Boa tarde! risos Ent: Diz-me… Idade?
Tem mesmo que ser??? risos. Trinta e cinco. Ent: Zona de residência?
Algueirão/Mem-Martins. Ent: Tipo de habitação? Apartamento, moradia ou…
Apartamento. Ent: Nivel de escolaridade?
33 risos. Bacharelato. Ent: Profissão?
Ahhh… o curso é técnica de turismo.
Número de irmãos?
Um.
A idade?
Dele? Trinta e quatro.
Estado civil?
O meu? risos Ou o dele?
O teu. risos
Casada.
Filhos?
Duas.
Escolaridade do pai?
Do meu pai? Elá, sei lá! Acho que era 4ª classe.
Mãe?
Mãe é 4ª. 4ª com upgrade para o 6º ano que ela fez o coiso… fez as novas oportunidades para o 6º ano.
Profissão do pai?
Hum… Deixa-me pensar… cantoneiro. Cantoneiro de limpeza da câmara…
Profissão da mãe?
Hummm?
E da mãe?
Ela era operária fabril, agora é desempregada ou doméstica.
Ok. Nacionalidade dos dois?
Caboverdiana.
Humhum. Ok. Vamos passar para a entrevista propriamente dita. risos
risos Isso está assim… não devia estar num papel? (sobre anotações)
risos Eu já sei as perguntas praticamente de cor, isso é só para não me perder muito… Ahhh! Escola. Vamos começar pelo teu percurso escolar. Como é que foi?
Devias ter preparado que eu assim ia pensando um bocado nisso…
Mas é mesmo para não pensares e sair na hora…
Como foi.. Como foi o quê? Se que correu bem? Foi… Acho que correu bem… Foi um percurso…
Onde é que estudaste na primária?
Na primária estudei na escola da Abrunheira. Ao pé de casa. Eu morava na Abrunheira. Depois na preparatória eles tinham a diferença e mandavam para a Tabaqueira foi o ciclo o 5º e o 6º. Depois foi fazer o secundário para a Abóboda, numa “terraca” em São Domingos de Rana.
Alguma vez reprovaste?
Não.
Nenhuma?! risos Quais eram as disciplinas de que gostavas mais?
Matemática. No geral não gostava de nenhuma risos... que eu não gosto de estudar, mas era matemática que me puxava mais.
E quais eram as que tinhas mais dificuldades?
Português.
Porquê?
Porque requer muita concentração risos. É português! Pelos verbos, pela necessidade de ter que construir os textos, pelos… aquelas coisas todas… expressar, basicamente.
E como é que eram os teus hábitos de estudo?
Sei lá, como é que eram os meus hábitos de estudo?!…
Isto é… Estudavas com muita frequência, com pouca frequência, antes dos testes…
Sim.. pelo menos os trabalhos… antes dos testes. Os trabalhos estavam em dia. Estudava com… de forma a ir aos trabalhos … fazia-os numa base diária. Estudar para os testes normalmente era na véspera.
E alguma vez tiveste ajudas para estudar?
Não.
Sempre sozinha?
Normalmente, sozinha, sim. Ou então depois no 10º ano é que tive as minhas colegas que entretanto fazíamos os estudos na biblioteca. Mas assim de… dos pais ou de algum lado… de alguma escola, ATL ou explicação… Ah! Não! Tive uma vez. Tive… éramos pequeninos. A gente estava a quê?!... Na preparatória, que tínhamos uma senhora onde a gente ia, tomava conta de nós e dava-nos explicações para as aulas. Mas, pronto…
E tiveste incentivo por parte de alguém para estudar ou não? Sempre foi…
Hummm… sempre foi o normal. Nada assim… tá feito! risos
Ahhh! Sempre quiseste fazer uma universidade ou… foi uma coisa que surgiu?
Não! Essa parte… essa parte sempre foi incentivo. Nunca tive o objectivo de ir para a faculdade. Depois como estava a dizer, o estudo não é o meu forte. Não gosto muito de estudar. Continuo a não gostar. Tem que ser mas, pronto, continuo a não gostar. Sou mais… gosto mais das coisas práticas. Mas depois o… o amigo da altura, o namorado da altura é que me incentivou e “vai, vai, vai!!!”… e pronto! Lá comecei a fazer o curso porque senão também não tinha ido e fui escolher um que era o mais rápido possível! Na altura era o de turismo, que era de três anos e não tinha muita média.
