
estes
dias
tem
tem
andado
assim
mais
caladito
/
vamos
lá
ver
mas
é
sol
de
pouca
dura
depois
são
miúdos
já
com
treze
anos
doze
treze
anos
hum
hum
têm
uma
aprendizagem
muito
lenta
esta
escola
aqui
é
uma
escola
porque
não
têm
só
de
ensino
básico
?
só
de
ensino
básico
ainda
e
de
intervenção
prioritária
precisamente
por
ter
esses
casos
ter
miúdos
de
etnia
cigana
já
tivemos
mais
do
que
o
que
temos
mas
não
causam
problemas
não
?
ah
não
o
o
maior
problema
que
eles
nos
dão
é
faltarem
muito
é
falta
de
assisuidade
por
causa
das
feiras
/
vão
para
as
feiras
com
os
pais
de
resto
/
não
eles
ah
obedecem
a
uma
noção
do
tempo
os
que
temos
a
frequentar
mais
ou
menos
como
nós
ou
ou
realmente
em
termos
ah
culturais
eles
funcionam
de
forma
diferente
?
eles
têm
uma
forma
diferente
entendem
que
de
que
que
nós
tentamos
fazê-los
ver
que
devem
prodecer
como
os
outros
para
serem
[
/
/
]
terem
os
mesmos
direitos
têm
que
ter
regras
também
as
mesmas
obrigações
as
me
e
cumprir
as
mesmas
regras
/
e
vir
e
não
faltar
/
e
aí
na
assiduidade
é
que
a
coisa
está
assim
um
bocadinho
...
de
resto
não
temos
aqui
aqui
não
temos
que
dizer
esta
escola
com
hm
hm
em
relação
aos
miúdos
etnia
é
só
realmente
faltarem
e
[
/
]
faltarem
mais
o
facto
de
eles
virem
eh
eh
vêm
durante
o
ano
inteiro
apesar
de
faltarem
episodicamente
/
sim
sim
significa
que
eles
estão
mais
ou
menos
fixos
?
sim
sim
sim
ou
ainda
continua
a
ser
muito
iterar
a
escola
/
como
antes
eh
este
ano
até
foi
talvez
o
ano
que
tivemos
mais
transferências
sim
?
porque
mas
muitas
vezes
é
por
causa
das
das
casa
há
alunos
que
não
se
adaptaram
aqui
às
casas
e
preferem
viver
nas
barracas
e
como
nesta
zona
não
tem
barracas
/
eles
vão
lá
para
baixo
para
Maximinos
para
a
zona
de
...
não
me
recordo
agora
o
nome
em
Maximinos
há
uma
zona
que
que
é
só
não
é
perto
do
Monte
de
São
Gregório
eles
estão
a
Câmara
até
prometeu
fazer-lhes
umas
habitações
e
tal
e
acabar
com
[
/
]
com
aquelas
barracas
/
mas
eles
se
calhar
não
querem
mas
eles
gostam
pois
se
maneira
que
há
os
que
moram
aqui
lá
vão
estando
e
vêm
vêm
temos
qui
miúdos
que
têm
assisuidade
outros
não
oh
depois
quando
têm
um
casamento
nunca
é
um
dia
nem
dois
são
capaz
de
faltar
uma
semana
/
ai
é
?
é
capazes
são
festas
a
sério
hhh
de
faltar
uma
semana
porque
são
festas
a
sério
exato
eles
têm
dinheiro
mas
têm
certas
tradições
que
/
pronto
tem
quês
e
e
de
do
ponto
de
vista
de
[
/
/
]
da
enfim
da
[
/
/
]
do
confronto
de
de
culturas
é
possível
aproveitar
a
experiência
diferente
deles
para
fazer
com
que
os
outros
também
compreendam
que
existem
outras
maneiras
de
viver
ou
dar
valor
ou
isso
realmente
não
não
ah
às
vezes
aproveita-se
aproveita-se
se
eles
os
outros
miúdos
gostam
até
de
de
de
os
ouvirem
a
contar
histórias
episódios
exatamente
por
exemplo
o
casamento
hm
hm
o
casamento
cigano
/
ou
a
maneira
como
eles
estão
pedidos
temos
aí
uma
miúda
na
na
na
segunda
classe
ela
já
tem
nove
anos
mas
que
já
está
pedida
em
casamento
já
tem
ai
é
?
