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Do lat.*ale, pelo neutro alid, na forma clássica aliud, outra coisa + grăphon, do gr. gráphein, escrever, o termo significa, em rigor, escrito por outrem.
Em paleografia, designa as diferentes configurações que podem assumir sinais gráficos com o mesmo significado e função. Em
O uso do termo enquanto designador de cópia feita por mão alheia ao autor ([Duarte], Glossário) não tem atestação prática, certamente porque esse tipo de cópias é designado pelo termo
C. S.
Paginação: Apenas alógrafa (inventário): de 144B-1 a 144B-61.
Paginação: Há duas paginações. Uma delas, autógrafa: de um lado, de 1 até 20 (pequenos carimbos azuis), e de 21 até 25 e de 28 até 37 (manuscrita a tinta preta); do outro lado, de a3. até a.33 (manuscrita a tinta preta). A outra, alógrafa, de um lado de 1 até 25; do outro lado, de 26 até 54.
Alógrafo: cópia do texto de um autor manuscrita por outra pessoa.
Do lat. anthigraphum (do grego antígraphon, de antí, frente a, e um derivado de gráphein, escrever) designa, em sentido próprio, o texto escrito em frente a outro texto, isto é a cópia. No entanto, em Crítica Textual, usa-se em sentido inverso para designar o testemunho que serviu directamente como modelo na produção de uma cópia; o mesmo que
C. S.
Note-se, contudo, que Cambraia fornece alguns apontamentos úteis nesta direcção, como os relativos à consciência crítica já patente em textos cuja cópia terá sido feita por confronto entre o antígrafo de uma tradução e algum exemplar do texto latino correspondente (...)
A seguinte série de erros conjuntivos assegura a derivação dos manuscritos Tg e B de um antígrafo η perdido (...). Serão agora suficientes poucos erros singulares de B contra Tg para demonstrar a independência deste último em relação ao primeiro, tendo já sido dada como certa a independência de B de Tg através dos erros singulares de Tg referidos na Táb. II.
Os códices Nb e M têm em comum numerosos erros conjuntivos, que provam a sua filiação no antígrafo ζ (...).
A independência recíproca dos dois manuscritos é demonstrada pela existência de uma enorme quantidade de erros singulares de Nb e de Nl. Apresento apenas alguns exemplos, escolhidos entre aqueles que têm um valor separativo seguro (...)
No primeiro caso (4.55) emendo para «screvia[m]>> o «screvia» que Ta e β apresentam. Deve notar-se que no contexto do ramo β nada menos do que quatro testemunhos (Nn, Nb, NI e Th) cumprem independentemente a mesma correcção conjectural (o segundo e o terceiro derivando-a, com toda a verosimilhança, do antígrafo comum ζ): o facto de se tratar de uma conjectura, e não de uma lição transmitida, é demonstrado pela concordância no erro de Tg e B, que seria impossível se ao nível de δ existisse já a lição correcta «screviam».
Refere-se a um tipo de
A repetição da lição estabelecida, menos vantajosa na economia do aparato, pode, no entanto, ser preferível por trazer clareza e objectividade à leitura do aparato, evitando a ambiguidade que pode resultar de um
A opção editorial alternativa ao aparato crítico positivo é o
Alguns editores optam por um aparato misto, que assume uma formulação negativa quando não existe risco de leitura ambígua e positiva nos outros casos.
C. S.
A um aparato que deixa, com regularidade, que a lição do texto seja subentendida, dá-se o nome de «negativo». Não há necessidade de o editor tomar uma decisão firme entre o aparato positivo e o negativo; abordagens diferentes podem tornar-se vantajosas em sítios diferentes. Uma entrada negativa antes sugere uma aberração, e eu recomendaria o uso de uma entrada positiva onde a variante rejeitada se encontre bem atestada ou seja considerada merecedora de reflexão, enquanto alternativa importante.
