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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Os deuses desterrados,

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X Os deuses desterrados, Os irmãos de Saturno, Às vezes, no crepúsculo Vêm espreitar a vida.

Vêm então ter connosco Remorsos e saudades E sentimentos falsos. E a presença deles, Deuses que o destroná-los Tornou espirituais, De matéria vencida, Longínqua e inativa.

Vêm, inúteis forças, Solicitar em nós As dores e os cansaços, Que nos tiram da mão, Como a um bêbado mole, A taça da alegria.

Vêm fazer-nos crer, Despeitadas ruínas De primitivas forças, Que o mundo é mais extenso Que o que se e palpa, Para que ofendamos A Júpiter e a Apolo.

Assim até à beira Terrena do horizonte Hiperion no crepúsculo Vem chorar pelo carro Que Apolo lhe roubou.

E o poente tem cores Da dor dum deus longínquo, E ouve-se soluçar Para além das esferas

Assim choram os deuses.

12-6-1914

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