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teste_1_RR-Três Odes

[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Não só vinho, mas nele o olvido, deito

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Três odes Não vinho, mas nele o olvido, deito Na taça: serei ledo, porque a dita É ignara. Quem, lembrando Ou prevendo, sorrira? Dos brutos, não a vida, senão a alma, Consigamos, pensando; recolhidos No impalpável destino Que não espera nem lembra. Com mão mortal elevo à mortal boca Em frágil taça o passageiro vinho, Baços os olhos feitos Para deixar de ver.

13-6-1926

Quanta tristeza e amargura afoga Em confusão a estreita vida! Quanto Infortúnio mesquinho Nos oprime supremo! Feliz ou o bruto que nos verdes campos Pasce, para si mesmo anónimo, e entra Na morte como em casa; Ou o sábio que, perdido Na ciência, a fútil vida austera eleva Além da nossa, como o fumo que ergue Braços que se desfazem A um céu inexistente.

14-6-1926

A nada imploram tuas mãos coisas, Nem convencem teus lábios parados, No abafo subterrâneo Da húmida imposta terra. talvez o sorriso com que amavas Te embalsama remota, e nas memórias Te ergue qual eras, hoje Cortiço apodrecido. E o nome inútil que teu corpo morto Usou, vivo, na terra, como uma alma, Não lembra. A ode grava, Anónimo, um sorriso.

Maio 1927


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