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Definido em 1986 (Castro & Ramos) como conjunto estruturado de unidades bibliográficas (livros impressos), organizadas em torno de um determinado texto, constituindo um grupo formado pelas edições existentes desse texto, o conceito de campo bibliográfico deve alargar-se, actualmente, a edições que não são livros impressos, isto é edições em suporte digital. Assim, o campo é uma estrutura funcional, cujos elementos são valorizados de acordo com a sua capacidade para a difusão pública do texto; uma boa edição, acessível a muitos leitores, quer em largas tiragens quer em linha, é mais valiosa nesta perspectiva do que uma edição igualmente boa, mas que está esgotada, ou que não se acha no nosso mercado, por isso cumprindo menos bem a missão de comunicar o texto a quem quer que o deseje ler.
O campo bibliográfico ideal é aquele em que, de um texto, existem no mercado, ou são facilmente acessíveis, exemplares de todos os tipos de edição* capazes de satisfazer as necessidades de todos os tipos de leitor potencial.
C. S.
Campo bibliográfico é a designação que propomos para um conjunto estruturado de unidades bibliográficas (livros impressos), organizadas em torno de um determinado texto: o campo de um texto é o grupo formado pelas edições existentes desse texto. Distingue-se de tradição manuscrita por excluir os testemunhos manuscritos que desse texto existam; o campo é uma estrutura funcional, cujos elementos, são valorizados de acordo com a sua capacidade para a difusão pública do texto; uma boa edição, de larga tiragem, acessível a muitos leitores, é mais valiosa nesta perspectiva do que uma edição igualmente boa, mas que está esgotada, ou que não se acha no nosso mercado, por isso cumprindo menos bem a missão de comunicar o texto a quem quer que o deseje ler; o valor de um manuscrito é, neste sentido, praticamente nulo, excluído que se acha da galáxia de Gutenberg, precisamente por esta razão, entre outras.
O campo bibliográfico ideal é aquele em que, de um texto, existem no mercado, ou são facilmente acessíveis, exemplares de todos os tipos de edição capazes de satisfazer as necessidades de todos os tipos de leitor potencial.
Cumpridas estas condições, considera-se que o texto dispõe de um campo bibliográfico completo e perfeito. O único problema que, com o tempo, se poderá vir a pôr é o de haver uma alteração ao nível da tradição manuscrita ou impressa, pois o aparecimento de novos testemunhos ou a reinterpretação textual dos existentes terão de ser reflectidos pelas edições.
Foi na realidade uma dupla edição, estando aí a sua principal novidade: além de um texto mais correcto e reintegrado de passos anteriormente truncados, mas sempre excessivamente modernizador, Magne publicou face a face o facsímile do manuscrito de Viena, a que faltam notas marginais e é especialmente ilegível no 2.º volume, mas que, apesar de tudo, é uma importante contribuição para o conhecimento do romance, cujo campo bibliográfico passou a dispor de uma razoável edição facsimilada e de uma provisória edição crítica completa.
E continuam: «Em que consiste a bondade da opção estratégica? Ou: quais as condições para que o editor escolha cor¬rectamente entre conservação e modernização? A resposta que propomos introduz um termo novo: só é boa a estratégia que decorre da interpretação correcta do campo bibliográfico do texto» [«o campo de um texto é o grupo formado pelas edições existentes desse texto»].
A preparação e publicação de uma edição integral das Musas portuguesas corresponde ao preenchimento de lacuna grave, há muito reconhecida e lamentada, no campo bibliográfico da produção poética em língua portuguesa de D. Francisco Manuel de Melo.
Os problemas que têm afectado a edição de textos queirosianos são tão complexos e diversificados que atingem mesmo obras por vezes consideradas (erroneamente) não-póstumas. Desde que o Prof. Guerra da Cal elaborou o minucioso inventário crítico da bibliografia activa de Eça, dispomos de uma descrição praticamente exaustiva da constituição, erosão e transformações mais ou menos espúrias por que passou o campo bibliográfico queirosiano; desnecessário é dizer que um tal inventário surge aqui como precioso guiã0, num percurso de reconhecimento que se torna imperioso cumprir.