Elemento indispensável da
Na edição, estes diferentes tipos de informação devem ser registados em áreas topográficas próximas mas distintas; por exemplo, definindo-se duas faixas sobrepostas: na primeira cabe o registo da lições rejeitadas e a descrição de acidentes físicos do suporte e da escrita; na segunda, as justificações consideradas necessárias. O discurso do editor deve ser tão económico quanto possível, rigoroso, objectivo e tendencialmente exaustivo, obrigando, portanto, a uma prática discursiva criteriosa e cuidadosamente ponderada. O uso de abreviaturas é uma prática generalizada que, embora menos imperativa em edições em suporte digital, contribui, no papel, para a economia do aparato.
Além da fundamentação do texto crítico, o aparato constitui, por si só, um corpo de dados que podem ser usados em diversos estudos, por exemplo na análise de tipos e frequência de erros, na identificação da
O aparato crítico não regista variantes gráficas e apenas nalguns casos registará variantes linguísticas, devendo esta última opção ser devidamente justificada. O tipo de texto editado, o público a que se destina e as características particulares do seu campo bibliográfico podem determinar quais os tipos de informação, para além dos acima mencionados, que o aparato disponibiliza, em ordem ao cumprimento do seu principal objectivo, que é a fundamentação do texto crítico.
Embora no corpo da edição o aparato crítico seja por vezes disponibilizado em proximidade topográfica com as
Em rigor, o uso do termo aparato crítico para designar o registo de
Na
O
C. S.
Aparato crítico: parte de uma edição crítica que contém a história da génese do texto, anotações críticas ou extractos de outras versões. No aparato são ainda registadas todas as variantes, ainda que se trate de lições singulares. Relativamente às variantes de forma (gráfica e morfológica), é aconselhável agrupá-las num apêndice ou, pelo menos, descrevê-las no prefácio. O aparato é colocado na parte inferior da página e não nas margens laterais, como faziam os copistas medievais às suas notas. Pode ser um aparato crítico positivo ou um aparato crítico negativo. Embora o primeiro seja mais claro e completo, o segundo é o mais usado por razões de economia. No aparato, as variantes são acompanhadas da sigla do manuscrito de que fazem parte e aparecem sempre pela mesma ordem (com indicação de versos, se for poesia, numeração por períodos, se for prosa). Deve também fazer parte do aparato uma descrição paleográfica de todas as lições e não apenas das rejeitadas. Em caso de interesse, podem registar-se no aparato as conjecturas de editores precedentes ou as lições divergentes adoptadas noutras edições críticas.
APARATO CRÍTICO - conjunto das variantes de uma lição não pertencentes ao texto adoptado, por motivos da sua constituição. No aparato são registadas todas as variantes importantes, ainda que sejam lições singulares. Relativamente às variantes de forma (gráfica e morfológica) é aconselhável agrupá-las num apêndice ou, pelo menos, descrevê-las no prefácio. O aparato é colocado na parte inferior da página e não nas margens laterais, como fariam os copistas medievais às suas notas. Diz-se que um aparato é positivo quando regista todas as variantes com indicação do manuscrito em que aparecem. Um aparato é negativo quando apenas regista as variantes rejeitadas. Embora o primeiro seja mais claro e completo, por razões de economia, o aparato negativo é mais usado. No aparato as variantes são acompanhadas da sigla do manuscrito de que fazem parte e aparecem sempre na mesma ordem (numeração de versos, se for poesia, numeração por períodos, se for prosa). Deve fazer parte do aparato também uma descrição paleográfica de todas as lições e não apenas das rejeitadas. Em caso de interesse, pode registar-se no aparato as conjecturas de editores precedentes ou as lições divergentes adoptadas noutras edições críticas.
