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Entrevista_de_LH

Jovens adultos descendentes de imigrantes africanos em (dis)posições de destaque: um estudo sobre percursos de mobilidade ascendente entre as minorias

SubtítuloEntrevista com LH
Data2017
Sexomasculino
Idade: 33
Nível de formação: Licenciatura
Ocupação: designer gráfico
Percurso de mobilidade ascendente: percurso de Programação Familiar
Copyright© Este trabalho pertence ao ISCTE-IUL e ao Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Pode ser usado livremente para investigação, ensino ou uso pessoal somente com autorização da autora ou de algum responsável das respectivas instituições e mediante a referência a esta declaração de disponibilidade no texto.
EntrevistadorLeonor Tavares

Entao diz-me a idade

33

Nacionalidade?

Portuguesa

Não tens dupla?

Agora tenho, vai fazer um ano em Fevereiro.

Residência?

Quinta do Conde.

Escolaridade?

Licenciatura em Artes Gráficas.

Profissão?

Designer.

Número de irmãos?

Um.

Que giro, idade?

31.

Estado civil?

Solteiro.

Filhos?

0

Nacionalidade do pai?

Agora está com nacionalidade portuguesa, o meu pai e a minha mãe.

Mas é origem caboverdiana?

Hum, hum.

Ahhh, escolaridade?

O meu pai tem a quarta classe.

E a profissão?

Pedreiro.

Nacionalidade da mãe?

Tem nacionalidade portuguesa mas nasceu em Cabo Verde.

Escolaridade?

Tem o sétimo ano.

Profissão?

Cabeleireira.

Porque é que os teus pais vieram para Portugal?

Porquê? É uma boa pergunta risos epá acho que nunca foi uma pergunta que tivesse feito diretamente, mas deve ter sido à procura de uma vida melhor com certeza.

Em principio terá sido (2:20) . E agora quero que me comeces a falar do teu percurso escolar, primária como é que foi a tua primária?

Primária?! Sem problemas fiz na (2:43) que aspetos é que tu queres mesmo saber?

Como é que era o ambiente da escola ...

Era um bom ambiente, ahh... era um dos poucos africanos que havia na escola mas nada de outro mundo. Foi excelente.

Reprovaste?

Na primária não.

Isso quer dizer que reprovaste mais tarde?

Hum, hum.

risos podes começar por aí.

Depois fui para a preparatória, ahhh, para umas turmas complicadas...

Mudaste de escola certo?

Certo.

Como é que era a escola da preparatória?

Era completamente diferente, tinha alunos desde o ano até ao ano na altura, as turmas eram super lotadas, ahhh, epá havia muitos rebeldes, alguns rebeldes , o ano passei, o ano também e no ano chumbei mas risos... fui acusado muitas vezes de ter chumbado de propósito porque nesse ano estava a abrir uma escola nova na Quinta do Conde se eu passasse tinha que ficar na mesma escola se chumbasse ia para a nova risos como eu chumbei fui para a nova e foi a melhor coisa escola nova poucas turmas, éramos poucas turmas poucos alunos e foi a melhor coisa que aconteceu.

E na altura já sabias que essas eram as consequências?

Não, não fazia ideia, não fazia ideia que as coisas iam ser mais calmas na outra escola, mas...

Mas já tinhas a ideia de que querias mudar de escola é isso?

Epá se calhar um bocadinho inconscientemente as coisas foram claro que por um lado eu não queria chumbar mas por outro lado o ambiente na escola de C+S da Quinta do Conde era um bocado puxado havia sempre muitas intrigas, ahhh... epá era complicado... não tinha nada haver quando eu fui para a outra escola a escola básica que eramos muito poucos conhecíamos toda a gente falávamos tínhamos uma relação espetacular com os professores eu acho que se eu continuasse, disse isso muitas vezes se eu continuasse na C+S a minha carreira acabava ali risos... a sério aquilo era mesmo, mesmo complicado mas o meu presente ficou por ali. Foram os que desde da escola primária ainda me dou com algumas pessoas ainda a semana passada tive com uma amiga minha que fez anos e conheço desde da primeira classe, ahhh, foi uma das poucas que continuou os estudos porque muitos outros ficaram-se pelo ano, se não me engano... entretanto fui para a escola básica 7º,8º e passei os três anos sem problemas depois fui para o 10º ano para a escola do Vido em Setúbal e pronto mais uma vez colocaram-me numa turma bastante complicada eram 27 repetentes e éramos por volta de uns sete, sete alunos que não éramos repetentes, ahhh, e como podes imaginar era um bocado complicado risos... mais de metade da turma a remar para um lado e os gatos pingados ali a tentar... pronto acabei por chumbar no 10º ano mas depois passei para o 11º e uma diferença também enorme, de uma turma de 35 passámos para uma turma de 12, 12 alunos e foi fez-me mesmo com uma perna às costas não havia ruído nenhum à volta, fez-me mesmo muito bem. 12º ano... ahhh, pronto no entanto havia uma professora que eu não gostava muito risos, ahhh, no 10º, não no 11º ano uma professora de história pronto não, não concordava muito com algumas coisas que ela fazia e que eu achava que era exagero. Quando passei para o 12º ano reparei que ela ia-nos dar cerca de 12 horas de aulas por semana, não, sim acho que era isso ia-nos dar três disciplinas ia-nos dar história, oficinas e tecnologias, três disciplinas bastante importantes no nosso curso e eu quando olhei para as turmas vi os professores e disse logo eu vou anular esta disciplina e o pessoal disse ah tu és maluco então porquê? e eu então porquê? não estás a ver porquê não é óbvio ela nos vem para aqui complicara vida e fazia de prepósito e eles ah não faças isso não sejas parvo epá eu vou anular, vou anular estava mesmo decidido mas chatearam-me tanto ah não faças isso vai pelo menos o primeiro semestre e depois logo se fui o primeiro semestre e tirei as melhores notas da turma a oficinas e tecnologias e anulei risos.

Porquê?

