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Erro de cópia que resulta na omissão ou na duplicação de um segmento compreendido entre duas palavras ou expressões iguais que ocorrem em lugar próximo. O primeiro caso resulta do facto de o copista, quando regressa visualmente ao
O mesmo que
C. S.
Salto de igual para igual: ocorre quando o copista, ao regressar com os olhos ao modelo, os prende a uma palavra igual àquela que vira da última vez, mas que ocupa outro lugar. Este salto pode ser em recuo, dando origem a texto repetido (ditografia), ou em avanço, passando em branco a extensão de texto entre as duas palavras iguais (lacuna). É, em geral, ao corrigir erros deste tipo que o copista procede a deslocamentos indevidos do texto copiado. Também se designa por homoioteleuton.
O texto que da primeira redacção da Crónica possuímos começa por cometer um erro, confundindo Luis VII (1137-1180) com Luís VIII (1223-1226) e falando do casamento deste com Branca de Castela, filha de Afonso VIII. É natural que se trate de um erro próprio só desta cópia — salto de palavra a palavra igual.
Há, no entanto, outro tipo de omissão que poderá assumir qualquer extensão e aqui devemos fazer já a transição para o erro provocado pela leitura errónea.
Refiro-me às omissões cometidas pelo copista quando lhe passa despercebida uma porção do texto que tem diante de si. Muitas vezes o lapso tem uma causa mecânica: palavras ou expressões semelhantes aparecem duas vezes na mesma página e o copista, depois de copiar até à primeira ocorrência, toma erradamente a segunda ocorrência pelo passo até onde ele tinha chegado e omite, assim, tudo o que se encontra de permeio. Este tipo de omissão é o chamado saut du même au même. Por exemplo, em Séneca, Cartas 74,8 modo in hanc partem, modo in illam respicimus, um grupo de manuscritos omite a primeira expressão, enquanto que, em 113,17, a repetição da expressão ergo non sunt animalia provocou a omissão de seis orações.
Para além do que digo adiante no capítulo 3, existe, de facto, um erro de cópia clássico, conhecido por «salto de igual para igual» [Nota E], que pode provocar na página do manuscrito, se for advertido e corrigido, uma situação graficamente semelhante à do adiamento. Ocorre esse erro quando o exemplar que está a ser copiado tem dois segmentos de texto iguais ou semelhantes a pouca distância um do outro; essa proximidade pode induzir quem copia, no momento em que levanta os olhos da sua cópia para o modelo, a não regressar ao ponto onde se detivera mas sim ao outro ponto semelhante, que tanto pode ficar atrás como à frente. Se o engano se traduzir num salto para a frente, o copista escreverá texto adiantado, omitindo o texto intercalado que existia no modelo e era consistente com a totalidade do enunciado; resulta uma lacuna, que pode passar desapercebida. Se o engano consistir num salto para trás, o copista repete o texto intermédio, originando uma ditografia. Não seria a este segundo caso que Borges Nunes se referiria; seria ao primeiro? — Bom, se o copista der pelo erro imediatamente, deter-se-á, eliminará o texto adiantado, e escreverá em seguida o texto omitido, e daí por diante. O resultado que fica patente é, como disse, semelhante ao do adiamento. Uma confusão seria possível nessa base, não fora a questão do contexto: no texto do modelo, completo e correcto, existem os dois segmentos iguais e ambos se integram nos respectivos contextos; nos exemplos de adiamento que dei, um dos segmentos iguais não se integra no contexto, não pode coexistir com o outro no mesmo texto e, logo, nunca poderia achar-se num modelo de cópia.
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1- Oficina de produção de códices manuscritos.
Existente quer em instituições eclesiásticas (scriptoria monásticos ou capitulares), quer em ambiente cortesão (scriptoria de corte), o scriptorium dependia, para o seu funcionamento, do trabalho especializado de certos agentes (tradutores, copistas, rubricadores, iluminadores, encadernadores), cujo número e qualidade dependia da dimensão da oficina e dos recursos financeiros que o sustentavam. Estes agentes, com destaque para os copistas, colaboravam na produção de códices, distribuindo entre si o trabalho de forma a diminuir a natural morosidade que implicava o processo de cópia manuscrita. Nalguns casos, é possível reconhecer nos manuscritos produzidos práticas paleográficas (ou outras) comuns que caracterizam e denunciam o scriptorium em que tiveram origem.