E porquê turismo?
Porque é o mais curto. risos Sim, por motivo nenhum em especial…
Se não tivesses escolhido turismo o que é que escolhias?
Tinha escolhido fisioterapia. Que inicialmente era fisioterapia, só que a média de físico-química estragava tudo. Não tinha média para entrar ali na escola de Arcos Hotel????? Então para não ficar sem fazer nenhum e ele “vai, vai, vai!!!!”… escolhi o de turismo, que era o mais rápido.
E como é que foi a transição do secundário para a Universidade?
Normal. Foi mais um ano de escola. Não achei assim muita diferença. Foi num sítio novo, novos colegas, novas disciplinas… não foi assim nada… não foi nem aumentar, nem baixar… mantive ali a minha média.
E a relação com os colegas e os professores durante o percurso todo, como é que foi?
Eles lá e eu cá sussurro. Sempre assim! Eu era muito introvertida, muito quietinha no meu canto. Não me chateiem que eu também não chateio ninguém! Foi sempre assim.
Tiveste algum professor que te marcasse ou não?
O professor de matemática do 10º ano e o de História… não me lembro dele… o de História do 9º ano. Eram os professores mais intensos. Os que gostavam mais de dar aulas. Mas que tivesse alguma relação próxima comigo, não! Foi mesmo pela maneira dele estar na aula.
E com os colegas foi sempre uma relação…
Sim..
Ainda manténs alguma relação com algum deles?
Do secundário, não. Da escola, sim. Da… Da faculdade tenho… mantenho com uma. Mas, ahhh… de resto, não. Com ninguém risos. Eu corto logo tudo! Cortava…
E com que idade é que começaste a trabalhar?
Comecei aos 17… 16/17 na Telepizza, em part-time. Depois entretanto comecei no curso, deixei. E depois, um ano e meio depois comecei… devia ter 19… 18 para 19, sim… epá!
E porquê?
Porquê?! Então porque já estava a acabar o curso, estava na altura de começar a trabalhar e só não comecei mais cedo porque comecei a estudar, comecei a fazer o bacharelato, senão tinha começado mais cedo. Mas essencialmente a questão monetária é que… então acabei o curso, comecei a trabalhar na área e pronto! Para aplicar aquilo que tinha aprendido, né?! E para ter uma profissão. E para ganhar dinheiro.
E como é que foi a experiência profissional? Desde o início mantiveste-te no mesmo emprego ou… houve períodos de desemprego, transição…?
Não! Ahhh, comecei naquele… pois, não houve. Comecei numa agência de viagens. Estive lá para aí um ano, que aquele tinha perspectivas que não ia ser… um emprego de longa duração, porque o próprio empregador estava a começar há pouco tempo tosse e também não tinha grandes perspectivas de vingar no negócio ou então da maneira como ele estava à espera. Então comecei a procurar outra coisa e a seguir fui-me embora. E agora estou neste emprego até hoje.
Humhum. E como é que foi a relação com os empregadores e com os colegas de trabalho?
Hum… tranquila. Acho que pode-se dizer que é tranquila. Os empregadores, pronto, né?! Naquele caso era directa, era uma relação directa porque eramos só quatro pessoas e era relativamente tranquila apesar de ele ser um bocadinho rezingão, não é?! risos Mas aí, eu respondia-lhe às vezes. Mas era normal! Era tranquilo. Era… Com este já trabalhei directamente com ele! Também não acho que seja assim nada problemática, mas também não é muito próxima nem é muito distante. É ao nível do trabalho e pronto!
E a que níveis é que o teu emprego é exigente?
É exigente a nível psicológico. Trabalha-se a nível psicológico… porque o que eu faço neste momento é… a programação, a programação na óptica do utilizador e os pedidos que eles fazem requerem que eu tenha conhecimento do que é que eles querem, de como é que eu vou dizer ao computador como é que aquilo se vai fazer. Requer essa parte. E torna-se cansativo, não é?! E depois aquilo pensamos uma vez, depois temos vários… várias contas onde temos que fazer aquilo e depois é sistemático, é muito rotineiro, é muito… é muito cansativo. Psicologicamente é muito cansativo.
Como é que concilias a vida laboral com a vida familiar?
