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Entrevista_de_FD

Jovens adultos descendentes de imigrantes africanos em (dis)posições de destaque: um estudo sobre percursos de mobilidade ascendente entre as minorias

SubtítuloEntrevista com FD
Data2017
Sexomasculino
Idade: 36
Nível de formação: licenciatura
Ocupação: informático sénior CTT

Queria que te apresentasses, não é para dizer nome, só o ano de nascimento, a profissão, a residência, a escolaridade … a escolaridade da mãe e do pai e o que faziam também.

Bem Eu tenho 36 anos, ahhh, nasci em 1977 ahhh, nasci em Lisboa e sempre vivi na margem sul Os meus pais vieram 2 anos antes de Cabo Verde para , são os dois de Cabo Verde, ahhh, eles vieram em 75 quando casaram e quando foi logo quando foi a Independência vieram para , ahh

À procura de trabalho ou …

Vieram à procura de trabalho, veio primeiro o meu pai e depois veio a minha mãe Depois eu nasci em 77, sempre vivi sempre vivi como eu disse na margem sul, sempre vivi em não sei se pode dizer em bairros normais, nunca vivi em bairros, aqueles bairros que nós conhecemos essencialmente de africanos, embora tivesse tenho família em alguns desses bairros, mas nunca vivi . Ahhh, o meu pai quando arranjou casa foi fora deste grande centro de Lisboa, foi ele juntamente com uma tia, com uma tia minha, uma irmã dele e então sempre vivemos . Depois fiz a escola normal, ahhh, fiz a escola normal 12º e fui para a faculdade, fui para o curso de informático, e pronto hoje trabalho na área do meu curso, que é de informática trabalho nos ctt nos correios, ahhh, e pronto assim muito resumidamente risos, sou casado, entretanto casei tenho 5 filhos, a minha esposa também é de origem Caboverdiana, nasceu também em Portugal, mas os pais são os dois Caboverdianos, ahhh, e

E escolaridade do pai e da mãe e profissões.

Ah! O meu pai, o meu pai neste momento é licenciado em direito, e fez o estágio é advogado mesmo na ordem dos advogados, a minha mãe tem o ano, o ano de escolaridade feito em Cabo Verde. O meu pai em Cabo Verde, o meu pai tirou a licenciatura aqui, ele em Cabo Verde foi professor do ensino primário, ahhh, mas não tinha licenciatura pronto

Tirou a licenciatura aqui antes de ter os filhos ou …

Depois, depois eramos todos crescidos, porque ele veio começou a trabalhar, a trabalhar por turnos, ate houve uma altura que fazia as noites, entretanto sentiu necessidade de crescer profissional e pessoalmente, então foi para um curso, ahhh, entretanto teve no liceu D.Dinis aqui em Lisboa ahh, fez um 12º virado para as engenharias, 12º ano entrou no curso de engenharia ali no ISEL, mas depois não dava os horários, a família, o trabalho não dava, e então ele desistiu e uns anos mais tarde, foi secalhar uns 10 anos, talvez, atrás, sim tinha ele para ai uns 50 anos e tirou o curso de direito, inscreveu-se na Universidade de Lisboa, na faculdade de direito, e fez o curso de Direito também era uma área apesar de ser totalmente diferente da engenharia, ele estava em engenharia mecânica se não me engano, e apesar de ser totalmente diferente da engenharia é uma área que sempre lhe interessou, e então pronto fez o curso, fez o estágio também para a ordem dos advogados e pronto neste momento é advogado. A minha mãe quando veio para Portugal começou a trabalhar numa pastelaria na baixa, teve 11 anos , depois começou a trabalhar como auxiliar no IPO esta até hoje, está acerca de 20 anos, mais de 20 anos, e pronto esta la no IPO ali na Praça de Espanha e pronto basicamente é isto Tenho uma irmã que também nasceu , é mais nova que eu, ahhh, também tirou licenciatura em comunicação social, neste momento não está a exercer, mas está a trabalhar em Faro numa companhia aérea, como hospedeira e e pronto.

Tem que idade?

Tem 30 anos

Humhum. Agora falamos um bocadinho do percurso escolar assim mais detalhadamente, começando pela primária risos.

Como eu disse fiz a escola normal, sempre fui bom aluno, ahhh, sempre me dei bem com os professores, também porque era bom aluno e isso depois também facilitava.

E aptidões, havia alguma disciplina que tivesse mais capacidade …

Matemática, sempre foi o que gostei mais, Matemática, nunca fui muito virado para letras Português, História nunca fui, mas matemática sempre tive boas notas, ahhh, sempre foi o que gostei mais risos.

E com os colegas qual era o relacionamento?

Também, sempre me dei muito bem com os colegas, sempre me dei com toda a gente, e com gente muito diferente, ahhh, sempre tive com quer com amigos e colegas também de origem africana e que sítios que tendência para se juntarem, e pronto forma-se ali aquele grupo. Sempre me dei com esses grupos, e sempre também me dei com grupos, pronto, de pessoas de , e portanto nunca tive problemas de segregação ou.. nunca tive pelos menos que eu sentisse, pelo menos que eu sentisse. Mais tarde casos pontuais mas nunca foi, nunca foi assim uma pratica comum corrente que eu sentisse. Mas conheço pessoas que sentiram durante a sua vida, e sim conheço, pessoas bem próximas, mas eu não, nunca tive nem nunca senti isso, mas sim alguns casos senti, senti e sei perfeitamente o que isso é. Mas pronto no geral sempre me dei muito bem com os meus colegas.

E por exemplo sem reprovações?

Sim, nunca reprovei, no 12º ano é que a primeira vez que me candidatei à universidade, nesse primeiro ano que me candidatei não entrei, nunca reprovei mas com exames e não sei quê não entrei, e foi nesse ano depois que comecei a trabalhar e para não perder muito aquela embalagem do estudo comecei a frequentar as aulas à noite, a assistir, não me matriculei outra vez porque tinha tudo feito mas fui assistir às aulas à noite e trabalhava de dia e pronto no final desse ano candidatei-me novamente e entrei na universidade, ahhh, foi um ano, foi o primeiro ano que comecei a trabalhar e e que pronto talvez, secalhar dá-se mais valor às coisas quando elas custam mais, mas foi um ano muito bom porque deu para ter a noção do é que custa mesmo, do que é que custa a vida, aquilo que os adultos normalmente falam que ah a vida custa muito e que pronto mas de facto foi muito gratificante porque aprendi muita coisa, dei valor a muita coisa, ahhh, também consegui valorizar-me a mim como pessoa, ahh, e no trabalho e também nos estudos deu para, em relação ao ano anterior, deu para nos exames as notas foram significativamente melhores, até que depois entrei na universidade que era o que eu queria e pronto foi um ano muito bom. Depois entretanto entrei na universidade, e deixei de trabalhar, depois mais tarde risos depois no curso é que comecei a trabalhar novamente.

E como é que foi a escolha do curso, porquê informática?

