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Entrevista_de_MT

Jovens adultos descendentes de imigrantes africanos em (dis)posições de destaque: um estudo sobre percursos de mobilidade ascendente entre as minorias

SubtítuloEntrevista com MT
Data2017
Sexomasculino
Idade: 35
Nível de formação: Licenciatura
Ocupação: estagiário CLAI
Percurso de mobilidade ascendente: percurso de Apoio Providencial
Copyright© Este trabalho pertence ao ISCTE-IUL e ao Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Pode ser usado livremente para investigação, ensino ou uso pessoal somente com autorização da autora ou de algum responsável das respectivas instituições e mediante a referência a esta declaração de disponibilidade no texto.
EntrevistadorLeonor Tavares

Sexo, sei que é masculino … idade?

35 anos.

Nacionalidade?

Cabo Verde. Naturalidade é caboverdiana.

Mas tens nacionalidade portuguesa?

Não, não, desculpa, sim, sim. Sou é descendente de

Tens nacionalidade caboverdiana também?

Não, sou português, sou português. Sou é descendente, natural de Cabo Verde.

Ok. Residência, onde é que moras?

É…na encosta do sol. Encosta do sol, junta de freguesia da encosta do sol.

Encosta… encosta do sol?

Sim.

Tipo de habilitação?

12.º atualmente. É licenciatura em serviço social, agora deixo ao teu critério porque pronto tenho licenciatura, estou a terminar

Frequência de universidade…

Isto tem sido estive em cursos…assim não acabados…mais, desculpa?

Profissão?

Profissão, estudante.

Número de irmãos?

2.

2?

2, tirando os de criação que esses não contam.

Idades?

Idades dos meus irmãos?

Sim.

Um tem 28, o mais novo e o mais velho tem 39.

Estado civil?

Estado civil, solteiro.

Solteiro… risos neste momento. E filhos?

Não tenho filhos.

Nacionalidade do pai?

Caboverdiano.

Escolaridade do pai?

Naturalidade?

Escolaridade? Tem a 4.ºclasse.

A profissão do pai?

Era encarregado de obra.

Nacionalidade da mãe?

Caboverdiana. Escolaridade também é a 4.ºclasse.

Profissão da mãe?

É doméstica, apesar de neste momento não trabalha.

Porquê que os teus pais vieram para Portugal?

Diz

Porquê que os teus pais vieram para Portugal?

É assim, basicamente à procura de melhores condições de vida.

Normal.

Na altura, foi na década de 70, foi na altura da guerra do ultramar, mas não foi nesse aspeto, foi na procura de melhores condições de trabalho e de vida. A minha mãe veio primeiramente, porque na altura estavam um bocado zangados, o meu pai também não queria muito sair de casa dos pais e ela disse: então vou procurar a minha vida enquanto to coiso e na altura o meu irmão mais velho também tinha nascido. Ela deixou a cargo do meu pai, entre aspas, ficou com a avó, aos cuidados da avó, naquele tempo era um bocado mais assim que funcionava, pelo menos na minha família. Ela veio, arranjou trabalho enquanto doméstica, a cuidar dos tais que eu te estava a perguntar se os irmãos de criação também contavam porque eu nasci ao mesmo tempo que quer dizer tenho diferença de nove meses que uma das filhas dessa senhora, e como ela não tinha leite para dar de mamar a minha mãe deu o leite dela. Mas como crescemos todos juntos somos como se fossemos irmãos, até porque a titulo de curiosidade eles são descendentes de japoneses e de brasileiros, a mãe é brasileira o pai é japonês e eu sou coiso, mamou no leite da minha mãe, é uma mistura ela é portuguesa, eh pá…nacionalidade é portuguesa, tem o leite caboverdiana, a mãe é brasileira, sangue japonês, é uma mistura explosiva. Ela é pouco mais clara que eu, é uma cor assim olhas para ela é brasileira…assim com um ar assim tipo para o indiano. Não sei se tens mais alguma pergunta assim coiso

Então agora passamos para a entrevista propriamente dita.

Ok, pronto.

Queria que me falasses, pelo que eu percebi nascestes em Cabo Verde?

Sim.

Com que idade é que viestes para Portugal?

Eu…não, eu sou português, eu nasci aqui , que os meus pais é que são caboverdianos.

Eu percebi que tinhas naturalidade caboverdiana.

Não eu tenho naturalidade caboverdiana, mas…isso, nacionalidade é portuguesa e naturalidade também, mas descendência de caboverdianos.

Ok.

Não sei se isso interfere nalguma coisa. Era filhos de imigrantes, ou se fosse emigrantes também.

O problema seria se fosse depois dos 6 anos.

Ok, ok.

Se tivesses vindo de pequenino havia pouco tempo.

Ok, bem.

Então quero que me fales do teu percurso escolar? começar pela primária…

Eu entrei com 6 anos normalmente. Depois na 2.º classe não sei se foi embirração da professora ou não, chumbou-me na 2.º classe, eu não me considero que estava atrasado, mas ela inventou qualquer coisa, que até houve uma situação de indisciplina porque ela bateu-me e como eu disse à minha mãe, ela foi falar com a professora e não sei se ela embirrou ou não, chumbou-me. Mas isso coincidiu também com a altura em que eu mudei de casa, porque deitavam a minha casa abaixo, no sentido mais…não sei se foi programa de reabilitação que eles tinham na altura, e o meu irmão curiosamente, coincidiu com o meu irmão ter feito…ele nasceu e passados três meses por fomos então viver pra Alfornelos. A partir daí fui outra vez incorporado na escola primária outra vez, da Brandoa. Daí correu tudo bem atá ao 5.º ano. Depois também tínhamos uma turma muito problemática, ainda na altura era junto com a Venda Nova, com Benfica muitas vezes, vinham crianças derivadas de vários contextos e várias localidades. Isso levava que nós tínhamos uma turma de…eh era uma mistura de africanos, portugueses e de várias de alunos que tinham chumbado de outra idade, e aquilo também eramos 35, na altura lembro-me que eramos 35. Era uma das turmas mais complicadas da escola. Eu também tenho conhecimento daquilo que falavam, porque as outras turmas, não conhecia muito sabes que aqueles contextos todos também tornava as coisas um bocadinho difíceis de gerir, é o que acontece, nomeadamente hoje também é o que acontece, tao a tentar separar um bocadinho mas agora acontece a mesma situação. Pronto, não foi derivado a isso, não vou mentir, outras dificuldades com o inglês, com a matemática também, melhorei um bocado, mas, mas nesse sentido acabei por ficar no 5.º ano. Depois repeti no 5.º ano e foi até agora sempre sem chumbar nenhum ano. Aquilo que é mais…que eu posso dizer que é mais importante ao nível do meu percurso escolar foi que eu…depois eu acabei por passar no 12.º, mas tinha deixado o inglês para trás e ainda bem que o meu pai me disse assim: não vais ficar em casa a fazer uma disciplina e não vais fazer mais nada no resto do dia. Benditas palavras, porque eu depois comecei a trabalhar no Jumbo, isto em 2000/2001 e pronto, durante esse ano consegui terminar o inglês e depois tive um interregno de perto de cinco anos. Mas houve uma situação que foi conhecer um amigo meu que era meu colega no Jumbo, que fizemos uma grande amizade e ele pensava entre aspas que eu era um baldas, que não queria estudar, que não queria saber se eu queria curtir a vida. Até que um belo dia ele diz-me assim, porque eu estava naquela altura estava numa fase que todos os meus amigos, que todas as minhas amizades que eu fazia mais próximas, pronto afastávamo-nos, por algum motivo, ou iam trabalhar para fora, e aquela foi uma amizade que ficou. Mas ele disse estamos numa amizade muito próxima, mas não , eu infelizmente vou sair da empresa, estava à espera de uma oportunidade para continuar os meus estudos, estava a terminar o 12.º e agora pronto…e ganhei a bolsa. Ele era guineense, ganhou a bolsa de estudos, saiu e disse eh , nós estamos num país diferente, com uma cultura diferente e tu sabes que a população estrangeira está um bocadinho mais em desvantagem por isso nós temos que estudar, ser melhores ou apresentar melhores resultados para conseguirmos a nível do mercado de trabalho, conseguir ter uma melhor colocação. Aquilo ficou-me na cabeça. Ele disse: eh , continua a estudar, estuda, porque ele na altura no Jumbo também não estava a fazer um trabalho…trabalhava no armazém, o trabalho era de muita na vulnerabilidade a nível de saúde e essas coisas assim, muito e esforços físicos. Ele disse: eh , temos que continuar a estudar e isso foram palavras que me ajudaram muito, mesmo depois de ele sair, naquele primeiro ano em que ele se teve a organizar na sua licenciatura em sociologia, por isso fiquei logo entusiasmado quando tu falaste em sociologia. Então pronto, nesse primeiro ano ele teve a organizar-se tivemos um pouco afastados. Depois ele insistiu que eu em 2005/2006 inscrevi-me. Curioso foi que tinha ido para Cabo Verde, mas a Vita ficou com a inscrição no ensino superior que era para ver em que é que a minha média dava. Para geografia em Évora e ali…depois na altura quando vim, que eu tinha ido de viagem para Cabo Verde e voltei, não fui a tempo de fazer a inscrição, tinha passado, tinha acabado na 6.º feira, eu fui na 2.º, que era para fazer a inscrição para depois vir para lisboa, ou pedir a transferência, mas não fui a tempo. Fui a uma segunda fase e consegui em filosofia, pronto que foi que eu comecei a saltar aquilo depois foi numa época em que o meu pai depois também adoeceu, morreu na altura, passado um ano. Eu estava…saia da escola, entrava às 8h, saia de casa às 7h entrava às 8h na faculdade, depois naquela situação não se percebia bem porque tinha um professor dava as aulas logo na primeira cadeira era tema de técnicas da filosofia e vagueava muito e depois depois entrava às 2h saia entrava às 2h, pouco espaço de tempo. Depois chegava a casa e tinha que cuidar do meu pai, ou ajudar a minha mãe a cuidar do meu pai e era uma situação muito complicada. Nesse ano não continuei, o meu pai acabou pro morrer em dezembro desse ano e depois fiz outra vez a matricula em filosofia, mas vi mesmo que aquilo não era para mim. Depois tentei sempre dentro da área social, dentro da área social, tentei sempre em psicologia social, em estudos africanos, tentei dentro dessas áreas todas, mas decidi que tinha de parar para fazer uns testes psicotécnicos para ver dentro da área social o que é que se coadunava comigo. Isso também veio num momento em que eu também adoeci, porque eu tenho insuficiência renal, adoeci e depois começou ali uma serie de situações que Em 2010 estive a tentar encaixar-se num curso, porque eu realmente aquilo que eu queria era fazer um misto em psicologia social…um misto de psicologia e sociologia, ou seja a pessoa e a sociedade, a sua interação com a sociedade. Depois tive de fazer os exames de maiores de 23. Estive a estudar psicologia na escola para ter as bases para fazer o exame, porque eu tinha duas cadeiras que eram dois exames que tinham sido…que eram requeridos na altura, que era português e geografia, ou historia ou geografia…não história perdão, história ou geografia, eu tinha tido história, tinha tido aproveitamento nessas duas cadeiras e depois para fazer o exame tinha de fazer o exame de psicologia e psicologia social. fiz o exame e não sei quê, mas depois quando me chamaram para as entrevistas, quem tivesse aproveitamento passava, que depois tinha de ir a uma entrevista para ver quem é que se coadunava mais para poder entrar sete em mais de cinquenta. Eu na altura tinha tempo, porque também acabei por me aleijar antes disto tudo acabei por me aleijar no trabalho, depois logo a seguir, o meu pai morreu em dezembro e logo a seguir em janeiro é que voltei a trabalhar outra vez, aleijei-me no trabalho. Tive quatro meses de baixa, mas depois voltei a trabalhar.

Ainda estavas no Jumbo nessa altura?

Sim, sim. Eu trabalho no Jumbo desde 2000. Disse que tinha deixado a cadeira por fazer, mas naquela altura tinha aquela ideia de ensino superior para quê, não tinha bem aquela ideia, por isso é que especifiquei que o momento que foi importante para mim foi a amizade que eu tive com esse meu amigo. Por mais que eu pensasse que fi uma pessoa…dava-se bem com toda a gente, era uma pessoa espetacular, mas nunca pensei que no futuro fosse uma pessoa que viesse a querer…e ele ah e tu nas conversas que eu tenho contigo vejo que tens…ou seja tinha uma cultura geral por assim dizer, tinha bases para fazer melhor, para poder avançar. Mas eu estava naquele modo sedentário, naquele modo stand bay, queria era trabalhar e acomodei-me um bocado, confesso. Depois também, foi na altura em que o meu pai estava doente, que eu sabia que ele estava doente mesmo, eu sabia que tinha o meu problema dos rins, diziam-me, mas eu…eh como é que é possível que tenha este problema se não é declaradamente, não sinto dores…sentia de vez em quando, sentia, claro, mas não associava aquilo à insuficiência renal. Insuficiência renal, como eu fazia um trabalho esforçado é normal que tivesse dores ou coisa assim. que depois o meu pai morreu, a minha irmã…isto é curioso, o pai dela é médico de acupuntura, professor de acupuntura, de medicina chinesa e essas coisas, e ele. Interrupção Depois eu fiz umas análises de rotina do trabalho, para ver se estava tudo e por adiante e acusou…e por acaso, nessa altura eu fui à médica, porque eu não pensei que ela me mandasse para o hospital, mas não…depois isso coincidiu com a altura que eu depois comecei a fazer…porque tinha tempo, o exame aos 23 e isto é importante, porque depois eu entrei de baixa, estive um ano e qualquer coisa de baixa e ela disse-me, começava a fazer diálise ou não, mas eu nunca quis fazer, estava num estado muito avançado, mas nunca quis fazer, comecei a fazer tratamento mesmo natural, a minha família estava de acordo, pronto. Hoje em dia digo que foi importante porque tenho uma outra resistência a outros problemas que podiam ser normalmente mais específicos, poder levar a alguma coisa mais séria, pronto. Isso coincidiu com o tempo que eu podia fazer o exame, tempo para estudar para os maiores de 23 e na altura na entrevista perguntaram-me se eu teria tempo para fazer o curso, como era para alguns que tinham que provar que tinham capacidades e aptidões para fazer psicologia social sem e pelo método natural que é fazer os exames. Começa a fazer entrevista, que depois esteve a querer estudar o meu passado a nível curricular, como é que era o aproveitamento a matemática, a inglês, como eu te disse não era assim muito…hoje em dia é muito melhor, a matemática é mais na base das estatísticas é que está assim a mudar, pronto. Depois como eu não consegui entrar e vi que psicologia era mesmo aquilo que eu queria, psicologia social requeria coisas que eu não tinha muita queda para aquilo, pronto ter conhecimento de inglês, matemática, estatística, essas coisas todas, que na altura não me dava muito bem, decidi então que naquele momento fazer os testes psicotécnicos. Depois esse meu amigo em conversa disse: eu vou ser muito sincero no que te vou dizer, não gosto muito de estar a fazer muitas misturas, ou é psicologia, ou é sociologia, porque isso de psicologia social faz-me muita é muita complicação, se queres um concelho segue por uma área, por uma ou por outra. Eu disse: ok, vou fazer os testes psicotécnicos para ver o resultado que . Eu estava a pensar que me iam fazer aqueles testes todos elaborados do que é que gostas de fazer, o que é que não gosta, tem queda para isto e tem queda para aquilo. Ela pôs-me um livro à frente e eu comecei a ver os vários cursos dentro da área social, e mal me deparei com serviço social disse: eh , é mesmo isto que eu quero. Depois na altura eu voltei a trabalhar, porque isto foi em 2009, depois em 2009 ou 2010 eu estive a trabalhar durante essa altura toda. Posso dizer que estive a saltar de área em área no Jumbo, para ver se…porque eles sabiam que eu tinha um problema de insuficiência renal, deves estar a ver como é que é. Ter um problema de saúde e ter cum curso superior, está o caldo entornado. muitas empresas que faz muita confusão essa situação. E pronto em 2011, estive outra vez parado com problemas de saúde…estava mesmo…na altura em que sabia que eu fazia as análises e estava avançado, não saia, nem melhorava nem piorava daquele estado em que estava e pronto, acabou por as coisas acabaram por descarrilar e tive umas complicações. Depois entrei de baixa outra vez até hoje, porque hoje estou de baixa e pronto. Depois tive aquele tempo até agora, tive este tempo todo para fazer o meu curso, à vontade, terminei e estou desejoso de terminar isto e é mesmo serviço social que eu queria, é o meu perfil, é um bocado caricato, mas é isto. Aquele amigo foi muito importante. Houve situações que também se estavam a declarar que ia ser necessário também tirar um curso superior, mas basicamente não foi experiência. Esse meu amigo a experiência das conversas com ele, fizeram com que despertasse em mim aquela…espera eu estou aqui e o que eu sei fazer, ou para aquilo que eu estou talhado não é propiamente trabalhar num hipermercado. Ainda estou ligado à empresa mas sinceramente não sei como vai ser depois quando voltar. Não sei se me vou conseguir encaixar numa área, porque serviço social dá-nos uma bagagem para podermo-nos encaixar assim em qualquer área, mas eu quero trabalhar dentro da minha área.

