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A catedral abandonada.

TitleA catedral abandonada.
NotebookNotizbuch | Ab | Sommersemester 1984
Institutionprivate collector

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No dia 7 de Abril fez paʃʃaram 168 anos ʃobre a data do naʃcimento de Baudelaire, um poeta ʃem o qual a poeʃia portugueʃa a partir da ʃegunda metade do ʃéculo XIX não ʃe pode compreender, de tal modo Ceʃário Verde, Camilo Peʃʃanha ,& & Fernando Peʃʃoa de= pendem das deʃcobertas feitas porelo Baudelaire meʃtre francês. Vale a pena por iʃʃo penʃar no q foram eʃʃas deʃcobertas & q ʃignificado é q hoje2 ainda1 ʃe lhes pode ʃer atri= buído .

Na ʃegunda metade do ʃéculo xix o romance de estética análiʃe pʃicológica e de crítica ʃocial tinha atingido em França o máximo da ʃua perfeição formal. Embora Zola e os ʃeus ʃeguidores tiveʃʃem contribuído para o fortalecimento um tratamento ainda mais diferenciado & ʃubtil das queʃtões ʃociais e político-ʃociais ʃubjacentes a eʃta forma literária, não lhes foi poʃʃível no entanto faze-la avançar como experiência eʃtética em de novas dimenʃões. Tornou-ʃe aʃʃim neceʃʃário procurar novas ʃoluções para para obter a tranʃformação da forma narrativa tradicional num inʃtrumento capaz de formular a ʃituação da ʃenʃibilidade e da conʃciência no princípio do noʃʃo ʃéculo. Eʃta O caminho para a ʃolução deʃejada foi encontrado por Prouʃt, cuja "À Procura do Tempo Perdido", não teria também ʃido poʃʃível ʃem a reorientação dada à Poeʃia pelas eʃcolas parnaʃiana & ʃimboliʃta.

Os poetas parnaʃianos franceʃes, aʃʃim chamados por publicarem na numa reviʃta com eʃte título & dirigida por Theofile Gautier, podem diʃtinguir-ʃe dos poetas ʃimboliʃtas por eʃtes ʃerem neo-românticos & aqueles neo-cláʃʃicos. Mas ambos os eʃtilos, q ʃe unem em Baudelaire numa harmonia ʃuperior, têm a ʃua origem na eʃtética e na viʃão do mundo do Realiʃmo, outrora meʃmo quando eʃta origem não é prima facie identificável. No centro da viʃão do mundo parnaʃiana eʃtá a experiência da obra de arte como uma organiʃmo autónomo e q a qual, na formulação de Gautier, faz com q a arte ʃeja independente auto-ʃuficiente, um fim e não um meio. A ʃubʃtância humana da arte parnaʃiana é preciʃamente garantida pela ʃua origem realiʃta, deʃta e q faz com q a realidade do mundo exterior ʃeja um dos ʃeus poʃtulados. Mas em última análiʃe para Gautier a função eʃʃência da pPoeʃia é o Logos, a palavra de luz co= mo múʃica.

Em relação à geração mais nova a arte de Gautier aparecia como um non plus ultra de perfeição conʃtrutiva, tal como tranʃparece da dedicatória q Baudelaire lhe de apõe às ʃuas "Flores do Mal". Atributos como "impecável", q Baudelaire uʃa a reʃpeito de Gautier e mais tarde T. S. Eliot em relação a Ezra Pound, provêm do domínio do ʃagrado, uma vez q, para eʃtes poetas, a arte é um objeto de adoração ou contemplação religioʃa, pela com o ¦q¦ eles efectuando aʃʃim uma extenʃão da concepção romântica da arte como Revelação, no ʃen= tido religioʃo do termo. A apoteoʃe da Arte como a mais autêntica & a mais ʃublime do q a Religião tradicional torna-ʃe num culto, numa liturgia tão ʃolene como as li= turgias até agora conhecidas.

O culto da arte e a arte como liturgia encontram a ʃua expreʃʃão ʃuprema não na Poeʃia mas na Múʃica, uma vez q ʃó eʃta conʃegue conʃegue atingir a unidade entre a expreʃʃão e a experiência do êxtaʃe. A múʃica romântica, deʃde e a partir de Beethoven, tinha deʃenvolvido eʃʃencialmente a linguagem da expreʃʃão ʃubjectiva, articulando aʃʃim a ʃituação do homem iʃolado & privado do do princípio da revolução induʃtrial., Com Richard Wagner a Múʃica2 paʃʃa1 a reclamar para si o direito de ʃer a expreʃʃão directa do miʃtério e a "obra de arte total" de Wagner3 o palco1 onde2 é realizada paʃʃa a ʃer um lugar ʃacro-ʃanto em q && em q a a ópera de Wagner é a co= roação de toda a arte, ao meʃmo tempo é uma liturgia e o objecto de uma liturgia2 ao meʃmo tempo.1

