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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Seguro assento na coluna firme

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Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico. O criador interno movimento Por quem fui autor deles Passa, e eu sobrevivo, não quem Escreveu o que fez. Chegada a hora, passarei também E os versos, que não sentem Serão a única restança posta Nos capitéis do tempo.

A obra imortal excede o autor da obra; E é menos dono dela Quem a fez do que o tempo em que perdura. Morremos a obra viva. Assim os deuses esta nossa regem Mortal e imortal vida; Assim o Fado faz que eles a rejam. Mas se assim é, é assim.

Aquele agudo interno movimento, Por quem fui auto deles Primeiro passa, e eu, outro do que era, Póstumo substituo-me. Chegada a hora, também serei menos Que os versos permanentes. E papel, ou papiro escrito e morto Tem mais vida que a mente.

Na noite a sombra é mais igual à noite Que o corpo que alumia.

29-1-1921

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