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Entrevista_de_BU

Jovens adultos descendentes de imigrantes africanos em (dis)posições de destaque: um estudo sobre percursos de mobilidade ascendente entre as minorias

SubtítuloEntrevista com BU
Data2017
Sexofeminino
Idade: 28
Nível de formação: licenciatura
Ocupação: analista química
Percurso de mobilidade ascendente: percurso de Investimento Pessoal
Copyright© Este trabalho pertence ao ISCTE-IUL e ao Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Pode ser usado livremente para investigação, ensino ou uso pessoal somente com autorização da autora ou de algum responsável das respectivas instituições e mediante a referência a esta declaração de disponibilidade no texto.
EntrevistadorLeonor Tavares

Ok!

Ok?!

… Está pronto!

Então não é preciso dizer o nome não é preciso É ? É preciso nome?

Ano de nascimento?

Nasci em 1985.

O que é que fazes?

Sou analista química.. trabalho num laboratório de Indústria farmacêutica.

Escolaridade?

Tenho a licenciatura em ciências farmacêuticas.

Pais. Os teus pais são de onde?

Os meus pais são ambos de Cabo Verde. Ambos faleceram. Eu não conheci o meu pai, portanto não sei qual era a escolaridade dele. A minha mãe não tem escolaridade. Era analfabeta.

E o que é que faziam? Sabes?

A minha mãe aqui em Portugal trabalhava no campo ou trabalhava nas limpezas. O meu pai, eu sei que ele esteve aqui em Portugal mas entretanto foi para Cabo Verde, e exactamente o que ele fazia acho que tinha uma herdade, não sei. Não sei exactamente o que ele fazia , portanto

Irmãos?

Ahh! Tenho cinco irmãos

Idades?

Psss!!!

Idades? O que é que fazem?

O meu irmão mais velho tem 43 anos ahh, a minha irmã tem

E faz o quê?

É vendedor de seguros. Ahhh! A minha irmã tem o 11º ano, tem 38 anos, ahh neste momento ela não está a trabalhar, ela tirou o curso de auxiliar de infância mas ela está emigrou para França e não está a trabalhar. Ahhh!!! Um dos meus irmãos tem 36 anos e é canalizador de gás. O meu irmão de 34 anos, tem ahhh!... tem o ano e está desempregado e o meu irmão de 32 anos risos, ahh!!! barulho de avião a passar ahhh!! Ele trabalha como electricista numa companhia de dança contemporânea. E é assim

E agora vamos começar pela tua infância. A parte da escola… como é que foi…

A minha infância?! Pronto! Fui para a pré-primária, depois fui para a primária risos. Não foi assim uma infância foi uma infância assim normal apesar das circunstâncias vividas em casa porque eu vivi apenas com a minha mãe e o meu irmão mais velho. Os meus outros irmãos os meus 3 irmãos viveram na Casa do Gaiato e a minha irmã mais velha viveu num colégio de freiras. Isto porque a minha mãe tinha problemas com o álcool, ahh e na altura foi a opção ideal para eles. Eu como era a mais nova fiquei com a minha mãe. Ahh, pronto! Desde que conheci a minha mãe, pronto, ela sempre teve problemas com álcool mas havia problemas em casa mas isso não influenciou o meu percurso escolar. Pronto fui para a escola, fiz a primária, entretanto fui para o ensino básico, do ensino básico fui para o secundário ahh!! Isto na adolescência, tive assim pronto, a minha mãe faleceu quando eu tinha 16 anos. Ahh, houve uma altura, quando eu fiz 18 anos que, pronto, eu sempre fui uma rapariga muito recatada, muito tímida, nunca dei problemas mesmo após a minha mãe ter falecido nunca dei problemas aos meus irmãos ahhh

E quando a tua mãe faleceu ficaste a viver com quem?

Fiquei a viver com a minha irmã a minha irmã mais velha. Ela na altura tinha 3 filhos ahh, porque nós ficámos na casa da minha mãe, porque a minha irmã, ela engravidou cedo, entretanto ficou acabou por ir para casa ela saiu do colégio e acabou por ficar em casa. E então nós ficámos todos em casa ahh, ela acabou por eu acabei por ser mais uma filha para ela na altura e, pronto! Continuei os estudos, mas quando eu fiz 18 anos deixei de estudar terminei o ensino secundário e deixei de estudar.

E até aí nunca tinhas chumbado, certo?

Sim, sim. Nunca tinha chumbado mas entretanto deixei de estudar porque foi uma opção minha! Foi uma opção minha porque eu nunca fui de extravasar os meus sentimentos, as minhas emoções barulho de avião a passar ahh!!! Mas pronto, sentia-me cansada e então deixei de estudar e estive a trabalhar. Estive a trabalhar numa pastelaria, também trabalhei num supermercado, mas entretanto apercebi-me que não era exactamente aquilo que eu queria para a minha vida, ?! Eu sabia que tinha potencialidades para mais e voltei a estudar. Fui para a faculdade. Pronto, terminei o curso e comecei.

E como é que foi a escolha da faculdade, do curso…

Ahh, eu quando andei no ensino secundário, no ensino secundário fui para ciências e tecnologias. Era exactamente a área que eu queria. Ehh! Ainda no secundário, ainda tive algumas dúvidas, algumas reticências realmente qual era o curso que eu queria. Estava em dúvida para ir para enfermagem, tive em dúvidas para ir para biologia, mas depois acabei por me aperceber que a minha área era mesmo a química e então fui para ciências farmacêuticas que é uma área com bastante química, então fui para ciências farmacêuticas, terminei o curso e fui estagiar na OVION estive a estagiar e acabei por ficar e estou até agora.

E o estágio era vinculado ao curso, certo?

Sim. Sim, sim, sim. O estágio foi vinculado ao curso. Fiz o meu estágio ahh pronto, acho que correu bem risos. Correu bem o estágio. Aprendi bastante. E agora faço o que eu gosto. Realmente trabalho na indústria que eu gosto e

Vês-te a ficar nessa profissão? BU. Sim. Sim, sim, sim. Pronto… ahhh… pretendo continuar. Agora não sei daqui para frente o que é que me reserva, o que é que que eu irei fazer… porque eu sou de momentos. Eu agora estou aqui a fazer isto, mas entretanto apetece-me fazer outra coisa e posso vir a fazer outro curso. Ahhh! Não sei, mas até à data as coisas foram correndo, pronto, com todos os percalços, foram correndo bem, né?! Tendo uma perspectiva positiva, acho que as coisas correram bem.

Mas isso quer dizer que tiveste dois empregos antes da licenciatura?

Não, eu mesmo antes de ir para a faculdade sempre estudei. Sempre estudei?! Sempre trabalhei nas férias escolares. Comecei a trabalhar nas férias escolares, tinha 16 anos. Trabalhei como babbysitter no Algarve, nas minhas nas férias, depois ia trabalhando em restaurantes, mas isto era mesmo nas férias. durante as férias escolares, porque era necessário ajudar em casa, não é?! Pronto, na altura estava a morar com a minha irmão, ela tinha 3 filhos, as coisas não eram assim tão simples, não eram assim tão fáceis, ?! Então o facto de trabalhar nas férias dava uma ajuda para as despesas escolares que se avizinhavam sempre. Pronto, mas trabalhei numa empresa de logística durante um ano e meio e foi que eu me apercebi realmente que não era aquilo que queria aquilo que eu queria para a minha vida, não é?! Então foi que eu depois decidi ingressar na faculdade. Portanto

E influências? Sentiste influências de alguém em especial?

Eu nunca tive influências de ninguém. Acho que nunca tive influências de ninguém. Isto porque também não Pronto! Os meus irmão nunca estudaram além do ensino secundário têm o o 10º ano Ahhh!!! Mas era uma coisa que eu sentia. Era uma coisa própria! Era de mim! Era de mim! Então, eu sempre gostei de estudar. Acho que sempre fui uma aluna uma boa aluna. Tinha boas notas e mesmo durante o tempo em que deixei de estudar, mas por opção minha porque existem momentos da vida que não para aguentar tudo, não é?! Ahh! Eu apercebi-me que eu sabia que ia voltar a estudar , não sabia era quando, não é?! Então sempre alguma força interior que nos diz que não, não é agora mas, tens que continuar. Depois vendo a situação em que estava e o ambiente em que eu estava, eu apercebi-me que realmente aquilo não era vida para mim, não é?! Então, eu sabia que eu podia dar mais e decidi ir para a faculdade, mas eu não tive assim nenhuma influência que justificasse a minha ida para a faculdade ou sei ... Eu sabia que podia fazer mais, não é?! Mas não por alguma influência de familiares ou de amigos. Mesmo os meus colegas, mesmo os meus melhores amigos por acaso não foram para a faculdade, não é?! Mas tenho colegas minhas que foram para a faculdade e acho que não era por . Acho que é uma questão minha. Uma questão de mim própria. E mesmo no bairro onde eu vivo existem poucas pessoas que foram para a faculdade. Mas pronto, mas não deixam de ser boas pessoas por isso! É pronto

E dificuldades nesse período desde a escola primária até à faculdade? Sentiste alguma dificuldade em alguma disciplina ou em termos de convivência?