Voltando um bocadinho atrás, hábitos de estudo?

Não percebi.

Hábitos de estudo? Se estudavas regularmente, ou só nas vésperas dos testes?

Mas agora estás a falar agora mesmo na faculdade

Tudo.

Eu vou-te ser honesto, este meu amigo teve uma influência também muito importante, pelo menos a partir da licenciatura, porque eu comecei a tirar licenciatura na minha forma de estudar. Mas andando atrás…eu sempre fui uma pessoa que sempre gostou muito de…hoje em dia até digo que prefiro quando estou numa conversa com alguém, prefiro aceder à internet e ver o que quer dizer certa situação, do que é que estamos a falar e isso acontece muitas vezes, do que propriamente perguntar do que é que estamos a falar. Gosto de consultar e já…em parte, a partir mais do meu 5.º ano é que eu comecei a ter um método de estudo de estudo mais aprofundado e mais sistematizado, lia, nunca gostei muito de decorar, mas de compreender. Tive mais dificuldades mais numas disciplinas do que noutras, por exemplo na área da matemática, mas nunca tive até ao 9.º ano matemática propriamente dita. Mas o meu método de estudo foi estudar regularmente, estudava muitas vezes com colegas, escrevia também em parte aquilo que estava a estudar, gostava muito de escrever também, agora não muito. Porque eu também…apesar de estar um bocadinho…como é que eu te vou dizer habituado a que outros colegas escrevem, depois eu fico com os apontamentos de alguma dúvida que eu tenha. Esse método não é muito…usado por mim. Lia, gostava sempre de ter a matéria sempre em dia, estudei sempre em companhia, estudava sozinho, nunca tive assim nenhuma dificuldade em estudar sozinho.

Costumavas estudar em casa?

Sim, sim. Apesar de também…agora vivo com o meu agregado familiar, inclui crianças, o meu irmão tem dois filhos, um vive mesmo , o outro vive…regularmente vai para , e mesmo quando eles estão a fazer barulho eu tenho capacidade de me…de concentração assim que me permite fazer as coisas. Mas foi sempre uma coisa que espantou sempre as pessoas, sempre consegui fazer isto. Agora, a partir da licenciatura…mesmo em serviço social, esse meu amigo sempre teve uma grande influência, e porquê? Porque havia fazes em que lia, não percebia muito bem e pedia para me explicar e como ele estava uns anos mais avançados do que eu muitas vezes estudava com ele e quando era sociologia e essas coisas assim mais alicerçadas no social, porque ação social está muito ligada às ciências sociais, ele ajudava-me sempre com os trabalhos, e houve umas duas vezes que foram cruciais. Houve um dia que eu fiz um trabalho no primeiro ano em que não tinha referencias bibliográficas e eu depois fui a um jantar de uma amiga da minha cunhada, estava muito bem num jantar quando ele liga-me, aquilo era para entregar o trabalho na segunda feira e ele ligou-me na sexta, não sei, deves estar a ver o que vem dali: olha estás aonde? Eu disse: estou aqui numa festa, num jantar aqui, está muito barulho, mas eu vou ali fora. Ele disse: isto do trabalho, sou teu amigo, mas vou ser duro contigo isto está uma palhaçada completa, tu dizes aqui a verdade, mas sem referencias do autor o teu professor vai passar um risco por cima, portanto vais ter de mudar isto tudo, domingo vamos combinar a partir das 5h foi sempre uma faceta que ele teve, tinha um trabalho supercomplicado, mas tinha sempre tempo para estarmos juntos, para me ajudar, mas foi sempre uma amizade um bocado reciproca. Ele ajudava-me muito nisso, ele tinha também outros problemas na vida dele, eu também ajudava-o muito, a experiência da força que tive, isso sempre foi uma experiência que lhe disse muito, portanto era uma amizade de um sentido, era reciproco. Eu depois tive a mudar aquilo tudo e depois no domingo quando fui ter com ele ainda ele deu-me trabalho ainda para fazer e disse-me: se fizeres aquilo que te estou a dar aqui, eh tu vais ter uma nota de 15 para cima, vais ter um 12 ou um 13. Eh , honestamente sempre fui muito ambicioso quis também fazer um trabalho melhor modifiquei o trabalho todo, até 10 minutos de me ir embora e graças a deus tinha carro e cheguei e entreguei e tive uma nota de 16. Mas sempre que estávamos juntos, a falar do trabalho dele, do percurso escolar dele e da forma como ele trabalhava, isso também permitiu-me ter a facilidade de estudo e de correlacionar as matérias e os conceitos, que acabava muito por maior parte das vezes ajudava os meus colegas a perceber as matérias. Isso se foi importante ou não, foi uma coisa que eu gosto muito de fazer ajudar os meus colegas, senta-te, também fizeram isso comigo, senta-se que vamos…isto não é assim tao complicado como parece e alguns dizem: tens de ser professor. Não gosto muito que me digam isso, não sei se para professor ei-de dar…metes as coisas de uma forma…é curioso, eu estou a estudar, estou a ajudar um colega a estudar e têm sempre uma nota superior à minha, porque esse trabalho, fiz um trabalho preparatório…eh , esse trabalho ajudou-me não preciso agora estar não é que leve as coisas na brincadeira, mas fico mais tranquilo porque sei do que é que estou a falar. A nível do método de estudo é mais este. Gosto de ler, gosto de perceber aquilo que leio e gosto de correlacionar as coisas, e tentar ao máximo procurar exemplos na vida real para poder apoiar, ou perceber a situação. Isto também porque estamos a falar que estou dentro da área social, gosto de ter exemplos práticos para tentar perceber as matérias.

No segundo e quinto ano voltaste a chumbar?

Sim, por causa daqueles problemas que tinha, que os meus colegas tinham, eram muitos indisciplinados, nunca fui assim muito. Mas na altura nós tínhamos muitos alunos de várias zonas de contextos mais vulneráveis e não sei. Havia muitos colegas meus que eram mais indisciplinados que provinham de áreas assim de Venda Nova…se calhar eram áreas que eram mais descriminadas, não sei dizer, provinha dessas áreas e como a turma havia pouco controlo, o professor tinha pouca mão na turma porque como eram muitos alunos, vinham de vários contextos, era muito difícil adequar um método especifico para vários alunos. Aqui o complicado honestamente tar a ver um colega ir para a rua todos os dias, o clima da aula ficava logo completamente estragado e acabava sempre algum que também era indisciplinado fora do sério, porque alguns eram mesmo indisciplinados fora do sério que ficavam em aula e depois a instabilidade que se gerava continuava sempre o que é que fazia, como não era naquele tempo, nem neste, o professor acabava sempre por eu vou dar a matéria…se tiver sossego suficiente para dar a matéria Interrupção

Foi essas únicas vezes que chumbastes?

Sim. E pronto…era sempre complicado, o professor acabava por dar a matéria e é assim, quem quiser aprender aprende por isso é que muitos colegas meus na altura desenvolveram outras capacidades de estudo, porque é assim, se estou numa turma que é indisciplinada, vários problemas de indisciplinas tem que adequar a forma…formas alternativas de poder…eh , eu não fui muito dentro dessa vaga de alunos. Mas eu pronto…quando chumbei, chumbei com 5 negativas, acho que fiquei com 5, chumbei e depois na altura no segundo 5.º ano que eu fiz, a matéria basicamente era mais facilitada de apanhar porque como tinha a partir dai as notas eram excelentes, até meados do 7.º ano as minhas notas eram excelentes, porque depois tinha sempre aquelas um bocadinho mais baixas, matemática, inglês mais?

Foi só dessa vez que chumbastes?

Sim, sim, foi no 5.º ano. Não foi mesmo esse o fator predominante, mas muitas vezes também não vou dizer porque tinha colegas indisciplinados, mas porque também ia nas brincadeiras e distraia-me e depois…é assim, é muito complicado quando se tem uma turma de muitos alunos, todos eles com educações diferentes, com formas de aprendizagem diferentes, formas de estar diferentes, educações diferentes, contextos completamente diferentes. Havia dos miúdos mesmo problemáticos em último grau, os de médio grau, em que eu me incluía neste médio, nos alunos médios, depois havia aqueles que pronto…mais de…predominantemente eram portugueses e provinham de outros contextos em que a estabilidade eram de culturas completamente diferentes. Na altura até houve pais que pensaram em tirar os seus filhos daquela turma, mas a meio do ano era complicado, porque começam-se a criar grupos dentro da turma e depois é complicado também vem influênciar a aprendizagem. Também muitos alunos que estudam, muitos miúdos que estudam…eu por acaso sempre me dei bem com a maior parte dos indisciplinados, da parte que tinham por norma eram mais estudiosos e queriam mesmo aprender, também me dei sempre bem com eles. Por isso é que eu digo que sempre fui um aluno…um miúdo que era normal, que não estava nem para o lado dos que eram os mais problemáticos, nem dos que eram menos problemáticos. Não digo que nunca fui para a rua, se se meterem comigo eu também vou pronto. Muitas vezes é assim…o professor na sua essência vai querer dar aula no maior sossego possível, se houverem dois que estão a destabilizar, se não houver um que tenha a culpa 90% vão os dois para a rua. Essas situações também não vou dizer que nunca aconteceram comigo, aconteceram, cheguei também a ser expulso da aula, mas não era uma situação muito recorrente. Foi a única vez que chumbei, fora depois na licenciatura em que entrava num curso como filosofia…porque estamos a falar num campo em que a pessoa ou tem ou não aquela queda para aquela área. Eu digo que no 10.º ou no 11.º sempre fui protegido por a minha professora de filosofia e cheguei ao primeiro ano de filosofia e posso dizer que fiz duas cadeiras e porquê, porque tem uma série de conteúdos que…é muito complexo mesmo, o curso de filosofia é muito complexo mesmo. Eu não digo isto no meu caso, digo isto mesmo, porque é verdade. Filosofia é um curso mesmo muito complexo. Depois havia essas situações…andei três anos a tentar perceber, qual realmente…porque a área social tem muitos cursos dentro da área social, até perceber dentro daquilo o que eu queria me meter, porque eu tinha capacidade de comunicação, sim, boa capacidade relacional, sim, as pessoas gostam de falar comigo dos seus problemas, ok, tenho uma experiência de vida que às vezes pode não ser de viver as situações em concreto mas que vi situações e tenho aquela experiência de observação, ou mesmo na própria família e tenho sempre uma palavra a dizer, ok. Daí para perceber, mas qual é o curso, andei ali um bocadinho…na altura estava comecei a namorar, deixei de ir ao curso de filosofia…filosofia também era um desgaste psicológico para mim, era um grande desgaste psicológico com a doença do meu pai, depois o meu problema, o meu trabalho também era coiso, depois o stress no trabalho, porque era Ali quando começas a estudar, és apoiada…tenho um colega meu que foi apoiado até terminar o curso, depois de terminar a licenciatura, passado um mês, dois meses, começaram a embirrar com ele. Enquanto que quando estava a estudar, fazer o curso, tinha toda tinha um horário que lhe permitia…ele tinha…tinha espaços abertos no horário, tanto de manhã como à noite, porque o curso na altura, 2007/2008, era…os cursos tinham…mas isso nos cursos laboral acontece muito, ele tinha aulas de manhã e à tarde, e o horário, e o chefe dele de secção tinha o horário todo feito, adequado a ele. Quando ele terminou a licenciatura, ah , arranjaram um caso em que ele tinha saído com a identificação para fora, estando no horário de trabalho, embirraram com ele, ele pôs um processo à empresa, acabou por ganhar, mas aquilo levou um tempo, foi muito longo, pronto…essas empresas grandes também têm sempre outra forma de se poder mexer, mas como foi uma situação mesmo sem justa causa, ele acabou por ganhar. Mas todos os meus colegas, não sei se te interessa, mas eu digo-te, todos os meus colegas que saíram do Jumbo, saíram da minha empresa, estão todos…nem todos têm cursos superiores, mas dizem que estão melhor a nível de trabalho, têm trabalhos menos stressantes, mesmo que não sejam stressantes, têm mais aquele gosto de fazer. Porque na altura também, na altura como não havia trabalho e as pessoas queriam ganhar dinheiro Eu digo agora por experiência de mim próprio, quando começas a chegar a partir dos 35, 40 começam a entrar numa faixa etária que começam a aparecer os problemas de saúde, nem todos, não é, não te assustes, nem todos os casos, mas começam a aparecer, ou seja, começa a ser um tempo em que temos de decidir o que é que vamos fazer, se é isto que queremos para a nossa vida porque se não tentar encontrar outros caminhos. Por exemplo, eu segui o caminho de não ter ainda filhos, de não ser casado nem essas coisas todas, é um bocado mais opcional. Como tu podes ver eu tive desde 2005 até agora, coincidiu com uma fase em que o meu pai adoeceu, coincidiu com uma fase em que eu estava com o problema mais avançado. Depois começou a fazer efeito, eu não sentia nada, mas no trabalho, eh , você tem este problema tem de fazer isto, tem de fazer aquilo, para ver se também conseguia encontrar ali…este tem este problema a ver se a gente consegue arranjar aqui uma forma de fazer com que ele embora, não se sinta bem, e se embora. Pronto, também coincidiu com uma fase em que eu estava assim um bocadinho sem saber qual o caminho que eu iria seguir, mas é uma fase que eu decidi fazer o meu curso a licenciatura dentro da área de serviço social. Posso dizer que áreas que trabalhar com pessoas que tenham problemas de saúde muito problemáticos que podem acontecer, trabalhar essas pessoas psicologicamente tenho assim mais dificuldades. Mas um vasto leque de situações de práticas profissionais que o serviço social permite, que este curso permite que me faz ficar descansado ao nível de futuro de que pode ter trabalho precário ou não, temporário ou não a nível de tempo, mas não tendo medo de trabalhar vou sempre fazendo alguma coisa, vou ter sempre…e depois futuramente também tenho ideia de fazer mestrado também a seguir. Neste momento agora, deves compreender que foi uma coisa que eu sempre quis ter, porque primeiramente o meu pai sempre quis isso, eu nunca percebi bem o que é que iria conseguir com um curso superior, mas estive…todos estes problemas que eu tive, todo este tempo que eu tive parado…ou todas estas situações que me aconteceram, eu costumo dizer que eu aprendi à minha custa. O problema que eu tive, o ter de parar vem tudo como que encaixar para eu conseguir dar este seguimento, porque houve uma fase que foi muito complicado porque eu não sabia o que é que haveria de fazer, se continuava naquele sedentarismo e continuava no Jumbo a fazer um trabalho que muito poucos querem fazer a não ser quem está ali, jovens de 21 ou 22 anos no máximo que sabem que aquilo é temporário e não se importam de fazer aquele trabalho ganhar umas coroas como as pessoas costumam dizer na gíria, mas para pessoas que têm…que têm outros planos de vida, não é propriamente um trabalho que a nível de ambição o que as pessoas querem fazer. O ordenado como podes calcular também não é…tive uns pequenos problemas, na altura tive um problema, a minha família…tenho familiares que têm conhecimentos dentro dessa área para pôr um processo ao Jumbo e eu não coiso Agora se calhar arrependo-me porque neste momento não tenho aquele receio tão grande de perder o meu trabalho e por adiante e posso fazer mais, neste momento sei que posso encaixar-me melhor dentro de outras áreas do que propriamente dentro daquilo que eu faço no Jumbo. E se queres que te diga neste momento não assim nada que me atraia a nível de trabalho…só se fosse em recursos humanos ou assim, não assim um trabalho que apesar de eu não goste de estar quieto, gosto de aprender sempre qualquer coisa que eu faça e que possa ser uma aprendizagem gosto, mas neste momento não me vejo encaixado no Jumbo numa área assim profissional.

