PESSOA

 

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[Título principal]: edição digital

AuthorFernando Pessoa
TitleParte II. Odes e outros poemas inéditos ou publicados postumamente
IncipitDeixemos, Lídia, a ciência que não põe

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XXVIII Deixemos, Lídia, a ciência que não põe Mais flores do que Flora pelos campos, Nem de Apolo ao carro Outro curso que Apolo.

Contemplação estéril e longínqua Das cousas próximas, deixemos que ela Olhe até não ver nada Com seus cansados olhos.

como Ceres é a mesma sempre E como os louros campos entumesce E os cala pràs avenas Dos agrados de .

como com seu jeito sempre antigo Aprendido no orige azul dos deuses, As ninfas não sossegam Na sua dança eterna.

E como as hemadríades constantes Murmuram pelos rumos das florestas E atrasam o deus Na atenção à sua flauta.

Não de outro modo mais divino ou menos Deve aprazer-nos conduzir a vida, Quer sob o ouro de Apolo Ou a prata de Diana.

Quer troe Júpiter nos céus toldados, Quer apedreje com as suas ondas Neptuno as planas praias E os erguidos rochedos.

Do mesmo modo a vida é sempre a mesma. Nós não vemos as Parcas acabarem-nos. Por isso as esqueçamos Como se não houvessem.

Colhendo flores ou ouvindo as fontes A vida passa como se temêssemos. Não nos vale pensarmos No futuro sabido

Que aos nossos olhos tirará Apolo E nos porá longe de Ceres e onde Nenhum cace à flauta Nenhuma branca ninfa.

as horas serenas reservando Por nossas, companheiras na malícia De ir imitando os deuses Até saber-lhe a calma.

Venha depois com suas cãs caídas A velhice, que os deuses concederam Que esta hora por ser sua Não sofra de Saturno

Mas seja o templo onde sejamos deuses Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios, Nem precisam de crentes Os que de si o foram.


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