É fácil! Eu saio de lá às cinco e entretanto já estou em casa. risos É o normal. Tendo um horário normal é o normal conciliar. As miúdas já são crescidas, elas já têm o horário da escola, portanto saímos e entramos mais ou menos à mesma hora. Pronto!
E hobbies? Tens tempo para hobbies?
Tenho! Tenho! Eu gosto muito de dançar! Agora tenho. Antes não tinha, porque elas eram pequeninas e eu estava sozinha. A mais velha principalmente. E também é outra idade. Eu nem pensava nos hobbies. Era “tenho que ter as coisas organizadas em casa” e ponto e final e o resto era conversa. Agora não. Agora já quero um bocadinho de tempo para mim e faço aquilo que gosto, que é dançar.
Fora dançar…
Hum?! 11: 35 -
Fora dançar… programas culturais, leitura ?!
Tenho que voltar. Com elas íamos ao teatro, mas infantil… mais… cinema, passear no shopping… mais… basicamente isso. Elas têm saudades de ir ao teatro. Tenho que ir ao teatro com elas. Concertos… alguns… infantis e não. E posso dizer que está variado…
Identidade? Como é que te vês risos em termos de identidade? Mais caboverdiana, mais portuguesa?
Acho que é uma caboverdiana portuguesa, porque a raiz em si eu tenho… esta cá, né?! Que eu gosto muito das danças deles, ahhh…
Mas tens nacionalidade portuguesa só?
Nacionalidade portuguesa só, sim. Eu nasci cá e já só tenho nacionalidade portuguesa tosse e tenho colegas meus, amigos meus de outros casais que nasceram depois de mim e houve uma lei qualquer que eles andavam aí a dizer que eles não podiam ser portugueses… foi o teu caso? sussurrado
Não. Foi em 80’s e tais, acho eu…
Mas eu não tive esse problema!
Foi em 82 mesmo…
Foi em 80 e… Pois, é isso!
Ou 81…
Hum?!
eu estive ali no limbo…
Pois! Tive um primo/filho do meu padrinho… ele acho que é caboverdiano. Nacionalidade caboverdiana porque eles não aceitaram que ele ficasse com a portuguesa. Mas eu sou portuguesa, nacionalidade portuguesa com as raízes caboverdianas. Tanto o meu pai como a minha mãe são os dois de São Nicolau, portanto é exactamente a mesma ilha, o mesmo sítio.
E como é que te sentes enquanto persona identitária? risos
É uma portuguesa caboverdiana risos. Portuguesa porque o meu português é português. Não falo crioulo. Também pela falta de influência. Porque os meus primos falam crioulo e falam menos bem o português do que eu, mas… depois a cachu…
E porque é que não falas crioulo?
Porque eles gozavam comigo e porque o meu pai faleceu depois muito cedo e eles deixaram… a minha mãe deixou de falar em casa som de telemóvel a tocar. Atende chamada
Estávamos na identidade…
Da identidade… acho que não há muito mais a dizer da identidade, né?! Porque… gosto das comidas. Gosto do povo. Viver lá, acho que não. Era preciso ter um emprego estável. Quer dizer, daí talvez… não sei! Não é uma realidade que eu tenha muito presente. A cultura em si, gosto! Portanto, é uma portuguesa com…
Que tradições é que a tua mãe mantém em casa?
Cachupa! risos Cachupa. Tínhamos o pilão, ela fazia o milho… e o tanque, pronto!
E já alguma vez foste a Cabo Verde?
Já! Fui…
Qual é que foi a tua impressão?
Ah! Eu era miúda! Achei aquilo um piadão! Aquilo era muita giro. Lá com os meus primos a nadar descalça de um lado para o outro, como eles andavam… com os meus avós, lá nas terras, lá nos montes, com os burros… aquilo era uma maravilha! Estávamos no campo! Estávamos no campo. Depois fui outra vez, mas já não fui para lá. Lá ainda não fui. Á terra dos meus pais ainda não fui de novo. Fui à Praia, mas fui também em trabalho, portanto é… é diferente. No fundo, não fui estar com as minhas raízes. Aí já não posso dizer nada. A experiência que eu realmente tenho de Cabo Verde na perspectiva da minha mãe e da vivência dela, era pequenina. Portanto, foi uma maravilha! risos
E… que pontos positivos e negativos é que achas que viver em Cabo Verde teria?