E ainda em relação à escola quais eram as tuas disciplinas favoritas?

As minhas

As tuas disciplinas favoritas? Já dissestes as que não gostavas, matemática e inglês.

Pois essas não vale a pena falar, tens informação. Eu gostava basicamente de tudo o que tinha conhecimento, porque eh , a nível de conhecimentos sou uma pessoa que gosto muito de me conhecer. Quando não tenho nada para fazer meto-me a pesquisar acerca de…do estado do país, mas pronto. As disciplinas que eu mais gostava era, português, história, geografia quando comecei a ter eu não digo que não gostava de inglês, a professora até era uma pessoa acessível, mas mais no 5.º e no 6.º ano é que foi…depois no 7.º e no 8.º e por adiante se tornou um bocado mais complicado. A partir do 10.º quando começaram a introduzir as cadeiras mais especificas, era filosofia, na altura tinha psicologia…não…era qualquer coisa de psicossocial e eu gostava muito dessa cadeira, ciências gostava, todas as cadeiras que tivessem conhecimento gostava. Português era mesmo a cadeira que mais me atraia era português. As cadeiras que eu mais gostava era português e história. Assim outras cadeiras…tinha introdução à economia, no 11.º tinha introdução à economia, também gostava muito dessa cadeira. Mas pronto, tudo o que tivesse conhecimento…historia, ciências…tudo o que tem área social eu gosto, e tudo o que tenha conhecimento eu também gosto. Neste momento não faço nenhum tipo de discriminação, mas na altura era as cadeiras que eu mais…filosofia na altura também, não tinha nada a haver com quando eu fui fazer o curso propriamente dito, mas gostava também de filosofia na altura. Depois começaram a introduzir umas disciplinas novas que eram mesmo…que eu estava a fazer um curso, daqueles cursos que são versados técnico profissional na escola e introduziam as cadeiras de gestão de empresas que era…teorias…teorias empresariais e eu não desgostava daquela cadeira. Mas depois quando começou a ser assim mais especifico também de pesquisa, de macs e assim, daquelas contas, contas a mercadoria, onde tens de meter a imobiliária, essas coisas, e eu começava pronto Mas a partir daí…psicologia, gostava dessa cadeira, dessa que eu não estou a conseguir dizer o nome mas as que tinham a ver com as empresas, relativo às empresas, português, história, as línguas nunca gostei, matemática tive até ao 10.º e era uma cadeira que era de estatística

Métodos quantitativos?

Métodos quantitativos, essa gostei, gostei…porque a professora despachou-me daquilo que não tinha paciência, olha eu vou te passar, não para…eu não tenho assim tanta dificuldade…não tenho tanta dificuldade…não tenho dificuldades. Na altura aquilo que era um bicho de sete cabeças não é assim tao problemático…desculpa

Ia fazer-te uma nova pergunta, mas se quiseres concluir…

Se calhar ias-te referir à licenciatura do próprio curso o que é que eu agora interessa-me…é?

Sim, podes.

Eu tinha em serviço social, costumamos ir porque é um curso muito vasto e permite ter competências e conhecimentos em várias áreas, psicologia, economia, mesmo…há muitas cadeiras que nós temos que são mesmo a introdução a X e dá-te conhecimentos e ferramentas para minimamente para saberes o que é que tu estás a falar em várias situações e em várias áreas. Mas eu gostava muito de ciência política e tive 10 nessa cadeira, mas é uma cadeira que quando eu a fiz, quando tive aproveitamento a ciência política estava…já estava naquela fase, porque eu tive que parar outra vez de estudar, porque…a insuficiência renal pode ser vista…pode ter muitos reflexos, podes não conseguir ter uma capacidade de fixar as coisas, de memória, todas essas discussões. Mesmo ao nível de trabalho…como tinha os pés assim um bocado…não é em ferida, é empolados, eu depois na altura estava a fazer uma atividade, uma prática profissional de fazer a relação de todo o material que não era aproveitado tinha de fazer a baixa no computador e eu é que estava a fazer esse trabalho a nível de todas as áreas do Jumbo, de todos os sectores, então os pés inchados começa a ser assim um bocadinho coiso…não estava mesmo com os pés inchados mas era uma situação que estava a ter consequências ao nível do trabalho, me estava a sentir cansado, a nível lombar tinha dores, os pés…aquelas botas na altura por causa da segurança, tinham inventado na altura a historia da segurança de botas de biqueira de aço e naquela altura, aquelas botas, consegues imaginar o que é que é…ou se calhar não…fazer 10 ou 15 km com umas botas daquelas. Primeiramente os funcionários…os colegas das secções levavam para fazer no computador, depois como os funcionários tinham outras coisas para fazer eu é que tinha de ir buscar aos sectores que era para poder fazer aquela relação no computador e aquilo depois também…pronto. Isso coincidi depois que eu…em 2011 parei e conseguir fazer de arrasto certas cadeiras e a ciência política incluído. Eu nessa altura tinha uma professora que dava essa cadeira de fora…como eramos muitos alunos aquilo fazia interceção com vários cursos, administração pública, serviço social, aquela cadeira…aquela outra de relações públicas, ou relações internacionais ou qualquer coisa por , também entrava aquela cadeira de ciência política entrava e apanhava esses cursos todos. Quando se uma cadeira a uma turma muito…depois havia os engraçadinhos que queriam dizer sempre alguma coisa para dizer para demonstrar que sabiam, mas depois era atrapalhar a aula, pronto Como eu estava com aquelas dificuldades todas e mais o problema de saúde, tinha mais situações transversais que não ajudavam à festa, acabei por ter 10 nessa cadeira, depois foi um conteúdo programático que depois nos anos posteriores quando comecei a estudar ah…comecei a me interessar muito por áreas da sociedade…temas da sociedade que tinha muito…como por exemplo o estado social, que tinha muito a ver com essa cadeira. Eu fiquei um bocado sentido de não ter aproveitado melhor aquela cadeira. Sociologia…sociologia geral, sociologia geral…e depois era uma outra cadeira no segundo semestre, era sociologia 1 e sociologia 2, sociologia geral para entender…nós não somos sociólogos, nós somos para compreender mais um bocado da historia método científico, de como se trabalha em sociologia, as ferramentas e essas coisas todas, o básico. Como eu conheço o meu amigo e falava muito comigo, tinha muito…eu não aprendia…eu nas aulas, quando falava com ele, tinha um conhecimento mais alargado, por isso é que eu tinha preponderância em apostar nessa cadeira. Depois gostei de psicologia no 2.º ano, depois passei para a cidadania, também falava-se muito de coisas que eu gostava. No geral gostava de todas as cadeiras, por exemplo, desenvolvimento comunitário era uma cadeira de agora deste ultimo semestre, eu estive até a fazer um projeto de intervenção, foi na Cova da Moura…perdão, no bairro do alvito, foi que nós tivemos a trabalhar nesse projeto de intervenção e por acaso gostei muito dessa cadeira também, da forma como foi trabalhado, que me deu ferramentas agora na área de intervenção comunitária estar um bocadinho mais parado.

E como é descreves as escolas por onde passastes? (23m40S)

Como é que descrevo

Como é que descreves as escolas por onde passastes em termos de ambiente, dos professores? Qual é a avaliação que fazes?

Na primária tive sempre uma boa relação com os professores no geral, tirando essa situação que se deu. Eu não altura passei numa situação, porque quando morava aqui na Damaia não tinha muitas condições, a minha mãe era doméstica, o meu pai era só…trabalhava como trabalhador normal na construção civil e não tinha muitas condições. Houve uma situação, como havia alguns que tinham muitas dificuldades e aquilo foi uma situação que me surpreendeu, porque…agora quando penso nisto ainda mais. Ela acabou por separar a turma em duas, um grupo minoritário que tinha problemas de aprendizagem estavam separados dos outros que…ou seja, os métodos de aprendizagem que atualmente agora usamos, mais especificamente os professores usam para coisa mesmo é uma política que está institucionalizada nas escolas de os alunos problemáticos agora separam-nos por turmas diferentes daqueles que…menos problemáticos, que, diga-se de passagem, eu não acho muito mal. Ela dividiu essa turma, a nossa turma em duas, e aconteceu uma situação que eu cheguei, nessa altura eu não tinha como levar as coisas para a escola, tive de levar uma mala que a minha mãe remediou, uma mala dela. Eu levei a mala da minha mãe e cheguei e: uma mala de senhora e não sei o quê e fazer aquela discriminação e aquele reparo e toda a turma começou a olhar logo para mim de lado. aquilo foi uma situação que depois coincidiu com a separação que ela fez. Mas eu acredito que o método dela não era o melhor, não era o adequado, é muito complicado, eu sei, mas não era o mais adequado, ou seja, ter mais tempo para um aluno que não está a conseguir assimilar, não está a acompanhar, tem de se dar mais tempo aquele aluno. Ela não teve esse tempo comigo, e com os outros meus colegas. Na altura acho que se vivia aquela coisa que um professor tem o papel principal dentro da aula, manda no tempo de aula e podia muitas vezes dizer aquilo que queria, ter atitudes diferentes com uns e outros alunos, conforme é a autoridade máxima dentro da aula, poderia ter esse tipo de atitudes, mas eu acho que não foi a melhor atitude e aquilo marcou-me. A nível disto que me estás a perguntar, ao nível de forma

Em que ano é que foi isso?

Diz, desculpa

Em que ano é que foi isso?

Eu tinha 7 anos, vivia aqui da Damaia, não sei porque a escola não é a mesma. depois vim para aqui para Alfornelos, um clima super normal. Fui acompanhado por duas professoras diferentes, porque na altura separaram a Brandoa de Alfornelos, antes era da Brandoa, Alfornelos era dentro da freguesia da Brandoa e eu era incluído na escola primária da Brandoa. Depois quando separaram abriram a escola de Alfornelos e eu fui para Alfornelos, sempre tive uma boa relação com os professores, um ambiente de aprendizagem, com acompanhamento. Isso eu posso dizer, porque aquela situação que se passou na Damaia, foi uma situação que eu senti na altura e hoje sei dizer, distingui aquela situação de envolvência…de envolvência não, de professores…de ambiente, da relação com os professores era diferente. Mas no 5.º ano deu-se aquela situação da turma problemática que eu tive, de…eu não sei se…depois fui para a escola da Brandoa, acho que ainda não…na altura não era escola de Alfornelos, era da Brandoa, era Alfornelos, era Brandoa, era Venda Nova…era tudo dentro da mesma escola. Turmas extensas, os professores que não…pelo menos era vários professores, os professores não conseguiam ter um método que se adequasse de ter o respeito dos alunos, mesmo naquela altura. Pronto, foi uma fase em que não propriamente comigo, não digo que os professores na sua maioria, eram professores que sabiam dar as aulas, e que uma turma normal que…porque por vezes um professor também vem num contexto, que não está habituado a ter preparação para Também não podemos esquecer, não sei…não vou dizer que sei, mas muitos professores que têm…vão para professores mas se calhar não têm aquela…estás a ver o que aconteceu comigo, ainda bem que eu descobri eu tive a oportunidade de descobrir que poderia ter uma…de conhecer realmente aquilo que eu queria fazer. Como tu podes ver, eu tenho filosofia…depois tive psicologia, economia, tive sociologia que deram as ferramentas que eu preciso…andava naquele clima de indecisão do que é que eu queria, mas acabei por ir buscar aquelas cadeiras todas. O que eu queria era ter um conhecimento geral, mesmo que geral, não especifico, mas geral de tudo, para poder fazer o trabalho de serviço social. Pronto…os professores na sua maioria davam-se com os alunos. Numa turma normal eram capazes de se dar bem com os alunos…mas não tinham…porque muitas vezes não tinham tempo para dar as aulas, tinham tantos problemas de indisciplina que às vezes Confesso que os alunos eram mais ou menos 10 ou 15% dos alunos que eram médios como eu e os que acabaram por ter aproveitamento foram os alunos que provinham…os que tinham uma educação de pais de origem conseguiam boas qualificações, os que não eram coiso pais de população estrangeira, que têm dificuldades a nível de trabalho, qua não têm tempo para dar não é para dar educação…mas pronto não têm tempo para estar com os filhos, de os ouvirem, isso influência a forma de estar na escola. Por isso é que ao nível de ambiente, eu sempre tive um ambiente…sempre uma relação com os professores normal, porque a educação que eu tive em casa era diferente daquilo que eu via os meus colegas terem. Portanto eu dava-me bem com toda a gente e isso eu acho que também é importante porque facilitava o trabalho aos professores. Eu dava-me sabia separar as águas daqueles que eram mais problemáticos, que não eram…que andavam Haviam colegas que se calhar eram repetentes dois ou três anos, pelo menos dois anos, depois eram como que os chefes da escola, tinham os irmãos que andavam mais à frente na escola e depois como que mandavam na escola e pronto. Eles também tinham as costas quentes. Depois a partir do segundo 5.º ano também tinha uma relação normal com os professores, melhor com uns do que coiso, mas a turma era uma turma que permitia se dar aula de forma…um ambiente saudável. Até até chegar ao 12.º sempre tive um ambiente…uma relação com os professore não direta a nível de a nível de relação direta de professores mais propriamente dito, agora que comecei a fazer a licenciatura, pronto tinha 25 ou 26 anos quando comecei a entrar na via de ensino superior, não somos crianças, termos um nível de educação de saber estar que te permite uma relação mais próxima com os professores, no fim da aula para discutir um assunto qualquer ou tirar uma dúvida. Foi sempre uma relação uma relação casual de proximidade, conseguia aprender, os professores tinham condições para dar as aulas, mas não…mas a partir do ensino superior é que tive mesmo uma relação mais próxima que permite dizer que…havia uns mais…como essa professora de ciência política, um bocadinho mais fechada. Mas no geral conseguia ter um ambiente saudável, uma relação saudável com qualquer professor que tive, porque eram professores que não têm aquela ideia de professor e os alunos não se podem dar de forma igualitária ou em de igualdade.

