PESSOA

 

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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Só o ter flores pela vista fora

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Última Ode o ter flores pela vista fora Nas áleas largas dos jardins exatos Basta para podermos Achar a vida leve.

De todo o esforço seguremos quedas As mãos, brincando, pra que nos não tome Do pulso, e nos arraste. E vivamos assim,

Buscando o mínimo de dor ou gozo, Bebendo a goles os instantes frescos, Translúcidos como água Em taças detalhadas,

Da vida pálida levando apenas As rosas breves, os sorrisos vagos, E as rápidas carícias Dos instantes volúveis.

Pouco tão pouco pesará nos braços Com que, exilados das supernas luzes, Escolhermos do que fomos O melhor pra lembrar

Quando, acabados pelas Parcas, formos, Vultos solenes de repente antigos, E cada vez mais sombras, Ao encontro fatal

Do barco escuro no soturno rio, E os nove abraços do horror estígio, E o regaço insaciável Da pátria de Plutão.

16-6-1914

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