Porquê informática? Por acaso é uma coisa que em criança nunca, nunca me tinha imaginado a trabalhar com um computador nunca tinha tido um computador, tinha amigos da rua que tinha computador e de vez em quando a malta toda ia para casa para jogar e não sei quê, mas nunca foi uma coisa que me despertasse depois mais tarde quando fui para o meu 10º ano talvez, foi no 10ºano?! Não antes, foi no 9ºano, o meu pai comprou-me um computador e eu comecei a pronto eu tinha ali um computador em casa então comecei a conhecer e a despertar um interesse a computador Depois daí no 10º ano, fui para a área científica, tecnológica não sei, cientifca ahhh, portanto de informática, onde estava numa turma de informática [empregada de mesa] ahhh, fui para uma turma de informática, porque de facto pronto no ano anterior foi ai que me despertou mesmo o interesse e fui para informática e a partir daí o interesse cresceu ainda mais comecei mais aprender, aprender mais coisas na área dos computadores e pronto a partir daí 12º ano e foi para o curso de informática que é mesmo aquilo que eu queria e aquilo que eu gosto hoje, felizmente estou a fazer aquilo que gosto na área de programação em computadores, ahhh, e pronto

E se não fosse informática o que é que poderia ser?

risos É uma pergunta interessante, sinceramente não sei, não sei. Eu quando era pequeno imaginava-me mais num curso tipo enfermagem qualquer assim da área da saúde, ahhh, hoje em dia não sei, não sei se me imagino como enfermeiro ou médico apesar de ainda ser pronto que me interessa, mas não sei se me imaginaria, não sei risos, fora da informática, é uma pergunta por acaso nunca me tinha colocado essa questão, o que é que eu seria se não fosse não sei, ahhh, mas naquela altura, uns anos atrás, talvez fosse para a área da saúde sim.

E em termos de planos para o futuro, daqui a uns 10 anos vês-te por exemplo a trabalhar na tua área …

Vejo, daqui a 10 anos vejo até porque isto é uma área que está em constante evolução, ahhh, e como é uma área que está em constante evolução, nós, quem está nessa área acaba por também evoluir, temos que apanhar a carruagem senão não podemos ficar para trás e como está sempre a evoluir eu acho que também um pouco de nós também evolui, e pronto imagino-me sim daqui a 10 anos, ahhh, secalhar não direi a fazer a mesma coisa, sim no fundo a fazer a mesma coisa, mas noutro patamar outras coisas, porque a informática agora também é muito diferente da informática de 10 anos atrás.

Isto é uma área de implica muita formação?

Sim, sim, porque aquilo que aprendi na faculdade, ahhh, claro que me deu bases são aquelas bases que ainda essas permanecem mas em termos de metodologia, em termos de mesmo de linguagem está totalmente diferente, mesmo e pronto isto evolui e nós também evoluímos risos.

E és uma pessoa que faz planos ou não?

Se faço planos?

Achas que o teu percurso foi de alguma forma planeada.

Ahhh, foi, tem sido planeado Eu quando era mais jovem, ahhh, sempre imaginei casado, com filhos até secalhar aquela vida normal que toda a gente imagina ahhh, depois quando me casei, casei-me e naturalmente vieram filhos, sempre foi um desejo ter filhos que nós os dois temos, e muita gente que acha que por termos 5 filhos foi por acidente ou foi por risos mas não foram todos pensados foram todos porque de facto felizmente para nós os dois, porque poderia ser um a querer e outro não, mas a partir do momento que nós os dois estamos em sintonia nesse aspeto risos os filhos que viessem nós queríamos pelo menos ter 3 filhos felizmente proporcionou-se para termos mais, eu gostaria de ter mais agora se é possível, pronto Mas de facto é uma alegria na nossa casa, ahhh é gratificante acompanhar o percurso dos filhos e o crescimento deles, aquilo que os meus pais tiveram para mim agora fica para os meus filhos, agora planos estou a fazer planos em casar, não imaginava ter 5 filhos, por acaso não imaginava, imaginava ter 2/3 isso mesmo, mas planos assim a longo prazo não costumo fazer, posso dizer que imaginava [.] , mas acho que toda a gente imagina isso, agora fazer aqueles planos do tipo a partir do ano tal do ano x vou fazer isto e a partir do ano y vou fazer isto, a longo prazo não.

Mas ir para a universidade fazia parte do plano?

Ai ir para a universidade fazia, ir para a universidade fazia, claro risos

risos Era uma coisa que à partida, ahhh, tinha sido transmitido pelos pais ou era um desejo.

Era as duas coisas, ahhh, os meus pais sempre me proporcionaram, ahhh, não vou dizer o melhor, o melhor deles, ahhh, sempre me proporcionaram para que eu fizesse um percurso académico até ao mais longe possível, apesar de tudo nunca houve pressões, a dizer tens que ir para aqui ou tens que ir para ali, mesmo na escolha do curso nada, simplesmente claro eles tinham sempre um desejo que eu continuasse a escola e eu também sempre tive isso e nunca também nuca tive conheço colegas mesmo que entretanto desistiram da escola, mas eu sempre achei que era importante continuar, e pronto apesar de ser, ahhh, como eu disse simplesmente, sempre fui bom aluno, ahhh, mas isso foi, foi uma coisa que vinha de mim ou seja também não eram os meus pais que estavam sempre em cima de mim e agora tens que ficar ai a estudar no quarto, agora tens que estudar se queres ter boas notas isso nunca houve isso nunca ouve sempre partiu de mim aquele pensamento e aquela iniciativa, de tenho que levar isto à seria, pronto, nunca fui marrão como se costuma dizer nunca fui marrão, ahhh, aliás eu acho que houve ali uma certa altura, a partir do 10º ano secalhar que eu ai dei-me conta que tinha que estudar mais, porque eu era bom aluno não por estudar muito mas porque era um aluno bem comportado, que prestava atenção nas aulas e tudo mais e então não passava o tempo todo a marrar ali nos livros isso não fazia. Depois comecei a perceber, epá espera isto afinal as aulas secalhar fora das aulas tenho que me aplicar um bocadinho mais secalhar tenho que estudar um bocadinho mais, ahhh, eu senti alguma diferença, ahhh, sim foi no 10º ano acho eu, no 10º ano que mudei de escola, e sim senti, senti isso que tinha que estudar mais, mas mas isso veio de mim, veio de mim senti que tenho que estudar, nunca tive aquela pressão dos meus pais para que como eu vi colegas minhas, tinha duas colegas que elas tinham uma pressão, ahhh, na primária, na escola primária tinha uma colega que tinha uma pressão da mãe que aquilo quase que a sufocava, ela tinha boas notas mas era na primária, ela tinha boas notas mas se ela tivesse bom ou satisfaz mais começava a chorar porque e agora o que é que a minha mãe vai dizer, eu isso é uma coisa que me fazia muita confusão e que dava graças a deus que os meus pais não eram assim não eram ausentes antes pelo contrário, o meu pai sempre foi muito, muito ciente e muito preocupado mas sem nascendo dali um limite uma fronteira, a partir daqui tu é que tens que começou aqui barulho de pratos (24:05 24:23 não entendo)

Sendo que a escola foi sempre seguida sem reprovações?

Sim, sim

A universidade foi logo a segui não é?