2-Por analogia com a prática medieval de colaboração na produção de um mesmo objecto, pode usar-se o termo scriptorium digital para designar práticas colaborativas permitidas pelas novas tecnologias da informação na produção de textos em suporte digital (Portela 2003: 1).
C. S.
Scriptorium: dependência de uma instituição eclesiástica onde eram produzidas cópias manuscritas de livros.
No entanto, a actividade de um scriptorium só pode seguir-se com relativa continuidade no fundo do Mosteiro de Alcobaça, para o século XIII e, por tempos mais curtos, no século XV. Alguns aspectos se tornam manifestos: há dependências exteriores claras, mas, em bom número de casos, constituem-se opções específicas que remodelam o dado recebido em função do existente, tanto no plano textual como no de execução técnica do manuscrito (factos tanto mais a assinalar quanto se poderia pensar, e efectivamente durante largo tempo se considerou, que os modelos cistercienses estrangeiros eram determinantes).
E se até os textos modernos não são isentos destes perigos, talvez sejam os medievais os que mais sofreram da precariedade e da ausência de garantias que sempre acompanham a operação da cópia. Sabe-se em quais condições os amanuenses medievais executavam o seu trabalho: desaparecidos os ateliers profissionais da antiguidade clássica e do baixo Império (especializados na multiplicação dos exemplares), as operações relativas à divulgação das obras literárias, mas também de documentos jurídicos ou de relatos históricos, ficaram entregues à iniciativa de particulares interessados na aquisição deste ou daquele texto, ou ao cuidado dos scriptoria monacais ou de monges especialmente designados para essa tarefa ou ainda – nos séculos da baixa Idade Média – de leigos não particularmente cuidadosos, cuja actividade porém, num caso como no outro, se realizava em circunstâncias difíceis.
A reprodução electrónica e a criação de redes de servidores e de computadores pessoais permitiu criar scriptoria digitais em que autores e leitores colaboram na produção de hipertextos e hiperligações, associando formas textuais fora do horizonte definido pela reprodução tipográfica.
Não é possível verificar a correcção das leituras do editor nem rever a descrição codicológica na tentativa de identificar o scriptorium de proveniência nem tão pouco procurar reconstituir a imagem do códice que foi desmembrado.
Representação gráfica das relações de dependência entre os testemunhos de uma
Tradicionalmente, tal representação gráfica assume a forma de uma árvore genealógica, correlata do termo stemma (grinalda com a qual, em genealogia, se assinala a pertença a uma mesma família). Em português usa-se simultaneamente a forma vulgarizada estema.
O uso exclusivo por Cintra (1951) de árvore genealógica tem enquadramento histórico numa época em que a terminologia de Crítica Textual tinha pouca implantação em Portugal e em que se procurava traduzir simplificadamente termos, tornando-os claros para um público ao qual eram pouco familiares. Além de Cintra, as outras ocorrências, no corpus documental, da expressão árvore genealógica (Castro & Ramos 1986, Gonçalves 1993, Tavani 1993) são anteriores aos finais do anos 90 do século XX. Macchi 2007 não constitui excepção, visto que o seu texto em português é tradução de texto em italiano escrito em 1966 (Fernão Lopes, Crónica de D.Pedro, edizione critica, con introduzione e glossario a cura di Giuliano Macchi, Roma, Ateneo). Estas ocorrências podem, assim, ser interpretadas como manifestações de preocupação didáctica em época em que ela se justificava. Poderão, além disso, nalguns casos (por exemplo em Macchi), resultar de desejo de variação sinonímica. Em trabalhos mais recentes encontramos apenas os termos stemma codicum e estema.
O uso do termo aplicado a
C. S.
Árvore genealógica das Crónicas: pg. 414.