E em casa tiveste algum exemplo de alguém que tivesse estudado ou que te incentivasse a estudar?

No meu próprio agregado não, fui eu que…fui mais eu e fui, mas longe porque como sabes em parte derivado da influência do meu amigo, porque eu ali percebi…primeiro o meu pai disse-me sempre que a única coisa que ele nos podia dar…deu-nos boas condições, não digo que não, desde que viemos para Alfornelos nunca tivemos problemas com nada. Eu posso dizer-te que se calhar em parte fui um bocadinho mais...em quem os meus pais apostaram mais, gostava de ler, gosto de…nunca fui um filho que deu assim muitos problemas. Os exemplos também que eu tinha…sabes que o meu irmão mais velho pronto aprendeu a fumar cedo e não sei o quê…e andava assim mais…não é revoltado, é ter aquela liberdade de poder e luta por aquela liberdade. Eu nunca fui assim…nunca me sinto preso para fazer aquilo que eu quisesse e hoje em dia acho que não nada…as pessoas costumam dizer-me: quando fores viver sozinho é que vais ver Não, acho que não me faltou nada na minha educação, não sou uma pessoa que tenha necessidade de aprender a saber lidar com algumas situações em especifico. Mas não, eu sou o único caso. O meu irmão mais velho ficou-se pelo 7.º ano, o meu irmão mais novo…um bocado por culpa minha, ele na altura quando estava no 10.º ano estava a dar muitos problemas na escola e o meu pai como também, estava doente também na altura não tinha muitas condições também…ou quando estava passava por fases ora estava lucido, ora não estava lúcido. Depois quando estava lúcido também não se importava muito. A minha mãe pediu-me uma opinião do que é que haveria de fazer com o meu irmão e eu disse-lhe: eh sinceramente, se ele está a dar tantos problemas com a escola, tem 18 anos, se calhar é melhor…não está a fazer nada, vaio para estar a distrair os colegas Porque eu senti isso muito quando aconteceu comigo, estar a distrair-me de aprender também não é justo, estar a fazer distúrbios na escola, mas não deixar os outros aprender, mais vale ele sair. Ele saiu, ficou com o 10.º ano, com o 9.º ano e pronto também é uma pessoa que tem---acho que eu da minha família, que saiba sou a pessoa que tenho menos capacidade de aprendizagem, mas fui o único caso de ter seguido mais à frente. Neste momento sou o único. Mais fora do meu agregado, porque eu também tenho primos que são quase da minha idade que vêm de Cabo Verde, têm visto para vir estudar aqui em Portugal, têm aqui alguém que possa pronto, que possam fazer o termo de responsabilidade e não sei o quê, e sim tenho casos de pessoas da família que tiveram…que foram mais à frente. De ter assim seguido para o ensino superior não estou a ver assim agora nenhum caso na minha família que tenha seguido para o ensino superior. aqueles cursos profissionais que acesso…que ficas com o 12.º ano, que os meus primos vêm fazendo, mas que conseguem ficar com essa coisa e depois mais tarde é que…ainda não nenhum caso que tenha seguido para o ensino superior.

E a transição para o ensino superior, notaste alguma diferença? Em termos de ambiente?

Em termos de ambiente risos é um bocado complicado. É um bocado complicado porque é assim, no ensino superior por um lado…vou contar-te uma pequena história de como é que as coisas se passaram. Eu comecei…já tinha 27 ou 28 anos quando comecei a fazer filosofia e depois eu apanhava tudo, eu apanhava de tudo…apanhava colegas mais novos, menos de 21 anos que queriam mesmo fazer o curso, apanhava colegas que eram provenientes de famílias de classe média/alta…que às vezes e mesmo do país de origem que vieram que tinham condições de vida, sabiam que os pais pagavam as propinas e não sei o quê. Estes estavam assim também um bocado…estavam naquela ideia, não se faz este ano, faz-se para o próximo, e apanhei colegas que tinham…pronto mais velhos, que tinham a ideia mesmo de fazer o curso de forma de verificar. Repara que filosofia e serviço social foram os únicos cursos que eu estive mesmo a frequentar. Estudos africanos eu tentei fazer a transferência de filosofia para estudos africanos que depois como não tinha…coincidiu com aquela altura que o meu pai esteve doente e depois eu vi que o curso não era bem aquilo que eu queria, não Não tive muito aproveitamento, aquilo tinha que ter aproveitamento em algumas cadeiras que é para poder se fazer uma transferência de forma equilibrada e não consegui, não consegui passar para estudos africanos, depois tentei psicologia, e depois em serviço social senti mesmo que as pessoas que estão a frequentar o curso eram pessoas que queriam mesmo. A maior parte dos meus colegas em serviço social, não é no sentido discriminatório, mas era mais mulheres que tinha. Tinha muitas mulheres, 20 mulheres e 6 ou 7 rapazes. Essa tendência não se alterou depois de eu ter estado de baixa, depois de ter parado e ter voltado a estudar. Essa tendência manteve-se porque ainda…tem-se vindo a alterar no serviço social, mas é um curso que maioritariamente tem como destinatários que querem mesmo fazer o curso é mais mulheres. notei que em parte por serem mulheres e em parte por serem pessoas mais adultas, mais velhas, e o ambiente ao nível de ensino superior é claramente diferente do ensino secundário, a forma de estudar. Apesar de ainda ter colegas que…umas 4 ou 5 colegas colegas não, colegas no sentido mesmo literal que ainda tinham muito de aprendizagem na forma de estudar do ensino secundário, decoravam, não percebiam a matéria, não relacionavam os conceitos, e ainda tinham muito a ideia da forma de estudar do ensino secundário. Mas a vontade de aprender, o ambiente era claramente mais adulto em que tu consegues ter um ambiente…ou estares numa situação em que tu consegues Eu tenho casos em que na própria faculdade…tenho uma amiga de uma prima minha diz que a turma dela é miúdos naquela vertente de que são provenientes de famílias que dão tudo, conseguem tudo com relativa facilidade e que tem colegas que não aprendem absolutamente nada, que fazem muitas cabulas, que não querem aprender e que nesses ambientes, neste caso que eu sei e que ela me contou, que nesses ambientes são mais de pronto. outra coisa, é engraçado que os alunos…estudantes provenientes de países estrangeiros, nomeadamente dos PALOP, falo de angolanos que eu conheço, tenho o caso do meu amigo que era guineense, ele era do ISCTE e eu sou do instituto superior de ciências sociais e humanas, ISCSH. Ele era do ISCTE e a tendência é a mesma, angolanos, caboverdianos que acabam o curso e muitas vezes vão para os seus países de origem para tentar ajudar o país a desenvolver. Mas esses são os que têm mais interesse…e também como têm maiores dificuldades a pagar propinas e essas coisas assim, são…não é que…não é claramente os que têm mais dificuldades, mas é os que têm se calhar mais situações de vida que ao nível de falar, quem tem a tendência é maior. Não digo que também não tenha colegas meus…há uma tendência…pelo menos aquilo que tu reparas é que uma tendência que os alunos que estão em pós-laboral têm…os que trabalham são os que têm uma maior pelo menos na minha turma são os que têm um maior aproveitamento, os que conseguem ter as melhores notas. Em parte, por causa daquela situação que os outros sabem que os pais ajudam nalgumas coisas, podem trabalhar, mas têm aquele apoio dos pais. Os outros têm também aquela situação de trabalho, têm família, têm filhos, têm um tempo mais reduzido para dedicar ao estudo têm que dedicar-se em força para conseguir fazer. Mas o ambiente foi sempre saudável. É claro que sempre aqueles grupinhos que pronto…em todas as turmas sempre essas situações, não é por . Mas o ambiente sempre foi claramente mais adulto, com mais vontade de aprender, tu consegues ter um ambiente em que tu consegues aprender a matéria e de forma saudável. Basicamente é esta No ensino superior mais tendência para haver aquela responsabilidade…na maior parte das vezes…isto é importante, a nível de trabalho, de bonificação, de poder fazer um trabalho melhor, de poder ter um melhor nível de escolha e de em serviço social tu chegas numa fase de ensino superior que as pessoas têm aquela tendência de vamos lidar com situações mais sérias. O ensino superior dá-te uma outra bagagem que não de teres um nível geral de conhecimentos, de história, de português, de filosofia a nível geral, a nível de história dessas cadeiras. Depois no ensino superior é mais especifico porque tu vais ter uma outra responsabilidade não social, mas ao nível de trabalho que a própria sociedade te vai exigir. É o que eu te digo, os estudantes têm um bocado mais…do ensino superior têm mais essa ideia…têm essa ideia e bem estou aqui, mas não deixa de haver aqueles que vão para trás de uma secretária para fazer o trabalho de secretária que não ade ter muita responsabilidade assim. Falo no serviço social aquela parte mais de intervenção, essa vertente de intervenção das pessoas. muitos colegas que não vão por mais gosto que se tenha, por mais vontade que se tenha, essa vontade por vezes não chega.

Alguma vez pensastes em desistir?

Do quê?

Do percurso escolar? alguma vez pensastes em desistir como o teu irmão?

Ah

Como o teu irmão?

Desistir?

Sim. Alguma época em que achastes que se calhar…

Alguma parte no meu percurso ou anterior ao meu percurso eu quis desistir porque eu fui até ao 12.º ano e na altura o 12.º ano era acima de…eu para trabalhar num hipermercado não tinha que ter o 12.º ano. Aquilo foi uma cunha para aliciar o chefe, se fosse uma pessoa que tivesse um bom estatuto, tivesse os conhecimentos certos aquilo lhe permitiria ir para o escritório ou é assim, subir a chefe de secção sinceramente acho que sem o ensino superior é…mesmo assim acho que é uma coisa que eu não me vejo a pensar nisso, a ver isso como é muito limitado a…tens de ter os conhecimentos certos para poder. Pelo menos no Jumbo, para poderes crescer tens de ter os conhecimentos certos, nem muito de competência pessoal nem profissional, podes chegar cedo, podes ser uma pessoa dedicada ao trabalho, se não tens os conhecimentos certos. está, é assim aquilo que foi o fator impulsionador de eu querer continuar foi mesmo o facto de eu ter conhecido a situação em que o meu amigo estava, porque ele vivia em situações precárias…precárias sim, de vulnerabilidade, porque ele vivia sozinho…de vulnerabilidade não, porque ele sempre foi uma pessoa com uma força interior muito, muito grande. Se calhar aquilo de o pai morrer naquela altura, depois a mãe também não estava presente, depois tinha irmãos a estudar aqui em Portugal, mas em Coimbra e ele como irmão mais velho também tinha mais…era também um bocado puxado a ter…uma posição, uma postura mais coiso. Isso foi o que me surpreendeu a conversar com ele. Ele esclareceu-me…eh , nós podemos não ter…podes nem sair do Jumbo, podes até nem sair deste trabalho em que tu estás, mas isso vai-te dar uma competência de trabalho diferente, vai-te dar outras ferramentas. Eu depois comecei a pensar naquilo e eh , no mínimo eu vou aprender conhecimento, porque não tentar…nunca foi uma coisa…eh fogo, eu tinha as minhas capacidades…estavam um bocadinho sedentárias, naquela altura eu pensava…porque não sabia nada do meu problema de saúde, pensava um dia mais tarde quem sabe. Mas ver aquela experiência do meu amigo e ver realmente que eu agora tenho 22 ou 23 anos, quando eu tiver 32 ou 33, porque as pessoas gostam muito de dizer a gente não vai para novos e não sei o quê e percebes agora que quando eu ainda mais com o problema de saúde, comecei a ser pressionado para sair…estava a ser pressionado pelo meu problema de saúde, era uma altura em que eu estava a ser pressionado para sair, estava a ser pressionado pelo meu problema de saúde e agora o quê, vou continuar a ser pressionado. A nível de trabalho e de stress isto e aquilo, eu começo a ver por mim. Eh , vi o meu pai trabalhar na construção civil toda a vida, eh era uma pessoa que os chefes confiavam muito, ele sentia-se bem no trabalho em que estava, assistente de encarregado, era encarregado de segunda, era subchefe e estava contente, mas diziam sempre: é uma pessoa que tem uma boa capacidade de aprender e de poder ser mais. Naquela altura toda…e depois os meus irmãos nunca tiveram muita…o meu irmão porque era mais velho, o mais novo porque era 8 anos mais novo que eu, era muito novo, não tinham aquela proximidade do meu pai, mas eu tinha, e ele dizia-me sempre: a única coisa que vos posso dar é estudar, ajudar-vos a estudar, eh , o teu irmão mais velho não quis, o teu irmão mais novo não sei, mas tu, continua , é uma coisa que se eu pudesse, porque tenho 40, 41, 42 anos, família para sustentar. As pessoas começam…começa a chegar uma altura que as pessoas começam…eu tenho família por exemplo a minha cunhada é um bocado claro, estava a estudar, engravidou, parou…talvez um dia. Todos aqueles fatores, saúde, percurso profissional futuro, o que é que eu vou fazer no futuro e o meu amigo a dize aquelas coisas todas, palavras mesmo fortes, eh tenho que continuar. Não digo que desisti, mas tive aquela fase desde 200 para até 2005 e disse é , o que é que eu vou fazer à minha vida. Estava naquela fase em que estava a escorregar um bocado…quero ter dinheiro, quero tirar a carta e não sei o quê, era uma situação que estava a conjugar para…então agora muito mais, a crise económica, o trabalho vai sendo cada vez menos Se me perguntares vais ter oportunidade mais à frente, se eu acho que em Portugal neste momento é a melhor solução? Eu nunca fui muito exigente com a vida, sempre quis ter o meu desafogo ao nível financeiro, trabalhar numa área que eu acho que se toda a gente tivesse essa possibilidade, porque eu acho que as pessoas a nossa geração eu acho que apanhou uma fase que tinha trabalho fácil, trabalho quando queria e na altura com 20 ou 25 anos, trabalho fácil e trabalhavam porque queriam ganhar dinheiro, não trabalhavam por necessidade. Pelo menos eu falo daquilo que eu conheço, os nossos pais tinham sempre boas condições, para dar boas condições à família tinham sempre boas condições. Agora nesta fase as pessoas começam a trabalhar mais por necessidade, hoje em dia é por necessidade e eu, o meu caso, graças a deus fui transplantado, mas é assim…fui transplantado, tenho um rim implantado, não me posso baixar muito, eh Também te digo, eu também não me vejo a fazer trabalhos pesados, e sinto-me uma pessoa…a minha capacidade e o gosto que eu tenho que é, gosto de ajudar as pessoas…uma qualidade que é muito ou um defeito que é muito mau de eu não conseguir dizer que não, gosto de ajudar. É isto que realmente eu quero fazer, quer seja na área de emigração onde eu estou, quer seja na área do apoio psicológico, eu gosto realmente de ajudar as pessoas e não olho a meios para poder ajudar. É isto que eu quero fazer. Também não tenho uma condição neste momento que me permita andar a fazer esforços. Como é que vai ser quando eu voltar ao meu trabalho, também não sei. Neste momento, tenho trabalho, mas fazer esforços, quero fazer um trabalho que eu goste, mas não sei como vai ser.

