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Maarten Janssen, 2014-

Sentence view

[1793-1794]. Carta de [Maria Francisca de Almeida] para o primo, [frei José de Santa Ana Rocha, irmão leigo].

SummaryA autora exprime o seu amor pelo destinatário e conta como algumas cartas que este lhe enviara haviam sido descobertas pela mãe e pela irmã; jura-lhe obediência garantindo que não voltará à casa da prima.
Author(s) Maria Francisca de Almeida
Addressee(s) José de Santa Ana Rocha            
From Portugal, Lisboa
To Portugal, Lisboa, Convento de São Francisco da Cidade
Context

Processo relativo a Frei José de Santa Ana Rocha, religioso do Convento de São Francisco da Cidade, em Lisboa.

De acordo com as denúncias enviadas ao Ministro Provincial da Ordem de São Francisco, Frei José de Santa Ana Rocha andava esquecido do temor a Deus e da modéstia religiosa, dirigindo publicamente palavras injuriosas a certo indivíduo, sendo suspeito de alguns furtos, embriagando-se com frequência e mantendo relações ilícitas com certas mulheres, com quem se "correspondia amatoriamente" e a quem acenava do mirante. No seguimento destas denúncias, a 10 de dezembro de 1794, passou-se busca à cela do denunciado, onde, para além do objeto dos furtos, foram encontradas "nove cartas amatórias e lascivas de certas mulheres, com as quais andava infamado".

Conforme disposição de 15 de dezembro de 1794, Frei José de Santa Ana Rocha ficou recluso, “ad custodiam”, na casa de penitência, procedendo-se, em janeiro de 1795, à inquirição de testemunhas. A propósito da correspondência com mulheres, a maioria dos membros do convento declarou desconhecer facto algum, embora uns poucos tenham assinalado que Frei José se gabava, com bazófia, daquele feito. Em sua defesa, Frei José declarou que guardara na sua cela cartas de parentes e de um secular, mas negou perentoriamente que as cartas amatórias fossem suas, dizendo não existir nenhum fundamento para que lhe fossem atribuídas. Adiantou ainda que, dada a sua condição e o voto de pobreza a que era obrigado, não tinha forma de conservar semelhantes relações, uma vez serem fundadas em dádivas pecuniárias.

Nesse mesmo ano, a 19 de outubro, Frei José fugiu do convento, o que lhe valeu o título de apóstata, bem como a excomunhão.

Support meia folha de papel dobrada escrita em ambas as faces do primeiro fólio e no rosto do segundo.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Ordem dos Frades Menores
Collection Província de Portugal, Convento de São Francisco de Lisboa
Archival Reference maço 19
Folios 15r e 16r
Online Facsimile http://www....
Transcription Ana Leitão
Main Revision Rita Marquilhas
Standardization Catarina Magro
Transcription date2017

Text: -


[1]
Meu querido
[2]
primo deste felis coração unica prenda dos meus sentidos amor do meu coração graças a deos q ja tive este bocadinho de tempo para lhe escrever pois heram tantas as suadades que ja não podião ser mais
[3]
agora lhe digo u mutivo porque não tinha escrevido porque a primeira carta que me mandou u meu mano foi neçe dia humas estoras
[4]
i atam a minha mai i achoulha doutra carta que vmçe me tinha mandado
[5]
a minha mana ahouma
[6]
eu tudo tirei das algibeiras
[7]
meu querido primo quando me escrever mandeme letra didumudada para quando a m aichare não cudademrem que he leitra sua
[8]
eu hei de fazer todos os emposives por ela mas não aschar nem a minha mana
[9]
da mesma sorte meu querido primo eu ja não vou a caza da minha thia nem quando la estiver velho nen quando não estiver la porque não cero faltar os seus perseitos pois antes que he primo sempre cero eu não faltar os seus parseitos
[10]
tambem cero que me diga o que se lhe sodeu naquela sesta feira porque vmçe podeme udenar porque eu sou prima
[11]
tud quanto me diser i eu puder servilo estou pronta para izicutar todos os seus perceitos
[12]
com isto não emfado mais
[13]
desta sua prima que mto venera i respeita dentro do meu coração Do meu querido primo Do meu amor Do unica prenda do meu coração Do disvelos dos meus sintidos
[14]
ai quem tivera meu querido primo a dita de lhe poder falar pois so com hela he que u meu coracão teria aqgum bocadinho de alivio i de comsotação pois vejo me me de tale sorte que não tenho algria senão quano vejo a vmçe
[15]
mais eu espero em deos noco senhor que ainda hei de teer o alivio de lhe falar quando a minha mai for fora
[16]
Ds Ds que ja não tenho mais tempo
[17]
não Repariares meu querido nestas minhas cartas serem serem tam delatadas mais he porque ja nao vem a minha thia as noites ca para baixo
[18]
tu biem sabes que eu não poço dar resposta para tantas vezes para amor de a minha mana porque me handa vigiando

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