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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Mestre, são plácidas

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I Mestre, são plácidas Todas as horas Que nós perdemos, Se no perdê-las, Qual numa jarra, Nós pomos flores.

Não tristezas Nem alegrias Na nossa vida. Assim saibamos, Sábios incautos, Não a viver,

Mas decorrê-la, Tranquilos, plácidos, Tendo as crianças Por nossas mestras, E os olhos cheios De Natureza

À beira-rio, À beira-estrada, Conforme calha, Sempre no mesmo Leve descanso De estar vivendo.

O Tempo passa, Não nos diz nada. Envelhecemos. Saibamos, quase Maliciosos, Sentir-nos ir.

Não vale a pena Fazer um gesto. Não se resiste Ao deus atroz Que os próprios filhos Devora sempre.

Colhamos flores. Molhemos leves As nossas mãos Nos rios calmos, Para aprendermos Calma também.

Girassóis sempre Fitando o sol, Da vida iremos Tranquilos, tendo Nem o remorso De ter vivido.

12-6-1914

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