Não. Em termos de convivência, não. Em termos de disciplinas comecei a ter mais dificuldades quando fui para o secundário, em termos de matemática, mas pronto, tive de ir para explicação e, pronto, correu. É uma daquelas coisas que é com esforço que acabas por conseguir ahh

E em relação aos professores, à escola?

Eu sempre fui uma boa aluna, nunca tive assim nunca dei problemas a minha irmã nunca teve nunca foi chamada à escola; a minha mãe também não ahhh. Nunca tive assim nenhum tumulto na escola que pudesse justificar alguma coisa de menos positiva. Em relação a alguma influência de algum professor? Tive uns dois professores que me marcaram mais e que falava mais com eles, mas não foi por , nem sequer foi por . Pronto! Incentivavam não a mim como a outros colegas meus, mas não tive assim nenhum tipo de influência por parte deles, portanto acho que fiz o meu caminho acabei por fazer o meu caminho sozinha, não é?! Não

E é um caminho que sentes que foi planeado ou…

Não, porque eu não faço planos. São coisas que são necessidades que eu sinto. São necessidades! Poderia perfeitamente ser poderia perfeitamente ser planeado, não é?! Mas acho que são necessidades que depois acabas por te aperceber que a tua situação económica pode ser mais estável, não é?! Mas para isso é necessário que estudes e trabalhes para que tal aconteça, não é?! É óbvio que eu não queria trabalhar como senhora das limpezas, não é?! Ou ficar o resto da minha vida a trabalhar atrás de um balcão. Então, para isso, eu apercebi-me que eu tenho que trabalhar, não é?! Para melhorar a situação em que estava. É claro que, por exemplo, não queria trabalhar como a minha irmã, ela chegou a trabalhar como cantoneira de limpeza, não é?! Não é algo não é que seja um mau emprego é necessário, é necessário, mas é claro que uma pessoa tem ambição e quer sempre mais

E achas que foi isso que te motivou a…

Sim, também. Acaba por ser isso. Acabas por ver as situações, por ver o meio ambiente em que estás rodeada e vês que podes sempre dar mais, não é?! Acho que foi isso a aminha motivação. O chegar mais além do que, do quem do que os meus irmãos, do que a minha mãe, não é?! Acho que foi isso que me motivou, mas não foi assim se bem que a minha mãe sempre me disse pronto, tens que estudar, ela nunca estudou, pronto! Ela teve oportunidade para estudar, mas nunca estudou porque nunca quis, mas sempre pronto, tens que estudar tens que ser alguém na vida, ?! Mas não houve aquela aquele esforço, aquela coisa de que não uma obrigação, em que pronto, imagina que por acaso, se eu tivesse alguma nota, ficassem super chateados comigo, não é?! Não! Tipo, coisas que acontecem porque têm que acontecer, mas pronto

Então e como é que eram os teus hábitos de estudo? Por exemplo: tinhas alguém que te corrigisse os trabalhos de casa? Tinhas, hee…

Na altura em que eu da primária até ao ensino básico, nunca tive assim ninguém que a minha mãe não sabia ler, o meu irmão raramente estava em casa, a minha irmã na altura não estava pronto, tinha hábitos de estudo?! Ia estudar com os meus colegas ou estudava em casa estudava apesar de haver situações em que era complicado estudar em casa, mas ia para escola mais cedo e tentávamos estudar para os testes, para o. Mas, não Eu tinha hábitos de estudo. Chegava a casa e tentava estudar o que foi leccionado no dia ahhh, mas estudava sempre depois das aulas, ou imagina que entrasse à uma da tarde, ia para a escola duas horas mais cedo para tentar estudar se não tivesse concentração suficiente em casa Ou ia estudar com os meus colegas Era por , não nunca teve assim

E de leitura?

Ahhh sempre gostei de ler, desde a primeira classe, desde que me lembro de aprender a ler sempre gostei de ler. Ahhh e lia, lia bastante. A minha mãe nunca me comprou livros, não é? Então quando fui para o ensino básico estava sempre na biblioteca. Estava sempre a alugar livros e lia bastante, ?! E depois comecei a ler livros de aventuras livros próprios para a idade, não é?! E pude evoluir. Mas sempre gostei de ler e até agora é uma das coisas que eu mais gosto de fazer, é ler. Mas não foi nada incentivado. Tipo, os meus irmãos, eu não os vejo a ler, não é não é por . Mesmo assim eu ofereço os livros para eles lerem, mas não eu sempre gostei de ler.

E agora falamos um bocadinho da tua profissão actual. Ahhh… Como é que é o ambiente de trabalho? Se gostas do que fazes?

Sim, gosto do que eu faço eu pensei de todos os trabalhos que eu tive, não é?!( Eu trabalhei em supermercados, eu trabalhei em café) Eu pensei que quando fosse pronto!... que quando começasse a trabalhar na área ehhh! O tipo de ambiente e o tipo de relações entre as pessoas fosse diferente, mas não. Depois eu apercebi-me de que as relações entre as pessoas no local de trabalho acaba por ser acaba por ser igual! Porque existe sempre aquele que gosta de dizer: Eu sei mais do que tu!; existe aqueles que são mais amigos do chefe; existem aqueles então acaba por ser ela por ela. Então fiquei um bocado desiludida em termos de ambiente de trabalho. Mas, se tentares separar as coisas, não é?! Tipo, é que eu faço! Tentas separar as coisas e acho que o que influencia muito o ambiente de trabalho é não saberes separar a tua vida pessoal da tua vida profissional. É isso que eu vejo hoje em dia no meu local de trabalho. coisas que me deixam bastante desiludida, mas pronto! Eu tento levar eu tenho a minha postura no meu local de trabalho e acho que é essa que eu tenho que manter. Pronto, eu tento dar o meu máximo; dar-me o melhor possível com os meus colegas; faço sou o mais profissional possível e o resto é tudo coisas que não fazem parte e que não interessam a ninguém. Mas, após um ano de estar, apercebi-me que as coisas realmente não são as coisas mais mais agradáveis de se ver e mais agradáveis de se conviver. Mas isso existe e acho que existe mesmo em todo o sítio. Quer trabalhes numa pastelaria, quer trabalhes num supermercado ou trabalhes num laboratório como eu trabalho, com pessoas que têm estudos académicos ahhh, não é o facto de teres o de seres estudante superior ou teres um curso, teres um mestrado ou teres um doutoramento que deixas de ser que deixas de ser mesquinho! É mesmo isso! A palavra é mesmo essa! Porque existem pessoas assim Infelizmente, existem! E pronto! Vai-se levando. Vai-se levando. Vai-se levando E não é por ser a senhora que faz a limpeza do laboratório ou por ser a minha chefe que são pessoas diferentes e existe eu vejo isso constantemente, diariamente Mas, pronto! Vai-se levando! Existe as pessoas que te dás melhor; existe as pessoas que te dás menos bem, mas ehhh mas vai levando as coisas.

Mas desde quando é que estás a trabalhar no…

Eu estou a trabalhar desde 2011.

Vai fazer três anos…

Vai fazer agora três anos.

E pretendes ficar?

Sim, pretendo ficar. Por enquanto pretendo ficar e se eles pretenderem ficar comigo, é claro que pretendo ficar! Acho que tenho feito um bom trabalho. Até á data não tenho tido razões de queixa, portanto e tenho andado a fazer um bom percurso profissional, dado as minhas avaliações ehhh, pretendo continuar!

E é um trabalho que te exige formação diária ou…

Ahh, sim! A formação ali não se faz nada sem qualquer tipo de formação. Eu não posso fazer uma análise se não tiver a formação para tal, ?! Ahh, ali é uma grande empresa dão-te formação cons constante formação, ahhh, e aprendes todos os dias. Todos os dias ali é local de aprendizado.