Os aparatos críticos têm mais do que uma utilização. A mais importante é a de informar o leitor de quais as partes do texto impresso que dependem da emendatio e quais as que estão sujeitas a incertezas. Mas a maioria das pessoas também depende dos aparatos para obter informações sobre a natureza de determinados manuscritos e escribas, e dos manuscritos e escribas em geral. Infelizmente, quanto mais completa for a informação fornecida pelo aparato para esta última necessidade, menos manuseável ele se torna para a primeira, sendo as pessoas obrigadas a discernir as variantes importantes por entre multidões de outras insignificantes.
O editor literário deve decidir qual o princípio que pretende adoptar, e seleccionar o material em conformidade.
Podem estabelecer-se algumas regras básicas:
1. As lições de apógrafos e de outros manuscritos que não parecem conter nada com valor independente devem ser omitidas, excepto onde o modelo seja ilegível ou onde haja implicação de uma emenda interessante.
2. Variantes de natureza meramente ortográfica devem omitir-se, a menos que elas representem alternativas reais (οίκήσοα: οίκίσαι), ou a não ser que o testemunho do manuscrito seja relevante para a escolha.
3. Conjecturas inúteis devem ser passadas em silêncio; mais precisamente, conjecturas que não só são inaceitáveis, mas são também incapazes de sugerir uma nova e plausível linha de abordagem do problema.
4. Deve ser referido tudo o que, proveniente de qualquer fonte (incluindo a conjectura de um especialista), possa ser ou apontar para a lição verdadeira.
A edição crítica apresenta também o maior interesse para o linguista: não no texto, que estará estabelecido modernizadoramente, mas no aparato crítico. Como Contini mostrou, uma banalização exibida pelo aparato tem, para o linguista, o interesse de revelar uma forma que, na sincronia, era mais frequente e disponível que a lectio difficilior.
À luz do que o espólio hoje evidencia, tornam-se-nos patentes desde já dois factos: em primeiro lugar, os materiais em apreço não manifestam o estado de desenvolvimento que o editor por vezes anuncia; em segundo lugar, a sua intervenção junto desses materiais excedeu em muito o que um critério minimamente rigoroso permitiria, atitude de certo modo agravada pela própria feição das edições, inteiramente destituídas de qualquer aparato critico.
Tão grande é o número de variantes introduzidas pelo editor (cerca de quinze mil), que recenseá-las em aparato a uma edição crítica é praticamente inadequado, porquanto são raras as frases em que não haja diferenças entre o que está no autógrafo e o que se pode ler na edição.
Uma edição deste tipo [crítica] deveria acolher a última versão que o autor deu ao texto (as versões anteriores, genéticas, são por mim dadas na edição diplomática do autógrafo) e remeter para aparato crítico as variantes da tradição.
No aparato crítico (referido ao número da linha em que ocorre o facto a assinalar), dou conta das leituras duvidosas, das lições conjecturadas, das passagens lacunares, e das restantes intervenções a que procedi criticamente.
[...] o texto do testemunho escolhido é dado como texto-base, sendo as variantes registadas em todos os outros remetidas para um aparato crítico, mas sempre de molde a que, numa eventual revisão do processo, elas possam ser reavaliadas e, até, se necessário, recuperadas e integradas no texto-base.
O texto apresentado na edição crítica deverá sempre ser acompanhado por um aparato, isto é, pela indicação de todas as lições textuais não acolhidas pelo editor no texto criticamente elaborado, para que o leitor tenha a possibilidade de verificar e apreciar as escolhas feitas pelo editor.
Os lugares significativos aparecem assinalados no aparato crítico, mas a sua discussão em pormenor é feita nas notas ao texto. A fim de tornar mais fácil a consulta, organizámos o aparato em duas faixas: registámos na faixa superior as lições consideradas erróneas e particularidades da situação manuscrita com incidência na restituição do texto; na faixa inferior, assinalámos apenas as grafias e abreviaturas que foram interpretadas diversamente por parte de outros editores.
