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Entrevista_de_NC

Jovens adultos descendentes de imigrantes africanos em (dis)posições de destaque: um estudo sobre percursos de mobilidade ascendente entre as minorias

SubtítuloEntrevista com NC
Data2017
Sexofeminino
Idade: 34
Nível de formação: mestrado
Ocupação: professora, investigadora
Percurso de mobilidade ascendente: percurso de Investimento Pessoal
Copyright© Este trabalho pertence ao ISCTE-IUL e ao Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Pode ser usado livremente para investigação, ensino ou uso pessoal somente com autorização da autora ou de algum responsável das respectivas instituições e mediante a referência a esta declaração de disponibilidade no texto.
EntrevistadorLeonor Tavares

Vou te pedir que descrevas um bocadinho o teu perfil… Vou te fazer aqui umas perguntinhas…

Ok! bom!

So para preencher aqui…

Concerteza!

… o enquadramento… Zona de residência?

Moro na Quinta do Conde.

Humhum. Podes me dizer o tipo de habitação?

É uma moradia. Uma vivenda.

E nível de escolaridade?

Mestrado.

Profissão?

Neste momento estou a estagiar no Alto Comissariado para as Migrações.

E o que é que fazias antes?

Antes Pois! Ahhh! É que o meu percurso é bocadinho risos. É o seguinte, pronto! Eu quando acabei a licenciatura fui para Cabo Verde, estive a trabalhar durante 6 anos e regressei em 2011 para fazer o meu mestrado. Eu concluí o meu mestrado em dezembro de 2013 e entretanto desde essa altura estou à procura de trabalho e neste momento estou a fazer o estágio.

Número de irmãos?

Dois!

Estado civil?

Solteira.

Solteira… Tens filhos?

Não.

Escolaridade do pai?

classe.

Escolaridade da mãe?

O mesmo, classe.

Profissão do pai?

O meu pai era cozinheiro!

Cozinheiro! Que giro! E profissão da mãe?

Doméstica.

Ok! Escrever isto só para não me esquecer… Agora vamos começar com a escola. Ahhh… Como é que foi o teu percurso escolar até… até agora, não é?! risos

Até agora Pronto!

Alguma reprovação? Tiveste alguma reprovação?...

Ahhh! Por acaso, não! Não! Não tive. Portanto, os meus pais são imigrantes, são caboverdianos. Vieram para na década de 70 e eu nasci . Eu e o meu irmão mais novo. Entretanto morámos em Lisboa. Fiz a classe e depois fomos morar para a Quinta do Conde. E a partir daí pronto continuei o meu percurso escolar até ao 12º chegou ao 12º , eu queria entrar para a Faculdade entretanto queria a área de Jornalismo mas não tinha média não tive média para entrar, e depois daí ter optado por Estudos Africanos. Porque era uma forma também de aprofundar as minhas origens e também, uma das saídas profissionais que tinha era a área da comunicação! E pronto! E a partir daí ahhh fiz a licenciatura, trabalhei um ano na embaixada de Cabo Verde fiz o estágio, trabalhei também. Depois disso trabalhei como administrativa na AgroBio, na altura era uma empresa de agricultura biológica como administrativa também E depois fui para Cabo Verde! Fui para Cabo Verde realmente e ainda estava em Portugal, estava na AgroBio, enviei um currículo para Cabo Verde para o Ministério da Educação e em dezembro de em dezembro, não! Em julho, mês 7, de 2005 ligaram-me a dizer que tinham uma vaga para dar aulas de português e eu fui! Fui e nos últimos dois anos antes de regressar a Portugal trabalhei também como correspondente da Rádio, da da da da Rádio de Cabo Verde. E pronto! Depois em 2011 regressei para fazer o mestrado. E estou eu!

Ok! E na primária… ahhh… onde é que fizeste a primária?

A primária

E como é que foi a integração? O ambiente escolar?

Humhum Portanto, a primária a classe tenho poucas recordações. Foi foi em Lisboa e depois fui fazer o restante, , e classe na Quinta do Conde. Tenho boas recordações da primária lembro-me que alguns anos fui a única preta (digamos assim) da turma, mas nunca tive assim nunca me senti mal perante a turma. A única coisa que podiam fazer mais comentários era em relação ao cabelo, porque tinha a carapinha, porque tinha as tranças mas de resto nunca me senti assim excluída a nível da turma.

E o que é que achavas da própria escola e dos professores?

Portanto eu tive a mesma professora desde a até à classe. Sim, a escola era agradável. Tinha as suas limitações, como é obvio! Porque a Quinta do Conde na altura estava em expansão, ainda não havia grandes infra-estruturas, é um facto! Mas a nível do ensino não era uma professora que nos batesse, como alguns colegas se queixavam e, por sua vez, se calhar por ela ser minha vizinha e morar perto de mim, por vezes eu vir de carro com ela para casa (que ela dava-me boleia), fomos criando um laço de afinidade que se calhar ajudou a minimizar as outras coisas talvez não guardo mágoas, não guardo não!

E depois a preparatória?

Portanto, referes-te sim, mudei de escola, mas depois como na Quinta do Conde ainda não havia muitas escolas na altura, havia a hipótese de fazer desde o até ao 12º, consoante as áreas que escolhêssemos, ali! E eu estive estive ali na Escola Secundária da Quinta do Conde desde o ano até ao 12º. Segui a área de Humanidades no 10º ano e pronto! Sempre Por vezes no secundário, naquela fase da adolescência, aquela coisa de nos chamarem pretas, é verdade! Chamaram-me! Eu também, como sempre fui cheiinha, algumas pessoas chamarem-me gorda também, é um facto! Mas foram coisas que eu fui ultrapassando! Fui ultrapassando, realmente! Lembro-me perfeitamente dessas situações, mas que não guardo mágoas nem nada, em relação a isso! Marcaram-me vivenciei-as, mas não me marcaram!

E em relação aos professores e ao ambiente escolar? Às condições da escola?