Chamou-lhe Tercera Crónica General. V. Infantes de Lara', pgs. 55, 67-68 e especialmente 69-70, 404-405, 409-411 e árvore genealógica, pg. 414 (...)
A reconstituição da árvore genealógica dos manuscritos leva-nos a supor, como veremos, a existência de um ou talvez de dois códices anteriores a L que, datando seguramente do primeiro quartel do século XV, parece ser o mais antigo dos manuscritos conservados (...).Esses passos parecem permitir-nos estabelecer deste modo a árvore genealógica:
Com os dados até agora reunidos podemos formar a árvore genealógica dos manuscritos.
O Catálogo das crónicas conservadas na Biblioteca Real permitiu-lhe, dois anos depois, ampliar as suas informações sobre as características de cada uma dessas obras e incluir na árvore genealógica outro texto que, por não conter a história dos 'Infantes, não figurara no seu estudo anterior: refiro-me à chamada Crónica de Castela (...)
Partindo principalmente do atento estudo dos trechos em que nestas crónicas se narra a lenda dos Infantes de Lara, conseguiu além disso relacionar quase todos esses textos, estabelecendo a árvore genealógica das Crónicas Gerais castelhanas que deu a conhecer em 1896 (...).
Assim fica exposta nas suas linhas essenciais a árvore genealógica que Menéndez Pidal deduziu dos seus estudos no campo das crónicas medievais. (...) Durante muito tempo foi esta árvore geralmente aceite.
Adiante veremos que, dentro da árvore genealógica das crónicas medievais, esta existência de textos completamente independentes uns dos outros, apesar de derivados de um mesmo original, não é puramente teórica.
Observar-se-á que há duas grandes diferenças entre a revisão a que o professor de Yale sujeitou a árvore genealógica estabelecida por Menéndez Pidal e aquela que seguidamente vou tentar. (...)Começarei por observar que, abstraindo das datas atribuídas a cada um dos textos, considero a árvore genealógica estabelecida por Menéndez Pidal absolutamente válida para a parte das crónicas que vai de Pelaio à morte de Vermudo III, isto é, para a parte que contém a Lenda dos Infantes de Lara, base de que partiu o grande romanista para a relacionação dos textos.
Não posso no entanto deixar de discordar da validez da sua árvore genealógica no que se refere â parte que, na Crónica editada por Ocampo, se chama Quarta, ou seja, à parte que começa com a subida de Fernando I ao trono de Leão.
Disse atrás que Menéndez Pidal, ao introduzir a Crónica de Castela na árvore genealógica das Crónicas, a considerou como mais uma derivação da Abreviação perdida. (...)Pondo de parte este argumento, vamos ver que as referidas coincidências nos reinados de Afonso VIII e Fernando, o Santo, têm outra explicação possível, embora muito mais complexa e, por isso, menos clara, e que há outros motivos que nos impedem de aceitar para a Crónica de Castela o lugar que na árvore genealógica das crónicas lhe atribuiu o grande romanista espanhol.
A averiguação que acabamos de fazer conduz-nos a uma conclusão muito importante no que se refere ao lugar a atribuir à Crónica de Vinte Reis na árvore genealógica das crónicas.
Veremos a importância deste facto ao organizar a árvore genealógica dos manuscritos.
O estudo dos vestígios de tradução do português nos manuscritos castelhanos da Crónica de 1344 já nos levou, noutro ponto deste trabalho, ao estabelecimento da árvore genealógica dos códices conservados da Crónica (...). Afastando inicialmente os manuscritos castelhanos, estabelecerei a árvore genealógica dos códices portugueses.
Esta parte da árvore genealógica pode estabelecer-se deste modo (...)
Dispomos assim de todos os dados necessários para estabelecer a árvore genealógica do conjunto dos manuscritos da segunda redacção da Crónica de 1344. Facilmente a podemos ligar à outra árvore muito simples que forma o / original da primeira redacção (a que chamo *Y) com os seus derivados directos M e E.