Só a edição crítica pode dar conta desse fenómeno, através de duas componentes: por um lado, oferece a transcrição, conservadora ou normalizada, de um texto a qual pode combinar lições de dois ou mais suportes e pode ainda incorporar emendas conjecturadas pelo editor (texto crítico); em separado, apresenta os grupos de variantes dentro dos quais o editor escolheu as formas que fixou no texto (aparato crítico).
A última fase de uma edição crítica é a anotação; pode corresponder a um comentário interpretativo, que muitas edições não têm, das dificuldades do texto, mas deve conter imperativamente a explicitação dos motivos das decisões tomadas pelo editor ao longo das diversas fases: o aparato crítico onde são albergadas as variantes preteridas no estabelecimento do texto, é o principal veículo dessa explicitação.
Dado que o editor nada adianta na “Introducçaõ” sobre os critérios que presidiram à transcrição, nem acrescenta quaisquer anotações ao texto (não há nada que possa equivaler a um aparato), a descrição que se segue da edição de Corrêa da Serra restringe-se, obrigatoriamente, às conclusões da observação das referidas variantes.
Importa salientar que a parte comum a ambos os manuscritos, que cotejámos em pormenor para estabelecer o aparato crítico e fixar o texto, permite afirmar que se trata, na identidade essencial, de uma mesma obra, o que, aliás, nunca foi posto em dúvida desde que sobre eles se realizaram os primeiros trabalhos exploratórios.
O aparato crítico é constituído por duas ordens de notas. Na primeira ordem de notas, sempre encimada por um filete duplo registaram-se pormenores de interesse paleográfico e elementos justificativos de correcções introduzidas no texto, nomeadamente aceitação de variantes substanciais do manuscrito alternativo. Suprimimos a justificação quando as correcções eram óbvias, mas não prescindimos, mesmo nesse casos, do apoio do códice P quando possível.
Também na margem exterior figura a numeração das linhas de cada página, de 5 em 5. As notas do aparato crítico são referidas aos números das linhas.
Para ser crítica, a edição não poderia limitar-se a uma reprodução fidelíssima do texto da 5.ª, descontadas as mudanças próprias da transcrição. Teve igualmente de escrutinar todas as suas lições, à procura de erros ou inconsistências que tivessem sobrevivido desde o manuscrito ou fossem ultimamente adicionados. Resultou um magríssimo aparato crítico de uma dezena de intervenções, em parte já adiantadas por Carvalho e Silva, que adornam alguns rodapés intercaladas com as notas originais de Camilo, estas sempre encabeçadas pelo sinal (*). Não é o volume do aparato que torna crítica a edição, mas a acribia da inspecção a que o texto é sujeito.
Também a respeito de terminologia, César Cambraia, apoiado em tradição forte expandida por diferentes quadrantes da reflexão sobre a crítica textual, faz equivalentes os termos “fonte” e “testemunho” [p. 133, 134, 135, passim]. Julgo, em contrapartida, que seria vantajoso distingui-los, mais ainda se se tiver em conta o público a que se destina o manual. Com efeito, acho defensável “testemunho” continuar a ser palavra relativa ao trabalho do editor, remetendo “fonte” para o trabalho do autor. Por isso, a não ser em casos como os antes indicados a propósito da edição interpretativa ou por razões alheias ao trabalho do crítico textual, o aparato de fontes não se funde no aparato crítico.
O minucioso cotejo que deu origem ao seu aparato regista todos os lugares em que o texto não permaneceu intacto entre a 1.ª e a 5.ª edições: nesses casos, é dada também a respectiva lição manuscrita, que serviu de ponto de partida para a evolução desses lugares particulares
Para além do registo exaustivo e codificado de todos os incidentes redaccionais, figuram também no aparato crítico notas com esclarecimentos e informações que me pareceram necessários e que se distinguem por estarem em itálico.
Por isso tive a preocupação de anotar, no aparato crítico, todos os casos em que o instrumento de escrita usado nas intervenções autorais era diferente do que estava a ser usado no corpo do texto, para assinalar que tiveram lugar em momentos de releitura/revisão posteriores.