Foi, foi. Teve aquele ano que eu disse, que não entrei na universidade mas sim foi quase tudo seguido.

E o trabalho também, ahhh, é na área, não tiveste mais nenhum outro emprego ou tiveste?

Tive, tive antes de ir para os correios tive numa empresa de informática também que tinha uma vertente de informática, estive cerca de um ano e meio dois, depois saí, depois quando saí de vim para os correios e pronto estou nos correios desde 10 11, 10 anos

E como é foi a reação, ahhh, na mudança …

Foi boa, correu bem porque tenho um ambiente de trabalho muito bom, dentro dos correios, dentro dos correios este é o terceiro edifício onde eu estive passei por também três chefias, 1,2,3, 4 chefias, esta é a quarta chefia, diferentes e em qualquer uma delas o ambiente de trabalho sempre foi muito bom, as equipas com quem eu trabalhei e trabalho sempre tiveram um ambiente muito bom de trabalho e nesse aspeto não tenho nada apontar graças a deus quando oiço pessoas que se são mal com colegas tudo isso suspiro eu penso para mim, epá eu nunca tive essas chatices e sempre me dei muito bem com os meus colegas de trabalho barulho de loiça e os meus chefes, mesmo os próprios chefes sempre me sempre foram pessoas que aqueles chefes que dificultam a vida, que pedem coisas impossíveis, que é tudo para ontem, mas por acaso os meus chefes nunca foram, este é o quarto e nenhum deles nenhum deles causou assim algum alguma dificuldade ou de todos eles não tenho queixas, não tenho razão de queixa

ahhh, como é que eu hei-de dizer … convivência foi tudo bem mas em termos de relação de trabalho, hierarquia de trabalho como é que funciona, conta-me um bocadinho como é o teu dia-a-dia …

Bom, ahhh

O que é que fazes exatamente, como é o dia-a-dia risos

Sim, sim. Então, eu trabalho em programação de computadores e desenvolvo programas, software, mas é mais para consumo interno da empresa, faço coisas para fora, , tudo o que eu faço, e a minha equipa faz é para dentro da empresa, para os correios para consumo interno dos correios, porque é uma empresa muito grande e tem várias áreas, vários departamentos, quer a nível de distribuição, nível de tratamento de correio, a nível de marketing, a nível de sei muita coisa, ahhh, mesmo a nível de produtos financeiros, certificados (28:40), seguros, sei uma infinidade de coisas que dentro da empresa e e eu faço eu e os meus colegas fazemos programas e fazemos também manutenção de sistemas e para que corra tudo bem que não haja falhas e que quando houver estejamos para resolver, e mas pronto, sempre tive, sempre foi a minha função aqui na empresa, ahhh, em projetos diferentes, também com departamentos diferentes mas no geral sempre foi nessa área mais de programação, de manutenção de sistemas, ahhh, e de resolução de problemas também Quanto à hierarquia, pronto isto é a estrutura, também sofreu muitas alterações neste momento acima de mim tenho um chefe, o chefe de equipa que por sua vez ele tem tem mais um chefe das várias equipas tem mais um chefe acima dele que por sua vez tem um diretor e depois esse diretor é que vai até à administração, ao conselho de administração, pronto acima, pronto eu estou no nível mais baixo por assim dizer nunca tive um cargo de chefia nem nunca nem nunca ambicionei, nem nunca ambicionei o cargo de chefia porque acho que também não faz muito o meu perfil não sei nunca tive essa ambição, ahhh, mas

E tu pretendes investir mais na tua formação…

Sim, sim. É uma coisa que como eu disse bocado também, quer dizer como isto também está sempre a evoluir eu também tenho a necessidade de estar mais ou menos a par e tentar acompanhar também a evolução não da tecnologia mas também linguagens, programação isso tudo mudou, isto mudou mesmo está tudo mesmo muito diferente tenho procurado dentro e também fora aqui do âmbito de da empresa também tenho procurado, ahhh, alguma formação também a nível de mesmo dentro da informática alguma formação de mais concretamente de linguagens que não uso mas que poderei usar fora, ahhh, às vezes pessoas de fora que às vezes precisam de mim em algum apoio, alguns e eu procuro dar esse apoio e isso também acontece com a minha esposa, ela também como é advogada, fora do escritório onde ela trabalhada sempre alguém que telefona, alguém que vai a casa pedir alguma culinária do direito quando tem assim algum problema então nós os dois é áreas diferentes mas temos sempre assim alguém que precisa de ajuda e nós naquilo que nós podemos também damos esse apoio.

E hobbies (não percebo 33:10)

Hobbies, bom eu tinha eu jogava à bola eu gosto muito de jogar futebol, jogava futebol com os meus colegas Jogávamos à hora de almoço, risos, à hora de almoço perdíamos Isto tudo noutro edifício onde estávamos, entretanto mudámos para aqui e à hora de almoço não é possível, porque entretanto o sitio onde íamos jogar ficou mais longe e a hora de almoço era muito apertada e então a partir daí deixei de jogar à hora de almoço, eles entretanto conseguiram ir jogar não era semanalmente mas era fora de jogam das sete às oito da noite ou das oito às nove da noite que para mim esse horário também não , não porque também é aqui em lisboa eu moro do outro lado na Quinta do Conde e por isso para mim esse horário é risos porque depois sair daqui chegar a casa, entretanto ela chegou a casa, tem os miúdos deu banho, deu jantar, então eu deixei de fazer isso deixei de fazer isso porque não , não Agora o que eu tenho aqui é tenho ido a um ginásio porque gosto de estar em movimento de vez em quando não tenho jogado a bola mas tenho gosto também andar de bicicleta, gosto de fazer btt algum tempo que não faço, então no ginásio aproveito para dar umas pedaladas também aproveito para fazer outras aulas outras aulas de grupo no ginásio ahhh, e pronto tenho aproveitado a hora de almoço para fazer isso porque é aquela hora que não atrapalha em nada não é, na rotina diária nem é muito cedo porque não me permite ir muito cedo e nem é muito tarde e pronto e ali que não atrapalha nada e para fazer, para fazer tudo são os hobbies que eu tinha e que Apesar de estar todos os dias no computador de vez em quando também vou procurando outras coisas no computador quer a dizer também de estou sempre a ver na tecnologia o que é que esta agora na berra o que é que esta por aparecer o que é que vem daí, esse também é hobbie de vez em quando não é assim muitas vezes mas às vezes a hora também vai avançada, estão os miúdos a dormir eu vou ver assim qualquer coisa mas pronto tento também não ficar muito tempo porque senão às tantas risos mas pronto é

E assim saídas, há tempo?

Saídas , tempo para ir ao cinema à sessão da meia-noite risos, ahhh, mas por exemplo com a minha esposa algum tempo que não vamos ao cinema porque para deixar os miúdos em algum lado para deixar um depois a segunda, a terceira, quarta agora para deixar cinco num sitio qualquer não é fácil e então algum tempo que não vamos ao cinema, de vez em quando à um amigo meu que vivia perto de mim mas agora não está , esta a trabalhar no Algarve e vem ao fim-de-semana para cima e ele quando vem desafia-me sempre então vamos beber um copo, vamos ao cinema ou e então tenho aproveitado algumas vezes e vou pronto, mas sempre a partir das dez horas que é para quando está tudo despachado e pronto estão os miúdos deitados estão pelo menos preparados para ir para cama, ahhh, e pronto é ai que depois saiu e vamos sair juntos, o meu tempo livre tem que ser a partir dessa hora risos

E viagens?