Para atingir esse fim, atendendo aos manuscritos disponíveis para cada parte do texto e à sua posição relativa na árvore genealógica que acabo de apresentar, procedi do seguinte modo: (...)
ou poderá tornar-se evidente que não há stemma que se aplique cabalmente à situação (...).Se os manuscritos mais antigos puderem ser integrados num stemma, deverá ser fácil determinar a promiscuidade dos mais recentes (...)Se a relação dos manuscritos mais antigos resistir à análise, será, mesmo assim, ainda possível identificar subgrupos, cuja estrutura possa ser organizada num stemma.
Será possível reconhecer grupos de cópias afins ou construir um stemma
Uma vez estabelecido o stemma, podemos usá-lo para eliminar algumas das variantes, demonstrando que elas tiveram a sua origem neste ou naquele manuscrito e que não foram herdadas de uma tradição anterior.
Suponhamos que dos nove manuscritos do sistema, só três chegaram até nós, em vez de seis, nomeadamente A, F e D. A comparação das suas lições dar-nos-ia o seguinte stemma (...)
Qualquer stemma que construamos para os manuscritos de autores clássicos está igualmente sujeito a ser uma simplificação excessiva da realidade histórica. (...) O verdadeiro stemma seria agora (...). (...) Construiríamos o seguinte stemma (...)
Em Catulo 12,4, por exemplo, encontrando-se os manuscritos primários relacionados entre si da maneira que se mostra, formam o seguinte stemma (...)
Além de OGR, há, de Catulo, muitos manuscritos posteriores e derivados, cujas afinidades não podem ser reduzidas a um stemma.
Suponhamos que o primeiro caso é verdadeiro, o que é ilustrado pelo stemma acima apresentado.
Por exemplo, se Β nunca comete os erros de Η ou de P, ainda que Η e Ρ errem muitas vezes um com o outro, podemos extrair o stemma (...). (...) Suponhamos que temos seis manuscritos BCDEFM, que se relacionam efectivamente entre si como no stemma apresentado infra.
inferir um stemma da seguinte forma (...)
Retomemos o stemma acima apresentado para BHP.
Quando o crítico assentar em que não há possibilidade de se construir um stemma, como deverá ele proceder?
(o stemma é uma forma alargada do da p. 48)
Revela-se impossível avançar com a construção de mais algum stemma.
Se se der o caso de os manuscritos se encontrarem relaciona dos, como sucede no stemma da p. 38, é fácil verificar que uma lição apresentada apenas por A tem precisamente tantas probabilidades de estar correcta como outra em que BCDEF são unânimes.
O manuscrito A, no stemma acabado de mencionar, tem o mesmo 'peso' que as outras cinco cópias combinadas. (...) Tomemos uma tradição contaminada, para a qual não se pode estabelecer nenhum stemma. (...) A propensão para a emenda, longe de desacreditar um manuscrito, pode ser sintomática de um interesse pelo texto que também suscitou a consulta de cópias remotas, como é o caso da utilização de λ pelo manuscrito tardio A no stemma da p. 53.
De qualquer modo, é aconselhável registar variantes ortográficas de forma razoavelmente sistemática, pelo menos em porções do texto, porquanto poderão ter utilidade (embora não por si próprias) na elaboração dos pormenores de um stemma, e não deixam de ser instrutivas em si.
(...) o computador poderia — onde não houvesse contaminação! — desenvolver um stemma 'não-orientado'.
Se as conclusões da discussão puderem ser apresentadas em forma de stemma, deve incluir-se um stemma: nada as torna mais fácil de localizar
ou compreender.
Não é possível construir um stemma, mas a maioria dos manuscritos enquadra-se em grupos claramente definidos.
Tanto quanto lhes diz respeito, trata-se de uma recensio fechada, sendo o stemma o seguinte (...)
Estes factos podem enquadrar-se num dos dois stemmata seguintes (...). (...) o que é um ponto a favor do primeiro stemma.