Positivos, é o bom tempo. Aquilo era uma maravilha! Está sempre sol e calor e quente. É estar perto da família, né?!, porque acaba por estar lá muita gente da família. Os meus avós ainda estão lá. Negativos… negativos, é um bocadinho difícil de dizer porque eu não conheço exactamente… na altura quilo era uma pobreza um bocadinho instalada. Viver lá agora com outra perspectiva, a trabalho… se calhar eu conseguiria ter uma casa relativamente boa… as condições neste momento são outras… não posso dizer ao certo que seria negativo, de todo. Por acaso, entre uns países, até não seria uma hipótese colocada de parte ir para lá. Mas penso que teria… lá está, ter um emprego, ter estabilidade… as condições que nós temos aqui, acho que já há lá. Já seria possível ter lá uma vida boa. Na altura que… na altura que lá fui talvez não. Mas também era uma miúda, adaptava-me de qualquer maneira. Neste momento, com filhos, seria de ver muito bem. Não sei.
E como é que vês a cultura caboverdiana e os caboverdianos?
Como é que eu vejo?! Depende dos sítios… Os badios são complicados! risos Mas são boas pessoas, que o meu tio é badio e ele é cinco estrelas. Os “são nicolaus” são mais fáceis de lidar, são mais fáceis de perceber, são afáveis, são boas pessoas também. São os que eu conheço! risos Mais… Sim?! Sim…
E… comparação com a cultura portuguesa? Quais achas que são as diferenças?
É a organização. Acho que eu diria que é a organização. Acho que o povo caboverdiano é um povo do “está tudo bem! Deixa andar!”, e os portugueses, não! Os portugueses, há determinadas coisas que eles gostam na hora, no rigor e como deve ser. E… isso é um ponto positivo! Não é?! Porque no “deixa andar, deixa andar, deixa andar”… as coisas não acontecem, né?! São essas as diferenças… Epá! Fazes perguntas complicadas! risos
risos E qual é a tua relação com a cultura portuguesa? Completamente…
Sim. Sinto-me portuguesa. Aqui é a minha casa. Aqui foi onde eu cresci. É… efectivamente sinto-me muito latina, né?! risos Gosto muito das coisas latinas. Tudo o que seja quente e para mexer, está óptimo. Ahhh, mas é assim: Portugal é Portugal! Já conheço muita coisa e gosto… é aqui que eu cresci, não há muito a dizer com… é a minha casa! Indo para fora volto para aqui! risos
Sempre foi assim? Nunca te sentiste desajustada em relação à cultura portuguesa?
Não! Talvez porque eu… eu praticamente cresci no meio da cultura portuguesa, né?! Houve ali uma altura, em pequenina, que sim, né?! Porque eles pela cor fazem a discriminação. E era só nessa altura que eu sentia que realmente poderia haver qualquer coisa, mas de resto sempre convivi com a cultura portuguesa muito mais do que o resto dos meus primos e nunca senti assim grandes problemas, né?! E… é a minha rotina, é a minha maneira de estar. Não vejo assim…
Pontos positivos e pontos negativos?
Cada pergunta complicada, caramba! De quê?
Da cultura portuguesa. risos
Da cultura portuguesa… pontos positivos, pontos negativos… Bem, eu nunca paro para pensar sobre estas coisas! risos Está lá, ponto!... Positivos e negativos da cultura portuguesa sussurrado… Não sabem gerir o dinheiro, é um ponto negativo… ahhhh! Os homens em geral têm um bocadinho a mania que eles é que sabem… ahhh, positivos! São atenciosos. Acho que até são atenciosos. São amigos… cultura portuguesa… em que sentido, cultura portuguesa? Aquela que eu conheço?
Desde a comida até ao modo de estar…
Ah! Isso sim! A comida é boa. Gosto do cozido à portuguesa, gosto da feijoada… A maneira de estar também é boa. Gostam de conviver. Gostam de estar em família também. Também são protectores… Hoje em dia são um bocadinho individualistas demais, pronto. Isso é os tempos que o requerem…
E… racismo, já alguma vez sentiste…?
Já! Sim! Principalmente em pequenina. Foi quando eu senti o pico. Talvez por aí eu ter sido tão introvertida. Aí sim, nessa altura o pico do racismo estava aí e era só ter a cor diferente, independentemente da idade, que era-nos logo apontado o dedo. E sim. No trabalho também, houve uma vez que senti, já a trabalhar, que se notava que havia ali na maneira de tratar, tanto que eu vim-me embora risos…, sim, sim.