Gosto muito Nós mais ou menos, quase todos os anos temos feito uma viagem, ahhh, e vamos sempre com os miúdos

Para fora do país? Para fora?

Para fora também, nós fomos a Cabo Verde na altura tínhamos dois com o terceiro a caminho, fomos a Cabo Verde verde, fomos à Holanda fomos à Suíça que a minha esposa tem muita família, fomos a Roma, fomos a Londres, fomos a Republica Checa, fomos a Budapeste, fomos a Barcelona, fomos à Madeira e pronto, ahhh, quase todos os anos temos assim fazemos assim, aliás nós gostamos de viajar, e não vamos a mais porque também não risos ahhh, em vários sentidos não é a questão monetária, claro e depois também a gestão logística, porque não é fácil viajar com crianças, ahhh, não é fácil muitos sítios que nem aceitam crianças, ou não aceitam mais que duas, mais do que duas crianças não aceitam, vários que , portanto nós quando vamos também tentamos normalmente ficar assim junto de família ou de amigos que nos possam apoiar e que pronto temos conseguido, na Suíça como eu disse ela tem muita família , em Roma também tenho um primo, em Londres também tenho uma prima , na Holanda também tenho uns amigos e pronto então a coisa vai-se, vai-se gerindo , ficar em casa dos amigos nem que seja a dormir no chão mas para nós não é impeditivo de nada, ahhh, arranjar boleia daqui e dali, um carro emprestado e a gente consegue ir aos sítios e visitar. E eles também gostam muito de viajar, veem sempre perguntar então e este ano vamos a onde, então e o natal vamos passar com quem estão sempre a dizer porque nos fomos algumas vezes, fomos três vezes, passar o natal na Suíça com a família e eles estão sempre a perguntar se este ano vamos passar o natal na Suíça, porque é outra coisa, é um sitio fora, é, vão de avião, tem neve, aqui não neve não é, têm neve e pronto para eles é uma maravilha.

(41:49/ não percebo)

Foi, foi especial, ahhh, porque eu tenho muita família ainda ela também tem, mas eu tenho mesmo muita família, ela tem alguma família da mãe e eu também tenho da parte da minha mãe, a família da minha mãe é muito grande e eu dou-me muito bem com os meus tios, com os meus primos acho que não conheço todos os meus primos ainda, porque são muitos, mas gosto mesmo de ir e naquele ano foi mais especial porque levei a minha família, tinha ido em pequenino com os meus pais e com a minha irmã depois tinha ido sozinho, tinha ido duas vezes sozinho e em 2008 fui com a minha esposa e com os meus filhos também foi especial para mim porque ver que chegar e mostrar que a família, a família está a aumentar, moro noutro sítio mas a família está a aumentar e eles também, eles próprios terem contacto com pessoas da família que eles não conhecem mas que é ali a origem deles também, mas foi muito tempo, foi seis anos quase, ahhh, mas gostava que eles, eles voltassem e que eu também voltasse para quer dizer as nossas raízes estão ali e a nossa gente está ali, ahhh, parte de nós está ali, parece que nós começámos ali e crescemos aqui eu sinto isso, nós começámos ali.

E os teus pais sendo os dois caboverdianos transmitiram-te a cultura deles, a cultura Caboverdiana?

Eu tinha Quando vivia com os meus pais, ahhh, eu vivia com os meus pais, com a minha irmã e com a minha avó a mãe do meu pai E aos meus 22 anos quando ela faleceu, a minha avó sempre foi uma segunda mãe para mim, os meus pais sempre trabalharam o meu pai e a minha mãe, a minha mãe sempre trabalhou desde que eu me conheço como gente ela sempre trabalhou, eu tinha colegas na altura que as mães não trabalhavam eram donas de casa e a minha mãe sempre trabalhou fora de casa então eu ficava com a minha avó, ahhh, foi mais da parte da minha avó que houve aquela transmissão da cultura as histórias, as histórias que ela contava a própria língua, a minha avó não falava português, sempre foi os meus pais sempre falaram português comigo e a minha avó sempre falou criolo comigo, ahhh

Aprendeste a falar criolo?

Sim, sim, sempre foi a coisa mais natural do mundo, sempre foi. Os meus pais sempre falaram criolo como ela e com as visitas que iam a casa, com os meus tios, com a minha tia, morávamos no mesmo prédio, e comigo sempre falaram português, ahhh, porque eles sempre acharam que também eu estando aqui em Portugal também não poderia, ahhh, de forma, mas secalhar não teria influência, mas não poderia ter dificuldades de alguma dificuldade na escola ou com o português e eles sempre falaram português comigo, ahhh, e hoje em dia quando falamos, falo em português com eles, com a minha avó sempre falei em português com ela mas ela respondia em criolo mas sempre falei em português com ela e ela sempre falou em criolo comigo não falava português mas para mim aquilo era igual ao litro como se costuma dizer, pronto sempre nos entendemos nunca tive dificuldade nenhuma em compreensão e, mas foi mais ela que houve mais aquela passagem da cultura, aquelas história de Cabo Verde, a história de Cabo Verde, ahhh, a língua, mesmo os laços familiares ela ia puxar a família de não sei de onde sabes não sei quem que é filho não sei de que mais que é tua família da parte do pronto ela (47:10) e pronto foi mais da parte dela que senti isso. A minha esposa (47:19- não percebo) risos

E em que é que te sentes mais forte (47:25- não percebo)

Em quê?. Modo de estar? Modo de estar, ahhh, porque sou uma pessoa que eu não costumo ser stressado acho que, ahhh, tenho alguma calma, paciência, ahhh, e pronto acredito sempre que as coisas, ahhh, as coisas fazem-se e se têm que ser feitas têm que ser feitas, mas não tenho aquele stress, aquela ansiedade, ahhh, e esse modo star existe , nós vamos a Cabo Verde e creio que um pouco em toda a África, a minha esposa também me contou que em Moçambique, ela teve em Moçambique, que também é assim, portanto não aquele stress, não aquela e a vida é para ser vivida e aproveitar as coisas boas que ela tem. E aqui nota-se em algumas, algumas pessoas, nota-se muito aquela ansiedade de não sei se é de ter ou de ser alguma coisa e que muita coisa boa que passam ao lado, as pessoas aqui, a gente não aproveita as coisas boas da vida, ahhh, não aproveitam quando está pessoal, não aproveitam uma coisa simples de fazer uma festa, por exemplo quer dizer é que eu não sou uma pessoa assim muito de festas e não sei que mas sou uma pessoa que se por exemplo se eu convido uma pessoa para minha casa e essa pessoa aparece com dois ou três amigos não é uma coisa que me faça confusão, digo assim olha ainda bem venham também, ahhh, e isso existe muito se é amigo do meu amigo, se é amigo do meu primo é meu amigo também e aqui acho que não muito isso, não muito isso, eu... não sei, mesmo um próprio convite para qualquer coisa é uma coisa muito formal e eu um convite é anda bora, pronto uma coisa mais informal bora e faz-se e se quiseres aparecer com dois ou três amigos são bem-vindos também, gosto do modo de estar modo de estar risos.