O chamado método neo-lachmanniano submeteu à crítica o conceito de arquétipo, tomou em consideração eventuais limites à individuação do estema, enfrentou a fenomenologia da contaminação, abandonou a reconstrução linguística dos textos, introduziu novas ideias como, por exemplo, a de «difracção» de lição (Contini), ou a de edição esterioscópica (Segre).
Na perspectiva de semelhante tarefa, e prevendo que a introdução à sua edição será magra, sem uma classificação dos manuscritos, que não existem, sem uma ponderação erudita de passos-testemunho, sem uma árvore genealógica sequer, que resta ao editor, se quiser compensar esta indigência com alguns problemas enfrentados e vencidos ?
O problema de saber a que nível a Poética teria entrado na tradição é, de qualquer modo, marginal relativamente ao assunto que aqui nos interessa, mas a sua ausência em β, ligda a outras divergências entre C e BV, dá-nos elementos suficientes para ampliar o stemma codicum até ao nível α: (...)
O stemma codicum fica, portanto, estabelecido como se segue (...)
O stemma codicum proposto por mim para este ramo da tradição (...)
(...) na realidade poderia também identificar-se com uma fase de γ [ = α no estema de d'Heur] cronologicamente posterior à derivação deste de δ [ = (β em d'Heur], supondo que alguns fólios iniciais tenham sido arrancados ou se tenham deteriorado depois da execução deste interpósito (...)
Esta cautela — oportuna e mesmo necessária aqui, como em todos os casos em que se tratem argumentos espinhosos, tais como podem ser considerados os problemas ligados à reconstrução de um stemma codicum (...)
Por aquilo que me diz respeito, repito, não terei nenhuma dificuldade em renunciar, no stemma codicum, a este discutido interpósito, cuja existência ninguém poderá garantir, mas eventualmente apenas postular.
(...) o estudioso belga chega à convicção de que para colmar a lacuna é necessário admitir a perda no início de ζ( = γ no estema de d'Heur) do dobro dos 43 fólios, (...)
(...) desencadeia a codicoclastia de d'Heur é o assinalado, no stemma codicum que a seu tempo julguei poder elaborar, pela letra β: (..)
(...) representando, todavia, um estádio da tradição melhor do que o conservado em B (e no seu ascendente δ), logo, passível de ser situado num dos planos médios do estema, provavelmente a nível de γ, (...)
O inventário actual do complexo autógrafo d'A Capital!, disponível, considera 6 testemunhos de dimensões e tipos muito variados, cujas relações e orientações podem ser observadas no estema da figura 1; este estema considera ainda os testemunhos que existiram seguramente mas que tenho por desaparecidos, que marco com ( ), e também os que estão disponíveis mas não são autógrafos nem constam do espólio, que marco com [ ].
Figura 1. Estema dos testemunhos dvi Capital! anteriores à edição de 1925.
Desta nova versão do romance - Msfí - só existe uma parte no Espólio (catalogada, tal como os testemunhos seguintes, sob a cota BN, El/287), referida no estema pela sigla MsB, correspondente grosso modo às páginas 169-573 da edição de 1925 (parte do cap. ffl e caps. IV-x) (...)
(...) na edição de Dionísio de Halicarnasso (feita por Ritschl em 1838), aparece o primeiro estema (stemma codicum) figurando a genealogia dos testemunhos colacionados, a partir de um arquétipo comum (desconhecido mas pressuposto) e de dois subarquétipos (igualmente desconhecidos, mas responsáveis pela eclosão de duas classes, uma tida por boa, localizada à direita do estema, e uma por má, à esquerda; orientado na vertical e de leitura descendente, o estema fornecia ainda outras indicações de valor: quanto mais baixo um testemunho se encontrasse no estema, mais afastado estaria do exemplar comum, ou seja, mais erros conteria; tratava-se, pois, de uma árvore bífida invertida). (...) O método «lachmanniano» foi, no entanto, questionado por Joseph Bédier IBédier 1929, pp. 3-21], que criticou a divisão primária e dicotómica em dois ramos, para a qual tendiam os filólogos que o utilizavam, e, logo, o seu carácter redutor, falso, e artificial (diz ele: «Na flora filológica, apenas se encontram árvores duma única essência: é sempre um tronco a dividir-se em dois ramos mestres, e em dois somente») (...). (...)«Uma árvore bífida não tem nada de estranho, mas um bosque de árvores bífidas, uma mata, uma floresta? Silva portentosa», ironiza ele) [id., ibid., pp. 11-1]
Stemma codicum. As relações de parentesco entre os testemunhos conhecidos não deixaram de ocupar os primeiros editores desses manuscritos (...)