Explica-me só como é que é um dia normal para ti? De trabalho…

Um dia normal. Eu trabalho numa área em que é uma fábrica bastante grande a fábrica consiste em fazer princípios activos que é o componente essencial do medicamento, não é? Então nós fazemos análises para análises a esses princípios activos. Eu trabalho para a parte da produção, quer dizer, eu trabalho no laboratório de apoio à produção. Ou seja, tudo o que está a ser produzido no momento, nós analisamos vamos analisando, por isso a fábrica não fecha. A fábrica trabalha 24 horas. Ahhh, então eu sou eu trabalho no laboratório que apoio á produção. Ou seja, por exemplo, está a decorrer um processo de um determinado elemento em 8 horas de trabalho existem várias fases desse processo. Então, nós temos que fazer várias análises a esse princípio activo. Por exemplo, nós podemos ter que fazer nós depois temos, por exemplo, um guia para nos seguir durante o dia. Por exemplo, a produção fornece-nos o guia por exemplo, vai-nos entrar uma análise que é para determinar a quantidade de água desse princípio activo. Ou então nós trabalhamos muito com a coagulografia determinar eles dão-nos uma amostra da reacção para nós vermos qual é o perfil de do princípio activo e a impureza desse composto. Então, nós estamos constantemente a trabalhar e nós não trabalhamos apenas com uma frente de trabalho. Trabalhamos com várias. E depois temos que ser organizados, não é?! Eu trabalho com equipas. Nós somos duas pessoas por equipa ahhh, eu e o meu colega de equipa temos que nos organizar; ver nós trabalhamos com bastantes equipamentos e temos que nos organizar; preparar os equipamentos; e aguardar a entrada das amostras que estão a decorrer durante o processo. Essencialmente é isso! Porque depois de tudo De nós fazermos esse processo, que é o princípio é a base do processo, entretanto outra fase que são os colegas que fazem e depois existe uma terceira fase, que é a fase final, que são outros colegas que vão fazendo. Tipo, é tudo em cadeia, ?! Nós temos que ter organização para que tudo corra bem. Além de que existem prazos a cumprir e as reacções, que nós que trabalhamos com a produção somos os principais elementos a dar resposta, nós temos que fazer aquilo o mais rápido possível, porque são reacções que estão em contínuo e não podem parar. Porque, imagina se acontecem coisas no laboratório podem acontecer coisas no laboratório ou podem acontecer coisas na parte da produção, mas se acontece algum erro no laboratório a produção pode parar e isso implica custos bastante elevados. Por isso, é um trabalho é exigente, é muito exigente ahh, mas é bom! É uma coisa que gozo fazer. gozo. Depois a partir do momento em que entras no ritmo de tudo, acabas por acabas por nem sequer nós temos que ter técnicas! Existe muitas coisas que nós temos que saber é claro que não sabemos as coisas de cor temos tudo no computador, ahhh, mas coisas que fazes diariamente que nem recordas as técnicas nem nada e, pronto depois existem aquelas dúvidas que vão surgindo; existem os colegas que estão a trabalhar mais tempo, que vão-nos dando assim algumas dicas ahhh, é um trabalho interessante! Eu gosto daquilo que eu faço!

E a nível de horários e de…

Como eu trabalho da parte da produção eu trabalho por turnos . Por exemplo, eu agora faço turnos de 12 horas em que, pronto, entro às 8 da manhã e saio às 8 da noite ou entro às 8 da noite e saio às 8 da manhã. Isto são quem trabalha da parte da produção, ?! Depois existem colegas meus que fazem dois turnos ou entram às 8 da manhã e saem ás 4 da tarde e entram às 4 da tarde e saem à meia noite. Ahhh, ali existem vários tipos de horários, porque além de ser fábrica da parte dos laboratórios, existe a parte da contabilidade, a parte da secretaria, a parte dos recursos humanos, ?! Tudo isso envolve a parte da fábrica, mas pronto não é o ideal, mas acabas por trabalhar também ao fim-de-semana, acabas por trabalhar aos feriados, mas pronto vai-se trabalhando! Acho

E como é que geres isso com a tua vida pessoal?

Ahh! Neste caso, eu digo-te, nós vivemos em função do trabalho. Não é o trabalho que vive em função da minha vida pessoal. Então tenho que saber me organizar, além de que primeiro está o trabalho e depois é que consigo gerir o resto da minha vida pessoal, mas pronto vou tendo tempo ahhh

E deslocações? Como é que fazes?

Como resido no outro lado da margem do Rio, ?!, venho todos os dias de carro. Faço 45 km todos os dias para vir trabalhar, mais 45 km para voltar ahh, é um bocado dispendioso risos a nível de combustível, mas pronto vai-se fazendo. Ahh, pensei vir morar para Lisboa, mas não por agora. Por agora não.

Mas porquê?

Porque eu gosto muito de morar onde eu moro gosto muito do meu campo risos. É algo mais tranquilo. Tipo, Lisboa é uma cidade muito muito agitada! Então eu prefiro ahhh, vir trabalhar, vir para Lisboa Não me importo de vir para Lisboa todos os dias e ter aqui uma vida laboral e estar com os amigos e não sei quê, mas o descanso é mesmo do outro lado do rio. é que é tranquilo; foi onde eu cresci; é onde eu tenho as minhas raízes, tipo e eu sinceramente até à data ainda não me consegui desprender das raízes e não me estou a ver a morar em Lisboa. Acho que não é algo para mim.

Agora, aproveitando a deixa… falando em raízes… És portuguesa, certo?

Sim, sou portuguesa, nasci em Portugal.

Viveste algum tempo fora de Portugal?

Nunca vivi fora de Portugal. Sempre vivi aqui em Portugal.

E viagens? Por onde… porque países já andaste?

fui a França, fui a Luxemburgo, fui a Cabo Verde, fui a África do Sul

Em que contextos?

risos Pronto, a França acabei por ir porque a minha irmã foi para residir, não é?! Ahhh, ao Luxemburgo também fui porque tenho uns amigos foram para residir a Cabo Verde foi no ano de 2012, fui

Sempre em férias?

Sim, sim, sempre em férias. As viagens que eu fiz foram tudo em férias Ahh, Cabo Verde fui em 2012 porque fui conhecer Cabo Verde. Depois de muitos anos a querer ir, ainda não tinha tido oportunidade, fui e adorei conhecer Cabo Verde e é uma um dos países que eu pretendo ir mais frequentemente porque, pronto, fui conhecer o país dos meus pais, a cultura que a minha mãe me transmitiu ahh, e adorei, adorei conhecer Cabo Verde. É mesmo um país encantador, as pessoas são super simpáticas, super acolhedoras e acho que tem tudo a ver comigo. Tem tudo a ver. Quando eu fui para não tive qualquer tipo de choque, não houve nenhum tipo de choque cultural porque, pronto, conhecia tinha o conhecimento que me tinham passado e eventualmente poderia haver alguma coisa que me pudesse ser diferente, mas por acaso não achei diferença nenhuma em termos do que eu sabia e do que eu encontrei e o que encontrei acabou por superar as minhas expectativas. Portanto, é um país mesmo a voltar! Ahh

E em termos culturais, identificas-te?

Ah! Identifico-me bastante! Sempre identifiquei e acho que

O que é que já sabias de Cabo Verde, sendo a terra dos teus pais e … com que viste?

O que é que eu sabia?! Ahh Pronto, além da comida porque não houve qualquer tipo de problema com a alimentação, tipo eu como tudo que seja de Cabo Verde. Ahh a música, e acabei por aprofundar mais o meu conhecimento musical de Cabo Verde. A literatura porque depois acabei por além de ter alguns conhecimentos de Cabo Verde, depois acabei por ter por travar conhecimentos com pessoas, com estudantes que vieram estudar aqui para Portugal e que eram de Cabo Verde e acabamos por ficar amigos, e acabaram por transmitir essa cultura e essa vivência e o gosto por Cabo Verde. Porque quando quem vem estudar de Cabo Verde para Portugal encontra sempre uma enorme uhh, encontra muitas diferenças em termos culturais, não é?!, então vivem muito acabam por eles acabam por não se desapegam da sua cultura e vivem muito a cultura aqui em Portugal. E o facto de encontrar pessoas que se identificam mesmo que não tenham nascido , e que se identificam com a cultura Cabo-Verdiana para eles é super, é super agradável, super bom, não é?! Porque sentem-se acabam por se sentir em casa e é isso mesmo que eles precisam, ?! Tipo, sair de um país co cultura, com clima, com comida completamente diferente para chegar aqui é um choque bastante grande depois encontrar pessoas que se identificam, pessoas da idade que se identificam com eles, é bom, não é?! Então, acaba por ser também acaba por influenciar, apesar eu ser filha de caboverdianos, não conhecer tudo de Cabo Verde, conhecer alguma coisa acaba por ser uma troca de vivências, não é?! Eu posso transmitir as coisas de Portugal, não é?, e fazer perceber que nem tudo que Portugal tem é mau, não é?! E eles acabam também por transmitir as coisas mais profundas que quem não quem não vive e quem não nasceu não conhece e é uma troca de vivência muito agradável. Pronto, e

E que diferenças é que sentiste mais em relação ao que tu pensavas que era?