A escola lembro-me, por exemplo, não tínhamos pavilhão de educação física não tínhamos! Fazíamos educação física ao ar livre Depois para o final é que tínhamos balneários porque também não tínhamos! Ahhh mas era é uma escola que pronto! Na altura, para mim claro que sempre um outro professor que uma pessoa pode gostar mais ou pode gostar menos mas não sei se a Leonor está-se a referir propriamente a nível de discriminação ou alguma coisa assim do tipo Eu isso não senti em relação aos professores!... Exacto!

E hábitos de estudo? Como é que…

Bem eu não sou o tipo de aluna que apanha de ouvido não! Eu tenho que ser muito marrona, infelizmente! É o meu mal! Eu tenho que investir muito tempo. E eu, desde lembro-me, desde o ano que eu tinha um hábito de talvez duas semanas antes dos testes, eu ia fazendo resumos das matérias. Tinha tipo um caderno ou folhas que eu ia fazendo resumos, e depois ia sublinhando a várias cores que eu gostava muito disso, de fazer folhas com várias cores, quer com os marcadores quer com as canetas ahhh e ia fazendo assim, sublinhava os conceitos mais importantes, que eu achava no meu entender e depois no fim-de-semana antes do teste estudava mais afincadamente e na véspera também. Basicamente era esse o meu método de estudo!

E quais eram as melhores disciplinas e as piores?

Eu sempre gostei muito de português eu sempre gostei muito de história. Matemática nem por isso Fisico-química também nem por isso Sempre mais para as ciências sociais, sem a menor dúvida!

E como é que escolheste a área de…

De Humanidades?

Sim!

A área de Humanidades No 10º ano eu pensei nas várias hipóteses que tinha. Que eram na altura: ciências, que era do agrupamento A, e também depois a questão das Artes, da Economia e de Humanidades. Eu identifiquei-me mais com Humanidades porque, está, gostava muito da questão do jornalismo, gostava muito das disciplinas de Português, de História, de Psicologia (também tinha tido) e então daí ter optado! Porque sentia que não gostava muito de ciências, que não gostava muito de matemática, e de físico-química. Artes, eu não tinha muito jeito para o desenho nem nada disso E Economia por acaso, ainda pensei nisso! Mas depois optei por Humanidades.

E tiveste a influência de alguém para a escolha ou não?

Não! Não tive a influência de ninguém, não! Humanidades, não

E quem é que te incentivou mais a estudar?

A nível de familiares?

Familiares ou amigos?

Talvez a minha mãe. Sim, é uma figura muito presente na minha vida. O meu pai era mais ausente devido à profissão dele, porque ele é imigrante trabalhava na Holanda nos barcos e então, digamos que, vinha a casa de férias, de seis em seis meses de nove em nove meses conforme! Agora a minha mãe, desde sempre, sim! Estive um ano sem poder estudar e eu não sei como, Leonor! Não sei dizer como, mas eu desde cedo apercebi-me que se eu queria ser alguma coisa na vida, tinha que estudar! Não sei quem é que me incutiu isto! Não me recordo. E. mas, desde cedo que tive a tive a noção de que tinha estudar se eu queria ter uma melhor vida.

E os teus irmãos? Ahhh…

Os meus irmãos têm um percurso diferente do meu quer a minha eu sou a do meio. A minha irmã mais velha e o meu irmão mais novo ficaram-se pelo ano. A minha irmã por opção. Não quis continuar a estudar. E o meu irmão também. O meu irmão, entretanto, quando acabou o ano, a minha mãe tentou pô-lo numa escola de informática porque ele tem muito jeito para informática e electrónica, mas ele é muito preguiçoso! Ele é muito preguiçoso e acabou por desistir da escola e e pronto! Está a trabalhar, tal como a minha irmã.

Já agora, diz-me só as idades deles…

Ah! Sim! Sim!

Só para…

É assim a minha irmã tem 39 e o meu irmão tem 30! E eu tenho 34.

Ahhh… Deixa cá ver… agora perdi-me um bocadinho porque a pergunta vinha fora do contexto…

Não faz mal..

Mas… ahhhh… na tua família existe alguém que já tenha feito estudos superiores ou… relacionados com a tua área, ou não?

Não! Não, na minha família porque é assim eu convivo mais com a família do lado do meu pai porque o meu pai tem na zona dois irmãos tem uma irmã na Quinta do uma irmã aqui em Lisboa e um irmão que trabalha também na Holanda, mas que tem casa em Cabo Verde. Mas a nível de primos não! Eu fui a única que fui para a faculdade, é um facto! E do lado da minha mãe, apesar de conviver convivo pouco com eles, mas são primos mais novos! Portanto, ainda são mais novos do que eu e acredito que sim, futuramente muitos deles irão para a faculdade!

E a entrada na faculdade? Como é que sentiste?

A entrada na faculdade foi foi um período difícil! Foi, foi! Foi um período difícil porque, pronto, não entrei para jornalismo porque não tinha média, depois era aquela questão da instabilidade em relação a que curso é que eu devia seguir, depois não entrei na primeira fase, entrei na segunda fase, e então foi um período um bocadinho complicado. Mas depois de ter entrado, a faculdade em si o primeiro ano foi uma fase de adaptação a um novo ritmo que eu não tinha ahhh, o segundo ano, a partir daí correu um bocadinho melhor.

Sentiste dificuldade a nível das matérias ou foi mais a nível social/relacional?

Foi o mudar a rotina, porque eu tinha a escola ali na Quinta do Conde e de repente tinha que fazer uma hora e meia de transportes. E então, pronto! mudou tudo e depois era o facto de ter horário misto, o que implicava também almoçar na escola. Ahhhh, apesar que, pronto financeiramente os meus pais sempre me apoiaram nesse sentido, mas foi foi uma mudança depois mesmo a nível do ritmo de trabalhos de grupo, e depois lembro-me que por vezes esses grupos não funcionaram tão bem porque não conhecemos as pessoas e então essa fase , também lembro que foi um bocadinho difícil.