Mas a discussão, em termos rigorosamente filológicos, da genealogia dos cancioneiros galego-portugueses tem como ponto de partida o stemma (e a sua fundamentação) fixado em 1967 por Tavani (...)
(...) ao stemma acima reproduzido, a derivação dos apógrafos italianos de antecedentes diversos e a necessidade de postular a existência de β como fonte de C vieram a constituir matéria dos estudos de J.-M. D'Heur (1974, 1984), E. Gonçalves (1976, 1988) e A. Ferrari (1979, 1991), conduzindo a uma árvore genealógica muito mais pobre (...). (...) limitar-nos-emos a sintetizar os dados que explicam a redução operada no segundo stemma (...)
(...) relativamente à tradição cancioneiresca não tem merecido a mesma atenção da parte dos estudiosos que se têm ocupado do stemma global.
(...) a comparação objectiva entre os diferentes testemunhos permitiria fixar as relações entre eles e, na base dos erros comuns, reuni-los em famílias (isto é, em grupos, cada um dos quais deriva de um antecedente comum, ou «subarquétipo») e identificar também as relações entre estas famílias, que podem ser representadas graficamente num «stemma codicum» ou «árvore genealógica» (...)
Com efeito, se as árvores genealógicas são exclusivamente ou prevalecentemente bífidas, a aplicação do critério da maioria torna-se impossível (crítica a Bédier) (...). (...) Mas na prática editorial, a atitude dos editores favoráveis à identificação (mas também, por vezes, à construção) de árvores de duas (em vez de três ou mais)
Tais métodos foram, naturalmente, adaptados ao objectivo deste pequeno estudo, que não pretende chegar à constituição de um stemma, etapa a atingir, ao menos idealmente, no processo de uma edição crítica.
É o que parece crer Lázaro (1990) que desenha um stemma trífido, de cujo segundo ramo este testemunho seria representante.
Nestas circunstâncias, não teria sentido uma tentativa de desenhar um estema, visto que apenas terímos um original (desaparecido) e dois produtos finais de que apenas sabemos não serem cópia um do outro (aliás só seria possível P ser cópia de C), desconhecendo-se totalmente o número e a posição das cópias intermédias.
O «demónio da teleologia», que na expressão saborosíssima de Jean-Louis Lebrave «habita o modelo do estema», não se limita a pregar partidas aos geneticistas que querem subtrair-se à força do modelo textual filológico... Acaba, mais cedo ou mais tarde, por guiar a mão de quem procura decalcar com um mínimo de rigor a escrita de uma mão apagada, procurando desvendar nesse gesto cúmplice o íntimo pensamento que a moveu.
2. Árvore genealógica dos manuscritos
TÁBUA I Stemma Codicum
A recensão das lições apresentadas por todos os códices atrás discriminados levou-nos à definição de um stemma codicum orgânico e completo (Tábua I), do qual resulta a inicial bipartição do arquétipo em dois subarquétipos α e β.
Mas dado que a contaminação, que reduz de forma grave a possibilidade de construir estemas com certeza total, não pode ser invocada indiferentemente para explicar todas as situações, o bom senso obriga a atribuir-lhe as anomalias que não se podem explicar de outro modo, mas distinguindo criteriosamente qual, entre duas possíveis anomalias que se excluem reciprocamente, é verdadeiramente uma anomalia e pode ser atribuída exclusivamente à contaminação.
Podemos considerar terminada a demonstração do estema na sua parte substancial (...)