já
tem
já
tem
um
noivo
/
já
tem
hhh
é
engraçado
/
elas
são
prometidas
mais
tarde
se
nao
gostarem
/
tem
também
umauma
cerimónia
qualquer
que
é
"
partir
a
cabaça
"
segundo
eles
dizem
ah
sim
?
e
é
é
engraçado
e
e
há
assim
uns
certos
rituais
/
sei
lá
como
por
exemplo
temos
aqui
um
miúdo
que
a
mãe
tem
vinte
e
dois
anos
/
está
viúva
há
um
ano
e
pouco
/
ficou
com
três
filhos
porque
casou
com
dezasseis
e
eh
anda
tudo
a
preto
e
não
tiram
o
preto
pois
até
um
lenço
atado
na
cabeça
/
ah
o
miúdo
é
um
amor
o
mais
velhito
está
agora
na
primei
no
primeiro
ano
/
tem
seis
anos
/
a
eu
ainda
no
outro
dia
lhe
disse
ela
foi
nossa
aluna
já
aqui
/
hm
hm
disse
"
tira-me
esse
preto
tira-me
esse
lenço
da
cabeça
"
"
ai
senhora
professora
não
posso
tirar
é
tradição
"
"
é
tradição
o
quê
tira
o
lenço
és
tão
nova
"
"
ai
senhora
professora
homens
não
quero
mais
"
porque
ele
morreu
com
[
/
]
com
uma
overdose
na
cadeia
estava
preso
o
mal
é
que
alguns
estão
andam
metidos
na
droga
na
droga
e
então
ela
diz
que
não
tira
e
consumi-mo-la
eu
e
a
dona
Guilhermina
estivemos
como
já
temos
muito
somos
as
mais
antigas
cá
na
escola
/
e
já
a
conhecem
bem
e
conhecemo-la
bem
e
tratamo-la
por
tu
e
"
tira-me
isso
porque
és
uma
rapariga
tão
bonita
"
porque
é
hm
hm
e
ela
"
não
tiro
e
eu
se
tirar
não
me
deixam
entrar
mais
no
cemitério
"
outra
coisa
e
os
outros
miúdos
ficaram
cho
ah
chocados
claro
ah
riram-se
"
e
não
podem
entrar
no
cemitério
porquê
?
"
"
não
posso
entrar
no
cemitério
porque
não
me
deixam
já
não
tenho
o
direito
de
ir
à
campa
dele
"
e
eu
"
oh
filha
e
tu
ires
à
campa
dele
o
que
é
que
te
dá
?
que
te
faz
?
"
"
ai
senhoraprofessora
sinto-me
muito
bem
ir
à
campa
yyy
"
"
vais
andar
a
vida
toda
assim
?
lembra-te
que
tens
vinte
e
dois
anos
"
"
ah
e
o
que
importa
?
"
ela
foi
educada
com
aquela
[
/
/
]
naquelas
regras
na
n
n
dentro
de
&d
[
/
/
]
naquelas
regras
e
acabou
e
se
alguém
furar
essas
regras
realmente
é
excluído
?
