PESSOA

 

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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo.

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Não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo. Tu não és mais que um deus a mais no eterno Panteon que preside À nossa vida incerta.

Nem maior nem menor que os novos deuses, Tua sombria forma dolorida Trouxe algo que faltava Ao número dos divos.

Por isso reina a par de outros no Olimpo, Ou pela triste terra se quiseres Vai enxugar o pranto Dos humanos que sofrem.

Não venham, porém, estultos teus cultores Em teu nome vedar o eterno culto Das presenças maiores E parceiras da tua.

A esses, sim, do âmago eu odeio Do crente peito, e a esses eu não sigo, Supersticiosos leigos Na ciência dos deuses.

Ah, aumentai, não combatendo nunca. Enriquecei o Olimpo, aos deuses dando Cada vez maior força Pelo número maior.

Basta os males que o Fado as Parcas fez Por seu intuito natural fazerem. Nós homens nos façamos Unidos pelos deuses.

9-10-1916

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