E entrar para a faculdade sempre foi um objectivo teu?

Sim! Sempre! Foi um objectivo que eu tinha está! Tal como lhe disse era um objectivo que eu tinha em mente porque eu, pronto agora não não digamos assim, não é como antigamente, mas eu na altura achava que para ter uma melhor vida teria que ir para faculdade sem a menor dúvida, e se eu queria vencer na vida tinha sem dúvida que estudar.

E o que é que achaste do curso que fizeste quando o terminaste?

Senti um vazio enorme. E agora o que é que eu vou fazer? Procurar trabalho e depois na altura se sabia se sentia a crise mas de outra maneira, mas está! As coisas foram acontecendo parece que não, mas é a primeira vez que estou no desemprego. Na altura, não! Na altura sempre fui trabalhando, sempre fui fazendo coisas e não senti tanta dificuldade que eu estou a sentir agora, sem dúvidas!

E o que é que esperavas obter depois de acabar o curso? Qual era a tua expectativa?

A minha expectativa era arranjar um trabalho minimamente ligado à área ou não! Mas na altura também se ouvia dizer: Olha, por vezes tiras um curso, mas nem sempre trabalhas naquilo que queres! e, na altura, o meu sonho era: realizar muito acabar a licenciatura, arranjar um trabalho, ter a minha casa, construir a minha família, ter filhos mas infelizmente, dez anos depois uma pessoa não isso. É triste, mas é verdade!

E tens a sensação que passou assim muito rápido ou…

Sim! Sim! Sim! Tenho a sensação quando eu penso que acabei a licenciatura 10 anos uma década! Em uma década acontece muita coisa! E realmente, eu penso como o tempo passou e eu parece que estou pior do que quando acabei a licenciatura, quase! Porque na altura acreditava em sonhos e agora, dez anos depois, com 34 anos na altura era 23, pronto, 11 anos é uma pessoa acreditava mais nos sonhos que agora. Pelo menos falo por mim. Se calhar agora tenho mais os pés assentes na terra, não sei!

Agora, falando um pouco das tuas origens… queria saber… os teus pais são os dois caboverdianos, certo?

Exacto.

Ahhh… Como é que vês essa herança caboverdiana em ti?

Ai!! Vejo de uma forma muito positiva. Eu sinto que sou rica culturalmente porque se me perguntar se eu sou portuguesa ou sou caboverdiana, eu vou lhe dizer que sou portuguesa, sem a menor dúvida! Descobri isso em Cabo Verde, não foi ! quando me perguntavam: Então sentes-te portuguesa ou sentes-te caboverdiana? eu não sabia o que dizer! Mas eu depois de ter ido e ter vivido seis anos, descobri que realmente sou cab sou portuguesa, sem dúvida! Agora em relação à cultura caboverdiana, como desde sempre me dei com ela e eu nunca a rejeitei, ao contrário de se calhar muitos primos meus, que uns por vergonha, outros por não se identificarem (tão simples quanto isso) eu sempre a valorizei muito! E eu tudo o que esteja relacionado com Cabo Verde, interessa-me! Interessa-me a cultura caboverdiana, interessam-me os hábitos alimentares, interessa-me a literatura caboverdiana e eu tento estar sempre atenta ao que acontece sobre Cabo Verde. Ao nível de conferências também e. e Cabo Verde faz parte de mim! Faz parte de mim e eu quero que faça mesmo! E. portanto, é algo com que eu convivo muito bem e gosto e valorizo e tento promover também.

E como é que os teus pais te passaram a cultura caboverdiana em casa?

Eu não sei, Leonor! Eu não sei como é que eles passaram isso! Sei que nós somos três irmãos e dois falamos crioulo e os outros dois e o outro não fala, o meu irmão mais novo não fala. Ahhh mas eu e a minha irmã falamos crioulo. Eu com os meus pais falo crioulo, mais crioulo do que português português, por vezes ahhh, desde pequenina que os meus pais habituaram apesar de a minha mãe tem mais tempo do que . A minha mãe veio com 21 anos, está com 59. Portanto, a minha mãe tem mais tempo do que . E a minha mãe também não vai vinte e tal anos. A minha mãe, a última vez que foi a Cabo Verde foi em 91. Portanto e o meu pai em 98. Depois, entretanto, os pais morrem e então perde-se um bocadinho o contacto com a terra, digamos assim. E mantém-se sim, porque tem a minha mãe, no caso da minha irmã da minha mãe tem irmãos, telefona, aos fins-de-semana telefona para ou eles telefonam vão falando, mas desde pequena que eu sei o que é cachupa, que eu sei o que é o cuscus, que eu sei o que é o friginote pratos típicos de que a minha mãe faz! A nível de língua, sempre se falou porque eles dominam melhor o crioulo do que o português, sem dúvida! Eles têm dificuldades em falar português têm têm muitas dificuldades, mesmo a escrever e tudo, mas as coisas acho que se foram passando naturalmente! E se calhar do feitio de cada um. No meu caso, por gostar e valorizar, e depois ter ido para Cabo Verde eu é que quis ir para Cabo Verde, a minha tese de mestrado está relacionada com Cabo Verde e depois, durante a licenciatura uma vez que escolhi Estudos Africanos, sempre tentei estudar a temática caboverdiana as coisas aconteceram, não sei, de uma forma natural.

E o que é que destacas de características na cultura caboverdiana, para além da comida? risos

Para além da comida É um povo muito alegre! Apesar das dificuldades, da pobreza mas é um povo muito alegre! Se chove estão contentes. Está com chuva, estão contentes. Isso é das coisas e da morabeza, da arte de bem receber o outro, sem dúvida! Acho que é o que destaco de mais positivo !

E de negativo?

De negativo o não cumprimento dos horários é talvez uma herança portuguesa, não sei! E além de o não cumprimento dos horários e por vezes como é que eu hei de dizer? Ahhh a politização (não sei se a palavra está correcta) da dos serviços. Tudo está relacionado com a política, tudo tem a ver com uma cunha e valoriza-se e por vezes, valoriza-se mais uma cunha do que propriamente promove as capacidades de uma pessoa é um bocadinho revoltante.