E tens conhecimento de algum caso que tenha sido mais violento?
Não. Isso não. Não passou pelas minhas vistas.
Como é que descreves o racismo em Portugal? Uma forma de racismo…
Uma forma de racismo?
A forma de racismo dos portugueses?
Como é que… epá!!! Como é que eu descrevo a forma de racismo dos portugueses… Como é que se descreve o racismo? Como é que isso se descreve? risos É a discriminação, é olharem para ti de lado ou responderem-te, tratarem-te mal… sei lá! Como é que eu descrevo?! Já foi pior! Neste momento acho que já estão mais habituados a ver outras culturas, já há esta mescla de identidades e de pessoas… mas na altura era: tens uma cor diferente ou tens uma coisa diferente, és posto de lado! Era o virar as costas.
E viagens? Por onde é que já viajaste?
Olha, já fui à Hungria, já fui ao Brasil, já fui a Cabo Verde risos, já fui…. Aos Emirados! Pronto! Epá, tenho umas poucas de viagens!
E como é que vês… ou melhor, qual foi a viagem que te marcou mais e porquê?
Posso dizer que é esta última que para além de estar mais presente, foi lidar com uma cultura completamente diferente da nossa. E… o desconhecido!
A dos Emirados?
A dos Emirados, sim, foi a que me marcou.. mais… porque requer outro cuidado. Para além de ter ido também de viagem, mas entre aspas a trabalho, requer uma maneira de estar diferente. Para além da cultura, nossa, profissional… mas foi uma descoberta positiva, saber que afinal as pessoas podem ter uma maneira de estar, uma identidade completamente diferente da nossa e não deixarem de ser boas pessoas risos.
E em comparação com a cultura portuguesa, as culturas que conseguiste perceber noutros países… que comentários é que podes fazer?
Na cultura portuguesa volto para casa risos! Cada uma tem a sua maneira, né?! Uns mais liberais, outros menos liberais, outros mais no seu mundo… epá! Que pergunta mais complicada, outra vez! Bolas, pá! O que é que eu posso dizer em comparação… cada um no seu lugar, cada um com o seu respeito! Sei lá! O que é que queres saber? Faz uma pergunta um bocadinho mais clara! Estás-me a baralhar aqui as conversas…
risos Em termos culturais achas que Portugal tem uma maneira de estar mais aberta ou menos aberta do que outros países que tenhas visitado?
Ah! Depende do grau, né?! Se… Eu fui ao Brasil… o Brasil é muito mais aberto… Também é mais perigoso. Cabo Verde… Cabo Verde também um bocado fechado em termos da cultura homem-mulher, né?! Vamos falar dessa que é a mais fácil… Portugal acaba por estar aqui um bocadinho no meio, né?! Os Emirados uma pessoa já sabe, aquilo é fechado. Homens para um lado e mulheres para o outro. Portugal acaba por ser uma cultura ali no meio, né?! Nem muito aberta, nem muito fechada. Respeita para se respeitar, faz a tua vida e eu faço a minha também. Gosto tanto de Portugal! risos Portanto. Há um bocadinho de cada e cada um pode escolher… Pois, se calhar é isso, né?! Pode escolher aquele onde se identifica melhor sem grandes problemas. Isto, hoje em dia.
E… agora fala-me um bocadinho do sítio onde cresceste…
Olha, eu cresci na Abrunheira. Não se fazia nada. Não se via nada. E eu tinha que sair de lá para todo o lado de autocarro. E pronto!
risos Como é que era o ambiente de…
Familiar. Ali era um ambiente familiar. Aquilo é pequenino. Agora já está maior, mas na altura era pequenino. A gente ia para onde queria, quando queria, ali dentro daquele espaço, toda a gente nos conhecia… é uma aldeiazinha aqui ao pé de Sintra. Mais ou menos. Era simpática sussurrado.
Nunca houve confusões nem…?
Não sei. Se havia eu não dava conta risos. Sou muito quieta no meu cantinho risos.