Eu nunca Não fui assim com muita expectativa, nem fui com expectativas de encontrar coisas muito más ou acho que aquilo superou todas as minhas expectativas. Não fui mesmo com expectativas, eu fui FUI! Fui e superou-me as expectativas em termos de acolhimento, das pessoas te acolherem ahh, as pessoas são super simpáticas tu passas na rua e as pessoas dizem-te bom dia mas é todos os dias aquela coisa que a minha mãe me passou quando era criança de estares na rua e dizer bom dias às pessoas, de estar na paragem e dizer bom dia e tu hoje vês, chagas a uma paragem e dizes bom dia e as pessoas não respondem e não. não se isso. Não se . Vê-se, tu dizes bom dia e as pessoas respondem-te, não é?! As pessoas ali conhecem-se todas umas às outras, ahh barulho de avião a passar O que me deu mais prazer foi ver as crianças tipo, adorei ver as crianças a jogar à bola de descalço ahhh, porque hoje em dia, ?! onde eu vivo antes, quando era mais criança havia muitas crianças no bairro, mas entretanto as crianças começaram a crescer, as pessoas começaram a emigrar e cada vez menos crianças e não se não não se as crianças a brincar na rua então, quando eu cheguei e vi aquelas crianças todas na rua a brincar e serem aquele sorriso super simples adorei, adorei, adorei ver aquela e ver que Cabo Verde é mesmo um país super, super, super jovem. É muito jovem. E ver que os jovens têm interesse, ahh são eles são didácticos! Acabam por ter interesse na sua formação, têm os centros de juventude acabei por ir conhecer os centros de juventude eles têm mesmo bastante interesse em termos políticos, em termos de formação, em termos de cultura ahh, porque às vezes pode-se pensar que são muito jovens mas a única coisa que eles querem é boa vida, ou entrar no mundo da droga, ou mas não, mas vi que existem muitos jovens bastante preocupados com a sociedade em questão e com a própria juventude porque são eles, ?!, são eles que acabam por levar o país para a frente e isso fez-me ver que realmente gosto de Cabo Verde, ?! É um país pequeno que tem mais pessoas emigradas do que dentro do próprio país e perceber que os jovens estão preocupados com o país em que vivem, não é?! Isso também fez-me reflectir e ver que realmente Cabo Verde é um bom país e tem as suas preocupações e que os jovens preocupam-se não com eles mas com o país em si e que uma das coisas que também me fez, ahhh, ficar super feliz foi a proximidade entre os jovens e as pessoas mais velhas, não é?! Foi uma coisa que também foi-me passada e casa pronto, eu tinha a minha avó e a minha mãe sempre e a minha mãe e o meu tio sempre foram muito próximos da minha avó. E hoje em dia, aqui em Portugal, vê-se que existe um distanciamento entre as gerações e não. Existe uma proximidade porque as pessoas mais idosas estão na casa dos filhos, estão com os netos, estão com os sobrinhos tipo, é tudo uma família. Enquanto aqui vê-se um grande distanciamento. Isso tudo superou as minhas expectativas, não é?! Tipo, eu não fui assim com expectativa nenhuma, nem negativa nem positiva, mas o que eu fui superou as minhas expectativas em termos tudo para melhor, para bem.

Em que zonas de Cabo Verde é que estiveste?

Ahhh, eu estive na ilha de Santiago, fui ao Tarrafal, fui à Somada, fui a Picos e fui a outra zona que agora não me lembro o nome risos. Mas fui às zonas mais do interior, ás zonas mais do interior que é tudo muito verde. Se bem que eu gostei de ir mais do interior gostei de ir mais à Somada e ao Tarrafal que é parte do interior e a cidade em si, pronto, é cidade. É cidade mesmo, ?! Existem muitas pessoas, é aquela agitação, não é?! Ahh, mas o interior fascinou-me muito mais do que a cidade. Pronto, existem as praias e pronto, mas o interior, o interior do país fascinou-me mais. É muito mais verde, pronto, existe as pessoas que cultivam bastante e eu fui na altura em que estavam a cair as primeiras chuvas e as pessoas que estavam na agricultura estavam super felizes porque estava a chover, não é?! Porque a água é escassa em Cabo Verde e pronto, e via-se as pessoas mesmo os jovens, ?!, bastante felizes porque estava a chover! Eles estavam no campo, estavam a semear ou estavam a apanhar e foi muito muito giro. Tipo, foi um bocado regressar à infância porque, pronto, foi isso que a minha mãe me passou quando era criança e eu, a maior parte da minha infância, também passei com a minha madrinha que também tinha horta e tinha muitos filhos e foi foi muito giro, não é?! Ver, pronto, foi um bocado recordar a infância. Muita simplicidade, ?!, muita pobreza, mas muita simplicidade e muita união acima de tudo. Pronto, foi

E vês-te a morar em Cabo Verde, ou gostavas?

Por acaso, gostava. Gostava de morar acho que é muito mais tranquilo. Tipo, o ritmo de vida é muito mais tranquilo e eu via-me a viver em Cabo Verde sem qualquer tipo de problema. Via-me mesmo a viver em Cabo Verde, mas por enquanto não para ir viver para , mas pronto, espero um dia conseguir poder ir viver para .

Agora vamos falar um bocadinho dos teus planos para o futuro…

Os meus planos para o futuro risos.

Se é que tens, não é?

Eu não faço planos

Mas como é que te vês daqui a 10 anos?

Não sei. Pretendo me ver a trabalhar, não é?! Pretendo construir uma família Não sei se será possível ou não. Não sei o que é que a vida me reserva, mas pronto! Pretendo continuar nos processos sociais ahhh, não sei! Ahh!!! Não sei! Não sei!

E a nível de formação? Pretendes continuar a estudar… não pretendes…

Ahh Agora pretendo Ahhh!!! Pronto, agora como estou a assimilar muito mais o que estou a aprender em termos de trabalho Comecei a trabalhar pouco tempo, não é?! Relativamente pouco tempo ahhh, pretendo ter a formação toda necessária no local de trabalho. Ahh!!! Eventualmente, daqui a uns dois anos, pretendo ir outra vez tirar um mestrado ou alguma coisa ainda não sei exactamente o quê, ahhh, mas é algo a ponderar! É algo a ponderar. Não sei exactamente o quê. Tipo, eu não faço planos a longo prazo porque uma pessoa nunca sabe o que poderá surgir, não é?; quais são as oportunidades que virão, então, pronto! Vou vivendo um dia de cada vez. Mas talvez daqui a dois anos ou daqui a um ano e meio, talvez pense voltar a estudar.

Ponderarias, por exemplo, morar noutro país?

Eu ponderaria morar noutro país, mas não num país da Europa! Se fosse viver seria, tipo, um país africano. Porque eu sinto-me bastante ligada a África, ?!, e então seria num desses países. Podia ir para Cabo Verde ou ir para Moçambique, ou à Guiné acho que, pronto, como eu trabalho na área da saúde e acho que sempre acho que nesses países existe sempre falta de mão de obra e falta de falta de existe uma existem lacunas nessas áreas, acho que seria uma mais valia poder ir e contribuir para o desenvolvimento desses países. Não um país da Europa. Não me imagino mesmo a viver num país da Europa. Pronto, vivo aqui em Portugal e fui a alguns países da Europa, mas não é o que não é o que me cativa! Acho que se fosse viver e trabalhar, seria num país de num país africano. Isso sim, porque acho que nós precisamos é de ajudar quem precisa mais e acho que a Europa tem ajudas a mais risos. É muita mão-de-obra e é muitos cérebros por . Portanto acho que o continente africano precisa. Se bem que tem bastante mas acho que precisa de mais ainda, portanto seria seria ! Seria . Vejo-me mais a viver num desses países, apesar de serem mais pobres e se bem que estão-se a desenvolver muito bem, mas acho que ia-me sentir mais feliz e mais realizada a viver num desses países.