E que mais diferenças é que achas entre a cultura Caboverdiana e a Portuguesa? barulho de loiça

ahhh diferenças para além do não acho que é essencialmente isso o modo de estar na vida e e é também, é também relacionado a isso é por exemplo uma coisa que distingue Cabo Verde é maior parte das pessoas são pobres ? As pessoas são pobres, mas as pessoas com aquilo que têm, ahhh, obviamente que se muito pobreza e secalhar pode chocar muita gente, mas as pessoas com aquilo que têm, as vezes o pouco que têm partilham aquilo que têm, ahhh, ou então o pouco que têm aproveitam o bom que aquilo possa ter e aqui as pessoas acham sempre que não têm ou que têm pouco e que querem ter mais e isso sufoca as pessoas isso sufoca muito as pessoas porque, e eu vejo pelos meus colegas que ahhh, isso vê-se em todo o lado mas eu acho que não se aquilo de uma maneira mais por exemplo tenho colegas que têm um telemóvel mas passado dois meses querem ter outro, mas depois como é muito caro, ainda é muito caro não conseguem ter mas ficam sempre com aquela coisa e ficam ali isto sufoca as pessoas, as pessoas não se contentam com o que têm querem sempre ter, obviamente que isso em todo lado também em Cabo Verde as pessoas também obviamente também querem ter mais mas acho que aqui nota-se mais isso, nota-se mais isso, ahhh, as pessoas pelo um telemóvel, é desde dos telemóveis aos carros, mas pessoal que quer sempre ter o carro topo de gama e tudo mais e por não ter a coisa ahhh, diferenças, acho que a diferença é essencialmente é, a diferença é essa, obviamente não vou falar do clima risos que é a parte mais óbvia, mas quer dizer acho que essencialmente é essa, a maneira de estar na vida, a maneira de viver a vida, pronto

Consegues dar um ponto negativo a alguma coisa cultural de Cabo Verde, algo negativo.

ah, sim, sim, um ponto negativo, ahhh, um ponto negativo mas é diretamente a Cabo Verde não é aqui

Falaste o que era positivo em Cabo Verde agora ao contrário…

Sim, sim falei, falei. Sim. Ahhh, um ponto negativo, ahhh ah, ponto negativo é talvez a desorganização, a desordenação que isto da maneira de estar também é muito bonito mas depois associa-se uma certa desorganização, e nós vemos por exemplo uma cidade da Praia que tem uma capital de País e aquilo parece um bairro de lata gigante porque e secalhar é capaz de chocar algumas pessoas que vão daqui para , mas é uma completa desorganização nas ruas, nas casas e as vezes as pessoas também vivem assim bem e não se importam com isso mas muita desorganização e , claro que coisas que nós queremos por exemplo aqui as vezes a gente queixa-se de ah os processos que demoram muito, se aqui as pessoas acham que demoram muito então olha para dar um exemplo eu pedi o meu B.I, bilhete de identidade Caboverdiano achei que fazia sentido e pedi isto em 2008 foi quando eu fui estamos em 2014 ainda não o tenho perdi um processo que não sei onde é que está pronto isto é um exemplo isto é um ponto negativo das coisas e a gente telefona para saber ah sim eu vou saber depois eu telefono, depois não telefonam, depois eu telefono ah e tal ainda não porque ainda está deve estar não sei a onde ou telefono e a senhora que trata disso não está e depois a pessoa nunca está, nunca está, nunca está e quer dizer de facto se aqui coisas que a gente acha que a gente corre muito devagar enta isso está também associado à maneira de estar como estava a dizer tem positivo mas também tem negativo, ahhh, e este é um exemplo concreto não é risos que se passa comigo, ahhh, quer dizer 6 anos à espera, quase 6 anos à espera de um bilhete de identidade ou de um processo para um bilhete de identidade acho que é um bocado exagerado, ahhh, mas pronto esse é um aspeto negativo sem dúvida

E o que é gostas ou identificas-te na cultura Portuguesa?

Eu gosto na cultura Portuguesa, ahhh Secalhar ponho as coisas desta maneira, ahhh conheço alguns sítios, alguns países não são assim, não é uma coisa que seja agradável e não sei que, mas felizmente tive a oportunidade de ir e conhecer alguns países e de todos eles acho que em Portugal está a comparação que eu faço entre Portugal e Cabo Verde, a comparação que eu faço de Cabo Verde, oh de Cabo Verde, de Portugal para o resto, essencialmente Europa não posso dizer não conheço a Ásia, não conheço a América, pronto, mas é a comparação que eu faço também e aqui também faço na maneira de estar faço Portugal em relação à Europa, ahhh As relações são mais calorosas do que nos outros sítios onde estive achei que era um bocado frio que o contacto pessoal é um bocado frio quando assim um bocado não sei foi a impressão que eu tive, fui de férias nunca vivi fora de Portugal, ahhh, mas foi a sensação que eu tive, um bocado frio, de resto também acho que a comida portuguesa é a melhor, mesmo, a típica portuguesa, não sei também claro, também sempre me habituei à comida daqui não é daqui e de Cabo Verde claro, a minha mãe sempre fez cachupa, sempre fez kongo, sempre fez Também és de Cabo Verde não?

O meu pai é..

Pois, conheces alguma coisa também, mas a minha mãe sempre fez, pronto eu também gosto bastante da comida Caboverdiana, gosto muito da comida Portuguesa e acho que em comparação com outras a comida portuguesa é a melhor, ahhh, não sei acho que secalhar porque sempre vivi com ela mas epá eu acho que sim acho que é mesmo a melhor