Porque as melhores da turma foram um 13 e um 14, no ano a seguir depois mudei de escola às mesmas disciplinas tive um 18 e um 19 e então acho que se explica tudo por isso fiz-o na escola do viso anulei a disciplina e fiz o resto das disciplinas todas e no ano a seguir mudei para a escola de (9:38) onde fui fazer aquelas disciplinas que anulei e melhoria de história de arte e mais algumas pronto depois disso fui para Tomar candidatei-me à escola das Caldas da Rainha primeira opção eras as Caldas da Rainha a segunda era Tomar e as outras não me recordo mas era tudo longe daqui entretanto entrei na segunda opção que era Tomar, ahhh, epá senti logo um distanciamento durante basicamente durante percurso escolar todo, quase todo , porque na primária tinha uma grande proximidade com o professor mas acho que é normal todas as escolas primárias deviam ser assim na preparatória quinto, sexto e sétimo nada de especial depois sétimo, oitavo e nono quando fui para a escola nova havia uma grande proximidade com os professores quando fui para a escola de... de Setúbal escola básica de Setúbal 10º ano chumbei, 11º e 12º também tinha uma grande proximidade com os professores inclusive tinha uma professora que me dava boleia da Quinta do Conde ela era da Amora uma coisa assim então muitas vezes vinha com ela eu sempre tive assim uma relação com os professores e essa professora de tecnologias no 10º no 11º era tecnologias no 11º o professor de geometria também sempre tive uma grande proximidade com ele... ahh, isso tudo quando fui para a faculdade risos morreu, senti-me assim um bocadinho a boiar e não senti muito motivado não tinha grande motivação houve uma disciplina que eu gostei muito do professor mas infelizmente foi uma, o professor que era o Vitorio Jesus era uma disciplina prática não o professor de fotografia também adorei aquelas disciplinas que eu gostei mais era aquelas que tinha menos risos, ahhh, acabaram assim muito rápido, ahhh, as outras mais complicadas pronto havia aquele distanciamento com os professores matemática como te falei, ahhh, composição uma seria de fotografia, de disciplinas que... projecto... que sentia a falta daquilo que eu tinha ou daquilo que tive durante o meu percurso escolar. Aquilo foi uma pequena batalha mas pronto...

Então estiveste quantos anos em Tomar?

Cinco.

E vivias lá sozinho?

Vivia com.. com, com colegas de turma. Inicialmente fui para a casa de um rapaz, que ele também era estudante, também era de Design, ahhh, ele... que ele era mais velho. Eu estava no primeiro, ele estava no terceiro se não me engano. Depois no segundo ano fui viver com mais três colegas meus, alugámos uma casa e vivemos segundo e terceiro e quarto ano... e o quinto ano que eu estive fui para a residência.

E aí nunca chumbaste?

No segundo risos.

Porquê?

Muita rambóia risos. Epá, aquilo é um mundo à parte risos

Muito bem.

Havia muita... primeiro ano foi o ano que eu era caloiro e tal, tentar fazer as coisas todas como deve ser, ahhh, pronto... passei. O segundo ano, receber os caloiros, dar-lhes o devido tratamento risos.

Fazias parte da, da... como é que se chama?

Da comissão de prache... Ahhh, eu é que... no segundo ano era veterano, mas não... o segundo ano foi o primeiro ano que eu podia trajar e não fazia... nesse ano não fazia parte da associação de estudantes nem da comissão de prache, no ano seguinte é que eu fiz parte da associação de estudantes.

Conta lá como é que foi isso um bocadinho? Sempre quis saber, nunca participei...

Foi muito... Então eu digo. Foi muito, foi muito leve porque uma grande necessidade de... de... de alunos para receber novos alunos para as inscrições e isso tudo da associação de estudantes, depois durante o resto ano aquilo perdeu-se um bocado. na altura das festas é que o pessoal volta a reunir-se outra vez, a organizar as coisas, ahhh, mas pronto foi pacífico, . risos Acho que não entrei muito no cerne da questão porque aquilo tem muito que se lhe diga em termos políticos.

Ahh, voltando um bocadinho atrás, quais eram as tuas disciplinas favoritas e as que não gostavas ao longo do teu percurso? Assim que tenham...

Todo?

Sim. Se é que mudaram ou foram consistentes...

Portanto, a escola primária não conta, ? risos

risos Também podes falar se quiseres.

Aquilo era uma disciplina risos entre aspas. Epá, sempre gostei de Educação Física, sempre gostei de fazer desporto, ahhh, Educação Visual, do quinto ao nono... do quinto ao nono, ahhh, de resto aquelas disciplinas mais teóricas nunca achei grande piada, mas realmente eu lembro-me duma fase que a matemática estava-me a dar algum risos algum, alguma pica, mas pronto, como eu te disse... era este... sou estudante de artes, ahhh, mas pronto as minhas disciplinas favoritas durante a preparatória era a Educação, a EVT (Educação Visual), é que me deu as bases para a Geometria, depois no secundário foi a Geometria. Quando fui para Tomar houve muita, muita Geometria e eu nem sei dizer qual foi a minha disciplina favorita risos.

Gostavas de tudo ou não gostavas?

Gostei de alguns projectos, de alguns projectos que se fez. Agora não posso dizer que gostei daquela disciplina do princípio ao fim que é mentira. Não! Gostei de Fotografia e a disciplina que o Vitório de Jesus dava que eu não me lembro como é que se chamava. Mas também foi um semestre e era... aquilo era uma aula prática, mas era muito, muito interessante. Ahh, mas , Fotografia e gostei de alguns projectos que fiz na disciplina de Projecto. Alguns faziam mais sentido que os outros.

E a matemática? Foi a única que foi sempre o calcanhar de Aquiles, ou...?

Matemática no secundário não tive matemática e quando cheguei ao ensino superior apanhei matemática novamente. Então foi um grande calcanhar. A matemática... no ensino superior havia três matemáticas. Matemática I, II e III. I trigonometria, II matrizes e III que era... como é que se diz?... me esqueci... ahhh, matemática III era mais próxima da Geometria, mas agora não me estou a lembrar. Então a II e a III eu fiz. A I ficou a arrastar até surgir o programa de Bolonha risos e resolver o assunto. Mas eu aderi a Bolonha e matemática evaporou-se.

Como é que eram os teus hábitos de estudo?

Ahh, muitas vezes juntávamos grupos de pessoal... Queres mesmo gravar esta parte? risos

Tem que ser...

Estou a brincar risos. Queres mesmo saber ao pormenor?

Quero.

Então é assim...

Faz de conta que estás no confessionário de uma igreja...

Então tem que me passar o calor risos

risos

Não, havia disciplinas que basicamente... não punha os pés risos então... mas surpreendentemente houve muitas delas que não ia, mas depois a matéria entrava muito facilmente risos.

Agora confessa...

Ahh, sabes que nós fizemos vários testes para tentar perceber de que forma é que eramos avaliados. Ahh, havia disciplinas que eramos avaliados com os trabalhos que nós fazíamos e outras que eram mesmo testes teóricos. E nesses testes teóricos o nosso método de estudo eram mesmo as cábulas risos