Coerentemente, este estudioso destacava como problemas mais relevantes a resolver previamente a uma possível edição crítica deste autor «as intrincadas questões levantadas pela determinação da autoria de numerosos textos (principalmente sonetos) disputados por vários poetas quinhentistas, em especial por Camões, em cujo cânone lírico têm sido integrados, alguns desde a edição princeps das suas Rimas, aparecida em 1595», deixando para segundo plano «a fixação das lições mais correctas, acompanhadas do respectivo aparato».
Perante estes manuscritos isolados ou reunidos em espólio, descortina-se a existência de uma segunda crítica textual, a que teremos de chamar «filologia do original presente». Cabem-lhe missões de natureza nova: não precisa de reconstituir um autógrafo que está preservado, mas sim, e através dele, saber como decorreu o acto de criação do texto; não há que percorrer às arrecuas o processo de transmissão textual, mas sim desenhar o percurso criativo seguido pelo texto desde o rascunho até ao seu autógrafo final; não há que fixar conjecturalmente um texto crítico a partir de variantes corrompidas, mas sim identificar e fielmente publicar a etapa da evolução do texto que mais garantias dê de traduzir a vontade inalterada do autor, etapa que geralmente é a mais recente; não há que fazer, com as variantes significativas da transmissão, um aparato crítico que ninguém lê, como nos recorda Tavani a cada passo, mas sim, com as correcções e variantes da reescrita do texto, um aparato genético que ninguém lerá tãopouco.
Informações preciosas não só quanto ao «processo de fabricação da obra», mas também quanto à fabricação da edição, pois são elas que permitem ao editor reconstituir a cronologia da génese e estabelecer o texto crítico. Importa por isso que o editor as compartilhe com o leitor, segundo protocolos consagrados desde a invenção do aparato crítico.
Se os usos do texto crítico são substancialmente os mesmos em ambas as críticas textuais, já os seus aparatos têm constituição e aplicações diversas. No aparato de uma edição tradicional, figuram as variantes rechaça¬das do texto por suposta falta de autoridade. No aparato de uma edição de autógrafo, figuram as variantes do ante-texto, dispostas cronologicamente. Enquanto no primeiro aparato se encontram lições apócrifas, que o tempo foi adicionando ao texto original, no segundo encontram-se as lições que o autor foi modificando e retirando da sua ideia criadora, mas que indiscutivelmente são suas. Sendo habitual chamar ao primeiro aparato crítico, revela-se útil dar ao segundo o nome de aparato genético, sem perder de vista, contudo, que ele é obtido por processos não menos críticos.
Ambos os aparatos, apesar da diferente natureza dos materiais, têm a mesma função de habilitar o leitor a conhecer, reproduzir e testar os procedimentos do editor, função primordial em disciplina científica. Para lá desta função basilar, é costume dizer-se que o aparato crítico serve para não ser lido. Que não é assim sabe quem, seguindo uma sugestão de Contini (1970), tenha utilizado aparatos constituídos por variantes da tradição (muitas vezes banalizações lexicais e morfológicas) para documentar com êxito o estado da língua na época de cada cópia.
São quatro os aspectos a contemplar numa descrição sistematizadora, ainda que incompleta, do aparato: a sua composição, a sua localização, a sua tipologia e a sua redacção. As distinções que acima estabeleci entre edição crítica tradicional e edição crítica de autógrafos não impedem que esta (a que também se pode chamar crítico-genética) tenha um aparato chamado crítico, já que as funções de história do texto e justificação da edição são comuns a ambos os sistemas editoriais.