por
exemplo
se
ela
agora
tirar
o
luto
é
excluída
/
não
entra
mais
no
cemitério
provavelmente
não
é
aceite
yyy
há
aí
outra
que
quis
fugir
a
isso
e
fugiu
com
não
aparece
aqui
eles
mesmo
os
miúdos
dizem
"
ela
se
aparecer
matam-na
"
/
hhh
/
perseguem-na
se
qualquer
maneira
/
ela
não
aparece
mas
%
eh
ela
saiu
com
com
algum
não
cigano
yyy
acho
que
sim
acho
que
sim
/
julgo
que
sim
yyy
traição
não
voltei
a
saber
nada
/
pois
constou-se
isso
ela
que
saiu
com
outro
porque
não
queria
ficar
toda
a
vida
também
presa
ao
luto
e
presa
pois
ah
ainda
há
dias
uma
miúda
disse-nos
uma
coisa
muito
engraçada
/
ele
também
diz
ela
assim
"
senhora
professora
não
diga
nada
mas
a
a
Mara
"
que
é
uma
cigana
que
já
está
viúva
há
uns
treze
anos
treze
ou
catorze
/
e
a
miúda
disse
"
ai
sabe
que
a
Mara
já
não
se
lava
há
catorze
anos
"
credo
é
elas
não
se
podem
lavar
durante
um
ano
ui
quando
ficam
viúvas
/
hhh
/
mas
a
miúda
diz
que
elas
que
and
/
hhh
/
/
hhh
/
nós
não
acreditávamos
mas
ela
diz
que
sim
ela
realmente
anda
de
lenço
atado
à
cab
aos
queixos
/
hhh
/
e
ah
/
cheiram
tão
mal
é
essa
foi
das
tais
que
quando
eu
vim
quando
eu
vim
para
esta
escola
fui
[
/
]
fui
professora
de
um
de
um
dos
filhotes
dela
e
ela
dizia
e
eu
dizia-lhe
ela
era
linda
era
uma
cigana
daquelas
lindas
lindas
agora
já
está
gorda
está
e
sempre
de
preto
/
sempre
de
roupa
até
aos
pés
e
sempre
de
lenço
atado
na
cabeça
e
eu
digo
"
Mara
tire-me
esse
lenço
"
"
ai
senhora
não
tiro
qualquer
dia
"
"
Mara
tira
esse
lenço
"
nada
até
hoje
então
a
miúda
dizia
que
ela
não
se
lava
"
ela
é
porca
senhora
professora
não
diga
nada
porque
ela
é
má
não
diga
"
/
hhh
mas
mesmo
assim
disse
tem
muita
graça
mas
isso
disse
baixinho
/
os
outros
miúdos
não
ouviram
mas
todos
gostam
de
ouvir
e
entendem-se
bem
é
?
eles
têm
uma
tem
propensão
para
brincarem
todos
juntos
no
recreio
elas
juntam-se
com
os
ciganitos
até
ai
é
?
daqui
a
bocado
é
recreio
se
quiser
apreciar
hm
hm
pode
ver
algumas
/
mas
outros
aqueles
que
nunca
faltam
/
como
é
o
caso
de
umas
miúdas
que
estão
lá
em
baixo
no
terceiro
ano
ah
já
se
juntam
com
com
os
outros
com
os
outros
/
já
são
limpinhos
/
não
temos
que
dizer
hm
e
não
são
não
não
temos
eh
por
vezes
tão
mal
educados
justamente
como
do
ora
bem
/
tivemos
aqui
uns
três
ou
quatro
casos
de
uns
miúdos
que
já
andaram
olhe
um
filho
precisamente
dessa
viúva
/
hm
hm
dessa
tal
Mara
/
esse
consumiu-nos
/
até
andou
aqui
até
fazer
quinze
anos
e
ela
ainda
queria
que
andasse
mais
meu
deus
mas
não
aprendia
nada
e
já
era
um
miúdo
que
já
não
obedecia
a
qualquer
professor
já
a
minha
dona
Guilhermina
lá
está
/
como
estamos
aqui
há
mais
tempo
ele
já
e
ela
dizia
"
ai
se
as
senhoras
ficarem
com
ele
ele
só
gosta
de
ir
para
a
senhora
porque
é
que
não
fica
com
ele
e
tal
"
"
o
filha
este
ano
não
tenho
alunos
"
não
pode
ser
não
pode
ser
e
já
o
ano
passado
também
não
era
porque
ele
já
era
muito
grande
e
e
não
aprendia
ele
não
tinha
interesse
ele
tinha
interesse
era
de
andar
a
passear
pois
não
valia
mas
não
não
causam
problemas
e
os
outros
miúdos
/
ai
tenho
e
depois
tenho
a
eles
têm
uma
fala
própria
quando
eles
querem
que
que
que
ninguém
perceba
hm
hm
eles
lá
conversam
entre
eles
então
os
outros
isso
acham
e
isso
é
uma
fala
como
?
então
que
ninguém
entende
ah
é
um
dialeto
qualquer
que
eles
têm
mistura
qualquer
não
?