Isso não é um método de estudo, não é? risos

É um método de estudo! Não deixa de ser um método de estudo. Mas sim, muitas vezes eu levava cábulas e não usava, mas o facto de estarem parecia que... afinal estou mais seguro assim risos. Se falhar qualquer coisa, tenho aqui o backup risos. Mas estudávamos através das cábulas porque também muitos testes que estavam eram testes que estavam a correr muitos anos. Havia uma preguiça por parte dos estudantes para estudarem e havia uma preguiça por parte do professor para fazer um novo teste risos. E então, que tirar proveito disso. Mas, houve ali uma disciplina que era dada pelo nosso director de curso, que nós fizemos um teste... lemos matéria, resumimos tudo e fizemos a nossa cábula. Fomos para o exame, chegámos e o exame não tinha nada a ver com nada do que estudámos. Isto é um péssimo particular que eu me lembro. Conforme sento, abro o teste, começo a olhar, primeira pergunta, segunda pergunta, terceira pergunta... fogo, isto não tem nada a ver com aquilo que a gente estudou! Fui para me levantar para me ir embora, houve alguém que se antecipou. Levantou-se e o professor vira-se: daqui não sai ninguém antes das 9 da manhã! O teste foi às 8h, das 8h às 9h. E eu: Bem, o que é que eu vou fazer? Bem, vou escrever o que eu tenho aqui. Então escrevi, escrevi, entusiasmei-me, continuei a escrever... escrevi o teste todo! De uma ponta à outra. Quando saíram as notas, eu entretanto fiquei, , distraí-me e houve muita gente que saiu antes de mim e eu fui quase das últimas pessoas a sair. Ahhh, quando saíram as notas, reparámos que as notas foram consoante a ordem de saída risos. Então eu tive um 15, mas o meu professor de certeza que ele não leu uma palavra daquele teste risos. , isto é muito mau, estar a revelar estas coisas risos.

Deixa estar que é anónimo risos. Mas em termos gerais? Eras pessoa que estudasse com muita frequência antes dos testes? Na madrugada? Como é que era?

Ahh, quando eram algumas disciplinas que não tínhamos hipótese, como orçamentação, por exemplo, ahhh, juntávamos um grupo de pessoal e íamos para a casa de alguém, estudávamos, mas basicamente o grande foco do estudo era na véspera risos. Não, estudávamos com algum, alguma antecipação ao teste mas não era por... não, não consigo dizer que um mês antes começávamos... ahhh, quando chegava a altura dos exames, aliás que era a altura dos exames, nem havia aulas basicamente, começávamos a estudar mas era assim muito ao de leve, depois quando chegávamos mais próximo do exame é que estudávamos com muito afinco.

E em casa? Conseguias estudar em casa?

Em Tomar? Estávamos a falar de Tomar...

Não, no percurso inteiro.

No percurso todo. Sim, tinha que conseguir. Eu não estudava na biblioteca.

Não eras pessoa de ir para a biblioteca estudar?

Não! Era para esta biblioteca. É como eu te disse, quando estava no 12º ano muitas vezes vinha aqui para a Biblioteca da Calouste Gulbenkian estudar e sim, pronto, como podes ver isto é bastante pacífico e aqui uma pessoa conseguia compenetrar-se completamente. De resto em casa, pronto, fazia os meus trabalhos, ahhh, agora estudar, estudar não é uma memória que eu tenha assim muito... de conseguir ficar uma hora sem ninguém que me chateie.

E quando é que achas que passaste a ter como objectivo ir para a universidade?

Ahhh, esse objectivo foi mais da minha mãe do que meu. Porque quando acabei o 12º ano, ahh, nesse verão fui trabalhar. Ahh, e também tinha... e também estava-me a preparar para fazer os exames para ir para os fuzileiros porque se não fosse para um ia para outro, mas esse desejo foi sempre mais da minha mãe do que propriamente meu.

Engraçado. Então posso presumir que tenha sido a tua mãe a incentivar-te a estudar ao longo da vida, do teu percurso ou não?

Sim.

Foi a pessoa que mais te influenciou nesse sentido?

Sim, ela não me deixava sair da escola risos.

Foi vontade tua? Alguma vez pensaste em sair da escola mais cedo?

Não! Sair propriamente dito, eu não tinha vontade de sair. Ahhh, pronto, quando eu fiz o 12º e comecei a trabalhar, começo a ver o dinheiro a entrar, , antes que começasse a ganhar muito o gosto, a minha mãe: Não, tens que ir estudar! E pronto..

E como é que foi a escolha da área? Achas que houve influencia de alguém, que tinhas mais aptidão para essa área? Como é que foi?

Agora apareceu um professor meu agora que estamos aqui a falar... Ahh, até ao 11º estava mais inclinado para ir para arquitectura. No 11º ano apanhei um professor em Setúbal, ele era professor de..., de, de, de, de... não me recordo bem... não de tecnologias, oficinas era outra professora... e havia três aulas práticas, tecnologias, oficinas e outra qualquer, mas era professor de tecnologias. Ele fez muitos trabalhos dirigidos para o Design e começou-me a incentivar muito nesse sentido tens que ir para Design, tens que ir, tens que ir e pronto! Quando acabei o 12º ano como não tinha nota para entrar para arquitectura... aliás acho que nem fui averiguar, mas pronto risos... acabei por escolher Design e fui para Design.

Ok! Huumm. Só um bocadinho. Passamos à parte profissional, então. Depois acabaste a licenciatura... aliás, antes disso, ahhh, disseste que começaste a trabalhar no 12º... estavas a fazer o quê?

No 12º, no verão, depois das aulas acabarem... não sei se reparaste, mas eu como anulei as aulas do 12º tive que repetir. Portanto, quando acabei o primeiro 12º fui trabalhar numa empresa de logística, ahhh, perto da Autoeuropa. Ahhh, e em três meses, os três meses que eu estive , gostava do trabalho. Inicialmente comecei muito baixo, mas depois no fim, muito rapidamente, passado um mês ou assim, estava no escritório a fazer outros trabalhos e estava a gostar daquilo mas o meu objectivo era mesmo acabar o 12º. não era muito preocupante. Fiz o 12º ano, voltei a trabalhar no mesmo sítio. que é que a minha mãe incentivou-me a continuar.

E como é que conseguiste esse emprego?

Esse emprego, acho que foi através de um colega meu que trabalhava , que indicou-me uma empresa de trabalho temporário, na altura não fazia ideia daquilo que era, mas pronto. No sítio onde eu me fui inscrever depois encaminharam-me para .

E chegando lá, como é que foi a transição do mundo da escola para o mundo do trabalho?

Nesse emprego no verão ou... ??

Sim.

Não, a transição fez-se bem porque...

Adaptaste-te facilmente?

Trabalhava de noite, trabalhava da meia-noite às oito da manhã. Chegava a casa dormia até as duas da tarde, ia para a praia risos... ahhh, tinha dinheiro para gastar à vontade, estava como queria. A transição foi pacífica, mesmo.

E sendo assim, eras capaz de... se não fosse a tua mãe, eras capaz de lá ter ficado por mais tempo?

Sim, da primeira... na primeira vez que estive puseram-me numa empresa de logística onde se preparavam as encomendas para entregar nos supermercados e nas lojas todas. Eu no início estava a fazer encomendas e no fim estava no escritório a fazer o registo das entradas e das saídas. Ahhh, às vezes penso nessa oportunidade, nessa oportunidade que me passou, mas pronto. Porque ao fim e ao cabo eu não estava mal! Apesar de ser um trabalho nocturno, na altura também havia outra disposição, passado... dormir um bocadinho, acordar, ir à praia... risos. Também não passei o inverno para ter, para perceber como é que aquilo era durante o ano inteiro, mas epá, fez-se bem. Fez-se muito bem! Eu gostei do tempo, do tempo que passei . Dos três meses que eu estive de cada vez.