Com base nesta tábua fiz uma tentativa de sistematização básica dos manuscritos numa árvore genealógica sintética, em que a certeza não passa do grau y, enquanto nos planos inferiores não são reconhecíveis senão determinados níveis em torno dos quais é possível tentar reunir manuscritos muitas vezes muito distantes entre si do ponto de vista cronológico. (...) A dúvida mais grave em relação ao estema proposto tem a ver com a posição recíproca do nível relativo a M e do nível a que pertence Na (juntamente com Cb, No, Pa e Td). (...)
O critério fundamental seguido na elaboração do estema é que a contaminação, sendo embora aquela doença contra a qual não há remédio, não deve ser usada como o remédio para todas as doenças: por outras palavras, só podemos e devemos invocar a sua presença quando nenhuma outra explicação for satisfatória, e postulando sempre o mecanismo mais económico.
Os manuscritos Tf, Ai, Ne, Ag, apresentando lacunas ou lições duvidosas em vez de algum ou alguns dos erros 2-9, não foram incluídos no estema, mesmo tendo sido confirmada a sua pertença ao ramo a graças à presença em todos do erro 1.
Para concluir o discurso sobre o stemma proposto, resta-nos agora tomar novamente em consideração o ramo β para examinar o fenómeno da contaminação, também aí largamente presente.
Diferentemente, no entanto, do que acontece na tradição a, onde incide também ao nível dos erros fundamentais que caracterizam o ramo, em (3 os passos, bem numerosos, em que a contaminação é evidente não incidem sobre a fisionomia do estema acima proposta.
Para lá da possibilidade prática de individuar sempre com exactidão os modos nos quais a contaminação funcionou e, em muitos casos, de averiguar a sua própria existência, permanece a constatação fundamental de que o estema proposto se baseia em maciças exemplificações cuja evidência lógica não poderá ser revogada por um escasso número de passos (...). (...) por outro lado, nenhum estema seria capaz de satisfazer ao mesmo tempo tantas situações, opostas e contraditórias, de concordância e de separação entre os manuscritos.
apresenta o estema patente na capa da edição original
Prefiro, no entanto, a noção de que o estema transmitirá uma representação gráfica dos resultados de um raciocínio hipotético sobre o parentesco entre os códices, entre a relativização radical da estemática segundo Bédier e a relativização moderada segundo Contini.
A propósio da estemática, verifica-se em termos práticos que a categorização à partida de lições-variantes como X (forma não-genuína) e Y (forma genuína) não se revela muito funcional. De facto, quando se procede ao confronto entre lições-variante, nada nos diz que uma lição é um erro ou não, como assinala Alberto Blecua no início do capítulo III do seu manual: Trás Ia collatio codicum el editor se encuentra com un repertório de variantes de calidad desconocida. (...) en un determinado locus criticus los testimonios presentan lecciones distintas (...), pêro no sabemos quiénes traen Ia lección original, si es que alguno de ellos Ia ha transmitido. Dito de outro modo, se o stemma é um auxiliar na constituição do texto, mas, por outro lado, antes da apresentação das relações de genealogia, já sabemos quais são as formas genuínas, o stemma deixa assim de prestar auxílio para aquele fim específico (...)
Nessa sequência, damos, em forma de estema, o conjunto dos testemunhos que se apresentam directa e indirectamente relacionados com o processo genético de Jacob e o Anjo e estabelecem a passagem gradual do texto poético ao texto dramático. Deste modo, constatamos que se trata de uma longa génese (...)
Estema da génese de Jacob e o Anjo, a nível do subtítulo e da estrutura externa
Quanto ao lugar do manuscrito português (C) no stemma que se desenha, excluindo por agora o texto sobre a Ressurreição, que constitui um caso à parte, não há qualquer dúvida de que ele pertence à família B2.
no stemma proposto por Aragües.
O stemma da família B2 seria, então, o seguinte (...)
O stemma da família B2 seria, então, o seguinte (...). (...) Aceitando como suficientemente fundamentadas as filiações acima esquematizadas, restam por analisar alguns dados da colação que fogem ao enquadramento mais óbvio do stemma (...)
Em construção
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