E se não fosse serviço social o que é que seria?

Eh , psicologia, de certeza, de certeza. De certeza porque a minha área sem dúvida…tive que chegar aos 30 anos, porque foi aos 30 anos que eu decidi que era mesmo isto que eu queria ser. É assistente social porque o que eu quero é pôr em prática aquilo que o serviço social faz, que é ajudar as pessoas com os meios, com as competências que nós adquirimos, tanto teóricas como práticas. Eh , podemos ajudar de qualquer maneira, mas isso não…o ajudar de qualquer maneira é que é diferente. Por exemplo, eu tenho uma prima minha que não tirou curso nenhum e tem uma capacidade muito grande para lidar com pessoas com cancro, quando fui fazer…quando eu fui ao gabinete de saídas profissionais da…da…do instituto, a funcionária que está perguntou: você gosta de fazer tudo dentro do serviço social? Então diga-me , você vê-se a trabalhar numa creche? Sim. Você vê-se a mudar fraldas? Vê-se a fazer isto? Vê-se a fazer aquilo? Vê-se a trabalhar na toxicodependência? Tudo o que seja a nível de pessoas que têm problemas que seja de foro psicossocial eu gosto de fazer. Portanto claramente eu posso dizer que se não fosse ia para psicologia, de certeza absoluta, é a área que eu gostava de seguir. Sociologia um bocado influênciado pelo meu amigo também. Gostei da área, mas depois aqueles conteúdos específicos do curso são um bocadinho mais…não é a meta do curso, é no final o que é que eu vou fazer. Quando tu chegares lá…mesmo eu indo para serviço social tenho uma série de cadeiras com componentes que têm de ser trabalhadas de uma forma mais…com um bocadinho mais de trabalho, de forma mais intensa, com maior cuidado. Tentar perceber…eu posso dizer que cidadania e ciência política…ciência política fiquei com a ideia que podia ter tido uma média melhor, mas não é por , mas são cadeiras que se tu não tens um conhecimento real de como é que as coisas se passam, se não saber relacionar bem com os conceitos, são cadeiras que são complicadas de se fazer e…e educação para a cidadania…eu não tive essa dificuldade, mas a maior parte dos meus colegas a média ficou dos 12 para baixo. Interrupção

Queria-te perguntar em relação ao estágio o que é que te trouxe de nove em relação à parte teórica?

Ahhhh boa pergunta. O que é que…sabes que…eu não estou a ter muita dificuldade porque no geral eu estou a trabalhar aqui no CLAI e o que eu faço aqui no CLAI por um lado, é aquilo que eu gosto de fazer, mas por outro, é o facto de eu gostar de ajudar as pessoas fora. foi inúmeras vezes, foi uma imensidão de vezes em que eu ajudei as pessoas a nível burocrático, a nível de falar com elas ao nível dos seus problemas psicológicos ou não, eu estou constantemente a fazer isto. A nível da faculdade levei sempre na ideia que o máximo da prática que eu tiver para assimilar os conteúdos, portanto se puder ajudar um colega a assimilar os conteúdos, a perceber melhor por ter os conteúdos na cabeça é sempre bom. Eu sempre vi as coisas como, ia para ali para ver como é que as coisas são na teoria, depois o estágio ou mesmo quando tivesse a trabalhar seria uma parte mais prática que depois seria de implementação daqueles métodos e daqueles instrumentos que nos deram nas aulas. A nível de, mas perguntas-me se eu estou a ver se aquilo que me ensinaram, se passaram…aquilo que eu assimilei nas aulas está a corresponder áquilo que eu agora…se a realidade que eu estava à espera não era bem

Um bocadinho dos dois e como é que te estás a sentir? A teoria é diferente da prática.

É diferente da prática sempre. Então eu vou-te explicar as coisas. É basicamente é isso é aprender para pôr em prática. As dificuldades que eu estou a ter não têm nada a haver com a questão própria de exercer na prática e coiso…às vezes nós pensamos que estamos na posse de…por exemplo uma situação, ah tem que se ter distanciamento em relação ao coiso, a população idosa é assim, é assado, os jovens têm de se trabalhar assim e assado. Mas eu estou a ver que coisas especificas da prática profissional que são diferentes…são diferentes daquilo que nós aprendemos nas aulas. As aulas são assimilação de conteúdos teóricos e depois quando nós vimos para fora temos de ter um pouco de competências pessoais para podermos exercer a profissão ou a prática e por vezes as coisas não são no sentido mesmo direto…mesmo…não são mesmo aquilo que nós estamos à espera, as pessoas são muito diferentes, todas elas…é isto que também acho que é a magia do trabalho de serviço social é dos casos específicos. Eu tenho apanhado aqui casos em que as pessoas dizem que sim, sim, e depois não fazem como nós…ou nós esperamos que a pessoa esteja num patamar ou numa vertente que seja diferente que torna as coisas mais aliciantes, porque agora a parte prática tem aquela coisa de nós podermos ser flexíveis com o trabalho. As próprias chefias, por exemplo aquela situação que a senhora veio aqui…eu também não a conheço, ela pode também ser da associação e vir aí…ah não queremos ninguém aqui ou qualquer coisa assim, eu também peço desculpa porque não tinha falado nisto e geralmente não vem ninguém. Pronto, ao nível do trabalhar…eu próprio tive conteúdos de como é que se trabalha com colegas, em colaboração com outras entidades, com outras áreas. Mas realmente na prática é diferente daquilo que nós nas aulas aprendemos. Mas também depende em que é que tu estás, ou seja, em que nível é que nós estamos de gosto, porque muitos que dizem que estão, mas depois começam a ver na teoria mesmo o que é que é, começam a ver que não é aquilo que querem. outros ainda que parte no estágio, estão naquela faze em que querem aprender, querem acabar o curso, querem aprender como é que se faz, querem conhecer a realidade e acabam por fazer tudo no desespero. uma colega minha que está a fazer um trabalho e parece um pombo correio para entregar papéis aqui e ali e depois como está a levar em vários serviços a levar os papéis diz que está a aprender, mas aquilo é uma mentira total. A parte prática é diferente de certeza e posso dizer, como estava a dizer ainda bocado, pode ser por a minha experiência pessoal tenha feito isso, mas também estou a sentir que a parte prática é diferente os professores a darem aulas ou termos pessoas a quem ajudar. Isto é que o quezileis da questão do serviço social, quando se está a trabalhar é, tu vais para o mercado de trabalho com aquela vontade de fazer aquilo que é o serviço social…que é a essência do serviço social que é ajudar a sociedade, ajudar as pessoas, ou vais para ali simplesmente numa de preencher papéis e ser mais um burocrático. Isso faz diferença na simulação da parte prática, da forma como a parte prática vai correr. Uma coisa é a forma como as pessoas se preparam no ensino superior Interrupção.

Agora esqueci-me onde a gente ia?

Estávamos na parte entre diferença entre o estágio e curso.

Vamos falar de outras coisinhas, porque já tivemos aqui muito tempo a falar de escolaridade. Vamos mudar um bocadinho de assunto e depois pode ser que eu volte outra vez se me lembrar de mais alguma coisa. Mas…agora queria falar um bocadinho de identidade, como é que te vês?

Como estrangeiro. Uma boa pergunta. O meu amigo sociólogo disse-me que quando nós pertencemos…onde nós pertencemos é aquilo que nós queremos ser e eu honestamente sinto-me africano. Sinto-me africano e porquê? Porque tudo aquilo que eu vejo, que é a minha forma de estar é africano, de…porque eu acho que a cultura portuguesa é um bocadinho…há algumas situações de proximidade, relações de proximidade, de…a forma como as pessoas têm de estar na relação com o próximo é diferente do português, por mais que as pessoas tenham sempre tendência de dizer que não é…que não malicia, não. Nós não somos racistas…eh eu sou uma pessoa que tenho preponderância…tenho uma boa capacidade relacional, gosto de me dar em com as pessoas, nunca tive assim grandes problemas, eu acho que isso tenho de africano. Mas eu sinto-me africano, sinto-me mesmo enraizado com…sinto-me como as tendências africanas, principalmente porque o africano gosta de estar sempre em, gosta de estar sempre alegre, eh gosta de ajudar e eu sinto-me assim mais caboverdiano do que propriamente português, sinceramente. Mas coisas que pronto…não posso dizer que a experiência que as pessoas têm a nível social, aquilo que é a experiência comum é mais próximo a eles são…as pessoas fazem-se a meu ver, ou crescem, ou formam a sua estrutura psicológica e relacional derivado das experiências que têm e que lidam a maior parte das vezes e são aquilo que as suas experiências…e as minhas experiência são mais a nível de Portugal…apesar de ter a minha família próxima caboverdiana e tenho o meu melhor amigo propriamente dito…um cresceu comigo e o outro é sociólogo Eh , às vezes a gente tem a ideia que os amigos são aqueles que crescem connosco e que temos mais confiança, mas foi uma pessoa que na altura, foi uma pessoa caiu bem no momento certo, porque era aquilo que eu queria ouvir, era aquilo que eu precisava ouvir e nunca me escondeu nada disse-me sempre tudo. Era guineense, mas não passou assim muitas raízes, nem conhecimentos, nem cultura guineense. Pronto, eu sinto-me mais africano, ou mais ou menos influência, sinto-me africano. Das minhas experiências da minha vida, duas vezes que eu fui a Cabo Verde, a minha experiência é com português, não estou a dizer que não assimilei nada da cultura portuguesa, mas sinto-me mais africano, claramente mais africano.

E em casa, que tradições é que mantêm, a família?

Olha

Crioulo por exemplo? Falastes em casa…

O meu crioulo não é dos piores, mas é crioulo. Os pratos também…a minha mãe sempre teve uma mão para a cozinha variada e, portanto, não digo que não deixe de o bacalhau com natas é o melhor que comi na minha vida, mas os meus pais continuam a ser de raiz caboverdiana. O que é que eu posso dizer mais…o dialeto é caboverdiano. A cultura mesmo da forma de estar é caboverdiana, pelo menos a minha mãe, gosta de se dar em com toda a gente, gosta de…estar sempre alegre, sai, gosta de falar com as pessoas, tem a capacidade relacional. Os hábitos continuam a manter-se…há o modo de vida português que as pessoas também…não é propriamente…é na periferia, ou nas redondezas da grande lisboa, acabas por ter aqueles hábitos urbanísticos que as pessoas enraízam em si, mas, os hábitos são também de caboverdiana adaptados ao contexto. Às vezes dizem, não sei como é que aquela pessoa consegue fazer X, mas a visão é africana, do modo africano, mas adaptado, porque a pessoa não pode dizer que não faz essa mesma situação, mas o modo de vida em casa é claramente caboverdiano adaptado ao modo de vida português. As pessoas também não têm aquele tempo para se darem, mas também não vou entrar por , para dizer que o caboverdiano é assim e o português é assim. Não vou…também não é por que a gente está a ir, não é. Mais

Não percebi bem, mas vou perguntar-te…vou repetir a pergunta, crioulo falas em casa…com os teus irmãos falas crioulo?

No meu dia a dia? É assim…metade, metade. Eu como estou com a minha mãe…o meu crioulo não é propriamente…é uma mistura, se eu estiver a falar crioulo de São Vicente, falo bem com ela o crioulo se São Vicente, ou naquele tom de voz, ou naquela maneira de falar, mas em casa não falamos…apesar que o meu irmão mais velho é caboverdiano, mas também não tem…veio de com 3 anos não veio quase nenhuma ligação àquele crioulo. A minha mãe por acaso uns dias estava a dizer é o único que veio de , mas é o único que quase que não tem aquele sotaque mesmo africano. Mas falamos normalmente, quando estou a falar com a minha mãe pode descolar para o africano, pode descolar para o português, e pronto…não…continuo com essa tradição de falar o crioulo, mas também não é, não é um crioulo que é mesmo só…falamos mais o português. Falamos mais português, mas quando eu estou com ela pode…aliás eu que sou o português mais de gema, sou o que falo mais o crioulo, quando às vezes me descai a boca vou eu. mas é um misto, cinquenta, cinquenta, metade, metade.

E no grupo de amigos, é mais…

No grupo de amigos é mais português, português, mas que não tenho…eu não tenho…eu tenho uma facilidade de fazer amizades muito fácil e o meu grupo de amigos é multifacetado, é mais portugueses claro, mas como muitas influências ou brasileiros, ou os meus irmãos de criação são japoneses ou brasileiros, guineenses, como esse meu amigo. Falamos muito de…japoneses, não…o pai não é uma pessoa que tenha aquela ligação…já é uma pessoa também mais velha, também tem uma educação mais…mais rígida que eles, mas ele também não se muito com eles, também não têm muito a cultura japonesa. Mas com todo o meu grupo de amigos com quem eu falo, falamos da sua cultura. O meu grupo de amigos é multifacetado, é maioritariamente português, mas não é um grupo de amigos que seja…crioulos então…caboverdianos então é os meus primos, é…pessoas que agora me dou mais aqui na associação porque estão…porque são aqui do bairro da Cova da Moura, são…também tem várias etnias, têm várias nacionalidades, às vezes pode ser uma pessoa caboverdiana que fale A experiência que eu tenho mais é de uma ex namorada minha que depois também era caboverdiana, falávamos mais…tinha mais coiso para ter uma cultura…um contexto caboverdiano, porque de resto não tenho assim muita experiência, de família não tenho quase experiência nenhuma caboverdiana. Eu tenho, mas mais a nível família e…porque fora no meu grupo de amigos não tenho muito coiso…é igual aos outros, muita predominância do português, em contexto geral é multifacetado, não paras…um único…não têm uma influência numa cultura especifica.

E dissestes que já tivestes duas vezes em Cabo Verde em que idades e em que circunstancias?

Estive na Ilha do Sal, aos 17 e depois comecei a trabalhar e prometi à minha avó que voltava e voltei aos 25, 25 anos. Depois também voltei a prometer, fiz mal, voltei a prometer e até agora não voltei a ir. Voltei lá…fui com 25 anos e depois prometi que voltava e não voltei mais, e ela também morreu, agora não mais…essa promessa está fora de validade.

Quando chegastes lá pela primeira vez o que é que te surpreendeu?