E suponho que, tendo estado em Cabo Verde, já conheces assim um bocadinho melhor a realidade… Qual foi a sensação que tiveste… ahhh… a imagem que tinhas antes de ir e depois?

Portanto Eu quando fui eu

Pensavas que…

Sim, sim Exacto! Eu quando fui Fui muito positiva! Muito positiva! Tudo ia correr bem que tudo e as coisas até correram bem porque toda a gente passa por dificuldades, mas e nos dois primeiros anos tudo foi novidade! Era tudo novidade! Era a descoberta e eu tive de desistir um bocado do meu olhar etnocêntrico, caso contrário não me adaptava ! Se eu fosse comparar constantemente as coisas de Cabo Verde com , eu não me iria adaptar nunca! E Mas depois de estar, claro que depois de tantos anos uma pessoa começa-se a aperceber das coisas menos boas que acontecem . Por exemplo, na ilha onde eu estava, a questão da saúde! Não um hospital onde se faça uma operação, onde se faça uma cesariana e uma vez vi quase uma aluna a morrer com uma apendicite ahhh, são coisas que nos começam a chamar à atenção! Ok, a nível da alimentação, eu gosto muito de peixe era peixe e o peixe fresco do mar é das coisas que eu valorizo muito mas depois, de vez em quando, vontade de comer uma entremeada, não ! Uma costoleta, não ! Uma carne moída, esparguete à bolonhesa, não ! E uma pessoa tem que se realmente adaptar, porque é outra realidade. O sol, gosto muito, o sol de ! Tenho saudades de andar de sandálias, como andava e de manga curta, sem usar casacos, mas pronto! Depois também outros inconvenientes, como eu disse! As coisas não funcionam se calhar tão rápidas como . Também uma elevada taxa de desemprego também , mas eu não vivi isso porque sempre estive a trabalhar e era uma privilegiada porque tinhas dois trabalhos na altura, mas pronto depois é a própria cultura que uma pessoa por vezes não se vai identificando como, para eles o atraso é normal para mim não é e uma pessoa então vai se adaptando a pouco e pouco à realidade que vai vivendo.

E que diferenças é que achas que existem em relação a Portugal? Ao sistema português? À cultura portuguesa?

À cultura portuguesa e à cultura caboverdiana?? Humm diferenças porque também são povos diferentes apesar de terem sido colonizados pelos portugueses comparar não posso, agora o que eu posso dizer é que realmente a questão do atraso, como eu disse, poderá ter sido uma herança dos portugueses, mas a questão de lutar para ter uma vida melhor aqui se calhar sente-se mais do que . As pessoas acomodam-se muito facilmente. Eu sinto isso, senti muito isso. Acomodam-se muito ao que têm e, por vezes, as que por vezes vão lutando, aproveitam-se do próprio sistema que, por vezes, favorece as pessoas que estão ligadas à política.

E em relação à cultura portuguesa? Ahhh, o que é que tu destacas como positivo que achas que tem a ver contigo e o que é que destacas como negativo?

Em relação a , Portugal, o que é que tem a ver comigo que eu valorizo muito?! As coisas estarem mais organizadas. Sinto que aqui apesar de tudo as coisas estão mais organizadas. Vamos a um serviço, é possível tratar de um documento na hora. Por exemplo, em Cabo Verde (e se calhar vou responder a perguntas anteriores) por vezes vai-se a um serviço, ás finanças ou a um cartório não se trata do documento porque a pessoa que assina não está , e então, logo e se viajou ninguém faz isso. E aqui eu valorizo que as coisas aqui funcionam um bocadinho mais rápido! Aqui, até haver esta crise havia mais oportunidades! As pessoas tiravam uma licenciatura, enviavam os seus currículos e arranjavam trabalho. Infelizmente, a realidade agora é pouca. E eu agora, se calhar falando um bocadinho de Portugal neste momento, eu vou falar um bocadinho negativo e não é o que eu o que eu quero guardar de Portugal. Porque o que eu guardo de Portugal é é o país que me viu crescer e onde eu sentia que havia perspectivas de futuro e que eu penso, que agora quando ultrapassarmos esta crise, provavelmente isto poderá melhorar ou não! Não sei!

E em relação a hobbies? O que é que costumas fazer nos teus tempos livres?

Nos meus tempos livres gosto de ler, gosto muito de ler e gosto também ( não tenho feito agora por uma questão financeira) gosto de ginástica! Gosto muito de aeróbica, em Cabo Verde fazia. Tenho muitas saudades. Ahhh. Porque faz bem não ao corpo (porque sou cheiinha, como podes ver), mas faz muito bem à mente e era um momento meu. Era um momento que eu sentia que eu desligava de tudo. São duas coisas que eu gosto muito de fazer.

E fazes com que frequência? risos

Eu agora, ler, leio. Continuo a ler menos. Menos, confesso! Porque uma pessoa sai de casa às oito da manhã, chega a casa ás oito da noite, janta, arruma a cozinha, são dez e meia, onze horas no dia a seguir tem que se levantar cedo tenho lido menos. Leio mais ao fim-de-semana e em relação ao desporto não vou para o ginásio porque neste momento não tenho condições financeiras agora o que eu estou a pensar fazer, agora quando o tempo melhorar, agora quando parar de chover, pelo menos fazer caminhadas.

E livros? Que tipo de livros é que gostas de ler?

está! Por uma questão de herança cultural gosto muito da literatura caboverdiana. Africana e caboverdiana. Neste momento, estou a ler um livro caboverdiano. De um autor caboverdiano sobre a imigração caboverdiana ahhh, eu normalmente leio o que me chama mais a atenção é sem dúvida a literatura africana, é o que eu gosto mais, mas leio também outras coisas.

E…. ahhh, hobbies… viagens?