E o que é que achas que é semelhante ou contrastante entre a Europa e África?

O que é que é semelhante? Humm Não sei! Semelhante?! Eu acho que África está um bocado a imitar a Europa, no meu ponto de vista acho que áfrica está um bocado a imitar a Europa ao fazer estão no mau caminho porque África é um continente muito rico e tem as suas próprias potencialidades e é nisso que eles têm que se agarrar. Pronto, existem existem estruturas e que se pode ir tirar ideias, não copiar, porque senão vai-se estragar o que de melhor se tem em África. Ahhh acho que de semelhante, acho que não tem assim nada entre África e Europa. Acho que são continentes muito diferentes e a ideia que os africanos têm é que a Europa é sempre muito melhor do que África, o que na verdade não é. É necessário, sim, potencializar o que se tem e buscar toda a riqueza que os países têm. , sim, é uma coisa que se tem que trabalhar, mas de semelhante não vejo que se tenha muita coisa. Não estou a ver também não é que eu tenha muito conhecimento de causa, portanto também não posso falar muito, mas não acho que tenha assim muitas semelhanças.

E então o que é que dirias que poderia ter sido uma vantagem de teres estudado em Portugal ou…

A vantagem de trabalhar em Portugal é porque acabas sempre por adquirir novos conhecimentos e acabas por ter conhecimentos que não existem, por exemplo acho eu, acho eu, não é?!, sem conhecimento de causa, que não existem em nenhum desses países africanos, não é?! Porque Portugal é muito mais desenvolvido do que Cabo Verde, Moçambique ou a Guiné Bissau, por exemplo! sim, consegues adquirir mais conhecimento que depois poderás aplicar num desses continentes, num desses países do continente africano. Ahhh sim, é uma mais valia! É por isso acho que é por isso que muitos dos estudantes, apesar desses países terem faculdades e terem Universidades, acabam por vir estudar sempre para fora ou não para Portugal mas para outros países da Europa, ou mesmo para Marrocos ou para o Brasil eles sempre acho que vão à procura de mais conhecimentos que não existe, ou que pensam que não existe ainda no país de origem. Acho que é isso! Acho eu que é isso que faz com que os jovens saiam de e venham à procura de novos conhecimentos. Acho que realmente estudando aqui em Portugal tem-se mais conhecimentos do que quem está, não é?! Ou posso ir ajudar com os conhecimentos extra que eu tenha. Não é que ele não tenha conhecimentos! Óbvio que tem, não é?! E as coisas estão-se a desenvolver para isso, mas podia ir com os meus conhecimentos daqui ir ajudar mais, não é?! Porque eu não ia ensinar nada! Eu acho que é isso que acho que esse é um erro que muitas pessoas têm: que quem estuda fora tem sempre mais conhecimentos e vai ensinar alguma coisa. Eu acho que não. Acho que quem estuda fora consegue ir ajudar, ir auxiliar o que está Não é, tu não vais ensinar nada a ninguém , acho que é isso

E o que é que destacas assim, por exemplo, que tu gostas da cultura portuguesa?

Da cultura portuguesa gosto muito da música da Gosto muito da música portuguesa e acho que os jovens de agora, acho que a nova geração se bem que estão muito internacionais porque acho que deviam cantar mais em português e não o fazem ahhh, gosto da literatura, da poesia acho que a poesia portuguesa é muito boa ahhh, e gosto da comida, gosto muito da comida porque me identifico muito com Portugal. Não tenho nada, ahhh identifico tenho as duas culturas: tenho a cultura caboverdiana e tenho a cultura portuguesa, portanto sinto-me privilegiada por ter essas duas culturas. Identifico-me bastante com a cultura portuguesa, não tenho qualquer tipo de problema em ouvir música, ouvir fado, não é?!, em ouvir música portuguesa, em ir aos arraiais. Vou e tenho amigos que são mesmo meus amigos e não tenho problema em ambientar-me nesses contextos, por isso sou portuguesa caboverdiana ao mesmo tempo risos. É muito bom ter duas culturas.

Então defines-te como uma mistura das duas coisas?

Sim, sim, sim sou uma mistura das duas coisas e quando é possível juntar as duas coisas, melhor ainda, não é?! Uma das coisas, como eu trabalho numa associação, e uma das que se tenta fazer é transmitir muito da parte da cultura africana aos portugueses, mas também trabalhar com os portugueses e fazer uma mistura entre as duas coisas. Não se trabalha apenas com Nós não trabalhamos apenas com os caboverdianos ou com africanos, trabalhamos com um misto, trabalhamos com africanos, portugueses, brasileiros e sempre uma uma mistura e sempre troca de ideias entre as duas coisas e isso acontece e houve várias coisas que se fez em conjunto e que correram bem. Acho que é isso que tem que se fazer. Tem que haver uma troca de ideias entre as duas culturas e ver que tanto os portugueses têm que ver que nem tudo o que vem de África é mau, ?!, porque normalmente é essa a ideia que se tem, que o que vem de África ou que vem de outros países é mau, eles têm que saber aceitar a cultura e as origens dos africanos ou de quer que seja, ou de outro país e assim como, nós africanos, nós africanos?!..., os africanos que vêm mesmo, têm que aceitar a cultura portuguesa porque estão num país que não é deles. Eles têm que saber aceitar, não podem restringir apenas ao que eles conhecem também saber absorver o que o país lhes . Acho que é acho que também uma resistência, por vezes existe uma resistência entre os africanos em absorver o que Portugal lhes tem para lhes dar. Porque isto existe inúmeros factores que também condicionam isso pronto!

E agora em termos de hobbies! O que é que fazes nos teus tempos livres?

Eu agora, a partir do momento em que comecei a trabalhar, é um bocado mais difícil ter tempo livre, não é?! Mas pronto, além do trabalho na associação que eu considero como um hobbie, risos ahhh pronto, gosto de estar com os meus amigos, sair, dançar, ler, ouvir música, ir a concertos, ahhh ir ao teatro mas, pronto, eu poderia fazer isso mais vezes, mas é mesmo falta de tempo, mas é uma coisa que eu gosto de fazer. São pequenas coisas. Coisas que dão prazer. Ir ao teatro, estar com os meus sobrinhos e levá-los ao Oceanário alguma coisa assim, essas coisas assim pequenas coisinhas que, pronto, que me dão prazer.

Fala-me um bocadinho do teu trabalho na associação.

Ahhh o meu trabalho na associação É assim, pronto, eu trabalho numa associação a associação tem 10 anos. Entretanto eu entrei na associação

Como é que se chama a associação?

Ah! A associação é a FASP que é a Fundo de Apoio ao Caboverdiano em Portugal ahhh o objectivo inicial da associação era ajudar os doentes evacuados que vinham de Cabo Verde para Portugal. Entretanto, ahhh, foi-se trabalhando nessa área mas depois começou-se a alargar os horizontes da associação, além de trabalhar com os doentes, começou-se a trabalhar com crianças ahhh, começou-se a trabalhar com outras coisas, com a parte cultural também e também com cidadania em termos ahhh, com cidadania, isto quer dizer, entre os direitos e os deveres tanto dos imigrantes, tradicionalmente dos imigrantes porque os imigrantes vêm em situações que não são às vezes não vêm em situação regular e procuram bastante a situação para os ajudar e também fazê-los perceber que eles têm direitos, mas também têm deveres e isso é uma coisa que as pessoas às vezes não têm noção que é necessário trabalhar porque quando é na altura dos direitos toda a gente sabe reclamar mas nos deveres é um bocado mais complicado saber trabalhar com eles. Ahhh, nós trabalhamos mais propriamente com as crianças, trabalhamos com a criança com tentamos trazer a África positiva, não é?! Temos várias crianças que cantam, que dançam e nós trabalhamos com o dia da criança africana que é algo que nenhuma das associações acho que de caboverdianos alguma vez trabalhou aqui em Portugal e é uma coisa que se tem que é uma coisa muito positiva que se tem que ver que crianças filhos de imigrantes ou mesmo filho de imigrantes ou mesmo filhos de terceira geração, filhos de filhos, dos avós, ?!, que são imigrantes mas que também conseguem ter essa cultura que os pais foram passando mas também sabem têm outras valências, não é?!, e que sabem cantar, sabem tocar, sabem tocar piano e saxofone e nós pegamos nessas crianças que têm essas actividades e têm paixão por essas actividades e fazer…ahh, construir uma coisa bonita, fazer transmitir isso à sociedade portuguesa, porque a sociedade portuguesa também tem a ideia de que os filhos de imigrantes nada sabem fazer ou sabem a única coisa que sabem fazer ou a única coisa que eles vêm é o que os media passam, não é?!, que é tudo negativo. E então nós, o que a associação tenta passar é a África positiva. Então é assim que nós tentamos fazer. Na associação acabo por fazer um pouco de tudo porque a associação não tem assim tantas pessoas como seria o ideal, então temos todos que estamos de fazer um pouco de tudo. Por exemplo, trabalho de secretariado, um bocado de ir às portas bater às portas e dizer Ah! Nós precisamos disto, ir a conferências fazemos de tudo um pouco. Portanto, é bom! Existem muitas coisas que acabam por ser correm mal. E existem muitas frustrações que vêm ao de cima, mas em regra geral temos feito um bom trabalho. Pronto, e eu gosto de participar e gosto de trabalhar na associação porque a parte social é uma coisa é uma das coisas que me prazer. Ajudar o outro e fazer fazer mostrar que todos nós temos coisas boas para mos para dar à sociedade! Independentemente de ser a sociedade portuguesa ou ser a sociedade caboverdiana ou guineense, todos nós temos alguma coisa para dar, por isso é isso.