Eh pá…o que é que me surpreendeu! Um modo de vida completamente diferente. Pode parecer uma resposta um bocado vaga, mas é um contexto mais…muito mais contexto local. Aqui o contexto local é muito mais café, zonas mais alargadas. Ali as pessoas a falarem umas com as outras, quando chegas a casa de uma pessoa a oferecerem-te sempre não sei o quê, és sempre coiso…as pessoas na rua falam-se todas. Eu começo a ver e a minha vizinha do lado raramente fala comigo, eu venho da escola, venho para aqui, venho do trabalho venho para aqui, geralmente à noite…eh , as pessoas falam, olá, boa tarde, mas parece que estão a cuspir o boa tarde. Então eu dou-me bem com a minha vizinhança, mas se calhar neste momento posso dizer isso porque estou mais naquele espirito de assistente social reparo nessas situações. As formas de estar são completamente diferentes. O convívio também de festa, de lazer, dessas coisas todas. Eu saia com os meus primos até às 3h ou 4h da manhã, mas normalmente voltavam para o trabalho e era mais ou menos onde nós tínhamos estado. Era em hotéis, bares onde eles trabalhavam, e esse…essa cultura e da forma de estar mais aberta é aquilo que me surpreendeu e aquela proximidade. Muitos familiares mais novos, dois ou três anos mais novos, dois ou três anos mais velhos, eh estávamos ali como uma família mais alargada. Os vizinhos são muito próximos, é isso que me surpreendeu em parte. Eu ali estava nas sete quintas, eu aqui posso ser como eu quiser…para ter comunicação, para ter uma forma de estar é muito melhor…aqui o que eu tiro é que as pessoas saem, vão para o trabalho, à aquelas que ficam mais predominantemente no café, mas num sitio onde possas cultivar aqueles hábitos tradicionais, olá, tudo bem. Por isso é que eu me sinto bem aqui no bairro, porque aquela proximidade, tu dizes boa tarde às pessoas, as pessoas dizem-te boa tarde, não aquela coisa de saíres à rua. Em Cabo Verde as pessoas sabem que tu estás , rapidamente as pessoas sabem que tu estás , falam e a mensagem espalha-se rapidamente. Mas aqui a mensagem espalha-se, mas de forma…parecem que as pessoas querem saber o que é que se passa na tua vida mesmo nesse sentido. A nível de apoio ou de coiso, também se apoiam, o português também se apoia uns nos outros, tem uma boa cultura de rede de vizinhança. Nós em serviço social dizemos que…falamos no0 capital social derivado das redes de vizinhança. Eu acho que têm uma boa rede de vizinhança, mas é…repara por exemplo eu vivo num bairro social em que as pessoas têm problemas em comum, por isso é que partilham aquele espaço, aqueles problemas, aquelas…por exemplo o aumento das rendas as pessoas vivem esse problema em comum. Então oh vizinha, oh vizinha, subiram-lhe a renda, quanto sempre aquilo de querer saber o…de saber da vida da outra pessoa. Não senti isso em Cabo Verde sinceramente, das vezes que eu fui vi essa abertura nas pessoas, a forma de estar, a cultura deles e a forma de estar na vida, a forma de trabalhar sem stress no dia a seguir ir jantar, e às 8h ou 9h da manhã…estar a conviver não sei o quê, continuas a conviver…a abertura que as pessoas têm, a proximidade…o ser Se calhar o espaço que estamos a falar do meu bairro ou ali, parece que o espaço é mais pequeno, que as pessoas dão-se melhor, encaixam-se melhor, estão mais voltadas para aquela ideia de ajudar o próximo, qualquer coisa pode contar. Isso é que foi basicamente o que me surpreendeu mais. Na altura surpreendeu-me mesmo.

E da segunda vez, notaste alguma diferença?

da segunda vez…eu estava a falar um bocadinho no geral. Da segunda vez, não se calhar a diferença é que aquilo estava um pouco mais desenvolvido. Os hábitos continuavam a ser os mesmos, os espaços um pouco diferentes, mais desenvolvidos…mais modernos, outros espaços…da outra vez que eu fui não tinha telepiza, havia mais a cultura…os prédios essas coisas todas, da primeira vez quando eu fui não havia nada disso, mas continuava a ser o mesmo espaço de abertura, de lazer. Para onde eu ia não era bem…ficava um pouco afastado ainda da…como a estrutura geográfica estava um bocado modificada, não era…o espeço não era propriamente o mesmo. Mas onde eu estava, era mesmo aquela cultura mais tradicional. Pronto, foi mais o espaço, não notei assim a nível de forma de estar. Senti era outras culturas mais enraizadas dentro, italianos, outros países, outras culturas, outros países, outros investimentos também, mas sentia mais essa diferença. Depois tu também começas a sentir que as pessoas também, certas pessoas que também não te são tao próximas como coiso…eu tenho tios que estão emigrados de outras culturas, mas foi mais o espaço, o espaço foio que me surpreendeu mais. O espaço estava ligeiramente ou moderadamente coiso…outra coisa também não havia o MacDonald abriu, pelo menos eu não tinha visto e da segunda vez vi isso e tinha amigos meus a o cinema, havia algum…havia amigos meus a dizer o cinema, comer uma piza, foi se me dissesses agora te ia dizer que o espaço está mesmo muito mais modificado, mas como eu não estive seria…não seria estará a dar-te uma visão fiel daquilo que são as coisas.

E já pensastes ou eras capaz de ires viver em Cabo Verde?

É assim por um lado, não me passou isso pela cabeça, porque como as coisas estão aqui em Portugal eu não sou uma pessoa que…sou ambicioso, mas não sou também ao ponto de querer enraizar esta vida…porque também aqui muito stresse eu sinceramente pensei, se dadas as circunstancias fossem favoráveis, sim, dentro da minha área pensei em ir viver para Cabo Verde. Sabes que eu também tenho uma cultura muito de família, tenho uma cultura de família muito grande, o meu pai também morreu e…e como eu sou o mais velho em casa, tirando a minha mãe, tenho aquela ideia de ser também a pessoa que tem de cuidar da família, por essas…por essas…às vezes fico assim um bocadinho reticente. Para porque o nível de comida em Cabo Verde, a comida, a forma de estar e de viver eu era capaz de encaixar isso. Trabalho, conheço pessoas que foram para , trabalho havia, trabalho havia na minha área. Mas…eu não tenho…tens trabalho, mas eu não sou assim de exigir muito…com um curso superior a trabalhar como assistente social, se tivesse essas condições para ir para , pensei ir, mas da forma como as pessoas estão mais desaliviadas, é uma forma de estar que eu gosto…se calhar…se calhar até penso que estão as minhas raízes, por um lado conseguiria adaptar-me melhor. O facto da envolvência do problema de saúde…será que me consegui adaptar…não é o sanitário é de de saúde, se precisar de alguma coisa. Existe sempre esta reticência, por um lado, o nível profissional pode ser aliciante, mas também ao nível de saúde ser um bocadinho limitador. Penso nisto, se calhar fazer umas férias alargadas, mas viver mesmo…pesou-me, mas tenho limitações que posso…eu não sinto isso, também me adaptei a contextos que podia ser assim é como eu te disse, eu tenho essa confiança que tu tratas…a forma como tu tratas o teu corpo é coiso…é importante para depois no futuro, para estares com uma base melhor para teres uma vida mais…melhor, estares atento a mais situações. Esqueçamos essa situação, era capaz de viver em Cabo Verde, por causa do estilo de vida que se leva , também tenho família…hoje em dia também não é…há 10 anos ou 15 anos quando eu fui era outra abertura, outras profissões foram começando a surgir.

O que é que achas que em ti é tipicamente caboverdiano?

Diz

O que é que achas que em ti é tipicamente caboverdiano? Ou ainda é só origem?

Não percebi, desculpa.

Que característica é que achas que em ti é mais caboverdiano? Da tua origem caboverdiana.

O crioulo, a abertura com as pessoas. Estás a ver, eu se calhar tenho aquela abertura portuguesa, mas nunca apanhei pessoas que fossem como esta…a minha estrutura é assim. Neste contexto que estamos a falar eu tenho de te dizer que é derivado à minha cultura…à minha cultura não, agora está-me a faltar a palavra…à minha descendência de africano. Porque sabes que quando estou no contexto onde as pessoas se falam muito, onde aquela…eh , eu estou habituado a estar em contextos em que consigo facilmente, até agora tenho tido essa sorte, consigo facilmente me manobrar, estar ali. Agora essas são…os traços de caboverdiano que são mesmo mais específicos. A nível mesmo do trabalho ou não, não te sei dizer, porque umas que gostam de trabalhar, outras que não gostam de trabalhar, outras que têm tendência para as duas coisas, outras que não. Portanto…mais, não te estou a despachar…eu é que não sei

E o que é que achas que é tipicamente português? O que é tipicamente português da tua vivência em Portugal?

risos Tipicamente português…eu sou uma pessoa com traços tao brandos que não sei te dizer mesmo o que é que me faz

Uma coisa que te identifiques? Uma coisa que aches que é da cultura portuguesa e te identificas?

O stress do dia a dia, eu tentei…sinto que sou assim, porque adaptei-me assim à vida do meu país, não consigo parar quieto, mas isto é assim, pode não ser um traço português ou não, mas é um traço que eu aprendi a ser assim em Portugal. Eu não consigo estar sem fazer nada. A adaptação às situações, dizem que os portugueses são um povo que é capaz de se adaptar a qualquer coisa, encaixar-se em qualquer situação de origem…porque se houver um problema que não tem meios para Mas isso me estou a distanciar daquilo que eu estava a dizer, são um povo…mas também são abertos, mas acabam por ser pessoas que têm, abertura, falam bem com as pessoas, mas o stress do dia a dia e a facilidade de adaptação às situações, de poder de encaixe, a situação é difícil…acho que é…daquilo que eu conheço da cultura…de traços mais específicos que eu conheço é esse. Acho que é isso enquanto português, acho que é isso…ser uma pessoa que seja boa recetora de coiso…algum estrangeiro que venha também sabem ser pessoas que são…que não são agressivas. Esses são os traços que fazem de mim português, o ser acolhedora e ser uma pessoa adaptada a várias situações.

Agora diz defeitos que tu achas que têm a ver com ser português?

O quê?

Defeitos? Coisas que tu identificas e que não gostas?

Eh , os traços que eu não gosto num caboverdiano daquilo que eu conheço é que…não é que não gostem da cultura e do lazer, mas a cultura e o lazer está…não diretamente, mas está associada aos maus hábitos do homem e acho que falo um bocado da minha família e das pessoas que aparecem também aqui que avisei que são caboverdianos que têm problemas de saúde com base no álcool, também tenho na minha família dois tios meus e o meu pai morreu derivado disso. Isso acho que é um dos males, isso e viverem num parâmetro de vida que querem ser pessoas que cultivam o lazer excelente, que cada um tenha a responsabilidade sobre a sua vida eu acho que pode fazer a sua vida como quiser. Mas isso é um traço daquilo que eu sei que um caboverdiano tem e é uma das…um dos traços negativos que eu vejo, porque a nível de coiso são todos pessoas que são servem bem as pessoas, estão de bem com a vida, eh pá…pode ou não haver muito trabalho, mas são pessoas que gostam de trabalhar. Ás vezes têm um vicio, o álcool pode tornar num efeito sedentário, o efeito de sedentarismo, não é, podem às vezes cair numa situação de Agora, do português…eh pá…são um povo…o que é que eu te posso dizer fala-se muito e eu às vezes até parece…são um povo muito conformista, lutam, mas quando se vêm…quando se vêm em situações que têm de adaptar…são adaptáveis, são um povo muito…reclamam muito e gosta de…reclamam muito e fazem pouco. Por exemplo nesta situação da crise, são um povo que reclama muito e desleixam-se facilmente para a situação do ficar, da estática, de não querer lutar pelos seus direitos. Veem que por um lado estão a ser enganados e por um lado vêm que…pensam sempre que não saída. Isto a maior parte dá-se porque os jovens têm a capacidade a nível de…ou que têm força para fazer outro tipo de trabalhos vão-se embora. Depois temos uma classe adulta que está muito inflexível ao nível de aprendizagem de outras profissões, ao nível de outras práticas profissionais, aquela faixa entre os 40 e os 45 também tem pouca flexibilidade de adaptação, e temos uma faixa etária da população sénior que é muito elevada, e essa população sénior está um pouco do género estou a distanciar da política, um bocado é…é…tem influência, ao nível politico do socioeconómico sabem que a sua situação não vai mudar muito…para quê mudar isto. Acho que é isso, é um pouco um traço que o português tem, são muito estáticos, são muito…não lutam, fazem greves, fazem essas coisas todas. Pensam sempre que pouco a fazer. Eu acho que muito que se possa fazer, é mais nesse sentido, são adaptáveis, adaptam-se facilmente, mas quando a situação é mesmo…não são um povo mau, nós não temos um povo mau, eu sou português, mas é um bocado isso. Depois a sociedade está um pouco fragmentada, aquela classe média, classe mesmo pobre, uma série de situações sociais que faz com que seja um povo um bocado…a meu ver um povo um bocado…não têm aquela união nacional a nível de forma de estar e de ser que seja muito certa. A classe adulta tem ideias um bocado diferenciadas da classe jovem, a classe infantil ainda está um pouco influenciada pela educação que os pais tiveram, se eu não tive quero dar, mas…depois vai haver sempre aqueles que têm umas boas condições e aqueles que têm más condições, mas a nível geral…é um bocado isso. Desculpa a expressão, mas têm muito aquela coisa do ai, ai, ai, mas depois falam muito e pouco fazem.

Agora falando um bocadinho de racismo…

Diz?

Falando um bocadinho de racismo como é que sentes a questão em relação a

Portugal?

A nível de?

Racismo?

Não percebi, desculpa.

Racismo?

Ah

Como é que vês? Os portugueses são racistas?