Eu gosto muito de viajar. Gosto muito de viajar mas não gosto de fazer malas, nem gosto do stress do aeroporto não gosto! Ahhh quando eu viajei tenho viajado muito pouco porque quando até começar a trabalhar não tinha condições financeiras e quando comecei a trabalhar fui para Cabo Verde. As viagens são caras! As viagens de Cabo Verde para os países europeus são muito caras, eu quando vinha era para Portugal. Durante os seis anos que estive , vinha era para Portugal com alguma frequência e o que eu fiz, a viagem mais recente que fiz foi agora quando terminei o mestrado, estive em Itália.

Estiveste em Itália a que propósito? Férias?

Fui, fui, fui fui de férias!

Vamos falar agora um bocadinho sobre o sítio onde cresceste… ahhh… queres falar um bocadinho. Como é que era o ambiente e como é que eram as relações sociais?

Onde eu nasci Portanto, eu sou daqui, sou aqui de Lisboa, nasci na maternidade Dona Estefânia ahhh, e na altura eu e os meus pais morávamos em Lisboa porque uma tia minha os meus pais, pronto, estavam três anos e o meu pai como sempre trabalhou na Holanda, quando a minha mãe veio de Cabo Verde, a minha mãe ficou com uma tia minha, que a casa era grande a minha tia tinha aquela casa alugada e alugou à minha mãe uma parte da casa dela. E então, pronto! Ficámos e como meu pai estava sempre fora e também era uma forma da minha mãe não ficar sozinha, a minha mãe foi ficando ali. Tinha a minha tia, que é irmã do meu pai e nós nascemos ali. Mas depois e era um ambiente onde tinha a minha tia e os filhos, os três filhos, e e nós. E havia muita convivência entre os irmãos do meu pai, lembro-me! E depois tinha dois lugares da minha referência do que eu me lembro da minha infância de ir aos fins de semana: era a feira popular (que era aqui) e era o Marquês de Pombal. Onde nós íamos, levávamos tipo fazíamos tipo piqueniques, sabes?! Os miúdos quando são pequenos com qualquer coisa entretêm-se e comem e ficam satisfeitos e comíamos um gelado (na altura dos gelados, que era uma coisa) nós também comíamos ao fim-de-semana, de vez em quando, também. E depois, o meu pai nós fomos crescendo, a minha mãe também precisa de ter o espaço dela mais à vontade e nós também e e eles compraram um terreno do outro lado do rio, na Quinta do Conde, e foram construindo a casa a pouco e pouco. E em 87, eu com 7 anos, fomos morar para . E a partir daí, pronto! Fomos morar para e até moro , até ao dia de hoje. E e, pronto! E era eu, os meus pais e os meus irmãos. A minha irmã entretanto juntou-se, tem uma filha, e o meu irmão sempre se manteve em casa, nunca saiu. Eu saí, fui para cabo-Verde e voltei agora! Portanto é um ambiente ahhh, e agora tenho mais um membro da família que é o meu avô. Porque em 2005 a minha avó, do lado do meu pai da minha mãe, faleceu em 2004 e a minha mãe foi buscar o pai. O meu avô neste momento tem 92 anos e mora também connosco.

E o ambiente ali na Quinta do Conde é tipo urbanização?

A Quinta do Conde surgiu quando surgiu era habitações ilegais, onde as pessoas iam construir as suas casas ilegais sem pedir o projecto à câmara posteriormente é que colocavam o projecto o alvará, pediam o alvará ahhh, mas uma zona, digamos que é de prédios e uma zona de vivendas. Portanto, a minha zona, onde eu estou é a parte das vivendas.

E como é que caracterizas viver na Quinta do Conde?

Sou um bocado subjectiva a falar sobre isso porque eu moro desde os sete anos. A Quinta do Conde pode não ter nada (na altura tinha muito menos, agora tem muito mais), mas para mim tem tudo! Porque é que tem tudo? Porque foi uma casa que eu vi nascer. Lembro-me de ver os meus pais a construírem a casa e tenho um amor especial por aquela casa que não vou ter por mais nenhuma a não ser que construa alguma minha e passei a minha infância, fiz todo o meu percurso escolar, tenho os meus amigos de infância, portanto tenho os meus pais A Quinta do Conde preenche-me completamente!

E não tens nenhum episódio menos agradável que tenhas passado?

Na Quinta do Conde? Sou capaz de ter, Leonor! Sou, capaz de ter assim Mas eu nor eu tenho como filosofia de vida tentar agradar guardar comigo as coisas positivas e as negativas tentar esquecer. Portanto, sim sei ! Em relação à escola eu lembro-me de uma vez no secundário de foi uma coisa que me aconteceu mas que eu nem dei muita importância na altura de um rapaz passar por mim e chamar-me preta e ter-me escarrado! Deitou-me uma escarreta em cima! Mas foi uma coisa que eu nem valorizei muito, sinceramente. Fui à casa-de-banho, limpei era as calças, foi nas calças mas assim no dia-a-dia, não me lembro assim de ter vivido nada de assustador. É capaz de eu ter vivido, mas entretanto esqueci, não sei!

E assim em termos gerais o que é que… achas Portugal um país racista? Como é que vês o país?

É assim: que eu tenha vivenciado na primeira pessoas na primeira pessoa atitudes racistas, eu posso dizer que se vivi foram poucas e eu nem dei importância. Ahhh agora sinto que em Portugal um racismo dissimulado. Sinto que isso. Sinto que por vezes em relação ao preto, em relação ao cigano ahhh, em relação aos imigrantes de leste mitos criados e que as pessoas alimentam esses mitos e e por vezes, devido à própria sociedade onde, por exemplo, temos instituições que tentam promover a interculturalidade e o facto de não ficar bem uma pessoa é raro uma pessoa assim racista porque é logo censurada pela própria sociedade. Por isso, eu sinto que , mas é um racismo dissimulado, onde as pessoas sentem mas nem sempre manifestam aquilo que querem porque pensam.