E a segunda vez, ao mesmo trabalho?

Sim, voltei para o mesmo trabalho...

Tinhas o mesmo... as mesmas tarefas?

Sim, mas eram mais divididas entre os dois. Não sei se era porque ele não sabia se podia contar muito comigo ou não. Mas, não era... não passava a noite toda sentado. Mas como ele sabia que eu sabia fazer tudo, ele fazia as encomendas e do outro lado fazia alguns registos que faltavam...

E entretanto houve a intervenção da tua mãe e como é que se deu a saída desse trabalho para...

Muitas vezes penso nisso porque não houve nenhuma carta a dizer, Tchau! risos. , simplesmente falei com... que era o senhor Rui na altura e tinha-lhe dito que, que pronto, ia continuar os meus estudos, que assim tive... que ia deixar de trabalhar.

E durante o tempo que estiveste na universidade, trabalhavas ou só estudavas?

estudava.

E tiveste...

Mas devia ter trabalhado...

Huum?

Mas devia... pronto, para haver uma integração mais fácil no mundo do trabalho e na área para onde eu estava a estudar acho que se estivesse a trabalhar enquanto estudava... também era um bocado complicado em Tomar, mas pronto... ahhh, era muito mais fácil depois de acabar o curso entrar na área, na área na qual eu estudei.

E alguma vez tiveste bolsa?

Tive.

De estado?

Sim, mas era sempre a mínima. risos

E entretanto quando acabaste o curso, começaste logo a trabalhar ou...?

Quando acabei o curso... ahh, fiz um estágio de três meses numa multinacional que se chamava Publicis, mudou de nome entretanto, no entanto concorri a um programa que se chama Novo Contacto... ahhh...

Como é que tiveste acesso a essa informação do programa?

Porque eu de certa forma sempre quis ir para fora, sempre quis ir conhecer outros mundos, então o Novo Contacto era um programa que... do estado, em que, pronto, as pessoas candidatavam-se e eram colocadas... o estado é que escolhia o sítio num ponto qualquer do mundo durante 9 meses na tua área de trabalho. Ahhh, como sempre tive vontade de viajar e conhecer outras, outros mundos estava sempre mais ou menos a par dessas informações. Quando estava a fazer o estágio, aliás antes de começar a fazer o estágio, eu inscrevi-me e aquilo foi um concurso por fases. Fui até à última fase mas infelizmente, acho que no meio de 900, 900 pessoas, consegui passar aquelas fases todas e depois no fim foi um colega meu que tinha acabado o curso no ano antes. No ano a seguir concorri novamente, mas não ia com tanta vontade, não ia tão confiante, então nem... pronto, passou. não foi.

E como é que foi a transição da licenciatura para o mercado de trabalho? Foste logo para a tua área específica ou trabalhaste em alguma...

Não, estagiei na minha área, depois... isto o mundo deu umas voltas! Porque eu antes de conseguir o estágio, antes de conseguir o estágio, ahhh, tinha feito uma entrevista para o aeroporto na qual eu entrei. Depois como me apareceu o estágio, não fui para o aeroporto. Quando acabou o estágio, ahhh, fui para... quando acabou o estágio, inscrevi-me outra vez na... numa empresa de trabalho temporário e fui para o aeroporto novamente, para a Groundforce, onde estive um ano e nove meses, por . Mas aquilo como era trabalho por turnos e eu sempre fiz alguns trabalhinhos por fora na minha área. E aquilo era um trabalho por turnos e não dava para descansar e não tinha cabeça para fazer mais nada, então procurei outra coisa, entretanto...

Mas o que é que se faz na Groundforce? Já ouvi falar disso sei lá quantas vezes, mas não sei exactamente o que é que é. Já agora explica um bocadinho.

Faz-se tudo e mais alguma coisa. Ahhh, desde as hospedeiras de terra e as cargas e descargas dos aviões. Quando fui para a Groundforce, da segunda vez, que da primeira vez entrei pelas hospedeiras, mas como não fui, caiu. Da segunda vez, fui para as cargas e descargas, então recebíamos os aviões, carregávamos e descarregávamos, esse trabalho...

Está explicado risos, já fiquei com a ideia.

Depois procurei outro trabalho, entrei na teleperformance, fui para a Endesa (call center), estive dois anos, ahhh, estive também X tempo a atender pessoas... entretanto, também estava um bocadinho farto daquilo, procurei dentro do grupo outra coisa para fazer que depois eles não me queriam deixar ir embora porque eu tinha visto em Setúbal eles pagavam muito bem, numa campanha e eu quis ir para . que eu estava aqui na Estefânia, aqui na Estefânia não me deixaram e colocaram-me no backoffice, estava a receber contractos, a validar contractos, e pronto, a resolver qualquer problema que podia surgir, ahhh, e pronto, aqui era um trabalho que era... inicialmente que era part-time, mas depois ficou das 9h às 18h, mas como aquilo era sempre a mesma coisa, também enjoei risos. Quando acabou os dois anos, , saí dali, não podia mais com aquilo, ahhh, e estava... nessa altura até estava determinado em sair do país.

E não saíste porque...

Porque, ahh, a minha mãe também estava a ver os contactos, se conhecesse alguém que me pudesse colocar em algum lado e fui parar à empresa onde eu estou agora. Porque como o a minha empresa faz muitos trabalhos para a embaixada, umas pessoas que trabalham na embaixada que são clientes da minha mãe, encaminharam-me para onde eu estou e pronto, fui para e estou. Fez dois anos em maio. estou tempo demais risos.

Não pretendes continuar?

Não.

E quais são os teus planos?

É assim, tenho alguns projectos... alguns projectos, os meus trabalhinhos que eu faço por fora, os meus projectos pendentes, ahhh... alguns que se eu conseguir um determinado número de projectos eu não vou precisar de estar a trabalhar ali. O problema é a continuidade risos. Mas, pronto, para vou-me aguentar onde eu estou e vou tentar conciliar os dois, quando não der vou sair de onde estou.

E agora explica-me um bocadinho a tua actividade. O que é que faz um designer?

Um designer faz... trabalha a imagem gráfica de uma empresa risos

Basicamente...

Não, basicamente, não. Faz muito mais coisas. Paginações, imagens para publicidade, cartazes, tanto de web como físicos, cartazes físicos, sites, também fiz sites... ahhh, sei , tanta coisa. Fazemos um bocadinho de tudo, . Como era multimédia, pronto. O meu era design gráfico com uma vertente multimédia. A vertente multimédia sempre interessou-me um bocado e a na vertente multimédia encontras os sites, vídeos, muita coisa...

Ahhh, e agora vamos falar um bocadinho da vida pessoal. Hobbies? O que é que fazes nos teus tempos livres?