Sistema de referenciação do texto editado que consiste na numeração de segmentos textuais, à qual são indexados os registos no
C. S.
Se Nunes intervém ao nível da estrutura lexical por imposição dos ajustamentos métricos, Magne faz o mesmo para tornar o texto da Demanda36 mais compreensível: introduz «os vocábulos ou mesmo as cláusulas ... indispensáveis para tornar ... o texto compreensível», além de adoptar um «sistema gráfico racional e coerente», que se baseia na ortografia brasileira moderna, com algumas preservações de particularidades nem sempre coerentes, como ele próprio reconhece.
Testemunho
C. S.
Constituída apenas por três cancioneiros (o Cancioneiro da Brancroft Library, sendo, como se disse atrás, um descriptus de V, participa da tradição a um nível diferente) e por mais cinco testemunhos parciais de reduzidas dimensões, a tradição manuscrita da lírica profana galego-portuguesa apresenta-se como um caso único no conjunto da poesia românica das origens.
Dos seis manuscritos que transmitem a Compilação B castelhana11, um revela-se de menor utilidade para este trabalho. Na verdade, S1 contém apenas, dos textos em causa, as vidas de Primo e Feliciano e de Barnabé e mesmo estes em muito mau estado de conservação, de modo que a leitura se torna frequentemente impossível. S1 apresenta uma lacuna que vai de Águeda ao Espírito Santo, abrangendo, portanto, a Ressurreição, Tiago Alfeu e Invenção da Cruz. Sendo S2 cópia directa de S1, só para Primo e Feliciano e para Barnabé é que aquele pode ser considerado descriptus.
Terminaria aqui, se não tivesse companhia que diz exactamente o mesmo que estou a defender. É Alberto Blecua, no Manual de Crítica Textual: «Convém ter em conta que, ainda que os códices descripti ou editiones descriptae não possuam nenhum valor para a reconstrução de fi, as suas variantes podem ser fundamentais para o estudo da influência da obra, como, por exemplo, nas traduções, dado que os tradutores nem sempre recorrem a modelos fidedignos e algumas das suas leituras só se podem explicar através de lições dos códices descripti. Em outros casos, as lições singulares de um codex descriptus podem ter imprimido uma marca mais indelével na tradição que a lição do seu ascendente. Afinal o aparato de variantes não tem como fim único colaborar na reconstrução do texto mais próximo possível de Ω: deve também mostrar... a vida desse texto no seu contínuo processo histórico».
Teoricamente define-se como o melhor testemunho de uma
C. S.
Codex optimus: manuscrito mais antigo, mais completo e, em geral, mais correcto, tradicionalmente identificado com o codex vetustissimus. Hoje deveria ser um conceito usado apenas no plano teórico, visto que cada manuscrito só vale pelo lugar que ocupa no stemma codicum, mas há autores que ainda o usam com frequência (sobretudo na filologia clássica).
CODEX OPTIMUS - é tradicionalmente identificado com o codex vetustissimus. Trata-se do manuscrito mais antigo, mais completo e, em geral, mais correcto. Hoje, deveria ser um conceito usado apenas no plano teórico, visto que cada manuscrito só vale pelo lugar que ocupa no stemma codicum, mas há autores que ainda o usam com frequência (sobretudo na filologia clássica).
Os humanistas adoptaram o princípio de privilegiar o «codex vetustissimus» (o mais antigo dos testemunhos, considerado por isso mesmo o mais autorizado, mas que por vezes é o mais adulterado) ou o «codex optimus» (o testemunho que o editor julgava mais fiável, isto é, o que na opinião dele apresentava as lições «melhores», mais adequadas ao contexto ou à ideia que ele próprio tinha feito do texto, ao nível da micro- como da macro-estrutura): critérios, um e outro, empíricos e subjectivos, que não se prestavam à elaboração de uma metodologia ou de uma técnica de carácter científico, mas que pelo contrário tinham em conta mais o gosto e a sensibilidade do editor do que a vontade do autor ou as preferências do público da época de composição da obra.
Com efeito, se as árvores genealógicas são exclusivamente ou prevalecentemente bífidas, a aplicação do critério da maioria torna-se impossível, e nessas condições não há outro remédio senão voltar ao critério humanista do «codex optimus», isto é, à eleição do manuscrito que o editor julga ser o «melhor», o mais isento de erros, e à sua publicação: um manuscrito, esse, que na opinião de Bédier, tinha pelo menos a vantagem de representar uma fase historicamente documentada da obra, e portanto parecia preferível a um texto que, na impossibilidade de aplicar o critério da maioria, resultaria duma combinação casual — organizada empiricamente na base do juízo do editor — de lições textuais tiradas alternativamente e arbitrariamente de uma ou de outra das duas famílias de manuscritos.
