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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Tirem-me os deuses

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XXXVII Tirem-me os deuses Em seu arbítrio Superior e urdido às escondidas Amor, glória e riqueza.

Tirem, mas deixem-me Deixem-me apenas A consciência lúcida e solene Das cousas e dos seres.

Pouco me importa Amor ou glória. A riqueza é um metal, a glória é um eco E o amor uma sombra.

Mas a concisa Atenção dada Às formas e às maneiras dos objetos Tem abrigo seguro.

Seus fundamentos São todo o mundo, Seu amor é o plácido universo, Sua riqueza a vida.

A sua glória E a suprema Certeza da solene e clara posse Das formas dos objetos.

O resto passa, E teme a morte. nada teme ou sofre a visão clara E inútil do Universo.

Essa a si basta, Nada deseja Salvo o orgulho de ver sempre claro Até deixar de ver.

8-6-1915

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