E poderias falar da academia?

Ah! Sim! A Academia UBUNTU foi eu participei na Academia UBUNTU através da associação porque, pronto, a Academia UBUNTU foi buscar uma série de jovens descendentes de imigrantes às associações e, pronto, a minha associação re ahhh fez co que eu participasse na Academia UBUNTU. A Academia UBUNTO, ahhh o objectivo inicial é dar formação de liderança a jovens descendentes de imigrantes. Isto foi a primeira etapa da Academia. Eu participei durante 2 anos, de 2011 a 201 2011, não 2010 a 2012, isso sim, ahhh na primeira parte tivemos formação com base, ahhh, em vários líderes, ahhh, africanos ou por exemplo, Nelson Mandela foi o patrono, Desmond TuTu, Martin Luther King foram ícones que fizeram, que fizeram de base à nossa formação de liderança. Com base na formação de liderança acabámos por ir a África do Sul durante uma semana conhecer o percurso e conhecer a história verdadeira da África do Sul, a história do Apartheid e da luta de Nelson Mandela. Ehh, entretanto foi um ano de liderança, depois a segunda etapa da formação fizemos, ahhh cada membro da Academia UBUNTU fez um projecto, criou um projecto ou em grupo ou individualmente, para a sociedade. Foi um projecto em contexto socio-económico. O objectivo dos projectos era serem projectos empreendedores. Houve projectos que avançaram e outros que nem por isso, mas que ou estão em prateleira, mas que vão avançar. Tenho falado assim com alguns colegas que alguns têm o projecto em prateleira mas que vão avançar e a Academia UBUNTU tem andado a continuar. Agora tem uma nova equipa e tem novos jovens a ter formação. Agora não são jovens descendentes de imigrantes mas são jovens descendentes, são jovens portugueses, são jovens de origem cigana, tipo, são todos os tipos de jovens mas que têm uma potencialidade, têm potencialidades para a sociedade e que trabalham com a sociedade, e que trabalham na nos seus bairros e que trabalham nas suas escolas e que têm essa capacidade de liderar e de mostrar o que de mais positivo têm os jovens para dar. Ahhh, e tem sido um excelente foi um excelente projecto. A Academia UBUNTU é um excelente projecto que acaba por dar novos projectos à sociedade e acabas por conhecer pessoas bastante interessantes e pessoas que ficam para a vida. Eu falo por mim porque conheci pessoas que ficaram para a vida. Ahhh, tem sido enriquecedor, foi enriquecedor. Agora não participo tanto porque não tenho assim tanto tempo, mas mantenho contacto com todos eles e foi uma experiência muito boa, e portanto, a todos os meus amigos que tenho e que gostem desse tipo de actividades, aconselho a visitarem porque a Academia UBUNTU fez N, mas NNN coisas durante este tempo que está em funcionamento e são coisas muito interessantes que os jovens fazem e as ideias que eles mostram e todo o tipo de pessoas que nós conhecemos, as pessoas que a Academia nos deu o privilégio de conhecer e de travar conhecimento ao longo destes anos foi uma experiência bastante agradável, foi muito bom! Portanto, quem não conhece tem que conhecer a Academia UBUNTU.

E a Academia tem projectos em Portugal ou no exterior também?

Não, agora tem tido em Portugal mas se bem que agora vão fazer alargar horizontes porque muitos dos jovens existem jovens que são da Guiné que querem levar o projecto UBUNTU para a Guiné porque é um exemplo a dar, querem levar para Cabo Verde e e querem alargar também para a Europa. Acho que é um exemplo a seguir, portanto todos os jovens e toda a secretaria e toda a gente que faz parte da Academia UBUNTU, tem essa ideia de alastrar e de dinamizar a Academia UBUNTU não em Portugal mas como em outros países fora de Portugal.

E foi através da Academia UBUNTU que fizeste a viagem à África do Sul.

Sim! Sim! Foi através da que sim, fui à África do Sul e conhecemos Fomos à Cidade do Cabo, Robben Island onde Nelson Mandela esteve preso, estivemos mesmo na prisão onde esteve ahhh, conhecemos acabámos por conhecer famílias, ah, acabámos por ficar, ficámos na casa de ahhh, de umas pessoas conhecidas de Nelson Mandela e deram nós não conhecemos Nelson Mandela pessoalmente porque na altura ele estava bastante debilitado, a sua saúde estava bastante debilitada, mas fizemos o percurso onde ele esteve, conhecemos museus, estivemos com a família que nos deu a conhecer todo o percurso da sua vivência na África do Sul, toda a luta e foi uma experiência muito, muito, muito agradável. Foi uma experiência muito boa. E acabámos por conhecer mesmo, conhecer de perto a realidade porque, pronto na altura do Apartheid eu era super pequena e às vezes ouvia as notícias mas não fazia ideia do que é que se passava e depois com a Academia e de ter ido a África do Sul é que eu percebi a verdadeira dinâmica e o que é que realmente se passou naquela altura, não é?! E pronto, são coisas muito emotivas. Conhecemos pessoas e histórias que nos motivaram bastante. Foi assim uma experiência muito boa, portanto foi bom.

E agora olhando assim para o teu percurso até hoje mudarias alguma coisa? O que é que mais te marcou?

O meu percurso?! Não, acho que não mudaria nada. Continuava tudo na mesma. Não tinha nada a mudar. As pessoas que mais me marcaram foi a minha mãe, apesar de tudo, porque ela teve o problema com o álcool e foram tempos bastante difíceis, mas marcou-me bastante porque apesar de tudo ela ensinou-me muita coisa, ela transmitiu-me muita coisa, ensinou-me e transmitiu-me o respeito pelos outros e isso é algo que eu tenho comigo, ahhh, e que pretendo preservar e que pretendo transmitir, por exemplo, aos meus filhos se algum dia vier ater filhos, acho que é isso que temos que ter. Temos que ter respeito acima de tudo pelas pessoas ahhh ah, a minha madrinha também faleceu e também foi uma pessoa muito do género que me transmitiu bons valores, não é?! A educação, o respeito para as pessoas, não é?!... ahhh, não tenho assim mais nada a tipo, assim de pessoas que me marcaram todas as pessoas da minha vida acho que foram importantes: desde aos meus irmãos, aos meus sobrinhos, aos meus amigos, às minhas primas, todas essas pessoas são importantes e que fazem com que eu continue, não é?!, porque acabam por ter independentemente de não mostrarem tanto, acabam por ter alguma expectativa em relação ao que eu faço ou que eu deixo de fazer ou que eu venha a fazer, não é?! Ahhh pronto, mas apesar de eu ser muito independente e de fazer, ir fazendo as coisas agora fiz isto e daqui a um ano estou a fazer outra coisa tipo, eles nunca estão à espera do que eu vou fazer, não é?! risos Nunca estão à espera porque Ah! Agora fiz isto! terminei esta fase! Vou fazer outra coisa porque isto aqui acabou, não tenho mais nada para mim, acabou, então vou fazer outra coisa. Então eles nunca sabem o que é que eu hei de fazer. Estão sempre a ser surpreendidos pelas minhas atitudes e pelo que eu venha fazer. Mas todas as pessoas que estão na minha vida são importantes! Ahhh, uma das coisas que depois ao longo do percurso, foi a minha mãe, a minha madrinha, os meus irmãos, ahhh Depois uma prima minha que eu vim a conhecer mais tarde e que agora somos as melhores amigas e que ela, sim, motiva-me bastante, , e está sempre a puxar por mim e faz em momentos que nós estamos mais em baixo, não é?!, não, mas tu consegues! É aquela coisa que nos puxa para cima, mas pronto, ter participado na Academia UBUNTU foi acho que foi das melhores coisas que aconteceram nos últimos tempos. A sério! Porque fez revelar em mim coisas que eu nem sequer fazia ideia que aqui estavam pronto, ter conhecido o Desmond Tutu pessoalmente, tipo, é uma pessoa super, super afável, uma pessoa encantadora ahhh, genuína, completamente genuína ahhh, e pronto, quase todas as pessoas que eu conheci na Academia UBUNTU vão ficando e ficaram. Aquelas que me marcaram mais, vou levá-las para o resto da minha vida. Acho que é isso risos.