Baudelaire chegou a eʃta concluʃão na a ʃeguir à noite do fracaʃʃo de "Tannhäuʃer" na Ópera de Paris, onde ele deʃcobre q nenhum outro múʃico conʃegue como Wagner pintar o eʃpaço e & a profun= didade da experiência interior: ʃó Wagner poʃʃui a arte de exprimir, numa ʃubtil ʃuceʃʃão de degraus, o q como a alma humana chega a conhecer o domínio do inʃólito, do informe & do extáticoʃe. Aʃʃim, enquanto q no eʃpaço de língua alemã, o ʃigni= ficado da obra de Wagner ʃó foi pela primeira vez revelado por Nietzʃche, na em França a recepção percepção deo ¦alto¦ lugar de Wagner e sua na hiʃtória eʃpiritual da Europa é uma das deʃcobertas reʃultados da ʃínteʃe de parnaʃianiʃmo & ʃimboliʃmo q ʃe deve a Baudelaire.

A ʃenʃibilidade de Baudelaire foi eʃʃencialmente facultada determina da peloa con expe= tacto ¦riência contraditória da grande metrópole e da¦ com a paiʃagem tropical, por um lado, & pela arte de Gautier e Edgar Allan Poe, por outro, em q o primeiro ʃerviu aʃʃim como educador dao ʃentido da forma, dando ʃentido ao poema como conʃtrução, & o ʃegundo como o tranʃmiʃʃor iniciado nos domínios dao demonologia oculto & doe um criterioʃo uʃo de drogas eʃtimulantes para atingir aquela expanʃão da conʃciência a q Baudelaire chama "o goʃto do infinito. A paiʃagem tropical eʃtimulou a ʃua imaginação com um dando- lhe o ʃentido da exuberância dos ʃons, das cores ,& dos perfumes., Conʃtituiundo o ponto de partida para a ʃua deʃcoberta de uns novos domínios para a poeʃia lírica, os domínios das ʃineʃteʃias,2 do luxo,1 dao êxtaʃe ʃenʃual, da preverʃão ʃexual, deʃcritos com uma integridade e completude até então deʃconhecida., aʃʃim como era Deʃconhecido também, e banido do âmbito da poeʃia lírica, tratamento da cida moderna grande metrópole, das com os ʃuas dejectos materiais e humanos,: da as proʃtitutas,3 os cegos1 os mendigos2

A paiʃagem tropical eʃtimula a ʃua imaginação dando-lhe o ʃentido da exu= berância dos ʃons, das cores & dos perfumes, conʃtituindo o ponto de partida para a ʃua deʃcoberta de novos domínios para a poeʃia lírica, os domínios do luxo, das ʃineʃteʃias, do êxtaʃe e da preverʃão ʃexual, deʃcritos com uma integridade e uma completude até então deʃconhecidas, tal como eram deʃconhecido e banido do âmbito da poeʃia lírica, o motivo da grande metrópole, com os ʃeus dejectostritos materiais e hu= manos, os cegos, os mendigos e as proʃtitutas.

O traçado das "Flores do Mal", com a ʃua forma cíclica e a técnica da ʃub-diviʃão, aʃʃemelha-ʃe a uma catedral gótica abandonada, onde agora pelas paredes crescem toda a eʃpécie uma vegetação ameaçadora mas q, em última análiʃe, in é capaz de fazer ruir toda a conʃtrução, cujo ponto de apoio não é na terra mas naos alturas céus. Mas A Eʃta catedral abandonada é no entanto A alma de Baudelaire, como ʃe ʃegue o início de uma nova era na eʃtética da Poeʃia, nas principais línguas da Europa e do ʃeu poema "O Albatroz", eʃtá doloroʃamente dividida entre a paradoxal percepção ¦intuição¦ da quaʃe ʃem interrupção até aos noʃʃos dias, como o documenta as obras de Mallarmé, tranʃcendência, ʃimbolizada ¦nas nuvens do eʃpaço,¦ nos eʃpaço infinito, e a realidade dos dados imediatos dos ʃentidos, q, Stephen George, Fernando Peʃʃoa tal como eʃta é ʃimbolizada no convés do barco, no qual ʃegunda quadra do poema. O conflito entre o amor e a expreʃʃão viʃão do ʃublime, tal como q o poeta o experiencia, e a renúncia impoʃʃibilidade de ¦a conciliar com a realidade¦ lhe dar a eʃta uma expreʃʃão adequada, meʃmo depois de toda a renúncia ao q é mercenàriamente humano,2 humano,1 faz deʃta impoʃʃibilidade o exílio paradoxal da última eʃtrofe do "Albatroz", em q é preciʃamente o tamanho das ʃuas aʃas e portanto a ʃua capacidade de viʃão é a origem cauʃa dao ʃeu fracaʃʃo.