Não tenho tempo livre risos. Nos meus tempos livres faço... tenho andado um bocado desligado disso, mas faço fotografia. Tempos livres, ahhh, por assim dizer, porque não tiro aquele tempo especificamente para. Agora não ando com a máquina atrás, mas antes andava muito com a máquina atrás e sempre que surge oportunidade, fotografia. Ou de algum modo, de alguma coisa que me interesse...

E és daqueles que tem estúdio em casa e revelas fotografias, ou...?

Não, essas fotografias old school risos, não. Olha, gosto muito mas isso é para quem tem dinheiro agora risos. Agora é máquina digital.

Mas já reúnes, fazes arquivos...

Sim, de certa forma, tenho uma galeria on-line que é o Olhares, tenho outra galeria, outra... tenho também o Instagram, ahhh, e pronto, tenho todo um arquivo onde tenho mostrado alguns trabalhos meus que eu faço de casamentos, baptizados, ahhh, e pronto... risos

E hábitos de leitura?

Tenho hábitos de leitura. Ultimamente tenho andado um bocado preguiçoso. Ahhh, antes como vinha de comboio para o trabalho, lia mais, mas agora tenho que começar a encontrar um tempinho para ficar ali quieto ler.

Quais são os géneros?

Biografias risos. Gosto muito de... de saber das experiências de quem não passa, de quem viveu, de outras experiências de outras pessoas.

E viagens? Por onde é que já andaste, que países é que conheces, porquê e em que circunstâncias?

risos Viagens. Conheço um bocadinho de Espanha. A primeira vez que fui a Espanha foi mesmo para sair do país, tinha ido visitar os meus tios ao Algarve, tipo levaram-nos a Espanha risos.

Levaram por arrasto... risos.

Vamos pisar solo estrangeiro.... Fomos a Espanha. Entretanto, em 2009... fui a Cabo Verde quando tinha 7 anos com a minha mãe, para conhecer, não é? risos Depois em 2009 fui a Cuba, foi simplesmente lazer, foi férias, ahhh, em 2010 ou 2011... 2011, não sei precisar, 2010 ou 2011 fui a... ah, no meio disto tudo faltam umas viagens risos. Recuando, Cabo Verde, fui cruzar Espanha, em 2004 fui a Paris a casa de um amigo meu, fomos visitá-lo, nesse mesmo ano fui a Milão... fui a Milão em 2004, depois fui outra vez em 2005 porque tenho um amigo meu que a mãe dele vive , ahhh, e ele andava sempre com carro italiano, então precisava de trocarr de carro ia e voltava. Então fiz uma viagem de carro muito fixe por acaso, duas vezes, fomos duas vezes a Milão. Depois disso fui a Cuba, estritamente lazer, depois fui a Cannes, visitar família mas aproveitei também para ir aos museus, para conhecer Nice, Mónaco melhor. Ahh, olha foi uma viagem que estava mesmo a precisar, porque quando eu saí do aeroporto... então quando saí do aeroporto fui espairecer. Depois disso, em 2012 fui a Cabo Verde, voltei a Cabo Verde, mas fui com o meu primo. Estive um mês a conhecer melhor e etc.. Depois em 2014, sim, no ano passado fui a Cabo Verde novamente. Mas no meio disto tenho feito viagens... tenho feito muitas viagens para Angola a trabalho. Inclusive para a semana vou outra vez. Mas o ano passado nas férias, não sei se eu deva dizer... risos

Já te disse que estás no confessionário risos. Podes dizer tudo o que quiseres. Ninguém vai saber que és tu.

Ahh, pronto, eu fui de férias risos. Não, fui de férias porque estava pesado. A minha patroa estava a tentar sabotar as minhas férias e então marquei a minha passagem para Cabo Verde risos para ter a minha paz risos, mas pronto. É estranho. Ah, de pensar...

Pronto, não vou insistir. Ahhh, e o que é que achas que estas viagens te trazem no alargar de horizontes?

É assim, é sempre bom conhecer novas culturas, novos modos de vida, novas, ahhh... é sempre bom perceber que as outras pessoas fazem se calhar tudo o que nós fazemos aqui mas de uma maneira diferente. Têm a vida deles, mas adaptada à, à sociedade deles e tudo enquadra. Ahhh, e quanto... eu fiz uma viagem por exemplo como a viagem de Cuba... mais a de Cuba porque era um país que eu não tinha ligação, nenhuma ligação, ahhh, e faz-nos pensar um pouco a forma como damos valor a tantas coisas supérfluas aqui e eles vão-se desenrascando de outras formas. O mesmo acontece em Cabo-verde, mas não sei porquê que não tem o mesmo impacto [bebé a cantar - risos], ok, mas não teve o mesmo impacto que teve quando fui a Cuba. Não te... não sei, se calhar por causa da proximidade que eu tenho a Cabo Verde, se calhar é um dado adquirido que é o modo de vida de . Ahhh, quando fui para Cuba, pronto, não tinha nenhuma ligação e primeiramente estive num resort. No resort é tudo muito giro, é tudo muito bonito. Quando sais do resort, ahhh... é assim, eu não quero dizer com isto que é um país muito pobre, são todos uns coitadinhos, são uns tristes e não sei quê. Não! Eu não vejo as coisas dessa forma, ahhh, e o mesmo acontece também quando eu vou para Angola. Muita gente quando regressa Ah, coitadinhos, não sei quê não que mais! Não! Aquilo é a realidade deles, aquilo que eles vivem e aquilo que eles conhecem. Eles não conhecem mais, no entanto, eu vejo pessoas felizes, a correr, a brincar, etc. As crianças não têm as roupas de marca daqui ou não são tão bem vestidos como nós somos aqui, ou não têm a bola da Nike como nós temos aqui, mas no entanto eu vejo eles com sacos de plástico enrolados com alguma coisa dentro para jogar à bola, a correr, a saltar, ahhh... , eu vejo crianças felizes independentemente do resto que eles não conhecem, tanto em Angola (e vê-se muita pobreza agora) como, como em Cuba. Em Cuba não, não vi... como é que ei de dizer?! Epá, em Cuba, aquilo é um país muito... tinha música por todo o lado, era um povo muito animado, transmitia sempre boas energias apesar de tudo, apesar de olhares à volta, ahhh e se falasses com algum nativo, , algum de , eles vão sempre fazer... eles vão sempre fazer passar por coitados risos. Ahhh, mas houve algumas coisas que tocaram. Quando dei uma gorjeta de 3 pesos fizeram uma festa que eu fiquei assim: Huuum, quanto dinheiro é que eu dei? risos E depois percebi que aquele dinheiro que eu dei era tipo talvez um terço do ordenado dele. Ahhh, mas pronto, apesar de tudo eu via, eles têm o modo de vida deles adaptado à cultura deles e à situação económica do país.

Aproveitando que falaste em Cabo Verde e da tua identificação com Cabo Verde, conta-me um bocadinho como é que foram as viagens para Cabo-verde, em pequeno e depois mais tarde.