Até que ponto pode ser prejudicial a teoria – numa actividade que deveria inspirar-se sobretudo na praxe (cada texto apresenta problemas específicos) -, demonstrou-o – e continua a demonstrá-lo – a atitude assumida por Joseph Bédier, e perpetuada pelos bédieristas, perante a tradição manuscrita: depois de ter completado a collatio codicum e de ter decidido qual seja o bon manuscrit – isto é, em teoria, o códice que transmitiu o texto menos estragado e menos inquinado – a função do editor está praticamente concluída.
E a atitude de Joseph Bédier e dos seus seguidores - radicalmente conservadora, decididamente contrária a qualquer intrusão na textura transmitida pelo bon manuscrit - confirma plenamente a dificuldade de reconhecer numa forma textual determinada que pareça não totalmente ortodoxa - um desvio efectivo, isto é, esse "erro evidente" que exigiria a intervenção do editor. Sabe-se muito bem, por exemplo, com quanta determinação Joseph Bédier chegou a defender - na sua edição da Chanson de Roland feita na base do manuscrito de Oxford" - até as lições textuais menos defendíveis.
O perigo de criar um monstro que nunca existiu – no caso de levarmos o processo de reconstrução textual para além de determinados limites – é o leit-motiv dos partidários da edição feita na base de um único manuscrito, isto é do bon manuscrit de Bédier, que se identifica com aquele que os humanistas italianos chamavam codex optimus.
Na verdade, o codex optimus não existe nem pode existir, nem na tradição do Decameron, nem em nenhuma das outras tradições manuscritas: qualquer cópia – embora tirada do próprio original – representa necessariamente uma degradação do texto, mesmo no caso de o copista ser o mais pontual e diligente do mundo, mesmo no caso de o copista ser o próprio autor: porque a degradação textual está implícita no próprio conceito de “cópia”, e portanto não pode haver cópia sem alteração. É também evidente que os erros aumentarão progressivamente, em proporção geométrica, a casa transcrição do texto, porque cada cópia acrescentará os seus aos erros do modelo. E mesmo admitindo a possibilidade de alguns destes últimos terem sido identificados como tais e emendados pelo próprio copista ou por um revisor, a mecânica da transcrição implica necessariamente uma multiplicação progressiva das alterações textuais.
Testemunho único que transmite um determinado texto; deste diz-se que tem uma tradição de
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C. S.
CODEX UNICUS - o único códice que contém determinada obra. Levanta sérios problemas ao editor crítico.
Para Paul Maas, e para a crítica textual tradicional, o «objectivo da crítica do texto é a restituição dum texto que se aproxime o mais possível do original (constitutio textus)» [Maas 1927, p. 1]; ou seja, quer o texto a restituir tenha chegado até nós através de um testemunho único (codex unicus), quer através de vários testemunhos gerados a partir de um arquétipo comum mas fatalmente discordantes entre si, mercê da passagem do tempo, da mudança nos contextos culturais, dos acidentes da tradição, dos processos de trabalho de transcrição, e da intervenção de factores fisiológicos, psicológicos ou ideológicos dos agentes humanos de reprodução (Dom Froger afirma que «não existe uma transcrição totalmente exacta», pelas razões acima indicadas [Froger 1968, p. 11 ss.]), será sempre necessária uma observação (examinatio) e uma intervenção críticas por parte do editor, de modo a eliminar, tanto quanto possível, todos os ruídos (conceito emprestado pela Teoria da Informação: «o ruído é aquela desordem que, inserindo-se na esfera da estrutura da informação, atenua, até ao ponto de apagar completamente, a própria informação» [Lotman 1970, cit. por Picchio 1973, p. 215]), sejam eles da responsabilidade do autor ou da tradição, que se impõem entre a intenção do autor (nem sempre fácil de restituir) e o texto que se edita. Vistas as coisas nestes termos, A Capital! de Eça de Queiroz pareceria não levantar problemas de maior, na medida em que os respectivos autógrafos estão disponíveis [cf. Duarte 1989a; 1989c], sendo a tradição impressa existente, ainda que gerada à revelia da vontade do autor, facilmente corrigível por eles. Só que não se trata de um codex unicus (daí a utilização do plural em «autógrafos»): estes autógrafos não poderão ser encarados apenas à luz da crítica textual tradicional, uma vez que ela assenta, no que diz respeito à caracterização das tradições dos textos, nos binómios «testemunho único/testemunho múltiplo» (quando não existe autógrafo) e «autógrafo/ não autógrafo», para decidir depois, com a segurança possível, em qual deles a vontade do autor está plenamente representada (e tratar-se-ia do autógrafo), ou melhor representada (um não-autógrafo relativamente fiel, ou então aquele que aparenta ser o menos infiel de todos os que estão disponíveis), eliminando os restantes (eliminatio codicum descriptorum).