é
uma
mistura
que
não
se
entende
/
/
mas
há
palavras
que
se
percebam
ou
não
?
nada
eles
lá
se
entendem
...
não
se
percebe
nada
alguns
que
é
aquele
género
do
espanhol
/
pronto
um
espanholito
como
dizia
um
que
eu
tinha
aí
hm
hm
o
rapazito
agora
também
deve
estar
com
dezanove
anos
/
e
meteu-se
na
droga
nem
sei
o
que
é
feito
deles
e
ah
e
esse
percebia-se
porque
esse
diz
que
era
espanholito
/
hhh
/
ele
até
tentou
uma
cura
de
desintoxicação
na
Espanha
mas
parece-me
que
voltou
ao
mesmo
mas
o
lá
na
fala
que
eles
engendram
não
sei
de
que
maneira
/
não
se
consegue
entender
não
se
percebe
não
mas
isso
era
às
vezes
eles
diz
que
era
para
para
que
isso
que
já
é
antigo
que
era
uma
maneira
de
comunicarem
uns
com
os
outros
nas
feiras
para
para
dos
negócios
e
para
fugir
à
polícia
fugir
à
polícia
por
causa
da
polícia
e
sei
lá
pois
desenvolveram
aquela
maneira
de
falar
que
les
permitia
eles
têm
não
serem
entendidos
e
avisarem-se
uns
aos
outos
não
serem
percebidos
não
serem
entendidos
pelos
outros
e
avisarem-se
uns
aos
outros
/
hhh
/
eles
têm
uma
teia
de
ligações
muito
bem
estabelecida
que
lhes
permite
por
um
lado
respeitarem
hierarquias
e
hm
hm
e
por
outro
ah
e
respeitam
nós
aqui
há
uma
meia
dúzia
de
anos
tivemos
aqui
problemas
com
alguns
de
manhã
miúdos
que
andavam
de
manhã
esses
tais
grandes
/
hm
hm
começaram
a
causar
problemas
/
e
porque
não
queriam
a
manhã
/
de
uma
maneira
geral
vão
para
as
feiras
ou
ficam
a
dormir
e
toda
a
gente
queria
a
tarde
houve
aí
uns
três
ou
quatro
que
começaram
a
causar
problemas
e
então
eu
fazia
parte
da
direção
da
escola
/
fui
com
o
director
/
fomos
pedir
ajuda
à
polícia
/
falámos
com
o
comissário
falámos
com
...
com
um
senhor
da
ação
social
que
estava
ligado
à
também
à
aos
ciganos
e
&
ah
/
tivemos
aqui
uma
reunião
e
decidimos
ir
falar
com
o
chefe
deles
que
é
o
tal
cigano
Maia
...
devo
dizer-lhe
ele
foi
uma
pessoa
espetacular
ele
não
veio
aqui
à
reunião
porque
nao
podia
e
então
eu
e
o
director
fomos
ter
com
ele
a
uma
loja
que
ele
tem
em
Santa
Tecla
e
ele
não
podia
ter
sido
mais
atencioso
mais
atencioso
na
medida
em
que
diz
ele
"
os
senhores
professores
podem
estar
certos
que
dentro
de
dias
/
se
voltar
a
acontecer
a
mínima
coisa
que
seja
o
mínimo
desrespeito
"
[
/
/
]
porque
esse
tal
da
Mara
era
capaz
de
chegar
aqui
encontrou
uma
era
?
professora
novita
e
ele
saltava
por
cima
das
carteiras
e
então
/
isso
nunca
tinha
acontecido
/
e
diz
ele
"
podem
estar
descansados
que
os
senhores
vão
ver
"
deu-nos
o
telefone
de
casa
dele
deu
o
telefone
da
loja
/
a
verdade
é
que
a
partir
daí
não
houve
mais
problemas
a
coisa
entrou
ele
reuniu-os
falou
com
eles
nós
ainda
tentámos
primeiro
fomos
ao
bairro
/
falámos
com
umas
pessoas
um
senhor
que
é
sapateiro
ele
disse
"
olhe
ele
aqui
realmente
/
o
Maia
vem
várias
vezes
e
tal
"
mas
o
melhor
é
pronto
porque
eles
às
vezes
têm
assim
uns
uns
há
um
que
é
o
eles
normalmente
respeitam
os
mais
velhos
e
aqui
em
Braga
pelos
vistos
é
esse
Maia
anda
até
sempre
vestido
de
branco
todo
ai
é
?