A convivência com os vizinhos…
Era normal! Não há assim nada… Nem tou cá, nem tou lá, mas “boa tarde”, “bom dia”… Cordial! tosse
E amigos?
risos Nop. Amigos tenho agora… em crescida! Depois de quê… para aí a partir dos 20 e poucos anos é que comecei a ter realmente amigos. Para trás não posso dizer que tenha amigos porque eu era muito quietinha no meu canto. Não me toquem que eu também não faço mal a ninguém risos. Pronto!
E são de nacionalidades diversificadas ou tens tendência para mais homogéneas?
Tenho para… acabam por ser mais homogéneas! São praticamente os portugueses. Mas já tive assim mais ou menos meio termo… mas, lá está! Também dentro da mistura de portugueses com caboverdiano, mas… ahhh… basicamente são portugueses! Ou português ou com muita influência portuguesa risos.
E… planos para o futuro?
Neste momento não tenho. Não sei. Se queres que te diga, não sei. Para já, queria era as minhas filhas…
Como é que te vês daqui a 10 anos?
Como é que eu me vejo daqui a 10 anos? Não vejo. A sério, não vejo. Não vejo pela perspectiva de não saber onde é que eu vou estar amanhã quanto mais daqui a 10 anos… a nível de trabalho… a nível de família, sim. Acho que… Vejo-me com as minhas meninas crescidas, a terem o trabalhinho delas e vejo… vejo a… que estou orgulhosa do trabalho delas… A nível profissional, não faço a mínima ideia! Não planeio. Não tenho qualquer tipo de planos… dada a situação, né?! Não tenho. Não há grande perspectiva nesse aspecto.
Mas tens algum sonho em especial… ou não?
Dançar muito! risos Gostava… gostava de ter um espaço meu. Gostava de ter um negócio. Gostava de ter alguma coisa que interagisse mais com as pessoas. Ao certo, ao certo, não sei. Não sei o que poderia ser a melhor opção, mas gostava de ter algo que fosse realmente meu, construído por mim de raiz.
E achas que o teu percurso foi feito sem planeamento ou sempre houve…
Ah! Completamente sem planeamento risos. Sem planeamento nenhum. Nickles! Nada! Portanto, vai continuar assim! risos E tudo o vento levou…
E que valores é que trazes da educação dada pelos teus pais e que pretendes passar para os teus filhos?
Trago o respeito… ahhh, o carinho pela família… protecção… mais?!... a organização… a organização, não, porque eles não organizam… nem um pouco… pronto! Chega? risos
risos E…
Sei lá, pá! Quando é preciso eu digo estas coisas todas dentro do contexto, pá! Assim agora pensar sobre estas coisas é muito mais difícil risos
E manténs alguma tradição… por exemplo, fazes cachupa?
Não. Por acaso a minha mãe é que faz. E isto porquê? Primeiro nunca me dediquei a fazer (se calhar vou me começar a dedicar). O XXXXX já fez! Quem cozinha lá em casa é ele, portanto ele já pegou nessa tradição. E depois porque é um prato que rende sempre muito, portanto, normalmente é a minha mãe que faz e a gente depois traz para casa. A gente traz um bocadinho da tradição! tosse PARTE 2
Bom dia!!!
risos Fala-me um bocadinho da tua relação com o teu irmão… (é irmão, né?!)
É uma relação normal risos Nós andámos em escolas diferentes, mas tínhamos a nossa relação de irmãos, né?! Protecção e amor-ódio, como sempre. Era… somos amigos, mas discutimos muito e… mas precisa…
Mas houve alguma influência dele?
Não. Dele não. A gente acabou por ter percursos diferentes e acábamos por não ter nem eu no dele, nem ele no meu. Não.
Nem nunca estudaram juntos, nem…
Não! Estudar juntos o quê? Em casa, por exemplo?
Humhum.
Em casa, sim. Umas quantas vezes. Principalmente em… para aí no 5º e no 6º ano. Mas depois a partir daí cada um estudava mais ou menos o seu, né?! Porque ele gostava de estudar e eu não, portanto… além de que ele não precisava de estudar muito e eu precisava risos. Ou melhor, eu precisava de me concentrar mais e ele não. Ele aprendia tudo muito rápido, portanto…
E se tivesses que te descrever como pessoa… pausa... se tivesses que te descrever como pessoa como é que te descrevias?
Pronto, vês?! Agora… Simples e resumida. Prática! Sou uma pessoa prática risos
Qualidades e defeitos?