Codex unicus: único códice que contém determinada obra, pelo que levanta sérios problemas ao editor crítico.
Testemunho único (codex unicus): relativo a uma tradição constituída por um único testemunho.
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Em codicologia, códice ou codex é um livro manuscrito, instrumento de leitura estruturado num conjunto de cadernos solidários entre si por um fio de costura e uma mesma cobertura. Substitui o formato rolo (volumen) e virá a ser progressivamente substituído pelo livro impresso, que dele difere não na estrutura mas apenas no processo de inscrição do texto no suporte. Esta diferença é essencial para fazer do códice um produto «radicalmente marcado pela singularidade», o que determina o seu estatuto de
A restrição de sentido proposta em Dyaz Bustamante 1993: 430 não tem atestações práticas que a sustentem.
C. S.
O códice é normalmente formado por cadernos de 10 fólios. Há um único de 8 fólios (190-196) e um incompleto: precisamente aquele que termina no fól. 265. A última folha, que ainda existia quando se escreveu a nota atrás citada, foi cortada posteriormente, só se conservando dela uma estreita tira junto à costura. A página final dos cadernos contém o reclamo respectivo. Ao ser encadernado o manuscrito, cortaram-se muito as margens, do que resultou o desaparecimento de parte desses reclamos.
Sobre a cultura dos copistas de B (provavelmente mais numerosos do que se tem pensado até agora, conforme resulta de uma análise directa do códice por parte de Anna Ferrari, estudo em preparação) seria de resto necessário ampliar o discurso.
No campo da prosa, pelo contrário, as edições ide manuscritos desconhecidos ou mal identificados (antes do mais os códices alcobacenees), as reedições de incunábulos ou de edições de começos de Quinhentos que já quase se não encontram, a valorização linguística e literária de textos anteriormente relegados para as obras de compilação, de tradução ou, simplesmente documentais (valorização indispensável para uma literatura que não ostente, ao contrário da italiana, muitas mais prosas ilustres em que concentre o interesse filológico), acabaram por formar um quadro diverso de toda a literatura medieval.
O Cancioneiro da Ajuda teve ainda em 1941 uma edição diplomática (10) destinada a restituir-nos o códice na sua esquelética essência, privado e ao mesmo tempo liberto das outras superestruturas de que Carolina Michaelis o havia dotado.
Quanto à Demanda do Santo Graal, versão portuguesa da Quest, essa foi-nos conservada num belo códice vienês, actualmente publicado em edição a cargo de Augusto Magne.
É necessário publicar rapidamente todos os inéditos já localizados e várias vezes largamente descritos. Quais e quantos são ainda estes inéditos? O fundo mais respeitável continua sendo o dos códices alcobacenses. De um ponto de vista histórico, literário e, em sentido largo, filológico, os códices portugueses constituem de facto o núcleo mais valioso dentro dos 454 manuscritos provenientes do antigo mosteiro de Alcobaça e conservados hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa.
A estruturação do livro na forma de códice (enquanto instrumento de leitura constituído por conjunto de cadernos solidários entre si por um fio de costura e uma mesma cobertura) é um dos principais contributos da Idade Média para a cultura ocidental.
Como livro manuscrito, o códice é um produto radicalmente marcado pela singularidade, de planificação e de execução.
A cultura hispânica medieval recebe o modelo de livro comum ao resto do mundo ocidental, utiliza-o e interfere na sua instrumentalidade. A síntese de Isidoro, em Etim., 6, representa para o seu tempo o mundo de referência na cultura do livro, a começar na oposição funcional entre uolumen e codex. A prática hispânica contribui com alguns aperfeiçoamentos técnicos para garantir ao códice maior funcionalidade. Deve-se-lhe, tanto quanto podemos julgar, se não a origem, pelo menos a divulgação do sistema de reclamo (antecipação da primeira palavra do caderno seguinte para o último fólio do caderno anterior) e a experimentação de variantes na sua localização (em posição horizontal abaixo da linha de escrita, ou em posição vertical ao lado da coluna de justificação — posição que o Renascimento italiano privilegiará). A escassez de testemunhos não permite identificar com rigor as variantes dos modelos codicológicos peninsulares, mas a vitalidade cultural do período visigótico terá provavelmente contribuído para seleccionar usos procedentes de diversas origens. A sua continuidade não pode também documentar-se inteiramente, dada a perda de materiais, mas em alguns aspectos deve supor-se.