Quando fui em pequeno risos, com 7 anos... , era tudo muito estranho, o avião, nunca tinha andado de avião... ahhh, acho que andava sempre muito atento. Quando cheguei , ahhh, lembro-me que ficámos na cidade da Praia, ahhh, lembro-me de algumas coisas... do cheiro do pão, ahhh, pronto andava sempre a brincar com o meu primo, lembro-me de construirmos os brinquedos, de construir carros de brincar com latas de azeite, ahhh, depois quando íamos para o interior, que o meus pais são do interior de Orgãos...

De onde?

Orgãos, São Lourenço. Ahhh, a seguir a São Domingos. Acho que tens Praia, tens Praia, tens São Domingos e depois é Orgãos. foste a Santiago?

Não. Só conheço Sal, Santo Antão e São Vicente.

Ah! Mas pronto, a cidade... a zona dos meus pais é onde tem a barragem que os chineses fizeram risos. Ahhh, lembro-me quando fui para quando era pequeno de, pronto, andava sempre a brincar, não é?! De a minha mãe mostrar todo aquele jardim botânico e aquelas coisas todas. Quando estava com os meus primos também mais pequenos, andávamos a apanhar pássaros, fiquei mesmo surpreendido pela forma, pela facilidade de apanhares um pássaro risos. Epá, é uma coisa que aqui em Portugal é completamente impensável. Cavamos um buraco, pomos um grão de milho... risos e depois quando voltei para queria trazer os pássaros risos. Mas como é óbvio, não deixaram. Também lembro-me de... fomos visitar uns familiares, acho que até foi numa zona mais montanhosa, e esse meu tio tinha-me dado um cabrito. Eu todo contente com o cabrito, tinha uma corda ao pescoço para passear o bicho... fui para casa dos meus avós que eram os pais do meu pai, fui dormir, no outro dia de manhã quando acordo todo contente onde é que está o cabrito? Onde é que está?, Ah! Fugiu! risos. Às tantas houve alguém: Anda ! E estava a cabeça do cabrito ali risos. E pronto, fiquei muito triste. Lembro-me também de comer muitas mangas, encher a barriga de mangas. Havia uma mangueira gigante ao da casa dos meus avós e estávamos sempre com uma vara comprida a apanhar mangas e a comer mangas.

Mangas e de cana-de-açúcar.

Por acaso não me lembro de comer cana-de-açúcar . Acho que era... depois assim... eu e a minha irmã éramos muito esquisitos a comer, então era um grande problema risos.

O que é que não gostavas?

Tudo risos.

Também é impossível. Pelo menos a cachupa.

Não. risos. Nós eramos mais bacalhau, arroz risos.

Europeus risos.

Sobrevivemos. estamos.

E o que é que te pareceu mais apelativo em termos de cultura?

Em Cabo Verde? Mas quando? Agora?

Das vezes que lá foste.

A primeira vez não conta, não é?!

Sim, a primeira eras pequeno era difícil de...

Da segunda vez que eu estive andávamos sempre na noite risos. O meu primo organiza eventos risos, então...

E o que é que era apelativo na noite?

Então, era... fiquei surpreendido, completamente surpreendido com a noite de Cabo Verde. Pensei que era uma coisa mais artesanal, mas não. Na cidade da Praia fiquei surpreendido com aquelas, com aquele mundo... aliás fiquei mesmo surpreendido com o... apesar de ser um país pobre existe muita gente a exibir riqueza risos.

E mais?

Ahhh, epá, basicamente... risos

Não estavas a reparar muito, não é?! Não estavas a reparar muito... risos

Não, a gente andava nesta vida de noite, praia, piscina, ahhh, e eu alguns sítios que eu gostava... fui a Tarrafal também, quando era criança também tinha ido, ahhh, mas em 2012 quando fomos, a uma discoteca risos, depois saímos da discoteca fomos para a praia, depois fomos na praia e tal e voltamos a... eu até a fotografia, que é um hobbie que eu tenho, não tive tempo de explorar assim mais risos como eu gostaria.

Ok, e agora diz-me o que é que achas que são características típicas do povo caboverdiano.

risos Difícil definir. Tenho que pensar um bocadinho mais. Características do povo Caboverdiano risos. Não, é um povo amigável, ahhh, de certa forma trabalhador. Nada a ver com Angola. Inteligente risos. Tens que ir a Angola para perceber o que eu estou a dizer risos. Não, eu digo, em Cabo Verde as pessoas são completamente civilizadas e... completamente civilizadas dentro dos possíveis. Para um povo africano, acho que é um povo que está muito à frente risos. Mais?

Defeitos?

Do povo Caboverdiano?

Coisas que tu não tenhas gostado muito...

Coisas menos boas?

Humm, humm. Exacto.

Enquanto estive? Acho que não tenho nada a apontar. Sinceramente.

Ou características que tu aches menos boas e que atribuas...

Houve umas situações... que, pronto, como o meu primo organizava eventos e às vezes eu ia pôr umas músicas e houve uma altura que eu pus um funaná e ele: Não! Tira isso, tira isso! O pessoal fica maluco e começa à porrada... risos. É assim, mas basicamente não tenho assim nada a apontar.

E em termos de identidade, como é que te identificas? Mais português, mais caboverdiano...

Agora fizeste uma bela pergunta risos porque por um lado não me identifico... pronto, eu nasci em Portugal, sou português, mas para os portugueses em si eu não sou português. Quando fui para Cabo Verde em 2012, senti que eu também não sou Caboverdiano e então, às vezes a brincar eu digo eu sou um cidadão do mundo. Não pertenço nem aqui nem ali, ando aqui nas entrelinhas.

E características do povo português, agora, com que te identifiques.

Xeee, eu?! Não! Mas em que aspecto? , tens que saber especificar...

Cultural. Cultural. O que é que tu achas que é tipicamente português que sentes que...

Cafézinho, é tipicamente português.

O hábito do café?

Sim.

Mais nada?

Com certeza que deve haver mais uma ou outra característica, mas... huuummm, não te sei dizer.

Do que é que tu gostas na cultura portuguesa?

Ui, agora não te sei responder... com muita coisa que eu às vezes também não me identifico ou não me quero identificar.

Também podes começar por aí risos. Pode ser o que gostas ou o que não gostas...

Ahhh... porque eu acho que às vezes são muito... , eu não queria estar a dizer mesquinhos, mas... assim, se tens uma oportunidade de crescer... isto é muito mau o que eu vou dizer... se tens uma oportunidade de crescer, se alguém perceber isso em vez de te dar apoio vai fazer exactamente o contrário. Acho que isso é uma característica muito... risos muito daqui. É uma característica menos boa, mas pronto. Mas, pronto, de resto, ahhh, sei ...

Vai pensando nessa questão, já voltamos a ela. E agora, eras capaz de viver em Cabo Verde?

Neste momento, se tivesse boas condições de trabalho, sim.

Já pensaste nisso?