E tens assim algum sonho particular? 01:02 -

Sonho. Sonho. Eu não digo sonho, tipo, um desejo mesmo que tenho é ir fazer voluntariado em África. Nunca fiz e é uma coisa que ainda aqui está. Tipo, fazer voluntariado vim fazer mais tarde porque tinha essa ideia muito tempo para fazer mas depois não dava para fazer e vim fazer anos mais tarde e agora tenho aquele desejo mesmo de ir fazer voluntariado em África. Não sei quando é que isso poderá acontecer. Espero que venha a acontecer, assim em breve. Ahhh, pronto isso é um dos meus maiores desejos fazer, poder ir fazer voluntariado em África, pronto em África, em qualquer em qualquer país! Seja em Cabo Verde, Moçambique, Guiné ou outro país até podia ser na Tanzânia, podia ser risos, que eu podia ir fazer mas pronto, é um dos meus maiores desejos por enquanto é esse.

E e como é que te defines como pessoa? Assim… qualidades, defeitos…

Eu como pessoa Eu sou uma pessoa super recatada, sou tímida fui mais tímida sou super tímida ahhh sou amiga do meu amigo, ahhh, odeio injustiças a sério, uma das coisas que eu odeio é odeio injustiças ahhh, tento passar aquilo que eu acho que tenho de melhor a quem está ao meu redor, não é?! Ás vezes se calhar não da melhor maneira porque eu não sou uma pessoa muito extrovertida nem muito de cativar tipo, eu cativo as pessoas, não é?!, mas não de como é que eu hei de dizer?!... não sou de arrastar multidões é essa a ideia. Mas tento passar existem pessoas que seguem a minha linha de pensamento e realmente as pessoas que estão ao meu lado e que eu vejo, nós temos a mesma linha de pensamento, não é?! Ahhh, defeitos: eu posso eu sou muito calma, sou, sou muito calma eu sou calma, ?!, mas tipo, eu não sou de me chatear muito facilmente, mas quando me chateio, chateio-me mesmo a valer e depois uma das coisas que eu não consigo fazer é perdoar facilmente. Isso acho que é um dos meus maiores defeitos. Uma das coisas que se aprende na Academia UBUNTU, ?!, através da filosofia de Nelson Mandela é que nós temos que saber perdoar barulho de avião a passar risos e isso nem sempre é fácil porque existem coisas que nos magoam bastante e a mim quando me magoam é muito difícil, é muito difícil voltar atrás porque está feito. As coisas magoam-te acho que esse é o meu defeito: não conseguir não saber perdoar. Não sei se vou levando, vou deixando as coisas, não é?!, mas pode ser que chegue um dia e consiga mesmo perdoar a sério, mas não é acho que é um defeito meu não conseguir perdoar. Pronto, é uma coisa que eu tenho que trabalhar. Mas defeitos não sei! Acho que sou um bocado chata risos. Ahhh, acho que não tenho assim nem muitos defeitos nem muitas qualidades. Pronto, acho-me super normal! risos Não tenho assim nada que venha a dizer que é muito em mim não sei. Acho que os defeitos as pessoas têm que dizer, portanto

E a nível de aptidões? Por exemplo: se não fosses analista o que é que serias?

Se eu não fosse analista o que é que eu seria?

Que coisas é que que gostas de fazer?

Poderia ser dinamizadora comunitária. Trabalhar com jovens. Ahhh, poderia ser uma contadora de histórias adoro contar histórias! risos Acho que é uma das coisas que eu aprendi e vi que realmente tenho gosto em fazer. Acho que eu faço as coisas com gosto. Se eu não gostar de fazer uma coisa, eu não faço ou faço contrariada. Não consigo fazer. É uma das coisas que eu não consigo não fazer é fazer as coisas contrariada se não gosto. Então tudo o que eu gosto de fazer, acho que teria aptidão para. Portanto, sim, trabalhar a agora trabalho com trabalho na área da saúde mas não trabalho com pessoas, directamente com pessoas, não é?! barulho de avião a passar, mas se fosse outra área que eu tivesse que trabalhar seria numa área em que estivesse ligada directamente com pessoas, com várias pessoas. Trabalhar mesmo com o próximo. Trabalhar para as pessoas mas de uma forma mais informal, de uma forma mais restrita. Pronto, acho que seria essa a minha área. A trabalhar seria mais com pessoas, pronto, seria essa área

E a nível de trabalho como é que te consideras? O que eu quero perguntar é: ahhh, és uma pessoa organizada? Não és?

Não, eu até sou uma pessoa bastante organizada, sou super pontual e assídua. Tipo, levo o meu trabalho mesmo a sério. Ahhh, tipo, gosto de fazer as coisas bem feitas; odeio que me apontem o dedo uma das coisas de que não gosto mesmo. Portanto, quando estou a fazer as coisas e quando tenho qualquer dúvida eu não avanço sem que eu tenha a certeza daquilo que estou a fazer porque não gosto mesmo que me chamem à atenção é mesmo uma das coisas que eu não gosto. Mas isso é desde pequena, nunca gostei que me chamassem à atenção. Não gosto: Ah, fizeste isto mal! está bem, pronto, é claro que as pessoas erram, não é?!, e se eu fiz alguma coisa mal, eu gosto que me chamem à atenção de maneira construtiva, mas não de é claro que aceito críticas. Críticas construtivas, aceito sempre e digo, várias vezes, ou mesmo aos meus colegas se eu fizer alguma coisa mal ou que vocês não gostem, digam-me porque hei de trabalhar para que as coisas funcionem melhor!. Aceito mesmo críticas construtivas porque hei de trabalhar para as coisas funcionarem da melhor maneira, mas pronto, mas é claro que uma pessoa nunca gosta que que lhe apontem o dedo ou que venham te chamar de uma forma ahhh, menos agradável, ?!, ahhh e venham te chamar a atenção por uma coisa que fizeste mal, ?! É óbvio! Tipo, és humano e erras. Ahhh, mas em termos de trabalho sou uma pessoa bastante organizada e gosto mesmo de levar o meu trabalho a sério. Portanto, se é para trabalhar as coisas têm que estar bem feitas. Portanto, acho que ter brio naquilo que estamos a fazer e é isso que eu faço, tento fazer e tento transmitir, tipo, a quem está ao meu redor e aos meus colegas e fazendo Fizeste isto assim mas podes fazer sempre melhor, não é?!, mas chamar ter uma chamada de atenção de forma construtiva, não é?!, não dizer eu sou mais do que tu, portanto tens que fazer estas coisas da minha maneira porque as coisas assim é que estão bem. Não, as coisas não funcionam assim. Todos nós trabalhamos de maneira diferente, somos pessoas diferentes e temos que saber levar as coisas da melhor maneira, não é?!, para as coisas funcionarem como deve ser. Além de que uma pessoa passa tanto tempo no trabalho qua acaba por ser quase o meu trabalho é a minha segunda casa, ?! Passo mais tempo quase do que em casa. Portanto, que passo tanto tempo com aquelas pessoas e naquele local, ahhh, as coisas têm que funcionar bem e eu tenho que me sentir bem no local de trabalho. Pronto, é por 01:08 E em casa, como é que sentes que és diferente em casa do que o que és no trabalho ou?

Não, não sou muito diferente.

Já agora, não te perguntei, mas vives sozinha?

Não. Vivo com o meu irmão.