Apesar disso, podemos ainda fazer uma maior delimitação do vocábulo no sentido de o manuscrito ser, preferentemente, o livro em suporte de papel por oposição ao códice, que será, fundamentalmente, pergaminho.
Porém, também pode ser mais didáctica a divisão de acordo com a tendência para a escrita cursiva em três fases: pré-carolina (séculos v-vm), carolina (séculos ix-xn) e pós-carolina (séculos xm-xvi); em qualquer um destes períodos dão-se três tipos bem distintos de escrita: capital (própria das inscrições ou rótulos, com uma variante estritamente formal que é a chamada uncial, mais redonda), minúscula (própria dos códices ou livros) e cursiva (própria, originalmente, dos textos diplomáticos).
Apesar de, portanto, a descrição dos dez códices que consultei ter sido já feita por Lázaro, decidi incluir aqui os resultados da minha observação pessoal dos manuscritos, que não são totalmente coincidentes com os daquele autor, nem apresentados da mesma forma.
Atribui a cada manuscrito uma sigla, que represento em maiúsculas, e que indico, entre parêntesis, logo após a identificação de cada códice.
A tradição manuscrita da Crónica de D. Pedro de Fernão Lopes é constituída, no estado actual do nosso conhecimento, por 48 códices, a maior parte dos quais (29) copiados no século XVI, enquanto outros (15) devem ser atribuídos ao século XVII.
É um fragmento de um códice mais extenso, antigamente encadernado num só volume e sucessivamente desmembrado nas várias crónicas que o compunham, algumas das quais se conservam na mesma biblioteca, identificadas pelas cotas imediatamente anteriores e sucessivas.
Ora, uma série de elementos leva a considerar que Na tenha sido transcrito numa época muito próxima de Ta: sabemos, com efeito, que estes são os dois únicos códices em pergaminho da tradição e, juntamente com Lb, os únicos que se podem datar do final do século XV ou dos primeiros anos do século XVI; também o tipo de escrita e os hábitos gráficos dos copistas (se não se tratar da mesma mão) são muito semelhantes, tanto que, na ausência de outros factores, seria natural considerar Na cópia directa de Ta.
Ora, é possível verificar não só que esse códice, pela sua participação nos erros do ramo a, deve ser também considerado como descritto de Ta e colocado no plano de Af, Ea, La, Nd, Np e Tb, mas que deve ser mantido numa relação muito estreita, se não mesmo ser identificado, com um destes códices e, mais precisamente, com La, do qual a edição reproduz todos os erros: erros a que, por sua vez, acrescenta um tal amontoado de outros erros, interpolações, omissões, mal-entendidos e deformações do texto que apenas se pode entrever, nas suas páginas, uma pálida ideia do original.
Durante esta introdução e no aparato usei as letras β, δ e ε para indicar não só lições comuns a todos os manuscritos que no stemma subjazem a estes planos da tradição, mas também as lições que são certamente reconstruíveis mesmo no caso em que algum manuscrito apresente uma variante singular ou comum a outro códice ou grupo de códices.
Códice: livro manuscrito organizado por cadernos cosidos e encadernados (está entre o rolo, ou volumen, e o livro impresso).
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Pluralidade de testemunhos que transmitem um determinado texto; deste diz-se que tem
C. S.
Codices plurimi: múltiplos testemunhos de um texto, manuscritos ou impressos, de existência muito frequente (vs. codex unicus).
Tradição: totalidade dos testemunhos, manuscritos ou impressos, conservados ou desaparecidos em que um texto se materializou ao longo da sua transmissão. Pode indicar dois conceitos diferentes: 1) conjunto de lições que caracterizam um manuscrito ou família de manuscritos; 2) conjunto de testemunhos de uma obra, sejam eles manuscritos ou impressos. Se apenas se conhece um testemunho, diz-se que é uma tradição de testemunho único; se se conhecem dois ou mais, diz-se que é uma tradição de testemunho duplo ou múltiplo.