Se puderes falar um bocadinho mais alto porque eu às vezes não apanho muito bem. um racismo um pouco dissimulado…um racismo que é a fingir. Dizem que as pessoas que muito falam às vezes podem não…porque sabes, eu falo…desculpa às vezes estar a dispersar um bocado, porque eu falo de experiência que eu tenho e do conhecimento que eu tenho. Hoje em dia vivemos…as pessoas emigrantes, nós fomos desenvolvendo um pouco e evoluindo para uma situação de, agora nós estamos em de igualdade e aquilo que eu sinto é que as pessoas neste momento como vivem as mesmas situações, por exemplo na situação do mercado de trabalho, como a população emigrante tem aquela cultura de trabalho é trabalho eu quero é ganhar mais do que ganho no meu país…hoje em dia…isso repara-se, que as pessoas estão…eh , a população emigrante vem para aqui, agora estão a colonizar…não é colonizar, mas tem os nossos trabalhos todos, isto e aquilo. Mas no geral acho que um racismo muito dissimulado, as pessoas não falam, mas têm atitudes que levam a que se perceba perfeitamente…por exemplo nós nunca podemos perdemos esses…não é estrangeirismos, é palavras mesmo de…preto, ou isto, ou aquilo. Depois situação nos serviços propriamente ditos que a descriminação, se calhar estás a falar de racismo, mas descriminação em vários sentidos, mas quando vem a população idosa…perdão, a população estrangeira, pensam logo que como não dominam a língua maioritariamente pensam que a população às vezes não percebe bem aquilo…e têm logo um preconceito que a pessoa é…ou é analfabeta ou não sabe ler, ou isto, ou aquilo, estás a ver, uma série de situações. Por isso é que eu digo que um racismo um bocado dissimulado. Depois dizem que está tudo bem, não sentem, que até por exemplo os chineses ou os indianos vêm para aqui contribuir para que o país cresça, mas as pessoas sentem que…eu acho que as pessoas em algumas situações acabam por sentir situações discriminatórias em relação a estas situações. E pronto, é os vocábulos que a gente não perde…o chinoca, ou o preto, ou isto, ou aquilo. Mas agora deixa-me pensar em situações propriamente ditas que coiso…por exemplo, eu em aula, falamos…quando estamos a falar assim não é de racismo ou assim, eu não vejo como assistente social ninguém falar assim…não vejo, sinto a expressão da pessoa, ou a forma de estar da pessoa, mas ao nível do dia a dia não vejo. Eu tenho amigos que vivem em bairros que têm ciganos e essas coisas, ah os ciganos isto e aquilo, mas é a tal coisa social de que…nós agora vivemos numa situação de crise e começam logo, ai, ai, ai não para ninguém. Quando se vê…porque em Portugal cultiva-se aquela coisa que tem que haver para todos, as pessoas começam logo a pensar a ter atitudes e apensar de forma dissimulada e sentem-se um bocado alarmadas e sentem coiso Sentem-se alarmadas com a população estrangeira que vem para aqui para coiso…como não têm atitude para fazer as coisas, fazem essa ideia de nos vêm tirar o que é nosso. Isso para mim é uma coisa de racismo. Os bairros sociais como a Cova da Moura, de Santa Filomena, uma série de situações que acontecem, mais predominantemente a atuação das forças de segurança e essas coisas todas, da forma como olham para os bairros, agora não te sei dizer sinceramente como está essa situação. Antes os taxistas não entravam aqui dentro, pronto…pronto. É como se fosse uma ilha isolada esses bairros. Como eu ainda bocado estava a querer entrar por , em aula falamos muito, não aqui, mas noutros países…por exemplo quando tu vês um cidadão, um emigrante que quero alugar uma casa, aconteceu, me disseram e me vieram contar a mim em conversas de amigos, que pessoas africanos que quando vão alugar casas dizem: ah tem a cultura da festa, e não sei o quê. Propriamente um amigo meu que eu encontrei que havia uma…eu tenho aquela coisa de tu precisas por que é que eu não te ei-de ajudar, faço o que posso. Falei com um amigo meu para alugar uma casa a uma amiga minha, mas ele perguntou-me logo: mas é o quê? É caboverdiana? É mas é uma família sempre partindo do pressuposto que sendo família não têm mais aquela coisa, quer é um canto onde estar e a habitação hoje também anda complicado, ele disse logo: mas consegues garantir mesmo que são pessoas ordenadas? Eu não vou meter a minha mão no fogo a dizer olha a Bita é uma pessoa…eu sei que é, mas quando se fala nesse sentido mais especifico em que tu tens um amigo em que pode ajudar o outro que não conhece. Ui…eu nunca vivi com a Bitas, estás a ver a ideia, nunca vivi com vários amigos meus não sei como vai ser, ok, como se tinha dado em aulas aquelas conversas de racismo em relação ao mercado de habitação e do aluguer de casas, eu disse: ok, sinceramente…porque eu é assim, sejas tu ou não, eu conheço-te pouco tempo, mas saímos algumas vezes, falamos bem, eu não me importo de coiso, tenho aquela confiança geral na pessoa, não me custa ajudar, nem que seja um amigo do amigo, eu faço. Mas eu disse logo, esquece, deixa estar, não consigo garantir que essa pessoa é organizada pelos menos o suficiente para garantir isso, eh porque tem aquela cultura da festa…vêm sempre com essa conversa. Por ser africano…não tem nada a haver. A experiência que eu tenho as pessoas são…há situações especificas que as pessoas…tu não perguntastes e eu também não vou entrar por , situações especificas que em casa de portugueses e de hábitos portugueses que são completamente…eu por exemplo às vezes, hábitos de coiso…eu agora não posso gastar muito disto, não posso gastar muito daquilo, eh e eu quando vejo…tipo olham logo de lado, fogo, não pode…ás vezes são situações de pá…ver um pouco de televisão, ou gastar um pouco mais de agua para lavar a loiça, estás a ver, às vezes estranho, é isto que eu não vejo na casa de africanos. Talvez porquê? Porque a nossa geração, os nossos pais tinham outras condições, eu sempre tive à vontade, sempre tive à vontade. Eu vou a Cabo Verde as condições são diferentes, de canalização, habitação e por diante, são diferentes, vão melhorando, ok, são diferentes. Mas eu nunca tive, eh , eu vou em casa de muitos portugueses, se não for uma classe mais idosa, estão a comer e não dizem: olha queres te sentar? Começam-te a olhar: chegastes a estas horas. Estás a ver, é uma cultura de sente, come estás à vontade. Estás a ver, acho que um racismo dissimulado, em que as pessoas muitas vezes não compreendem, porque se calhar porque não reparam, não têm aquele espirito de…mais observador, mas eu observo, porque isso parte da educação que a pessoa tem, não de…é aquilo que se calhar convencionalmente deixam mais moldar, é mais pelas experiências que têm e pela educação que têm e aquilo que vêm em casa, propriamente a experiência que tu vais dando na rua e com isso é que tu vais aprendendo. Porque se fosse assim, a experiência que nos moldasse não passam em casa , passam experiência em casa, mas se não é a experiência que nos passam em casa, que enraízam logo a pessoa à priori…porque não olhavam tipo o preto vem para aqui e é uma classe à parte, tem de ser descriminado, isto e aquilo. Parece tafetado, parece tafetado, a zonas mais vulneráveis e quando tu falas a alguém da Cova da Moura as pessoas começam logo, O que é que se passa aqui, poucos portugueses na minha rua que conseguem observar e dizer: não, é uma pessoa que vem da Cova da Moura, mas na Cova da Moura também tem portugueses. Não tem de ser aquela mistura do português…perdão, do ser africano e ser…isto é uma coisa que as pessoas não pensam…porque é que as pessoas vivem em bairros considerados discriminados, vulneráveis, os bairros de lata, disto e daquilo, porque que as pessoas ali vivem? Porquê que as pessoas têm certas atitudes? Porquê que…se eu sou agredido, vou ter sempre uma atitude de agressão primeiramente. Eu acho que ninguém é maluco…acho que alguém disse isso, ninguém é maluco da cabeça, pelo menos os africanos que eu conheço, que é a experiência que eu tenho, que não têm a tendência de ser pessoas maldosas de origem, porquê que deveriam ter ações negativas? situações de droga e dessas coisas todas, claro que . Mas se as pessoas não conseguem arranjar trabalho, não têm formas de comer, não têm formas de se alimentarem vão fazer o quê? Vão pelo caminho mais fácil, a maior parte também gosta de ir pelo caminho mais fácil. Agora…neste…não sei se é um traço português ou não, mas as pessoas tendencialmente se vêm que vão trabalhar e ganham 500€ numa semana no tráfico de drogas consigo 500€ vão primeiramente entrar pelo caminho de…primeiramente vou ganhar 500€ numa semana do que ganhar 500€ num mês. se isso estiver enraizado é que pode ser diferente.

E tu, pessoalmente já te sentiste alguma vez discriminado em alguma situação?

me chamaram de preto…já…já me…eh , não diretamente, mas eu sinto…lá está outra vez a minha cultura africana a falar…eu quando vejo situações como as pessoas vivem nos bairros propriamente sento que discriminação. Mas não nenhum caso que eu possa dizer que coiso…eh , se calhar numa situação que eu fui num serviço e estava a explicar à senhora uma situação e ela estava constantemente é senhor desculpe , mas parece que você não está a perceber, parece que senti aquela…mas a minha dúvida faz sentido e isto não é porque eu não esteja aperceber o que você está a dizer, eu estou aperceber perfeitamente, mas a minha dúvida faz sentido porque não tenho conhecimento de causa desta situação e preciso que me explique…ah…parece que não está a perceber, estás a ver…são situações assim Eh na minha zona o meu pai sempre se deu bem, sempre foi uma pessoa que sempre teve não era uma pessoa que assava na rua e dizia boa tarde, bom dia e boa tarde a toda a gente, mas era uma pessoa que tinha abertura, era uma pessoa aberta, não tinha más condições de vida, mas as pessoas sempre se ajudaram e não sei o quê e iam a casa, tínhamos sempre a porta aberta e não sei o quê. Mal o meu pai morreu, ou mesmo agora, amigos meus que eu tinha…quando não tinha o curso superior e agora que estou a acabar o curso superior e, as pessoas começam a…eh fogo…tu achas que vais conseguir agora trabalhar no ensino superior e não sei o quê? Achas que consegues exercer agora? Eu sinto naquelas pessoas…quando eu era, não tinha curso toda a gente me falava bem, agora já…tipo eu estou a entrar por um onde de preconceito, de que as pessoas acham que um africano ainda é aquele que pronto…ficaram com a ideia…houve o tempo da escravatura e isso foi evoluindo no tempo até hoje, as pessoas têm a tendência para achar que um cabo-verdiano... perdão, que um africano não tem tanta…e mesmo…isto não é racismo propriamente dito…nunca senti assim nenhuma situação propriamente dia direta de discriminação de racismo. Mas eu vejo muitos amigos meus…pois os pretos têm muitos filhos e não sei o quê, como é que é possível que ainda não tenhas filhos, como é que ainda estás a estudar. Estás a ver, situações assim deste género. E eu se estou bem estou-me a rir e não se passa nada, mas se não estou bem começo a perguntar porquê que isso não podia dar. O próprio guineense foi vitima de racismo nesse sentido porque és guineense…há és sociólogo…porque as pessoas têm tendência ou não para fazer certa coisa, não vem do contexto em que elas saem, a única coisa muitas vezes como impulsionador para as coisas que querem. Agora sempre…as pessoas é que têm um bocado enraizado a cultura de ser contra a população estrangeira tem outra cultura na terra deles, e se tem uma cultura de estudo, de estudar e de querer ser alguém, é normal que as pessoas venham para aqui, Portugal tem boas condições para estudar do que se calhar nos países deles, vêm para aqui continuar os estudos, trabalhar e fazer uma vida coiso…porque foi isto que a sua educação, do que a sua experiência ao longo da vida lhes ensinou. Em Cabo Verde as pessoas tinham poucas condições na altura e querem ter melhores, as pessoas querem desenvolver o país e vêm para Portugal estudar. é que a educação que as pessoas têm no contexto da aprendizagem, da experiência que têm em casa, que vai evoluindo no tempo de geração em geração, que depois vão inculcando a ideia do racismo e que o africano…os africanos praticamente são mais…maioritariamente são mais competentes. A maior população estrangeira aqui em Portugal é mais estrangeiros vindo dos PALOP são esses têm tendência para pensar na situação, como é que tu não tens uma série de filhos, como é que tu ainda não tens uma data de filhos, porque no teu país ainda não chegou a ideia da a passagem de informação do preservativo, de como é que não se engravida e como é que estas a continuar os estudos e não és um homem que não fez uma data de filhos, ou uma mulher que tem uma data de filhos, principalmente de uma série de homens, não é. Estás a ver, inculcam isso em casa ou se calhar pensaram isso os pais e os filhos têm essa ideia que vivem num contexto assim. Eu até tenho um amigo meu, sou eu o melhor amigo dele, que ele também diz que é caboverdiano. Eu não sou racista, mas existe aquela ideia…gostam daquela ideia de inferiorizar, uma ideia diferente em relação àquilo que…não tendo a ver com o país…tu sabes, pode ser de um país ou de uma cultura diferente…pronto, sente-se que dissimuladamente esse contexto. E eu muitas vezes também não me sinto com disposição para ouvir…e sinto-me diretamente estando a representar aquele país, em parte sinto-me que estou a ser alvo de racismo, como é normal. Mais.

E o lazer?

Ah.

O que é que fazes nas tuas horas vagas?

O que é que?

O que é que tu fazes nas tuas horas vagas?

Eu, de tudo um pouco. Cinema, gosto e estar com os amigos principalmente, porque os amigos para mim têm um grande valor. Gosto de estar com os amigos a fazer de tudo um pouco mesmo, gosto de sair, gosto de ir para uma discoteca de vez em quando. Mas gosto principalmente de relacionar-me com os amigos, de estar com os amigos, de ir à praia, de ir a um bar beber um copo, de estarmos a viver um momento de convívio. Gosto de estar com pessoas que me permitem alargar a minha…os meus horizontes, de contextos diferentes para que eu possa também aprender com elas. Gosto muito de falar com pessoas que sejam numa faixa etária mais…pessoas seniores, a faixa sénior é uma faixa etária com quem eu gosto muito de me dar porque tem uma cultura que é diferente da nossa, e também no sentido que pode aliciar também para poder ajudá-los a poder adaptar-se a coiso…e elas gostam de se dar comigo também porque tive a experiência de vida enquanto saúde, tive uma experiência de vida que também é marcante. As pessoas gostam de eh , o que é que tu fizeste? Estivestes assim? Porque é que não? O que é que se pode fazer o que é que não se pode? Explica melhor isso. Mas principalmente gosto de me relacionar às vezes gosto mesmo de estar sozinho, ler um bom livro, ir ao cinema. Mas gosto de principalmente de conviver, gosto principalmente de conviver.

E viagens?

Gosto, gosto de viajar. Por acaso

Onde é que já andastes?

Foi em 2005 que eu parei de viajar, porque tive aqueles problemas e depois tive a tentar entrar na faculdade e depois não tinha aquela ideia de viajar. Queria mesmo seguir, ver se conseguia entrar no ensino superior. Depois…depois, é uma coisa que sempre tive ideia de fazer e agora esta ano fui a Inglaterra, fui a Itália, e é mesmo…eh vi que não vou ficar…se tiver condições não vou ficar muito tempo quieto. Mas como deves ver ao longo do meu percurso estou com essa situação do meu pai e a minha situação de saúde também não tive assim muito coiso…mas também houve 5 ou 6 anos que tive naquela coisa, casa trabalho, trabalho casa. Por isso é que está esta fase da minha vida agora é que foi…em dez anos largar a ideia de estar casa, sair com os amigos e não sei o quê e começar mais a abrir os horizontes, fazer coisas novas…ah…fazer exercício físico também gosto, quando posso, às vezes também tenho uma data de trabalho e não assim muito jeito.

Agora fala-me um bocadinho do sitio onde crescestes e vives ainda? Vives no mesmo sitio?

Sim, foram dois contextos…eu cresci práticamente em três sítios diferentes, em Algés que dos 0 aos 6 anos não conta muito. Depois tive…ah…até para os 5 depois atá aos 18 tive mais a viver na Damaia que as pessoas eram maioritariamente pessoas que vinham de…portugueses de classe não muito…de classe média e que se adaptam e que se dão bem com pessoas, caboverdianos, pessoas de países diferentes. Vivi na Damaia era uma cultura mais…eh , na altura tinham dificuldade, tinham de trabalhar, eu e o meu irmão íamos para a escola e depois tínhamos os nossos amigos…porque eu vivia de cara com uma família caboverdiana, de origem caboverdiana, mas os filhos ficavam em casa e nós não tínhamos propriamente…eles não saiam. Mas tínhamos outros amigos que eram do país de origem daqui, colegas de turma, os vizinhos, um grupo de amigos mais restrito, mas dava-me bem também com…essa família que morava de frente era da faixa etária do meu irmão mais velho, mas também me dava bem com eles. Brincava com eles, mas era como se fosse pronto…o júnior, o mais pequeno. Mas estás a falar a nível de…como é que eram esses locais?

Sim.