Aliás, eu quando fui , ficava sempre... tentava imaginar de certa forma como seria. Ahhh, eu acho que teria que ter algum, alguma disponibilidade financeira para poder viajar com facilidade, porque a ideia de ir para ficar não... ir simplesmente para ficar não, não encaixa muito bem risos.

Então o teu projecto seria uma coisa mais temporária.

Sim, tinha que ser sempre temporário, que a longo do tempo até podia ser que eu mudasse, mas para ... ahh, é assim eu não me importava, por exemplo se houvesse oportunidade e condições, de ir para e ficar um ano para perceber exactamente como é que é fora, ficar ali um ano.

Não te estás a ver de malas e bagagens, mudança completa para Cabo Verde?

Não! O factor emprego riso conta muito risos. Se houvesse algum projecto aliciante, claro que eu não me importava de ir.

E nunca pensaste em levar o teu expertise para Cabo Verde, de forma autónoma, sem vínculo a uma empresa provavelmente? Exportar a tua sabedoria para lá?

Eu acho que de certa forma às vezes sempre pensamos um bocadinho nisso. Aliás, tanto Cabo Verde como Angola, mas Angola agora está complicado também. Mas são pensamentos que vêm e vão, mas não está completamente excluído.

E os teus pais também não têm o projecto de voltar, pois não?

Não! Que eu saiba não.

E nunca tiveram?

Que eu saiba não.

Ahhh, voltando à questão anterior, agora que já tiveste um bocadinho mais de tempo para pensar, voltamos à parte portuguesa risos. Encontraste mais alguma coisa que te identifiques com a cultura portuguesa?

Sim, basicamente como cresci aqui, sempre vivi aqui, ahhh, consigo identificar-me mais com este país e com esta cultura do que propriamente com... apesar de crescer desde pequeno com a cultura caboverdiana, mas a minha cultura se calhar também é um bocado mista por isso não posso dizer que me identifico a 100% com esta ou com aquela. Ahhh, na parte portuguesa o que é que eu me identifico, fora o café?! risos Acho que tenho o estilo de vida de um português, de qualquer português.

E que tradições caboverdianos é que os teus pais mantém?

Tradições?! A cachupa, ahhh, mais os pratos, alguns pratos de Cabo Verde e não sei... risos

Falas crioulo?

Não.

Porquê?

Porque os meus pais não me ensinaram.

A sério? Não falam contigo em crioulo? Ou foi opção? Eles falam entre eles ou...

Falam. Mas a minha mãe disse que não queria ensinar porque na altura se ouvia falar que um dos grandes défices escolares de filhos de imigrantes era que não sabiam falar correctamente risos, então ela optou por não ensinar.

Mas assim os teus pais falam um com o outro e não falam contigo?

Eu percebo, percebo risos. Às vezes arranho uma palavra ou outra mas eu nunca falei propriamente.

E o teu grupo de amigos ou grupos de amigos? É mais misto? Qual é a proveniência?

Tenho vários grupos. Tenho vários grupos. Ahh, leva alguma complicação quando é na altura de combinar alguma coisa, quando é o meu aniversário, ainda agora estava a falar disso. Ahhh, sempre lidei mais com os portugueses mesmo porque onde eu cresci, na Quinta do Conde, num raio de alguns quilómetros eu durante um bom tempo não tinha ninguém, não tinha nenhum caboverdiano. passado algum tempo é que começaram a aparecer mais um ou outro, ahhh e dessa forma sempre, sempre estive mais próximo de, dos portugueses. Ahhh, mas tenho alguns grupos, mas são sempre mistos, não posso dizer que são exclusivamente caboverdianos risos. Sabes que eu tive algumas complicações por causa disso. Complicações, não! Eu não tive complicações, mas mais tarde vim a saber de algumas coisas porque eu quando fui para a escola do Viso, onde havia uma comunidade africana maior, e como eu não me integrei com eles risos, era um bocado rejeitado risos. E o mesmo aconteceu em Tomar. Porque havia uma comunidade de pessoal dos PALOP’s que se juntavam , ., e depois havia uma coisa que eu não compactuava com isso porque eles juntavam-se de certa forma, mas depois também havia intrigas entre angolanos e caboverdianos e whatever. E sempre estive um bocadinho à margem disso tudo.

Ok. Podemos passar para racismo, a temática Racismo.

Racismo?

Já que estamos a falar de seres excluído...

risos Ser excluído é uma palavra muito forte, mas pronto. Sim, diz-me.

Já alguma vez sentiste algum tipo de preconceito, neste caso pode ser em relação às tuas características portuguesas, já que não te incluías muito...?

É assim, isso é uma coisa que eu sempre tentei ignorar. Pronto, está ali, tenho que viver com isso, mas se eu der atenção este problema vai crescer e então ficou sempre um bocadinho à margem. , na escola, na C+S principalmente tinha muitas intrigas nesse sentido. Ahhh, porque o mais fácil é sempre ofenderem um afrodescendente Seu preto! e não sei o quê, e nós tínhamos que nos defender, não é?! risos daí também... daí também, ainda bem que saí daquela escola, mas foi... é sempre uma coisa que esteve presente e por mais camuflado que seja vai estar sempre presente. Não em relação ao preto e ao branco, mas em relação a muitas outras coisas.

Tiveste conhecimento de algum caso mais explícito?

De racismo? Isso que eu te contei, o episódio da escola. Mais explícito do que este não ouvi. No 10º ano, segundo 10º ano, ahhh, tive uma professora de história de arte que não era aquela que mandou... tive uma professora que, pronto, as primeiras aulas senti alguma coisa de estranho, mas não me apercebi muito bem. Mas ao longo que o tempo vai passando, não foi preciso muito, comecei a perceber. Então, pronto, no... naquilo que eu te disse, no 10º ano eramos poucos naquela disciplina, então, ahhh... sim, agora estava a pensar porque era assim, havia disciplinas que tinham muito poucos alunos e havia disciplinas que tinham muitos. Isto era uma disciplina que tinhas muitos e então estava a pensar que o 10º ou o 11º... mas não, era o 10º ano. Essa professora quando dava a aula fazia perguntas, eu levantava o dedo e ela ignorava completamente. Havia... era eu e havia mais uma rapariga que é, é caboverdiana, ela é caboverdiana, mas ela... o pai dela era português, ela é da ilha do Sal, neste momento está na ilha do Sal... que era da minha turma, ela passava basicamente por portuguesa mas pronto, e aquela professora simplesmente dava a aula para uma aluna. Ou seja, ela falava, ou não sei quê ou não sei que mais, dava a aula, fazia perguntas, metíamos o dedo no ar e ficávamos até doer o braço. Entretanto, ahhh, era Vera!, Então, mas ela não levantou a mão! risos, pronto, ela dava aulas exclusivamente para aquela menina e então o caso tornou-se mais grave quando recebemos o primeiro teste. Quando fizemos o primeiro teste as notas eram 1, 2, 3 para aquela parte da turma e depois era 13, 14, 15, 16 para aquela rapariga que ela dava aula. , o primeiro teste passou, passou e depois uma coisa, essa menina que ela dava a aula estava com as cábulas descaradamente e a professora não disse nada. E eu: ai é?! Ok. Para a próxima sei o que é que eu vou fazer. No teste a seguir nem me dei ao trabalho de fazer cábulas, levei mesmo o livro risos para ver o que é que a professora dizia. Não disse nada. Não disse nada porque se ela dissesse alguma coisa ia ter resposta. A outra menina também tinha, para variar. E então, foi um ano a conviver com essa personagem, ahhh, que tinha um grande preconceito, , mas passou-se.