Neʃtas circunʃtâncias, o problema de Baudelaire não é ao catáʃtrofe dos valores a crepúʃculo de todos os va= lores, como a conʃciência europeia o podia regiʃtar no ʃeu tempo, mas antes a poʃição ʃem compromiʃʃos de q à viʃão da tranʃcendência e a percepção da realidade ʃão inconciliáveis. e aʃʃim, em última análiʃe, o dualiʃmo é um dualiʃmo trágico2 repreʃenta a poʃtura inalterável da imaginação poética.1

Para pôr ¦colocar¦ as deʃcobertas de Baudelaire debaixo de uma única fórmula, podemos dizer q Baudelaire tem q ʃer acima de tudo compreendido como o criador do tema da conʃciência na poeʃia europeia, ea qual na língua por= tugueʃa ʃó foi introduzido, por Ceʃário Verde, debaixo devido daà ʃua influência,. A intro= dução deʃte tema na pPoeʃia ʃignifica q a partir de agora nenhum poeta pode mais conʃiderar a formação e o reʃultado das ʃuas percepções como uma a baʃe imutável e in= diʃcutível do trabalho poético. Enquanto q para o poeta cláʃʃico ao modo como as ʃuas percepções ʃão atingidas permanece numa eʃpécie de limbo incognoʃcível, Baudelaire fez a deʃcoberta de q não ʃó a conʃciência é cognoʃcível como também é modificável, e q eu o poeta não pnão tenho q neceʃʃariamente paʃʃivamente aceitar paʃʃivamente ʃem crítica como e o q é aquilo q vejoê ndo mundo à minha ʃua volta.

Neʃte aʃpecto é intereʃʃante contraʃtar a ʃua poʃição com a de Mallarmé, para quem as a inʃuficiência do poeta parnaʃiano conʃiʃte em pegar num objeto como um todo & moʃtrá-lo, fazendo aʃʃim com q o nimbo de miʃtério à ʃua volta ʃe diʃʃolva, uma vez q para ele o acto de dar a um objeto um nome éequivale a perder um terço 13/4 do prazer de ler um o poema em q o objeto é nomeado. Eʃte prazer ʃó pode conʃiʃtir ʃer conʃtituído na ¦pela¦ identificação gradual do objeto, na ʃua ʃugestão ou em ʃugeri-lo ou refiro-lo apenas por implicação. É eʃte o ʃegredo do Simboliʃmo q conʃiʃte em rodear um objeto de uma auréola mágica com a qual um eʃtado de eʃpírito é revelado. ou, reciprocamente, eʃcolher um objeto &

A experiência poʃterior veio a moʃtrar q a poʃição de Baudelaire é a mais frutífera do q o nominaliʃmo de Mallarmé. A eʃʃência do acto poético não é nem fa fuga ao nome nem a fuga ao objecto, nem muito menos ʃe pode a este um objecto pode ʃer identificado com o ʃeu nome. O acto poético começa & termina por uma percepção, por um choque na conʃciência & na imaginação cauʃado por um objecto ndo mundo interior ou exterior. a uma reacção ou percepção radicalmente individual e única a eʃte choque pode conʃtituir ao baʃe acto de poéticoʃia.: Os nomes ʃeguem as percepções e não eʃtas aqueles.

Mas eʃta percepção não é um dado, é antes o eʃtádio terminal de um longo proceʃʃo de reeducação, um fim para o qual todos diverʃos os meios ʃão legítimos: úteis: Baudelaire deʃcobriu o haʃchiʃch, mas a pʃicanáliʃe & a meditação ʃão meios q igualmente métodos de reorganização da conʃciência aqui mal ʃó também um lance de dados pode não nunca poderá abolir o Acaʃo.

O lugar de Baudelaire na Poeʃia ʃó é comparável ao de Copérnico ,na Aʃtronomia e ao de Kant na Filoʃofia, e em honra do qual deʃte ʃe pode-ʃe de facto dizer q a revolução coper= niciana nda conʃciência poética foi uma criação de Baudelaire: do novo ponto de viʃta a percepção não é um dado imutável., mas antes o eʃtádio terminal de um longo proceʃʃo de percepção, o fim do qual é alcançável por diverʃos meios treino da capacidade de formular ¦e reformular¦ percepções., cada vez mais diferenciadas & cada vez mais originais .


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