E daqui a 10 anos onde é que te vês? risos Além de dizer que os 10 anos anteriores passaram muito rápido, não é?! Mas… risos

É verdade! Daqui a 10 anos, não sei! Não sei, Leonor! Não sei porque eu neste momento estou naquela fase, tal como lhe disse, de procurar trabalho. E se não encontrar, terei que imigrar. Para onde? Não sei! Talvez voltar para Cabo Verde. Talvez imigrar para um país europeu ou para os Estados Unidos. Não sei! Neste momento, não sei daqui a 10 anos onde é que estarei.

Mas és uma pessoa de fazer planos ou não?

Sou. Sou muito metódica, é esse o meu mal. Sou muito de querer planear tudo e quando as coisas não correm como eu quero, fico tão triste. Fico muito triste. E quando as coisas me fogem do controle e neste momento, me fugiram tantas vezes, tantas vezes, tantas vezes, que eu tenho receio de fazer planos. Em relação ao futuro não faço como fazia.

E voltando um bocadinho atrás outra vez, depois de acabares o mestrado, estiveste a trabalhar…

Estive, estive depois, Portanto, foi assim: eu antes de entregar a tese surgiu-me uma oportunidade porque eu como estava à procura de trabalho comentei com vários professores que estava á procura de trabalho e eles estavam a organizar uma a faculdade onde eu fiz o mestrado estava a organizar uma conferência ao nível internacional e então convidaram-me para fazer parte do secretariado. Eu consegui isto através de uma professora minha que fazia parte da organização. E assim foi! Trabalhei durante esses três meses e entretanto foi de agosto até Novembro. E em Dezembro defendi a tese. E entretanto defendi a tese e agora estou realmente estou a fazer o estágio no Alto Comissariado para as Migrações.

Fala-me um bocadinho disso…

Pronto! É um instituto público e é um instituto que eu identifico-me muito. Estou no gabinete de comunicação porque fiz mestrado na área de jornalismo e eu gosto muito! Gosto muito de estar porque eu sinto que um casamento entre a minha licenciatura e o meu mestrado. Porque o Alto Comissariado para as Migrações promove a interculturalidade, promove apoia os imigrantes, porque sob o Alto Comissariado está a alçada dos CNAI’s (Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante) e eu ao ir ao CNAI e ter-me apercebido que havia uma chinesa (que agora foi para a Dinamarca), havia uma chinesa, indianos, ucranianos, brasileiros, guineenses, angolanos, caboverdianos é bom ver isso! É bom ver isso! A trabalhar em prol da migração. E é um sítio onde eu me sinto muito bem. Infelizmente o que me deixa mais triste tem um bom ambiente. Ao nível do trabalho, tem um bom ambiente. fui conquistando, digamos assim, o meu espaço. Mas a única coisa que me deixa triste é ser um instituto público e neste momento eu não ter perspectivas de ficar porque o estado não permite a entrada de novos funcionários de momento. Pelo menos, de resto, até agora (estou três dois meses) tenho boas recordações.

Que competências é que achas que ganhaste com essa experiência? Ou que estás a ganhar?

sinto que eu estou a ganhar Por exemplo, quando se é estagiário uma pessoa acaba por fazer de tudo um pouco. Pronto, estou no gabinete de comunicação, vou colaborando a nível da a nível do jornalismo ahhh, produzindo pequeninos textos porque eles Têm para o site, para a newsletter interna e neste momento estou a dar muito apoio também na parte dos recursos humanos. E estou a aprender muita coisa. , sim, estou a aprender imenso porque ahhh desde construir um mapa de férias, desde de de de perceber no estado que tipo de funcionários é que temos temos funcionários por mobilidade, temos funcionários que são contratados de outsourcing N! Portanto são as coisas que eu não conhecia, que eu desconhecia! E tudo serve para uma pessoa aprender. E a minha mesmo a nível de comunicação, juntamente com a coordenadora de , sinto quando ela corrige aquilo que eu faço realmente, sinto-me a crescer! A crescer! Vou aprendendo com as chamadas de atenção que ela me vai fazendo em relação ao meu trabalho.

E como é que vias o teu trabalho como professora em Cabo Verde? O que é que retiraste dessa experiência?

Ah! Gostei muito! Gostei imenso! E sinto que deixei a minha marca ! Deixei a minha marca com os alunos e com a própria escola. É um trabalho muito gratificante porque, por vezes, temos alunos com muitas dificuldades e outros não, como é óbvio! E o ensinar! E ver realmente eles a evoluírem a nível da escrita, a nível da oralidade, a nível da postura porque ser professor não é chegar ali e debitar a matéria, é também tocar é um trabalho muito gratificante! Embora, confesso que muitos alunos chamavam-me a chata chamavam-me chata, porque eu era confesso que como professora sou muito rigorosa, sou muito exigente. E não perdoo o não haver o se faz favor, o não haver um obrigado, o não haver um desculpa e nessas coisas sou quase intolerante e muito persistente. Porque é que às vezes não utilizam tanto pelo menos na ilha onde eu estava! Não utilizam muito o se faz favor, não diziam muito o obrigado, não pouco uma das coisas que eu também, que eu não me lembrei de cor uma pessoa depois de estar aqui a mexer é que também as ideias vão caindo uma das coisas que me impressionou muito em Cabo Verde pela negativa, foi a questão da dependência. As pessoas acham muito têm muito hábito de pedir. De pedir e de de querer as coisas de uma maneira muito fácil! E eu sou muito apologista não de dar o peixe, mas de ensinar a pescar! Então essas coisas, meteu-me um bocadinho de confusão! Mas também justifica-se um bocadinho pela própria imigração. Porque pessoas que imigram e que se habituam a alimentar os vícios dos familiares que ficam. E eles habituam-se, passo a expressão, àquela mama de obter tudo de uma forma muito fácil e querem e a própria cooperação portuguesa que existia entre Portugal e Cabo-verde é muito do dar e pouco do haver ali uma partilha! E então o povo habituou-se muito a isso. E mete-me muita confusão isso das pessoas terem muito o hábito de pedir e terem pouco o hábito de agradecer. Especialmente esta geração mais nova. Os mais velhos na faixa etária dos 50, 60 anos, esses sim, ainda dizem vão dizendo um obrigado. Mas, um se faz favor, um obrigado, um desculpa, nesta nova geração é pouco utilizado.