1. Composição. De uma forma ou outra, ambos os aparatos devem ter notas textuais, que descrevam e justifiquem pontos especiais do texto ou da edição que não se achavam previstos nas regras gerais de procedimento. Ambos devem supor uma recensão dos testemunhos que participaram na edição: mas o facto de, no caso da edição genética, esses testemunhos serem autógrafos e de sobre eles pender a ameaça de um rápido desvanecimento físico recomenda que esta secção (que na edição crítica de Pessoa é chamada «Notícia dos testemunhos») seja particularmente minuciosa e esteja preparada para, no futuro, servir de substituto à visualização do próprio documento. A colação fornece à edição tradicional a lista das variantes da tradição, não aceites no texto crítico, enquanto que na edição genética figuram as variantes e correcções da génese, dispostas cronologicamente (damos-lhe por isso, na edição de Pessoa, o nome de «Aparato genético», que é assim classificado como uma parte, sem dúvida a principal, do Aparato crítico global). Pode haver ainda uma lista das emendas introduzidas pelo editor no texto crítico, a qual terá pouca expressão numa edição genética, pois comporta apenas as emendas de erros autorais, que o editor, se a tanto se atrever, deve administrar com a máxima circunspecção.
2. Localização. A simples enumeração das partes que constituem o aparato dá ideia dos problemas que a sua localização põe. O problema é especialmente importante para o aparato genético, já que para os restantes elementos se aceita como razoável que apareçam no final do volume, quando não na introdução. Basicamente, oferecem-se três localizações:
a) Ou texto e aparato se separam claramente (e o aparato vai para o fim do livro); b) Ou o aparato se assume como auxiliar imediato da leitura do texto (e ocupa o pé e as margens do texto); c) Ou se assume como parte integrante do texto, pelo que este toma a configuração de uma transcrição diplomático-genética (e torna necessária, por isso, uma segunda edição com «texto limpo»)….
3. Redacção. As escolhas que o editor é obrigado a fazer respeitam também à redacção do aparato (que não posso desenvolver aqui) e à sua tipologia. Quanto à redacção, direi apenas que ela implica opções quanto ao modo de descrever a variação: tradicionalmente, como fez Bowers na edição das Leaves of Grass de Whitman (Bowers 1955), cada emenda ou acidente são descritos por meio de uma curta redacção, que figura em nota; as edições mais modernas tendem a recorrer a símbolos, cada um deles correspondente a um tipo específico de intervenção autoral, sistema que economiza a repetição de muita explicação semelhante e que permite uma apresentação da génese formalizada e legível por computador.
3. Aparato crítico
Possivelmente, o único ponto em que todos os autores estão de acordo quanto ao Aparato crítico é aquele que respeita à sua função: albergar todas as informações de interesse para a história da criação e da transmissão do texto e mostrar como foram utilizadas pelo editor enquanto estabelecia o seu texto crítico, tudo isto com o fim de habilitar o leitor a repetir o caminho do editor, verificando os seus argumentos para a escolha e rejeição de lições e propondo, eventualmente, outras soluções editoriais. Neste sentido, o Aparato é o instrumento que permite à edição crítica funcionar de facto como uma «hipótese de trabalho»: sistematiza os materiais de verificação da hipótese e permite que a edição seja «trabalhada» pelo leitor. Este trabalho, ou leitura estudiosa, tem sempre em vista um juízo final sobre a aceitabilidade do Texto crítico; mas, além disso, no caso de obras representadas por testemunhos autógrafos, o Aparato permite que esse trabalho ultrapasse a simples apreciação editorial e vá investigar o processo de génese da obra, através da evidência escrita do autor. Esta utilização estilística ou linguística do aparato, ainda que trans-ecdótica, não pode ser esquecida no momento de planear a disposição do Aparato crítico.
São estas as chamadas variantes da tradição, entre as quais o crítico selecciona aquela que, em seu entender, mais próxima está do original e a integra no texto crítico, enquanto reserva as outras para o aparato crítico, deixando assim evidentes todos os elementos da sua decisão, para revisão por parte do leitor.
Cópia feita por mão alheia ao autor.