E em termos de identidade como é que tu descreves…

Essa é uma questão também barulho de crianças eu para alguns, eu para os de Cabo Verde sou Português mas eu para os daqui sou Caboverdiano, agora eu como é que me vejo, ahhh, eu vejo-me como um português que não se esqueceu de Cabo Verde apesar de nunca ter estado ter vivido nunca vivi em Cabo Verde estive sempre em férias o que é diferente de viver e o dia-a-dia e tudo mais gosto muito de Cabo Verde mas a minha vida é aqui, ahhh, houve uma altura que eu que eu pus a hipótese de ir viver para Cabo Verde quando terminasse o curso ia para Cabo Verde trabalhar mas mas depois também não houve depois procurei, houve uma altura que procurei a ver se havia mas claro também na minha área, na área de informática mas depois também não havia e eu também não é uma coisa que eu assim à aventura e vou e depois logo se também não faz muito o meu género, ahhh, e então acabei por ficar constituí família aqui, mas eu sou um português que não se esqueceu da sua raiz que não se esquece porque eu acho que para eu dizer que sou Caboverdiano o que contam mesmo um dos requisitos é eu ter vivido apesar de eu conhecer tudo ou quase tudo ou muita coisa da cultura Caboverdiana o que foi embutido pelo minha família e pela minha avó essencialmente nunca vivi e secalhar ao dizer que sou Caboverdiano secalhar é um bocado exagerado mas não ponho de parte a hipótese de um dia ir para por exemplo como os meus pais agora querem voltar para o meu pai se reformou a minha mãe ainda não se reformou mas pôs fez o pedido para a reforma querem voltar mas pronto eles veem de isto é aquele desejo natural e eu também como disse pensei nisso e ainda não pus de parte a hipótese de ir para mas vou com outros pensamentos os meus pais fizeram a vida toda e trabalharam a sua vida e agora vão ganhar os louros e pronto eu indo para agora pronto tenho que ir começar de novo e e não sei se será uma coisa muito fácil, não será com certeza é uma mudança a vários níveis e para quem toda a vida viveu aqui deve ser complicado como também seria complicado ir sei para a Irlanda como um casal amigo meu foram agora em Agosto para a Irlanda ele também é de informática como também para mim isso era muito difícil acho que seria mais fácil eu ir para Cabo Verde do que ir para outro, isto claro tendo uma perspetiva de continuar a trabalhar naquilo que eu gosto mas tendo que escolher entre um e outro mais facilmente escolheria Cabo Verde isso sim mais facilmente escolheria Cabo Verde, ahhh, porque porque eu estava perto da família na mesma porque tem aquela coisa da maneira de estar na vida que estava a dizer que gosto tem aqueles aspetos negativos também que eu disse mas também tem os aspetos positivos e eu isto obviamente tendo oportunidades num sítio e no outro eu não sei se olharia a questões financeiras isto porque em Cabo Verde vive-se melhor com pouco o que não acontece aqui ou um pouco pela Europa eu acho que em Cabo Verde as pessoas tem pouco mas aproveitam melhor aquilo que têm, ahhh, e pronto, eu acho que mais facilmente iria para sim.

Em termos de ensinamento o que é que sentes que foi transmitido, foi transmitido pelos teus pais e de certa forma vais tentar transmitir para os teus filhos ou não

Família, família, família, família, família é a base de tudo é, é ahhh, os laços familiares, a importância da família, a importância da mãe da hierarquia na família, saber o filho é o filho, o pai é o pai isso para mim é muito importante uma coisa que nós transmitimos aos nossos filhos é uma coisa que eu dou muita importância, é com eu disse sempre vivi com a minha avó, ela sempre viveu na minha casa e a minha avó era usado no final da vida estava muito velhinha , às vezes não dizia assim coisa com coisa mas era a minha avó era uma pessoa que viveu uma vida inteira que se sacrificou pelo meu pai pelas minhas tias e depois também me criou quer dizer a minha avó é um pessoa pode não estar na perfeita com a perfeita noção das coisas mas é uma pessoa que passou por muito por eu estar aqui hoje direta ou indiretamente passou por muito e por tanto pelo menos por isso nem que seja por isso devo-lhe respeito devo-lhe todo o meu amor todo o meu afeto porque é a avó, o pai é o pai e a mãe é a mãe e nós temos que respeitar isso e é uma coisa que sempre me fez confusão aqueles colegas que tratavam mal a mãe ou que tratavam mal o é uma coisa que como é que alguém eu pensava para mim como é que alguém consegue falar assim com a mãe não sei, epá eu acho que a família é muito importante, [não percebo (1:07:11)] porque é onde nós nascemos, é onde nós crescemos é onde nós nos tornamos pessoas, ahhh, e porque nós sozinhos qualquer que seja a família ahhh, a família também faz parte de nós seja biológica ou não aquela nossa família também é parte de nós porque faz parte daquilo nós somos e que vamos ser depois no futuro, ahhh por isso acho que e isso em Cabo Verde ainda existe aquela coisa da família dos dentes grandes como se costuma dizer tipo o pessoal mais velho os nossos velhos os nossos antigos os nossos anciãos ainda existe isso aquele respeito pela aquela coisa de pedir a bênção, ahhh, eu acho isso e de facto eles são o nosso exemplo, eles são o nosso exemplo e pronto falando na hierarquia va de família mas também na família mais alargada dos primos dos filhos deles quer dizer acho que tudo isso faz parte da nossa construção como pessoas eu acho que é muito importante e é isto que eu também tento embutir nos meus filhos que a família é muito importante risos

E em termos de influência, que pessoas é que te influenciaram ao longo da vida

A minha avó risos, eu sempre duas avós, os meus avôs nunca os conheci quando eu nasci um deles tinha falecido e o outro o pai do meu pai estava em Cabo Verde e quando fui a Cabo Verde ele tinha falecido portanto nunca cheguei a conhecer, as minhas avós a mãe do meu pai vivia connosco e a mãe da minha mãe vivia em Cabo Verde ela esteve esteve uns tempos connosco mas voltou para Cabo Verde, Portugal não era para ela e eu depois estive também e estive outra vez, outra vez portanto também aquela avó também conhecia e gostava muito obviamente mas vivi toda a minha vida com uma é a minha referência e os meus pais também são a minha também são referência para mim, ahhh, o meu pai tem muito aquele sentido de justiça de retidão isso para mim também é um exemplo, ahhh, e referências que eu vou buscar a Cabo Verde são da minha família sim, a minha família sim , ahhh, porque mesmo os meus tios, ahhh, mesmo os meus tios também tenho boas referências, ahhh por exemplo a questão da família aquela coisa de rever a família são os que tem muitos filhos eu tenho tios que têm muitos filhos para mim isso epá é sempre uma mesa cheia uma casa cheia isso também para mim também é influência, ahhh, também pode ser certa maneira também influenciou-me sempre vi que a família, mesmo sendo grande pode funcionar bem e felizmente a nossa risos é grande ou pelos menos aqui em Portugal é grande e funciona bem creio eu acho que sim

E amigos, grupos ou grupo de amigos como é que caracterizas

Olha os meus amigos hoje em dia tenho amigos de vários ambientes, tenho os amigos da rua, da rua onde vivem os meus pais, mas depois entretanto quando casei saí de e depois o contacto vai-se perdendo um bocado, ahhh, e depois maior parte casou ou vive fora dali mas pronto ainda tenho ali um grupo dos amigos da rua, os amigos da escola, os amigos da faculdade esses vou mantendo também algum contacto mas os amigos aqueles com quem eu tenho mais relação que estou com mais frequência e mais constante são aqueles amigos que eu conheci na igreja, ahhh, esses essencialmente são por exemplo aquele meu amigo que vive no Algarve, trabalha no Algarve e que vem ao fim de semana conheci-o também na igreja e é dos meus melhores amigos e aqueles com quem eu me dou mais são amigos da igreja , sim são amigos da igreja que conheci na igreja, mas vamos sair, vamos passar o fim de semana fora, frequentamos a casa uns dos outros mas sim hoje em dia é maior parte, maior parte são da igreja

E essa participação na igreja é uma coisa frequente, como é que nasceu, vem da família …

É, É, também veio da família, os meus pais são católicos, maior parte da minha família é sempre fui com eles, fiz o curso todo da catequese, ahhh, eu próprio, eu próprio também fui catequista até ao ano passado este ano fiz uma pausa as continuo a frequentar a igreja todas as semanas, os meus filhos estão na catequese, ahhh, e e isso também faz parte do meu percurso de vida, esta ida à igreja, ahhh, e pronto é frequente, é semanal, ahhh, eu também faço parte do coro, toco também, toco guitarra no coro e, e pronto faz parte de mim, faz parte risos

E o que é que sentes que a igreja acrescenta à tua vida?