Qualidades e defeitos. Qualidades: sou simpática, gosto das outras pessoas. Defeitos: sou teimosa, sou persistente (acho que às vezes é um defeito), quero as coisas todas para ontem, e… não planeio. risos Falta de controlo e de organização em algumas coisas. Ahhh… isso é mais giro quando é os outros a classificar, quando somos nós é difícil risos.
Ahhh… Se tivesses que ter uma profissão de sonho, qual seria?
De sonho… mesmo assim de sonho… rica! risos
risos Isso não é profissão!
Uma profissão de sonho?! O que eu gostava de ser era fisioterapeuta, mas não sei se posso considerar uma profissão de sonho, porque requer muito trabalho.
E porque é que gostavas de ser fisioterapeuta?
Esta foi influência de um trabalho que eu tive em que a senhora precisava de fisioterapia e o alívio que a fisioterapia dava à senhora, foi o que me fez interessar pela profissão. Seria uma profissão em que eu pudesse dar algum alívio às pessoas. Então olha, voltei! Fisioterapia! risos Seria de ajudar os outros a integrar na vida outra vez depois de um mal.
Agora vou-te fazer uma pergunta um bocadinho indiscreta… mas se não quiseres responder, não precisas responder. Queria saber com que idade é que o teu morreu… ahhh, com que idade é que tu tinhas… que idade é que tu tinhas quando o teu pai morreu?
Tinha 11. 11/12.
E isso foi um momento traumático ou… na tua vida?
Ahhh, lá está! Mais uma vez não pensei muito nisso, porque foi… foi um momento traumático porque perdi o meu pai, mas ao mesmo tempo ele não era o melhor modelo de pai, né?! Ele era exigente, não estava presente, e pronto… Depois, às vezes, muitas das vezes em vez de nos dar o melhor, o melhor era para ele. Típico homem machão! Ao mesmo tempo foi traumático porque ele não estava presente e a gente poderia até estar melhor… foi um alívio, às vezes. É mau! Mas às vezes, sim. Porque a nossa vida seguiu um rumo diferente. Não sei como é que seria o rumo com ele, mas pelo que eu me lembro não seria fácil. Então… foi mau e… era o que tinha que ser! 04.29 -
E nessa altura, estavas a iniciar o preparatório…
Estava, estava. Estava a iniciar o preparatório, sim.
Não sentiste nenhum desfasamento em termos de notas…?
Não sei! Se queres que te diga, não sei. Do que eu me lembro dessa altura, eu já era assim já vindo da primeira classe, portanto, presumo que não. Eu sempre fui uma aluna média. Mantive-me sempre assim. Nem no meu irmão, né?! O meu irmão tinha… ele era mais dado à escola e tinha melhores notas que eu e ele também não… não foi assim tão abaixo como isso. O nosso pilar era a minha mãe! E é a minha mãe! E ele não… fez diferença, mas não fez aquela diferença porque ele não era um pai… pai, pai presente… era um pai… era uma figura masculina da família, mas não era um… não nos acompanhava da mesma maneira que a minha mãe acompanhava, portanto… não teve esse impacto.
E já agora, a tua mãe era pessoa de perguntar pelos trabalhos de casa?
Não!
De ir às reuniões escolares?
Isso ia. Isso ia às reuniões escolares saber como é que nós estávamos. “Está tudo bem, óptimo, maravilha!” Mas não era de perguntar pelos trabalhos. Confiava que nós tínhamos as coisas feitas, e pronto! Via as notas no final.
E incutia essa necessidade de estudares pelo menos até ao 12º ou sempre foi uma coisa que…?
Foi uma coisa que ela teve sempre à espera que nós fizéssemos. Nunca foi uma coisa que eu… pelo menos que eu me recorde, né?! Porque as minhas memórias também são um bocado evasivas. Mas não me lembro dela ser uma pessoa a dizer “Tem que ser! Tem que ser! Tem que ser! Tem que ser!” Ela na… Mesmo para o curso… disse “Ah! Eu gostava que… mas se não fizerem…”. Não era mais influência nesse aspecto. Queria que nós vingássemos e estivéssemos bem! Mas com as nossas escolhas também. Porque ela depois ao mesmo tempo também era sozinha, não tinha muito, portanto, era o que a gente pudesse fazer.
Hum… E está tudo!
Ehhhh!!!
risos Obrigada!!!