PESSOA

 

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[Título principal]: edição digital

Fernando Pessoa
Cedo de mais vem sempre, Cloe, o Inverno.

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Cedo de mais vem sempre, Cloe, o Inverno. É sempre prematuro, inda que o espere Nosso hábito, o esfriar Do desejo que houve.

Não entardece que não morra o dia. Não nasce amor ou em nós que não Morra com isso ao menos O não amar ou crer.

Todo o gesto que o nosso corpo faz Com o repouso anterior contrasta. Nesta circunstância Do tempo eternos somos.

sabe da arte com que viva a vida Aquele que, de tão contínua usá-la, Furte ao tempo a vitória Das mudanças depressa,

E entardecendo como um dia trópico, Até ao fim inevitável guie Uma igual vida, súbito Precipite no abismo.

7-7-1919

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