O que é que acrescenta na minha vida? barulho de pessoas acrescenta-me talvez acrescenta-me paz de espirito acrescenta-me também o sentido de entreajuda aquele impulso para olhar para as outras pessoas com outros olhos, olhar para as outras pessoas essencialmente aquelas que precisam olhar e fazer algum coisa por outras pessoas acrescenta-me esse impulso para fazer para ir ao encontro e é aquela paz de espirito que eu estava a dizer, e acrescenta-me também o ahhh, às vezes é necessário também pensar, pensar na vida e pensa no nosso rumo, apesar de eu não fazer planos, planos daqui a não sei quantos anos não costumo fazer, mas pensar no nosso rumo e saber se este é o caminho, pelo menos pensar nisso se este é o caminho certo ou não e às vezes faz bem parar para pensar nisso e é uma coisa que faz bem olhar para dentro, olhar para dentro e perceber se é por , e estas interpelações também fazem e sempre fizeram parte da minha vida, ahhh, e sempre me impulsionaram também a dar outro passo a dar mais um passo em frente e essencialmente quando tropeço tomar a iniciativa para me levantar não ficar caído no chão e a igreja trouxe-me isso e mesmo que não me consiga levantar sozinho sei que tenho ali à minha volta aqueles que me podem ajudar a levantar e isso a igreja trouxe-me

E já aproveitando a seleção como é que te descreves como pessoa?

Eu sou, sou uma pessoa que, gosto de gosto de me relacionar com os outros, gosto ahhh, sou uma pessoa calma ahhh, sou às vezes sou otimista posso dizer que sou otimista eu acho sempre que as coisas vão correr bem às vezes, muitas vezes não vejo, não vejo o outro lado da medalha ah isto vai correr bem porque às vezes não vejo que pode correr mal mas sou uma pessoa positiva, sou uma pessoa positiva, sou sou mais o quê? Sou uma pessoa com quem se pode contar se estiver ao meu alcance sou uma pessoa com quem se pode contar porque acho que os amigos, mesmo que não seja os amigos mas aquelas pessoas que se conhece, se alguém me vem pedir ajuda e eu posso fazer então acho que devo fazer mesmo que não conheça a pessoa, se essa pessoa veio ter comigo secalhar foi por alguma razão podia ter ido ter com outras milhares de pessoas mas veio ter comigo e se eu posso fazer porque é que não hei-de fazer se eu posso vir à entrevista porque é que não hei-de vir risos, mas pronto acho que sim, sim

Que valores é que tentas transmitir aos teus filhos?

barulho de talheres Gratidão, a justiça, o da família que eu falei, ahhh, a partilha, isto dos irmãos, ahhh, claro eles também são todos miúdos, mas aquela coisa ah isto é meu, ah isto é meu, ah isto é meu não é teu não toca, tentar dizer é teu mas tu podes emprestar, podes partilhar, podes dar um bocadinho, podes isso entre irmãos é o essencial e depois também serve para a vida não entre os irmãos mas depois também com os amigos deles, com os colegas, mas tento, tento embutir-lhes creio que é muito importante, é muito importante esta relação com os outros, sozinhos não somos nada e eu acho que se nós damos não é que a gente esteja sempre a espera de um troco de qualquer coisa de recompensa, mas se nós damos eu acho que mais cedo ou mais tarde também vamos receber mesmo sem estarmos a contar com isso e secalhar no momento em que precisamos vamos receber eu acho que , acho que isso acontece, mas tem que partir de nós também aquele de dar e partilhar essencialmente partilhar, e partilhar pode ser muita coisa pode ser, não tem de ser uma coisa material pode ser o nosso tempo, dizem que o tempo é dinheiro mas às vezes não é dinheiro é o tempo é valioso e partilhar o tempo é, é muito importante enquanto que a partilha acho que é muito importante e eu tento embutir neles.

Agora em detalhe, eu preciso saber o ambiente do sítio onde nasceste.

Era um bairro normal português não havia muitos, os africanos que havia não eram muitos, eramos nós, era a minha tia que morava no mesmo prédio e tinha mais outros no rés-do-chão, depois era, havia mais alguns não eram assim ahhh, normal, pacato, brincávamos na rua todos, todos os miúdos juntos, jogar à bola no meio da estrada, sempre foi assim também não tinha muito trânsito, os meus pais, a minha tia e a minha avó tinham também uma horta ali perto e a gente às vezes ia para a ajudar os meus pais e não sei quê, apanhar as batatas, as cenouras e ahhh, mas pronto era, é um sitio, era no barreiro era um sítio onde gostava de viver porque porque se podia estar à vontade que não havias problemas, ahhh, depois mudámos de casa viemos para Corroios no passeio do Seixal, ahhh, também um sítio pacato também onde se podia jogar à bola na rua e suficientemente longe da confusão do centro da cidade mas suficientemente perto também de alguma coisa que no centro da cidade também era suficientemente perto, eles ainda vivem eu também entretanto quando casei mudei-me para a quinta do conde e o sítio onde moro também tem as mesma características também é um sítio sossegado na rua onde eu vivo na zona onde eu vivo mas que se eu pegar no carro ando 5 minutos e estou no centro de tudo é num sítio desses que eu posso viver eu não me vejo muito a morar em Lisboa, apesar de vir todos os dias para Lisboa venho trabalhar, mas não me vejo a viver em Lisboa porque acho que, não sei, não me risos, não tenho nada contra quem, contra quem mora em Lisboa e aliás está perto de muita coisa nem que seja de manhã para vir trabalhar. Tenho um colega que mora aqui ao lado, tenho um colega que apanha o metro e em 10 minutos está aqui também, portanto isso é uma grande vantagem, eu demoro uma hora e tal, uma hora, uma hora e dez a chegar aqui, é sempre uma vantagem

Vais sempre de carro, transportes…

Eu vou de carro até ao barco, porque entretanto vamos levar os miúdos todos à escola e tem mesmo que ser de carro senão, então vou de carro até ao barco e depois apanho o barco para Lisboa e depois é o metro ou autocarro até aqui, e sempre o fiz desde os tempos da faculdade aliás um ano antes de entrar na faculdade também comecei a trabalhar em Lisboa e comecei a vir todos os dias para Lisboa, apanhar o barco e tal, trabalhava ali na baixa depois comecei a ir para a faculdade foi também quando veio o comboio, o comboio da ponte comecei a vir de comboio para Lisboa de comboio e metro, ahhh, e pronto depois quando mudei de casa ainda viemos de comboio mas depois começámos a vir de barco também é mais barato mas pronto temos vindo, é assim em transportes públicos andar por Lisboa é de transportes públicos.