Porém, é possível supor, como fez C. Michaëlis, que a actual escassez de cancioneiros derive do sucessivo desaparecimento de todas as cópias eventualmente executadas no decurso dos séculos xiv, xv e xvi, menos os três que uma série de circunstâncias favoráveis salvou da destruição, isto é, que o que se nos apresenta como tradição pobre represente, na realidade, o único testemunho sobrevivente de uma tradição múltipla dizimada por desfavoráveis condições de ambiente cultural.
A tradição manuscrita de um texto medieval pode consistir num testemunho único ou numa pluralidade de testemunhos.
Copy-text: termo proposto em 1950/1951 por Walter W. Greg («The Rationale of Copy-Text», Studies in Bibliography, Vol. 3, pp. 19-36) para designar o testemunho que, por estar cronologicamente mais próximo do autor, deve fornecer as lições acidentais (grafia, pontuação, forma linguística) para o estabelecimento do texto. Este não é, contudo, necessariamente, o testemunho que fornece as lições substantivas, a não ser quando se trate de variantes indiferentes (v.
Esta doutrina é, porém, contestada pela teoria da intenção final (Castro 2013: 71), que considera que é na última edição revista pelo autor e não no autógrafo que reside a forma mais autorizada do texto, a qual dever ser adoptada como copy-text.
Na Crítica Textual de tradição neo-lachmanniana, o mesmo conceito que em âmbito anglo-saxónico se designa copy-text é expresso pelos termos texto base, testemunho base ou códice base.
C. S.
Copy-text: ver texto-base.
Lição: conteúdo de um lugar do texto em qualquer dos seus testemunhos; pode ser substantiva (palavras ou frases) ou adjectiva – acidental na teoria do copy-text de Greg – (sinais de pontuação e capitalização, por exemplo).
Texto-base (copy-text): é o texto do testemunho adoptado na edição crítica, ou seja, aquele cujas lições não passam, em caso de variação, para o aparato crítico. Deve ser adoptado como tal o texto do manuscrito do autor ou, na sua falta, o testemunho não autógrafo que lhe esteja mais próximo. Para Greg, sempre que não exista manuscrito autógrafo, o texto-base deve ser o da edição mais antiga de uma tradição de edições impressas, tanto nos seus aspectos substantivos (palavras) como nos acidentais (pontuação, capitalização, união e separação de palavras, abreviaturas, etc., que são por regra normalizados pelo tipógrafo de edição para edição). No entanto, é reservado ao editor o direito de emendar o texto a partir de outro testemunho que pontualmente considere melhor.
Na primeira categoria, encontrámos as mais diversas atitudes, que vão desde a conservação quase radical das grafias do testemunho de base até à sua não menos radical modernização, passando por muitos estádios intermédios, que se podem dispor gradativamente.
Ao revés desta tradição modernizadora, desenvolve-se uma tradição italiana baseada na «fiel conservação da grafia do códice de base» (Valeria Bertolucci) e bastante uniforme de edição para edição (...)
Em resumo, é minha intenção realizar uma edição da Crónica do Conde D. Pedro de Meneses o mais próxima possível do texto do manuscrito que lhe serviu de base, mas que possa, apesar disso, apresentar-se como utilizável para um leitor que não tenha um conhecimento muito aprofundado das características da escrita da época.
Como direi mais adiante, considerei Ta o manuscrito base para a grafia da presente edição: por esta razão, incluem-se também na tábua meros erros de ortografia ou banalíssimas distracções que não têm, evidentemente, qualquer valor separativo, registadas apenas com o fim de declarar todos os pontos em que o texto crítico, também nas minúcias gráficas, se baseia num grau diferente da tradição.
Conforme já afirmei, o códice Ta serviu-me como módulo de trabalho e como base do ponto de vista exclusivamente gráfico, mas não como manuscrito fundamental na acepção comum do termo. A edição apoia-se em todos os seus pontos, na comparação entre Ta (enquanto representante único de todo o ramo α) e β, sem conferir, em princípio, nenhuma preferência inicial a qualquer das duas tradições.
Parece exemplar, em relação a este problema, o caso bastante sensacional do Decameron, cujas edições têm constantemente adoptado, como texto-base, o do códice Mannelli, tradicionalmente acreditado como codex optimus da obra de Boccaccio.