muito
bem
vestido
/
hhh
/
é
um
senhor
muito
muito
distinto
forte
é
mas
é
distinto
/
tem
tem
uma
certa
distinção
tem
o
que
é
certo
é
que
a
coisa
resultou
acabou
nem
foi
preciso
telefonar-lhe
mais
ele
lá
falou
com
eles
com
os
pais
lá
os
reuniu
lá
fez
qualquer
ameaça
"
não
quero
mais
problemas
"
que
acabou
pronto
acabou
por
acaso
resolveu
o
problema
/
hhh
e
já
com
os
outros
está
a
ver
é
mais
meiguito
diz
que
não
sabe
o
que
lhes
há
de
fazer
/
está
a
ver
?
nós
também
não
sabemos
/
/
hhh
/
e
aquele
nem
sequer
era
pai
de
nenhum
dos
que
causa
problemas
e
ainda
impôs
as
suas
ordens
e
resolveu
o
problema
não
não
por
acaso
foi
também
são
su
ah
comunidades
mais
pequenas
?
é
e
e
de
uma
maneira
geral
eles
eles
não
admitem
nenhuma
falta
de
respeito
às
pessoas
de
idade
é
engraçado
no
ano
passado
tinha
um
ciganito
eu
aprecio
muito
isso
eu
tinha
um
ciganito
o
ano
passado
que
era
um
espetáculo
de
de
de
inteligente
/
mesmo
inteligente
me
olhe
ainda
há
bocado
veio
aí
hm
hm
mas
tinha
um
defeitozito
na
vista
e
porque
acho
que
foi
de
uma
infeção
/
mas
era
mesmo
esperto
mas
são
já
são
mesmo
tendo
os
ciganos
eles
têm
grupos
e
ele
dizia
que
não
se
juntava
com
com
os
mais
os
mais
escuros
/
ele
é
muito
branquinho
/
hhh
/
eu
não
sei
ele
próprio
tinha
e
era
um
miúdo
que
já
tinha
e
os
próprios
pais
já
queriam
que
ele
que
ele
estudasse
/
tinham
muito
interesse
e
eu
dizia
"
tu
és
tão
inteligente
rapaz
tu
vais
seguir
"
depois
acabei
por
não
o
passar
para
o
quarto
ano
porque
ele
faltou
muito
assíduo
tinha
pouca
assiduidade
e
eu
não
o
passei
e
depois
passou
para
de
manhã
e
agora
a
mãe
ficou
um
bocado
aborrecida
e
tal
atirou-o
para
outra
escola
mas
ele
dizia
é
outra
coisa
que
é
pena
/
é
que
não
ia
estudar
mais
porque
os
ciganos
não
podem
estudar
muito
e
então
as
ciganas
é
que
não
porquê
?
porque
pronto
vão
até
ao
quarto
ano
para
tirar
carta
e
não
sei
quê
/
e
esse
é
espertíssimo
era
o
miúdo
ainda
há
bocado
me
disse
"
oh
senhora
professora
sabe
que
tenho
saudades
da
senhora
?
"
era
das
aulas
de
meio
físico
nas
aulas
de
meio
físico
fazíam
muitas
experiências
e
porque
ele
adorava
ele
bebia
as
palavras
ele
era
um
miúdo
que
sabia
discutir
qualquer
tema
era
fantástico
é
uma
pena
é
uma
pena
esse
mi
era
dos
mais
interessados
até
que
não
que
não
o
deixassem
continuar
é
uma
pena
ela
agora
atirou-o
para
outra
escola
está
na
mesma
no
terceiro
ano
irá
fazer
o
quarto
e
eu
agora
não
tenho
estado
com
a
mãe
mas
hei
de
a
convencer
porque
é
pena
o
miudo
é
esperto
é
mesmo
e
agora
metem-se
nesas
salas
nessas
religiões
/
ele
fazia
parte
da
/
hhh
/
igreja
de
Filadélfia
julgo
que
era
igrejas
e
um
dia
e
um
dia
trouxe-me
uma
série
de
cartões
ele
"
senhora
professora
dá-me
licença
de
distribuir
isto
pelas
professoras
?
"
di
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