E queres-me falar de teres alguns exemplos de… como é que eu hei-de dizer… de amigos ou conhecidos que tenham passado por situações mais caricatas em relação ao facto de serem origem africana, podias-me contar algum episódio desses que tenhas conhecimento…

Sim. Eu tinha uma tia, ahhh, tinha duas tias que viviam num bairro de lata aqui na zona de Lisboa e eu as minhas férias ia passar , as férias do verão normalmente ia passar , era um sítio totalmente diferente de onde eu vivia mas que eu gostava muito de estar porque eu podia estar à vontade ali estava complemente à vontade podia fazer tudo o que quisesse tudo o que não podia fazer noutro sítio ali podia fazer, ahhh, estar à vontade, estar pronto, estar com os meus primos e com os amigos deles e correr tudo, mas uma coisa que eu sentia era que as pessoas eram alguém ali e tinha a sensação que as pessoas fora dali não eram nada não eram tidas em consideração na escola ou mesmo eu por exemplo eu uma coisa simples como ir a uma loja eu às vezes ia com os meus primos íamos a uma loja num sítio qualquer uma loja tratavam-nos como não sei aquilo fazia-me confusão, sentia sempre a sensação que não era bem-vindo ali, ali dentro daquele espaço, era tudo o que é que vocês querem, era logo o que é que vocês querem ah a gente quer um gelado ou a gente quer uma pastilha vinte escudos pronto e escudos pronto ainda me lembro da minha infância, ahhh, toma , quer dizer era assim mesmo parecia que não eramos desejados e dentro do bairro, ali pronto eramos alguém a gente chegava ao bairro o outro então tudo bem ei não sei quê nana, claro que também havia muita coisa que não era suposto acontecer, havia droga, havia armas, havia tiros à noite, havia a polícia que entrava em todo o bairro, havia essas coisas que não havia no sítio onde eu morava e eu isso eu sentia isso sentia que epá este aqui apesar de eu gostar de estar mas eu ia notando que ia acontecendo essas coisas e uma coisa é estar ali um mês de férias outra coisa é viver ali todo ano e é passar um inverno ali às vezes a chover dentro da barraca é coisas que eu não tinha a minha casa sempre foi eu morava num prédio normal e isso eu sentia que havia

E achas que isso era por seres contra o bairro ou contra as pessoas do bairro, ou seja, tinha a ver com o facto de as pessoas morarem naquele sítio ou o facto de terem origem africana… ou as duas coisas.

Epá, por acaso é uma questão interessante, ahhh, que toda a gente que vivia no bairro era de origem africana portanto eu não sei se dava para distinguir isso, não sei se dava para distinguir isso portanto e eu também estando com eles era mais um deles, pronto as pessoas nunca ninguém quer saber de a onde é que tu vens secalhar tem a ver com o ser de origem africana porque não sei isto digo eu porque estou a dizer agora porque nunca tinha pensado nisso porque eu estando com eles eu era mais um deles, ahhh, e não era do bairro, ahhh, mas eu, eu próprio mais crescido senti de algumas situações e nomeadamente com a polícia, ahhh, dessa, desse tratamento diferenciado e daquele preconceito preconceito na medida de é mesmo pré conceito da polícia olhar para mim e dizer-me logo tu és culpado e eu senti isso mesmo na pele, na pele literalmente e, e pronto é daqueles mesmo que a gente dá-se conta de pois isto não é um conto de fadas não é isto não é tudo não corre tudo bem sempre isto às vezes também acontece estas coisas não é na televisão aquelas coisas que a gente na televisão de ah pois claro isto aconteceu mas foi porque ele provocou e isso acontece, acontece mas nem sempre e eu tive esse exemplo em mim, eu tive esse exemplo em mim e mesmo com a própria polícia e, e ter a noção de que por ser de origem africana ter um tratamento diferenciado para pior, para pior e felizmente não foram muitos episódios mas os que foram ficaram marcados ali para não esquecer e para pronto ter mesmo a consciência as coisas acontecem, as coisas acontecem e é real um problema que é real

Assim sendo consideras Portugal um país racista, um país totalmente racista, como é que vês Portugal nas relações [não percebo 1:33:45]

Eu acho que sempre existiu, está eu também estou a falar mais das pessoas que sempre me rodearam que conviveram comigo, sempre existiu algum não sei se pode dizer racismo mas secalhar sim ou pelo menos preconceito nesse aspeto porque, por exemplo às vezes mesmo os meus colegas e amigos a gente se e está tudo bem volta e meia surge aquela piada ou aquela que que depois nota-se ali como é que eu hei-de explicar que depois dizem que ah não que não é que não é para ofender que não sei quê mas eu acho que não sei quê mas acho que tu não, mas tu não, mas tu não e eu fico assim quer dizer, ahhh, mas esse comentário também abona muito mas acho que existe sempre aquele, aquele preconceito, eu não sei se agora, acho que agora não é tão acentuado pelo menos é mais mascarado, pelo menos é mais mascarado mas acho que se notou mais foi mais ali mais vincado porque acho que agora nem tanto mas está assim um bocado em algumas situações está um bocado disfarçado acho que sim

E o que é achas que se poderia fazer para mudar isso?

O que é que se podia fazer? Sei , olha dar as mesmas oportunidades a toda a gente.

Mas novas oportunidades a que níveis?

Ahhh Por exemplo nós não vemos muito, muitas pessoas de origem africana em em profissões assim mais de destaque eu não é uma coisa que eu queira ter destaque como eu disse não tenho aquela ambição mas não mas não quer dizer que não haja pessoas que se candidatem la, eu acho que mesmo, eu acho que esse preconceito mascarado também passa por eu creio que sim, tenho uma cunhada portanto a irmã da minha esposa ela é muito ativista nessas coisas e lutar pelos direitos e ahhh, e ela sim ela tem montes de exemplos ela volta e meia, porque ela faz parte de associações cabo verdianas e associações africanas e não sei quê e está sempre ai no meio e ela volta e meia ela chega a casa um bocado sei chateada passada por coisas que acontecem e que às vezes eu penso sempre de uma maneira positiva eu sempre achei que isso não acontecia porque, porque não e ela diz não, não é porque não é porque não é porque não calhou é porque de facto fez-se para não calhar ela sim tem muitos exemplos disso de facto era preciso dar, ahhh, mais oportunidades, mais oportunidades a todos

E um sonho? Um sonho que tenhas e que gostava de realizar

Um sonho? Ahhh, ter uma família maior, risos, gostava de ter uma família maior é um sonho que eu tenho e que também tem a ver com a família, uma coisa mesmo pessoal que não vai mudar o mundo risos, mas eu sempre tive o sonho de um dia, um dia eu pudesse juntar toda a minha família, juntos mesmo tudo porque muitos que eu não conheço muitos que eu não conheço e que gostava de conhecer e porque acho que era importante pelo menos conhecer ter contacto saber que existe, juntar, juntar todos se não incomodar muito , risos, e é mesmo um sonho pessoal mas o sonho era uma família maior e era que eles pudessem crescer sempre todos em família, crescer ter um futuro e nuca perder de vista a família.

E é tudo obrigada.

This is the first translated utterance of the interviewer.

This is the first translated utterance of the interviewee.


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