Trata-se da edição de Maximiano de Carvalho e Silva1, em que, na realidade, encontramos duas edições diferentes do romance: uma é a reprodução facsimilada integral do manuscrito autógrafo, único que Camilo produziu, enquanto a outra é uma edição crítica do romance, seguindo a última versão revista pelo autor, ou seja a 5.ª edição, que constitui a principal fonte de autoridade textual para o romance e deve ser usada, por isso, como base obrigatória (copy-text) de qualquer edição subsequente.
Das inúmeras edições que o Amor de Perdição teve até hoje, apenas uma dedica atenção por igual ao manuscrito e à 5.ª edição, de 1879. Esta, como foi a última revista por Camilo, constitui a fonte da autoridade textual do romance, entendida como base (copy-text) para qualquer edição subsequente.
Uma é a teoria do texto de base, ou copy-text, como lhe chamou Walter W. Greg, e a outra é a teoria da intenção final.
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O mesmo que
Almuth Gréssillon (1994), no entanto, alerta para o juízo de valor inerente à ideia de correcção, que pressupõe a existência de erro, devendo por isso usar-se apenas quando a revisão autoral efetivamente corrija erros de facto ou de língua.
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Bibliografia
Grésillon, Almuth 1994. Éléments de Critique Génétique. Paris, CNRS.
E. P.
Assim, fazendo corresponder a cada campanha de correcção um nível genético, constatamos, pelo quadro que se segue, que, ao longo de todo o processo de produção textual, foram atingidos dezasseis níveis de aperfeiçoamento da escrita, ou seja, dezasseis versões diferentes do mesmo texto, entre o ms. A e a versão ne varietur.
Quando a diacronia se instalou dentro de uma peça, é possível destrinçar entre as correcções das diferentes campanhas graças aos materiais de escrita, aos tipos de letra manuscrita e à topografia da correcção na página.
Conjunto de operações redaccionais que tenham sido empreendidas em determinado testemunho textual, durante a mesma sessão de trabalho ou o mesmo momento genético. Pode distinguir-se através de características materiais como a letra, a topografia e o instrumento de escrita.
A designação foi proposta por Almuth Grésillon, em Éléments de Critique Génétique, 1994.
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Bibliografia
Grésillon, Almuth 1994. Éléments de Critique Génétique. Paris, CNRS.
E. P.
O exame físico directo de cada peça (sem recurso a reproduções), para saber como foi produzida, se em um único, se em vários momentos de escrita, e neste caso qual o número das camadas de escrita e a ordem por que se acumularam; as exigências desta abordagem são comuns ao exame de tipo codicológico, que só fica completo, no caso de manuscritos com correcções, quando se chegar a uma dissecação estratigráfica das sucessivas campanhas de escrita e reescrita.
Com afinidades com o sentido militar do termo, campanha refere-se a um conjunto de operações realizadas dentro de um determinado período temporal. No contexto dos manuscritos autógrafos, essas operações são, respectivamente, as de escrita e as de revisão e o período textual que as limita é determinado através de vestígios materiais, fisicamente observáveis, como tinta, letra e topografia da escrita e das emendas.
Conjunto de revisões intradocumentais que tenha sido introduzido pelo autor, durante o mesmo momento genético. Numa campanha de revisão, cada
O termo campagne foi proposto por Almuth Grésillon, em 1994.
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Bibliografia
Grésillon, Almuth 1994. Éléments de Critique Génétique. Paris, CNRS.
E. P.
As emendas mediatas situam-se no domínio da revisão e configuram-se como actos de reescrita. Podem ser actos isolados, mas também podem inscrever-se numa campanha de revisão, quando várias emendas distribuídas ao longo do texto reagem a uma mesma leitura, são efectuadas num mesmo período de tempo e procuram satisfazer uma mesma intenção modificativa. […] Por outro lado, inscrevem-se sem dificuldade na categoria de emendas mediatas as modificações introduzidas nas várias edições, cada uma delas correspondendo a uma campanha de revisão.
Quando um testemunho é cenário de revisão autoral […] há que destrinçar os vários estratos da revisão, sendo o mais alto o mais recente. […] O conceito de campanha de revisão [r]efere […] o conjunto de emendas que, ao longo do testemunho, foram introduzidas com o mesmo material de escrita e a mesma letra, num mesmo momento ou em momentos próximos e unidos pela mesma intenção modificadora do texto.
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