E neste momento, vias-te a viver outra vez em Cabo Verde ou não?

Devido á É assim, Leonor, eu quando vim para Portugal em 2011 eu não queria voltar a imigrar porque eu sei o que é estar fora e sei o que é o sentimento de saudade que eu não conhecia antes e sei perfeitamente o que é estar no meio de uma centena de gente e sentir-me sozinha. Isso aconteceu-me! Mas, infelizmente, da maneira como está Portugal e do a eu ter a minha independência financeira sim, se calhar eu vejo-me, vejo-me a viver outra vez em Cabo Verde. Não na ilha onde eu estava, noutra ilha sem dúvida porque é uma ilha muito rural onde eu estava mas numa ilha mais desenvolvida, como São Vicente ou Santiago, sim! Se calhar, quem sabe!

Estavas em que ilha?

São Nicolau.

E… ahh… quais são os teus desejos para o futuro? Ou sonhos?

É assim: os sonhos fui perdendo em parte. Fui perd Porque eu antes se calhar sonhava muito, se calhar tinha os pés pouco assentes na terra. E uma coisa é 20 e tal anos, outra coisa é quando estamos na faixa etária dos 30. é diferente. Eu neste momento não peço muito. Eu neste momento quero ter saúde e ter um trabalho que eu possa ter a minha independência financeira. Não peço mais!

Pensas continuar os estudos ou…

Eu gostava. Gostava de tirar o doutoramento. Gostava de tirar, por exemplo, outras formações que eu sei que são importantes ou aperfeiçoar o meu inglês. Que eu sinto que o inglês está dentro mas como não falo uma série de anos, está tipo recalcado. Eu senti isso quando fui agora para Itália eu de vez em quando punha-me a falar inglês quando tinha que porque eu não domino o italiano e as coisas saiam! necessidade disso! Porque no dia-a-dia não pratico. E eu gosta muito. Gostava muito de tirar formações na área do jornalismo como o jornalismo digital, entre outros cursos que . Esses cursos de horas, digamos assim que podemos tirar no Senjor. E o doutoramento, sim. Também gostava. Mas é, está! Tal como falamos é preciso haver uma estabilidade porque as propinas são muito caras.

E se não fosses para a área de jornalismo ou de Estudos Africanos, qual era a área que gostarias de ir?

pausa É assim Pronto! Eu desde desde cedo sempre me identifiquei, como eu disse, mais com as disciplinas das ciências sociais. Mas talvez se eu nascesse outra vez por uma questão de emprego, se calhar tentava ir mais para um tirar um curso da área de saúde, talvez sejam sejam os cursos que neste momento as pessoas bem ou mail ainda conseguem ter algum tipo de emprego não sei! Não não, não não sei!

Mas que outra profissão é que achas que desempenharias bem?

Se eu não tivesse tantas dificuldades com a matemática e com a físico-química, talvez é assim, eu acho que eu dava uma boa enfermeira! risos Acho que sim!

E… enfermeira (agora lembrei-me) tem a ver com o contacto com pessoas…

Ah! Sim! Eu gosto muito do contacto com pessoas. Gosto! Gosto! Gosto muito de falar, gosto muito de interagir, acho que sou uma pessoa simpática e vou cativando as pessoas Gosto muito! Por exemplo, eu agora vejo que tudo é por e-mail. E para mim perde-se um bocadinho o contacto telefónico. Porque por telefone ouve-se a voz da pessoa, vai-se conhecendo (digamos assim) um bocadinho mais a pessoa e eu gosto muito do contacto com o público, sem dúvida! Eu, por exemplo, quando estava a dar aulas era o contacto diário com os alunos embora um bocadinho cansativo porque tive turmas de quarenta e tal alunos. Isso é que me desgastou um bocadinho em Cabo-verde, porque tinha turmas muito grandes e depois o corrigir os trabalhos eu ia para a escola eu estava em casa, tinha que preparar as aulas, depois entretanto era um teste, depois quando eu tinha terminado de corrigir a primeira leva dos testes era a altura de fazer o segundo teste e era muito cansativo muito cansativo e depois o ter que projectar a voz a minha voz mudou muito desde que dei aulas porque realmente controlar quarenta e tal alunos dentro de uma sala de aula na fase da adolescência é muito complicado. Mas gosto. Gosto do contacto. Na embaixada, quando eu interagia com os doentes evacuados, que eu trabalhei nesse áre nesse sector, gostava imenso. Gostava, gostava imenso porque gosto. Gosto de falar com as pessoas, gosto de sentir que estou a contribuir para o bem estar delas e vou aprendendo sempre com elas também. A interacção para mim é fundamental e realmente ter um trabalho fechado em quatro paredes e não interagir com pessoas ia-me deixar um bocadinho triste, mas não sei.

Já alguma vez trabalhaste em associações ou…

Eu tenho feito parte de algumas associações caboverdianas ahhh houve uma que logo em 2003 dei o meu contributo que foi o FASCP, que era o Fundo de Apoio a caboverdianos em Portugal, dei o meu apoio nesse sentido e depois fui para Cabo Verde foi uma coisa muito rápida. Em Cabo Verde sempre dinamizei actividades da escola, entre a feira de profissões, entre debates sobre temáticas relacionadas com o ensino e entre outras coisas, e em Portugal no momento faço parte de uma associação caboverdiana. E sempre que conferências ou algum tipo de actividade de alguma associação, desde que eu possa ir e tenha disponibilidade, vou.

E que tipo de trabalho é que desenvolves nesse sentido?