Clima de bairro social normal, não tinha…na altura…porque foi na Damaia, não tinha propriamente…onde eu morava não era propriamente o sitio mais problemático do bairro. Tínhamos brincadeiras normais, brincadeiras normais, mas mais abaixo havia um ambiente mais problemático, havia mais situações desviantes. Não era um sitio…onde eu vivia era chamada a Damaia de cima, onde eles viviam era chamada a Damaia de baixo. Eu, o problema é que eu estava inserido em vários contextos, ali no sitio era uma zona que eu tinha um contexto médio, pessoas que eu brincava, que não tinha problemas com isso, depois quando saia ia para o contexto da escola também era normal, também tinha os meus amigos normais, super normal. Depois na Damaia de baixo era onde o pessoal tinha assim mais aquele receio de entrar ali porque os nossos pais não nos permitiam muito ir para . Depois acostumei-me…eu estou a começar pela Damaia porque honestamente é quando eu comecei a ver-me como criança sem si, a brincar e a saber mais o que é que é a convivência. A nível de estruturas eu não tinha nada muito próximo, tinha uma mercearia e tinhas de andar assim um bocado, não tinha assim nada assim muito próximo, as estruturas não ficavam próximas. Também tinha um centro infantil de tempos livres para onde eu ia, muitas vezes ia, porque os meus pais podiam ter ou não condições para nos por o meu irmão é que andou durante muito tempo, eu não foi assim tanto tempo, mas também tinha um clima normal. Aqui na coisa…em Alfornelos na Brandoa era um sitio completamente diferente para mim, era novo. O meu irmão era mais velho quatro anos, o outro era mais novo, era bebe quando eu cheguei e é assim um clima, um ambiente mais que se pode dizer, mais urbano, tinha prédios, não é, na altura tinha prédios, tinha uma vizinhança completamente com quem eu não cresci a conhecer…tinha uma família angolana que pronto…como era africano se calhar tinha maior proximidade e um dos meus amigos era dessa família. Eles como eram uma família de nove dava-me bem com toda a gente, mas depois tinha esses dois com quem eu dava-me melhor. Depois íamos brincar muito para um parque que tinha , íamos muito para ali. Mas ao nível de ambiente de vizinhança foi mais problemático, na altura foi mais problemático, havia droga, havia problemas relacionados com doenças transmissíveis, e essas coisas. Mas a cultura era…era…em parte as pessoas viviam como na Damaia, mas era problemas diferentes, era uma marginalização por assim dizer diferente. Quando acabava o bairro ou mesmo de frente havia prédios cooperativas, se apostava mais a nível de estrutura. Nós vivíamos nas casas das camaras, nas habitações da camara, nos focos e tínhamos…era mais aquele domínio para meter as famílias a viver, de forma mais…ajudados pela camara da amadora. Quando tu vais a uma cooperativa tens aquela condição melhor, e era como que mesmo à frente houvesse uma outra cultura mais urbanística de calasse um bocadinho mais acima. Havia esses problemas, eu dava-me…havia esse problema da droga, que as pessoas falavam muito, mas era mais para os lados da Brandoa que isso coiso. Em relação pelos menos à minha família foi aquilo que tinha referido anteriormente, o meu pai…depois nessa altura começou a evoluir na carreira, tinham outras condições e as pessoas davam-se se calhar por interesse outras talvez não por serem pessoas com quem se pode dar realmente, davam-se muito com a minha família. A minha família era um ponto de referencia no bairro, de abertura com quem as pessoas se davam. Mas pronto, era uma convivência normal, diferenças para a Damaia era que para alem de ser um contexto de bairro social Ali era mais aquelas situações das famílias que vieram para Portugal e começaram a arranjar as chamadas…os amontoamentos que começaram a haver na periferia de lisboa e nas grandes cidades e de Lisboa e Porto, veio nesse sentido. Ali não, a câmara ajuda, uma casa, vocês não estão a viver em condições muito boas, a câmara dá-vos uma casa nova e depois é assim…provinham…começaram a entrar no bairro, estavam mas começaram a aparecer pessoas de contextos diferentes, que têm culturas de contextos diferentes e o nível de vida igual e nessa altura começavam a haver uma equiparação um bocado mais igualitária, era mais equiparado a nível do rendimento, do trabalho e as pessoas tinham as mesmas condições para viver ali e era mais facilitado. Agora…há a nível de estruturas era mais próximo, era menos…se é para mudar, é para melhor, eram pessoas…famílias normais, era mais próximo, mas também haviam muitas que…é uma convivência muito mista. Se calhar os jovens que são marginalizados e que têm aquela vida mais desviante, os jovens, poucos que têm uma vida…hoje em dia não, os que têm a vida um bocadinho assim mais coisa…que tinham uma vida mais equilibrada, que trabalhavam ou que estudavam, sempre foi um bairro, um bairro bafejado pela droga e tem ciganos, tem africanos e agora começam a aparecer outras famílias assim numerosas, praticamente as pessoas encaixam-se bem. Pronto a diferença…não é que a Damaia tenha um contexto mais rural…tu ali convivias com as pessoas, eu vivia numa habitação tipo barraca por assim dizer e todos viviam em coisos, não havia cultura de adaptação, todas as pessoas viviam nessa cultura um pouco mais de precaridade habitacional, havia muitos espaços por desenvolver também, os espaços verdes e essas coisas todas. O desenvolvimento que se deu aqui em Alfornelos era diferente, havia também…havia também…a escola não ficava muito longe e as pessoas se davam com outras porque eu…eu e os meus colegas dávamos muito porque provínhamos de bairros diferentes, mas eram problemas normais, mais de drogam, de problemas de saúde, que as pessoas que vivem num bairro social têm, porque são em parte mais…se estão a viver numa habitação social é por condições físicas de vida, condições sociais especificas que requerem que a pessoa…levam a que a pessoa viva nessa situação.

E planos para o futuro? (2h09m30S)

E?

Planos para o futuro?

Transportes públicos?

Planos para o futuro?

Exercer na área, viajar, mas tu falas de prática profissional ou mesmo

Em geral, os teus planos?

Eu nunca muito exigente com a vida, mas quero ter coisas, e estar estabilizado na minha área…é claro que…agora eu vou-te responder que quero ter filhos, quer ter uma família, mas isso estou a responder um bocado com aquilo que a sociedade nos exige, porque o pessoal vive todo aquela ideia de muitos amigos, têm vários filhos é verdade mas porque vivem muito a cultura da pressão social e aquilo que a sociedade exige de nós, tens de ter filhos, tens de ter família, não podes chegar aos 30 sem filhos. As pessoas vivem muito…no meu pequeno mundo, as pessoas vivem muito aquela cultura. poucas pessoas no meu circulo de amigos que não têm filhos. Mas os meus planos para o futuro baseiam-se em ser o melhor em todas as áreas que de vida, ser um bom amigo, ser um bom filho, ser um bom pai, se poder ajudar e ter influência a nível social para mudar coisas que eu acho que são obvias, são obvias, porque as pessoas não vêm porque estão fechadas naquele mundo para as situações e que pode…há situações que podem mudar e por isso mesmo é que também vim para esta área, porque eu quero mudar a vida das pessoas, gosto de mudar a vida das pessoas. Agora também não te sei dizer…eu quero ter uma vida com objetivos, de ser o melhor naquilo que…em todas as áreas da minha vida, mas…não sei se quero ficar em Portugal, porque Portugal tem um contexto de vida em que eu vivi muito, mas neste momento…ao nível de percurso de vida neste momento, se puder estar a viver num sitio…eu não gosto de estar parado, se eu poder estar num sitio em que eu aprenda coisas novas, eu vou estar naquele sitio até eu aprender tudo o que tiver para aprender naquele sitio. Mas a nível de coiso, quero começar a viver aquilo que não vivi, se tenho todas…tenho o futuro aberto em todos os sentidos, eh quero conhecer o mundo, quero fazer coisas que nunca fiz…como podes compreender tenho estado um pouco limitado, ao nível de poder fazer, mas eh pá…ser o melhor na minha área, ser a melhor pessoa possível, ajudar a lutar contra as desigualdades que existem, mas parece tao convencional. Gostaria não de ter muitos filhos, mas de ter filhos porque é chato porque vejo a sociedade toda a ter filhos, toda a ter uma vida…um estilo de vida…sei lá…os amigos estão emboidos numa ideia e não estou a dizer que também não seja influenciado por isso. Mas viver o dia a dia fazer as coisas que eu gosto de fazer que gosto de tudo um pouco, gosto de tudo um pouco. uma hierarquia, , mas gosto de tudo um pouco. A minha coisa pelo conhecimento é muito grande, gosto muito de conhecer novas coisas e de saber do que estou a falar. Eu gosto de conhecer, gosto de lidar com as pessoas, não sou uma pessoa que goste de fazer uma coisa . Por exemplo estava completamente…queria ter a experiência de viajar outra vez, estava completamente ansioso por fazer isso, estou a pautar a minha vida por objetivos. Neste momento estou a acabar o curso, dali quero trabalhar dentro da minha área. Se o Jumbo tiver alguma coisa para me dar dentro da minha área social, que eu não acredito, eu trabalho no Jumbo. Eu quero mesmo poder ajudar a sociedade a melhorar.

E consideras-te uma pessoa que faz planos?

Eu, se me considero uma pessoa que faz planos, isso está-me a aparecer uma pergunta um bocado de psicóloga…tem um bocado de psicologia , porquê? Porque como eu tou a dizer que não gosto de…eu faço planos, eu faço planos…eu vou fazer um aparte que eu acho que é importante e eu tenho sido um bocado limitado com esta situação desde que o meu pai morreu de...ser chefe de família ou tentar demonstrar à minha família como é que as coisas na realidade são. Eu fazer planos ou não, ser uma pessoa que faz planos ou não, eu faço planos, faço planos e claro o que é uma pessoa sem planos na vida. Eu acho que toda a gente tem objetivos, não tem é um plano. Eu neste momento considero-me uma pessoa que desde que…considero-me uma pessoa que faz planos sim. Agora neste momento os meus planos é arranjar condições para poder começar a vida mesmo…a vida que eu quero para mim e os planos que eu tenho apara a minha vida neste momento são é fazer as coisas que eu realmente gosto de fazer, que é estar nesta área e fazer…posso parecer uma pessoa muito estimulado a nível profissional, mas como podes compreender enquanto eu tive com os olhos fechados e não tinha nenhum objetivo, agora tenho todos os objetivos. Quando eu conheci o meu amigo e tive aquela influência a nível de ok realmente isto faz sentido, e comecei a fazer planos fiquei com um problema de saúde, o meu pai teve um prolema de saúde, limitadores, neste momento é que começo a ter tempo para fazer planos, e considero-me. Neste momento agora quero…e nomeadamente no momento em que eu comecei desta segunda vez que eu estou de baixa, parece que é uma segunda oportunidade, um momento não atribulado para começar a fazer as coisas gradualmente, o que é que eu agora…e penso muito, planeio muito de como é que vão ser agora. A pessoa agora com este conhecimento que eu agora tenho, mais a nível teórico, de conhecimento daquilo que é o estado das coisas, mas nível teórico daquilo que são as competências teóricas que pode adquirir na faculdade. Sou…posso dizer que sou…com as influências que tive, com as conversas que tive com as pessoas, com os conhecimentos que fui adquirindo ao longo do tempo, sou uma pessoa completamente diferente do que era 10 anos, 12, 13 anos atrás. Agora considero-me mesmo uma pessoa que faz planos.

E se tivesses que descrever como pessoa, como é que te descrevias?

Sou uma pessoa aberta. Uma pessoa aberta, gosto…tenho o gosto pelo conhecimento. Não sou uma pessoa de trato difícil. Sou uma pessoa com um pouco de intolerância para…imagina, eu tive uma fase da minha vida em que eu tive muitas amizades, algumas em parte valeram a pena, outras eram amizades que passaram a amizades vulgares, ou simples conhecimentos, porque tive outras experiências de vida que também são sorriais, mas realmente passei por elas e comecei a tornar-me uma pessoa mais rigorosa. Para tu teres uma ideia, quase tinha um amigo em qualquer sector do Jumbo, falava da minha vida, abria-me com as pessoas, neste momento eu tenho se calhar quatro ou cinco amigos, seis, sete, tinha vinte amigos, e sobraram para seis ou sete, porque eu comecei a descobrir que os meus amigos são pessoas que têm o telemóvel é de X maneira pode-me ajudar num sentido, estás a ver, todos eles têm coisas boas, mas à outras coisas que me fazem ser desconfiado, observador. Mas uma coisa que eu não tolero nada que é a partir do momento que eu tive a amizade desse meu amigo que é sociólogo e é guineense, a partir do momento em que eu vi, a partir do momento em que começou a trabalhar e tinha tempo, vinha extremamente cansado e lidava com miúdos problemáticos da quinta da fonte, ali….agora não estou a ver bem onde é que é o bairro, na apelação. Eh , um trabalho completamente desgastante tu teres que ensinar aquelas crianças a serem menores e ele chegar e ter tempo pelo menos para tomar um café, nunca me negou uma vez de olha preciso de falar, consideração, dar importância aquilo que realmente é importante para a pessoa e tratar a pessoa mesmo bem. Eu não tolero que as pessoas brinquem com a minha consideração, tenham gratidão, eh , toda a gente tem uma coisa que é a expetativa de ser agradado, que isso é normalíssimo…normalíssimo porque nós vivemos em sociedade, também queremos ser valorizados, mas sou uma pessoa que gosto que as pessoas sejam sinceras comigo. Prefiro que me digas cala-te não me digas mais nada, do que marcastes comigo uma coisa e depois não me dizes nada. Eh consideração para mim é…eu sei que as pessoas não pensam, mas continuo a ser assim porquê? Eu sempre todas as vezes…há situações que eu fico doente, pedi a dois amigos meus que precisava de ir buscar o carro ao mecânico que precisava para me darem boleia e inventaram desculpas para não me levar, que eu vi que aquilo eram mesmo desculpas, e digo mesmo que até hoje os considero como grandes amigos, mas eu comecei a olhar para as pessoas também de forma…esta é minha amiga e esta não é. Eu não tolero que as pessoas…nem à minha mãe, porque a minha mãe então é das pessoas que mais tem , é teimosa, gosta de ter as ideias concretas dela, ok, mas…manda-me calar, não me digas para continuar a falar depois não estás a ligar nenhuma aquilo que eu estou a dizer, porque se eu tenho amigos meus que me consideram a partir de um momento de vida, as pessoas começam a chamar-me, a pedir-me para as ajudar, para lhes dar um conselho de vida, tar a dar…as pessoas que ajudo aqui no bairro para falar e eu estou a ser importante para aquelas pessoas e a ver outras que não querem saber e não dizem, olha não fales mãe, não sei o que é, sinceramente não sei. Mas sou uma pessoa aberta, gosto de conhecer pessoas, gosto de ajudar, acho que por um lado também pode ser um defeito porque acho que pessoas que tornam-se dependentes. Amável, sou uma pessoa que gosta de cumprir objetivos, sou ambicioso, sou. Muito observador, mas sou amável, se não me tratarem mal eu não trato mal ninguém. Sou uma pessoa que é fácil lidar. Se a pessoa me saber conhecer, por exemplo eh situações…uma coisa tao pequena, eu costumo dizer aos meus sobrinhos, que eles também…o meu sobrinho mais velho é filho de pais separados, a mãe nunca mais quis saber é normal que se desvie um bocado. Eu digo-lhe, porque coisas que eu vejo que às vezes não fazem sentido, não é porque a mãe não quer saber e o pai não quer saber que por exemplo, a minha mãe foi operada, vai ao pingo doce comprar isto ou aquilo, e eu digo, vocês não sabem o que vocês perdem, eu sou capaz de fazer tanto por vocês, mas uma coisa mesmo Eu estou a trabalhar, o dinheiro para mim não é tudo, se eu puder, se eu vir realmente que uma pessoa é valida mesmo e vale a pena mesmo apostar, sou capaz de fazer tanta coisa. Mas eles preferem não ter nada e continuar naquela que têm é a perder, pelo menos comigo têm a perder. Mas sou uma pessoa muito comunicativa como deu para ver. Sou uma pessoa que para lidar, acho que se as pessoas me souberem conhecer, sou uma pessoa que se lida bem.

This is the first translated utterance of the interviewer.

This is the first translated utterance of the interviewee.


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