PESSOA

 

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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Não como ante donzela ou mulher viva

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XXIII Não como ante donzela ou mulher viva Com calor na beleza humana delas Devemos dar os olhos À beleza imortal.

Eternamente longe ela se mostra E calma e para os calmos adorarem Não de outro modo é ela Imortal como os deuses.

Que nunca a alegria transitória Nem a paixão que busca porque exige Devemos olhar de néscios Olhos para a beleza.

Como quem um Deus e nunca ousa Amá-lo mais que como a um Deus se ama Diante da beleza Façamo-nos sóbrios.

Para outra cousa não a dão os deuses A nossa febre humana e vil da vida, Por isso a contemplemos Num claro esquecimento.

E de tudo tiremos a beleza Como a presença altiva e encoberta E o longínquo sorriso De quem assiste à vida.

11-8-1914

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