Embora etimologicamente o termo designe qualquer cópia (do lat. apogrăphon, cópia; do gr. apógraphos, de apó, da + gráphein, escrever), usa-se apenas para designar testemunhos de
Ver
C. S.
Tendo em vista esse objectivo, fiz as necessárias diligências para encontrar manuscritos autógrafos ou apógrafos que constituissem testemunhos válidos do que Garcia de Resende escreveu para a com¬pilação, mas, como antes referi, não localizei, nem tive notícia de que outrem tenha localizado quer autógrafos, quer apógrafos verdadeira¬mente interessantes, relativos ao Livro.
Os restantes poemas ficaram inéditos até à edição Ática de 1946. O original usado na tipografia não foi directamente MS, mas uma sua cópia feita, com alguns defeitos, por uma mão não identificada: este apógrafo pertence ao Espólio.
Como se vê, incluímos no corpus todo o material autógrafo disponível, e também certo material apógrafo, quase só poético, produto do trabalho dos primeiros editores pessoanos, sobre o qual, apesar de deficiências bem conhecidas, paira uma relativa autoridade, porque pode ter beneficiado de documentos que hoje desconhecemos, ou de manifestações da vontade autoral conhecidas apenas dos amigos do poeta, ou ainda porque em certos casos a edição póstuma é o único testemunho de que dispomos, na falta de autógrafos.
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Tradução do francês avant-texte, este termo foi proposto por Jean Bellemin-Nöel (Le Texte et l’Avant-Texte, 1972), para designar o conjunto dos testemunhos que precedem materialmente um texto e com ele formam um sistema. Diferentemente do
V.
E.P.
Bibliografia
Biasi, Pierre-Marc 2000. La Génétique des Textes. Paris, Biblis.
Bellemin-Nöel, Jean 1971. Le Texte et l’Avant-Texte. Michigan, Larousse.
Aquilo que Jean Bellemin-Noël designa por antetexto, insista-se, é um lugar privilegiado que oferece aos estudiosos a possibilidade de compulsar e analisar o processo de textualização a partir de manuscritos ou dactiloscritos emendados, de forma a reconstituir com plausibilidade os trâmites da feitura da obra até ao momento da sua publicação. Os elementos que o antetexto comporta, ou a natureza dos fenómenos que revela (designadamente os que assinalam situações de interacção discursiva), permitem-nos ter uma ideia do trabalho selectivo do scriptor em função de um projecto de criação literária, que pode ou não concretizar-se plenamente no texto publicado.
Fazem parte do dossier não só o antetexto propriamente dito, ou seja os sucessivos originais desde o primeiro borrão até à cópia mais acabada, como também material anexo como projectos, ensaios, fichas e correspondência, e ainda os materiais tipográficos.
o mesmo que
Ver
C.S.
Antes da descoberta do fólio de pergaminho com fragmentos de sete cantigas de amor de D. Denis, acompanhadas da respectiva notação musical, o editor das cantigas do Rei Trovador—conhecidas através dos dois apógrafos italianos B e V, ou apenas por um deles, B, no caso das cantigas de escárnio e de mal dizer—, colocado perante um erro comum aos dois códices, conjecturava que a alteração da mensagem se teria produzido no antecedente do qual ambos os testemunhos derivam, directamente, segundo uns, através de códices intermediários, segundo outros.
Aproveitando as contribuições de outros filólogos, o alemão Karl Lachmann elaborou um novo método de aproximação aos textos — inicialmente aplicado à tradição bíblica e a obras da antiguidade clássica e da Idade Média alemã — que consistia na aplicação à crítica textual do princípio de maioria: a comparação objectiva entre os diferentes testemunhos permitiria fixar as relações entre eles e, na base dos erros comuns, reuni-los em famílias (isto é, em grupos, cada um dos quais deriva de um antecedente comum, ou «subarquétipo») e identificar também as relações entre estas famílias, que podem ser representadas graficamente num «stemma codicum» ou «árvore genealógica» (...)
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