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Maarten Janssen, 2014-

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1741. Carta do frei Francisco de Assis, padre, para Maria Antónia da Encarnação.

Author(s)

Francisco de Assis      

Addressee(s)

Maria Antónia da Encarnação                        

Summary

O autor faz à sua amante uma série de recriminações sobre a maneira como ela o tratara.

Text: -


[1]
Ma rica manna bem sabia eu q a ma auza havia de motivar todas estas cautellas, e perigar mto toda a ma vida; pois adverti, q ja da-qui pa diante de Dz, contra vóz clamo mil justiças, se acazo uzais commigo deste modo, ou por respo de outrẽ, ou por não quereres, q eu acabe o anno;
[2]
bem sei, e não ignoro, q mto mal voz tenho servido;
[3]
porem asim como he nada bom o criado q atura seu amo sequer anno, na mesma forma o he o amo pa com o criado.
[4]
por repetidas vezes voz tenho relatado a ma vida, queixoso do q tenho experimentado, como sentido voz tenho referido;
[5]
e nesta forma haveis de entender, qe se me engana-res, sabei, q he por tolo, nem ignorante, sim plo natural, q Dz foi servido darme,
[6]
e este a contrafazem nem letras, nem sciencia;
[7]
Verdadeiramte, q cada vés, q pego em hua carta vossa me treme o coração, esperando ver nella qd me dizeis, q escuze de mais vos escrever;
[8]
porem discurrendo eu nestas cautellas, q tanto me recomendais, e aconselhandome, q viva descansado porq vós sabeis de mim, e eu de vós; e q sabemos o q tem no outro;
[9]
ah ma rica Ma e qm sou-bera agora o q nesse coração, como piqueno mdo, vai agora;
[10]
Sempre eu ouvi dizer serem os homens os q das molheres zombavä, e será possivel, q eu seja, a exseçä, e avezo disto. q seja eu o excezivo, e por isso mesmo o desprezado!
[11]
o será; mas a sello ah Dz do Ceo!
[12]
digo nada; nem o q agora me ocurria,
[13]
mas tambẽ me acho com o animo, de q a succeder tal, o q Dz por qm he premita; tenho animo pa obrar, o q jámais se ouviria.
[14]
eu ma ma escuzava proporvos à lembrca; o q por vós tenho deixado,
[15]
e pareçe q asim como vós quereis, q eu sempre tragua na ma memoria, o q jámais della se me apparta, os excessos, q em vós devizeis reciprocamte o diveis vóz tambẽ recor-dar, lembrandovos, de q todos os meus extremos forä derigidos pa todo o vosso bem sem mais fim algum; q estes próz motivassẽ emqto Dz voz conservar a vida e reconheceresme, por qm em vóz com vida, alma, coraçä e todas suas potencias se empregou em cuidar em vós, e por vós deixou Pai, irmãs, parentes, e tudo o mais q so por Dz se chega a fazer;
[16]
e nesta forma mto tendes vós em q vos firmares na ma estabilide, e firmeza, qd por tantas vezes me tendes repetido, q estais toda sra do meu genio, conhecendome mto bem o meu natural;
[17]
emfim, baste o dizervos, q nesta vida que-ria mais, q a vossa vontade, no q estou, e estarei emqto Dz for Dz, sendo outra, q a q na preza do mesmo Sr me afirmastes.
[18]
E eu, q nunca cuidei mas antes cuidei sempre em mim pa em a minima accä, voz dar a enteder em nenhũ tempo, q de vós desgustei e pa vos deixar, sei, sei verdadeiramte q diga a Dz
[19]
fico no q me dizeis, q he tudo pa cautela;
[20]
e por tudo o q me dizeis estou e fico tanto, como vereis na inalteravel obediencia, com q cumpro, e exsecutarei tudo qto me mandares;
[21]
vão as cartas todas; e fazei o q quizeres, ja q foi Dz N Sr servido, q chegasseis a dominar
[22]
, e possuir hua vontade, q soube mais, q thé os ultimos dias por vós
[23]
Por hora não voz digo maiz, senão, q estimara de cada vez mais adevinharvos o pensamto pa em tudo voz fazer a von-tade em forma, qe sempre vivesseis com a maior consolação;
[24]
este he, e ha de ser todo o meu designio, e dezo, queira Dz q encontre eu o mesmo,
[25]
e qdo não se for disgraça ma toda a ma vida o chora-rei.
[26]
Remetovoz a folhinha, e tambẽ esses seis vinteis, q por me mandares pedir nada voz remeto mais.
[27]
O Vosso, q por morte deixará de o ser o mesmo sem a minima mudança.

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