Ahhh… E vocês os dois em casa como é que lidam com…

Eu sempre fui muito independente, ?! Então eu faço sempre as coisas à minha maneira risos. Ahhh, pronto, uma coisa, pronto, que eu odeio ir para as compras acompanhada, então eu.... pronto, nós fazemos a lista das compras e não sei o quê e vou eu às compras. Vou, sei o que tenho que fazer, chego, faço e as coisas são assim então o meu irmão às vezes sente-se um bocado mas é, mas isto é mesmo meu. Isto é, é uma coisa minha porque eu sempre fui muito independente e sempre tive que me desenrascar. Então eu não consigo viver de outra maneira. não consigo fazer as coisas de outra maneira. E então eu sou assim e pronto, vou trabalhar e venho do trabalho, faço as minhas coisas que tenho para fazer. Se ele estiver em casa,está! Se não estiver, não está! E ele funciona mais, tipo, ao meu ritmo. Tenta fazer Ele é um bocado mais lento do que eu e às vezes isso irrita-me risos. É verdade! Isso às vezes irrita-me, mas pronto, mas ele apercebe-se de que eu sou assim. Mas não, acho que não sou assim muito diferente em casa do que no trabalho. Sou eu sou assim. Em casa sou assim, no trabalho também sou Sou uma pessoa pacata, ahhh, as pessoas no trabalho às vezes queixam-se que eu falo muito pouco, mas eu digo-te, para falar mais vale falar pouco do que andar a dizer baboseiras a toda a hora. Portanto, não tenho paciência, portanto, ouvir os meus colegas a dizerem porcaria a toda a hora, mais vale epá! Não vale a pena! E pronto, mas ahhh, mas dou-me bem com as pessoas. Dou-me sempre muito bem. Não têm razão de queixa, acho eu, pelo menos até à data ainda não tive ahhh, qualquer problema e ninguém me veio dizer que alguém tem algum tipo de problema comigo... ahhh, portanto, acho que levo as coisas da melhor maneira. Pronto, e odeio injustiças mesmo no local de trabalho ou em casa ou onde quer que seja. Vejo isso e às vezes transmito e digo: Não, , as coisas não estão bem! As coisas precisam ser mudadas , não é?! Mas depois dizem mas isso não depende de ti ou depende de mim, isto depende de um conjunto de pessoas que fazem com que isto aconteça da melhor maneira!. E pronto, isso às vezes deixa-me triste. Mas pronto, mas isso é assim! É assim a vida! A vida não é justa! E pronto, temos que saber ir vivendo com as coisas.

E em relação ao local onde moras? Sempre viveste no mesmo sítio?

Sim, sim! Sempre vivi na mesma casa. Nunca mudei de casa. Acho que eu sou das pessoas que nunca mudou de casa. Pronto, acho que eu sou das pessoas que nunca mudou de casa. Ahhh, e gosto!

E como é que defines o bairro onde moras?

Ai o bairro Em tempos Quando eu era criança o bairro era cheio de vida. Tinha muita vida porque havia muitas pessoas porque aquilo é um bairro de retornados. Inicialmente fizeram aquele bairro para as pessoas que vinham de África, ?! Mas entretanto, ahhh, vivem mais pessoas agora, agora nem vivem tanto, ?!, mas viviam caboverdianos, angolanos, moçambicanos mas mais caboverdianos, e viviam pessoas portuguesas, não é?! Mas era um bairro pequeno mas com muita vida. E, na altura, quando eu era mais criança, quando tinha, tipo, 9, 10 anos, ?!, aquilo era mais conturbado porque depois existiam, tipo, os jovens com 15 ou 16 anos que andavam sempre a fazer porcaria. Então o bairro estava sempre cheio de polícia e não sei o quê tanto que houve uma altura que aquilo era o bairro dos índios, arrasado em polícias mas agora como as pessoas começaram a emigrar (mesmo aqueles jovens que eram rebeldes), aquilo está super, super, super calmo, super. Mesmo super tranquilo. A partir daí nem sequer se ninguém na rua. Á noite, por volta das 6 da tarde não se ninguém na rua. Aquilo faz-me Até tenho saudades porque quando era mais crianças tu vias pessoas na rua, dizias olá! Bom dia! Boa tarde! e vias pessoas pessoas na rua e agora não se pessoas na rua e não se crianças. São poucas as crianças que vivem! E pronto, mas está mais triste. Agora fica mais fica mais agitado quando é as férias, quando os emigrantes vêm, não é?! Porque os pais tipo, da minha irmã a minha irmã foi viajar, emigrou. Assim como a irmã, como colegas da idade dela também viajaram praticamente todos da geração da minha irmã emigraram e quem está são os pais que estão, não é?! Tipo, a minha irmã não está, mas estou eu, está por exemplo o pai do meu cunhado que é da idade da minha irmã. Tipo, tenho amigos meus que são mais velhos do que eu, que são da idade da minha irmã, que estão os pais e estão irmãos, mas a maior parte das pessoas emigraram. Quem estão são os pais. Portanto, não crianças porque as crianças também foram risos. Ou foram ou nasceram , não é?! Portanto, no verão é que quando eles voltam, quando eles vêm agora nem vêm sempre ao mesmo tempo, mas é que o bairro torna-se assim mais pronto, fica assim mais agitado, mais movimentado. Depois é quando as pessoas se juntam porque, pronto, é o jantar, os almoços e isso sim pronto, uma pessoa tem saudades, muitas saudades desse tempo. Pronto, agora aquilo acaba por ser um bairro residencial onde vais dormir acaba por ser um dormitório. Mas tenho muitas saudades do bairro de antigamente em que ao fim-de-semana ouvias música, passavas numa casa ouvias um tipo de música; passavas na casa seguinte tava música; havia pessoas na rua, no quintal, era diferente. Agora não! Cada um está na sua vidinha

E os teus amigos são… ahhh, de fora do bairro ou…?

Não. Tenho amigos do bairro, ?!, e tenho pessoas fora do bairro, ?! Depois são os colegas que foram da escola que acabaram por ficar como amigos ahhh, além de que muitos dos meus amigos emigraram ahhh, mas pronto, tenho amigos também do bairro. Mas de resto pronto, depois tenho amigos do trabalho. Dos vários trabalhos em que eu trabalhei risos. Alguns estão fora, outros estão do lado de dentro, mas pronto é um conjunto os amigos aqui de Lisboa esta história de andar de um lado para o outro acaba por ser bom também, não é?! Não teres um tipo, ou um género, ou um grupo de amigos, mas teres vários que depois são identifico-me porque por coisas diferentes, não é?! Porque são amigos que ficam e porque estamos juntos sempre que é possível, mas pronto

Mas isso quer dizer que o teu grupo de amigos, não é propriamente um grupo de amigos, são…

sim, são vários! Tipo, o meu grupo de amigos, mesmo amigos, amigos, amigos é do bairro e tenho mais duas amigas que são mesmo de perto. Pronto, esse são mesmo o meu grupo de amigos, amigos, amigos, mais. Depois do resto de pessoas que eu considero amigas e que são, não é?!, mas que são de fora do bairro, não é?! Que são de Lisboa ou

E que são relações mais esporádicas?

Sim, sim, sim! São outro tipo de relações, mas pronto. Os meus amigos, amigos, amigos mesmo são de próximo do bairro, são do bairro e dali da proximidade.

E a nível de integração/racismo? Existe algum episódio em que tivesses sentido…

Ahhh, eu nunca tive esse tipo de situação. Isto epá, nunca tive tipo de pronto, eu cresci num bairro com brancos e com negros mas nunca houve esse tipo de conflito. Na escola também nunca tive esse tipo de conflito entre ahhh, e eu normalmente deixa ver, na primária não, não era na primária porque na minha turma também nunca fui a única negra da minha turma ahhh, nem nunca tive nenhum tipo de chamada de atenção ou chamarem-me negra e ir para a tua terra ou nunca tive esse tipo de Tenho amigos que sofreram esse tipo de discriminação, mas eu por acaso nunca tive esse tipo de Nunca me aconteceu nada, nem na escola, nem no trabalho, nem na rua alguma pessoa que nunca tive qualquer tipo de constrangimento em relação à minha cor da pele, por isso não posso dizer porque, pronto, tenho amigos que aconteceu. tive relatos assim, portanto, tristes, mas comigo nunca aconteceu. Não sei. Não sei se é por eu ser assim mais calma ou não sei. Mas mesmo no bairro nunca houve esse tipo de situação. Pronto, por ser um bairro mais pequeno e as pessoas darem-se todas umas com as outras não sei. Acho que nunca houve esse tipo de situação.

This is the first translated utterance of the interviewer.

This is the first translated utterance of the interviewee.


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