Por exemplo, eu neste momento, na associação onde vou, dou-lhes apoio ou por reuniões ou plano de actividades mensal, todos os fins-de-semana temos uma actividade na associação, depois como actividades dou apoio no bar. Estou aos fins-de-semana no atendimento. Basicamente é isso que eu tenho feito nesta associação onde eu estou.

E se te tivesses que descrever como pessoa, como é que te descreverias?

Sou uma pessoa simpática, sou uma pessoa meiga sou uma pessoa muito teimosa! Sou um bocadinho teimosa e amuo às vezes facilmente. Eu se tenho algum problema é um defeito muito grave! Se eu tenho algum problema nota-se logo na minha cara. Mas de resto e considero-me uma pessoa muito positiva!

E defeitos?

Defeitos, como eu disse, é o ser teimosa, o amuar facilmente é verdade!... Sou muito transparente! A transparência é sem dúvida um dos grandes um dos meus grandes defeitos porque se eu tenho alguma coisa, nota-se logo na minha cara. E isso é mau! Isso é mau, sim, porque é porque as pessoas apercebem-se quando uma pessoa está bem e quando está mal e uma pessoa deve saber sair de casa e não levar as coisas atrás e não se manifestar na cara. Mas eu, realmente sou muito transparente. É um defeito!

E grupo de amigos ou grupos de amigos? Que origens têm? Que características têm?

É assim: os meus amigos em Portugal, como cresci e a Quinta do Conde na altura não tinha muitos muitos africanos, a maioria dos meus amigos são brancos são, são São brancos. A maioria dos meus amigos são são todos os meus amigos de infância e com quem mantenho o contacto, sim são brancos. São brancos.

E são mais de trabalho, são mais de…

São de infância. De trabalho não tenho. São todos de infância. São da escola. São basicamente mantenho o contacto permanente com cinco amigas minhas que conheci durante o secundário.

Ahhh… já falamos de planos para o futuro… huuumm, esta entrevista está a ser muito rápida… vou só dar aqui uma espreitadela (no guião)….

Sim, sim, à vontade

Vamos falar mais um bocadinho sobre a família e depois acho que estamos… risos. És muito rápida a responder! Ahhh… Sempre viveste com os teus pais, certo?

Sim sim Vivi com os meus pais até aos 25 anos, idade com que fui para Cabo Verde. Em Cabo Verde, quando cheguei morei um ano com um tio meu que é irmão da minha mãe que me foi buscar ao aeroporto e depois no ano nos outros anos morei sozinha.

E neste momento?

Neste momento, regressei à casa dos pais. Regressei à casa dos pais mesmo por uma questão por uma necessidade financeira, porque se eu tivesse algum trabalho com alguma estabilidade teria arranjado a minha casa, sem dúvida.

E os teus pais vieram para Portugal por motivos laborais ou por outros motivos?

O meu pai imigrou primeiro que a minha mãe. O meu pai imigrou em 74 para a Holanda. Entretanto porque foi na altura que se abriu a imigração para Holanda e muitos caboverdianos foram trabalhar nos barcos e ele foi para , e entretanto trabalhou uns anos e depois ia de férias para Cabo Verde e em 77, como ele tinha as irmãs, ele quis trazer a minha mãe para , porque ficava mais barato viajar para Portugal do que viajar para Cabo Verde, e então trouxe a minha mãe para para isso. A minha mãe não trabalhava e a minha mãe, pronto, ficou e o meu pai vinha de seis em seis meses, de nove em nove meses vinha para . E quando ele trouxe a minha mãe, casaram-se. Casaram-se . Casaram-se e aqui fizeram a vida. Portanto, digamos que foi mais uma forma de o meu pai ter uma casa . O meu pai não queria na Holanda porque ele não se identificava com a Holanda. Nunca se identificou, infelizmente. Penso eu, não sei. E então, pronto! Foi mais por causa disso.

E como é que descreves a tua relação com os teus pais e irmãos?

Os meus Em relação aos meus irmãos tenho uma relação muito boa. É um amor que eu não tenho por mais ninguém. É um sentimento O sentimento que eu tenho pelos meus irmãos é único. Não prefiro que me ofendam a mim do que ofendam aos meus irmãos e temos uma relação muito boa. Somos muito unidos, somos muito de ajudar uns aos outros e. pronto, é pena a minha irmã imigrou. Devido à situação em que Portugal está ela teve que imigrar, mas temos uma relação muito boa. Em relação à minha mãe e ao meu pai Em relação à minha mãe, uma um somos muito cúmplices uma da outra, falamos muito. Em relação ao meu pai tenho uma relação mais conflituante porque porque o meu pai é o típico homem, como eu costumo dizer, um bocadinho machista, é e por vezes, (como é que eu vou dizer?) ele viajou, realmente teve oportunidade de viajar, conhecer meio mundo ou quase o mundo todo no barco, mas infelizmente eu penso que ou por uma questão cultural ou por uma questão de feitio, ele não evoluiu muito no aceitar a diferença. E eu como sou de outra geração diferente, que a minha mãe tem muito nível de habilitações, eu não aceito com tanta facilidade e então, por vezes, temos uma relação de choque um com o outro.

E como é que defines a tua relação familiar mais extensa?… ahhh… tens muito convívio com primos?

Ah! Portanto, em relação com a família do lado da minha mãe do meu pai, digo. Da minha mãe, como eu disse, ela não tem nenhum irmão. Estão todos entre Itália e Cabo Verde. Do meu pai tenho uma tia que mora à minha frente, é atravessar a rua e convivo muito com os filhos dela, com os meus dois primos. Em relação à outra irmã do meu pai que mora em Lisboa, falamos é por telefone. Tenho por exemplo, são três primos e com quem falo mais com uma prima minha, talvez por me identificar mais, temos uma relação mais por telefone. Passo muito tempo sem a ver, mas por telefone falamos frequentemente. Agora convivo sem dúvida mais com os meus primos que moram que os pais moram à minha frente!

Ok, acho que está tudo! Obrigada

This is the first translated utterance of the interviewer.

This is the first translated utterance of the interviewee.


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