E em termos gerais consideras que os portugueses são racistas? Tendo em conta que já estiveste em outros países e que pudeste de alguma forma comparar níveis de racismo...

Os angolanos são extremamente racistas entre eles, por exemplo, entre eles. Comparando com eles, nós não somos racistas. Não somos mesmo. Epá e eu não... em determinadas situações eu acho que são, em casos específicos são racistas, de resto não, nem por isso.

Ahhh, risos planos para o futuro.

Ahhh...

Pode a ser a médio prazo, a longo prazo...

A médio prazo, um novo emprego. A curto prazo, um novo emprego ou um projecto novo. A médio prazo, ser pai. A longo prazo, ser rico risos. Não ter algum... risos.

Isso não é propriamente um plano...

É claro que é! Então risos! Não, mas ter algum conforto financeiro, viajar muito.

E envolves-te civicamente em projectos?

Que género de projectos?

Sociais, projectos...

Não tenho tempo risos. Não, alguns projectos que eu às vezes envolvo-me, que convidam-me e assim vou dar uma mãozinha, mas tem que ser alguém a convidar-me.

E que valores é que achas que os teus pais te transmitiram que fazem parte das tuas bases?

Ahhh, o valor da família, ahhh da honestidade, ahhh... acho que estes são os principais valores, mas pronto, da confiança, ahhh ser verdadeiro... muito por . Até porque como afrodescendente não tinha muito espaço para manobras risos.

O que é que queres dizer com isso?

Quer dizer que muitas vezes levamos a culpa sem a ter, então tínhamos que... pronto, isto é um assunto muito complexo como estavas a perguntar se racismo ou não, , eu quero acreditar que não. Quer dizer, eu tenho noção que existe algum, ahhh, mas não quero alimentar muito esse lado. Quero focar-me mais noutras coisas, mais positivas. Mas se formos a analisar bem certos valores que eu tenho hoje que me foram transmitidos pelos meus pais que... da honestidades principalmente, ahhh, porque muitas vezes encontrávamo-nos em situações um bocado controversas em que toda a gente olhava para ti simplesmente porque tinhas a tonalidade da pele um bocado mais escura risos.

Ok, se quiseres desenvolver estás à vontade.

, não te sei dizer um caso específico, mas sei que passei por isso.

Ok. E se tivesses que te descrever como pessoa como é que te descreverias?

risos

Qualidades e defeitos risos.

Acho que por vezes sou muito exigente com algumas pessoas que tenho perto.

E consideras como uma qualidade ou um defeito?

Por vezes pode ser um defeito interrupção de empregado de mesa... ahhh, acho que depende da pessoa. Pronto, está! Acho que pode ser uma qualidade, mas pode ser um defeito. Eu às vezes não tenho noção disso, daí o problema.

Exigente em que sentido?

risos Ahhh, se calhar fui pior, mas pronto. Sei , com namoradas. Não que eu seja possessivo, ou ciumento, ou isto e aquilo. Mas pronto, tenho o meu modo de estar muito vincado. Aliás, tempos, pouco tempo, para um ano disseram-me uma coisa sobre mim que eu não tinha muito a noção, mas acho que é muito assim. Eu tento ser emocionalmente muito estável, tudo o que me desestabilize um pouco... excluo.

E mais?

risos Mais, sim. É melhor perguntares...

Qualidades e defeitos.

acho que às vezes quero fazer tudo e não faço nada e sou mais focado em determinadas coisas. Apesar de me considerar uma pessoa muito calma, tenho que aprender a lidar melhor com algumas situações risos.

Queria escarafunchar mais essa parte, mas se calhar não devo...

Não. Ahhh, epá, situações que tiram-me do sério.

Tipo o quê?

Trabalho, ahhh, quando... , epá, métodos de trabalho basicamente. Quando falta de organização e quando estamos a rodear muito o mesmo assunto sem necessidade nenhuma, ahhh, pronto. E agora vou tocar talvez numa das minhas características que em determinadas situações eu sou muito objectivo e não gosto muito de andar a rodear. Mas às vezes é uma qualidade, outras vezes é um defeito. Depende do contexto.

Ok, ou seja, as tuas qualidades podem ser sempre defeitos.

Não, eu vejo as coisas sempre... as minhas como as de todo o mundo, não é?! Como, como aprendi a viver muito nas saídas do mundo, tento ver as coisas destes dois lados diferentes.

Vou-te perguntar uma coisa que já devia ter perguntado no início... tens uma irmã, certo? E atua irmã faz o quê?

Trabalha numa empresa de transportes marítimos. Acho que é no departamento de... epá, não sei especificar. Mas lida com mercadorias... aquilo é basicamente logística.

Ahhh, também fez licenciatura?

Fez licenciatura em Psicologia.

E na tua família tens mais pessoas que tenham feito a licenciatura ou frequentado a universidade?

Tenho a minha tia que é licenciada em Relações internacionais e o meu tio, mas o meu tio não acabou arquitectura.

E achas que...

Isto a família mais próxima.

E achas que isso teve alguma influência na tua ida para a universidade ou foi...

Não, claro que teve. Acho que tem sempre. É sempre um apoio ou uma motivação para querermos ir um bocadinho mais além.

Tens o projecto de continuar a estudar?

Gostava risos. Gostava de tirar uma pós-graduação, aprofundar um pouco mais, como ... aliás, como acabei a licenciatura, fiz algumas formações de fotografia, mas gostava de aprofundar mais alguns pormenores.

E se não fosses o que és (designer) o que é que serias?

risos a evitar uma resposta... não, se não fosse designer?! Talvez arquitecto.

Tens assim algum sonho de criança que ainda não tenhas realizado? Que queiras realizar?

Tenho vários risos. É bom que os tenha.

Desbobina risos.

Agora, exactamente, quero viajar o mundo, quero conhecer alguns países.

Ou seja, os teus sonhos estão todos relacionados com viagens...

Conhecer, ahhh, pronto, é muito por e ter um emprego mais estável.

Consideras-te uma pessoa que faz planos?

De certa forma.

Achas que o teu percurso foi planejado?

Não. Neste momento considero-me uma pessoa que, de certa forma, planejo, pouco, mas o meu percurso não foi de todo planeado.

Acabámos.

This is the first translated utterance of the interviewer.

This is the first translated utterance of the interviewee.


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