Miguel escreve à sua irmã a justificar a ausência de notícias, de que ela se queixara em carta anterior.
Irmam
Muitto me cativou o pordes vós tudo
em primeiro Lugar na mão de Deos, e
depois na minha; e não esperava
eu menos de vosso bom juizo,
porq
do q
vos quero bem podieis fiar o ne
gocio, e Remetelo á minha vontade
porq bem podeis ter ainda experi
ençia
q sempre foi de vos agradar;
e
q se pode o tempo , e a occazião por
difficultoza, e como tal menos açer
tada violentar o dezejo contudo
não pode acabar o amor
mormte
sen
do fundado em nó tão estreito
e
vinculo tão apertado de sange assim
q se o amor he o mais; e este não pode
faltar não
tendes Rezão alguma
de queixa, nem de moLestia e
mais quando sabeis que
não há em
mi falta de gosto; mas impossibili
dade por Rezão das
mtas
q sabeis, e
as couzas
q se fazem sem conside
ração ao depois de
feitas choramse
sem Remedio; e não imagineis, que
estais fora de minha
Lembrança nem
q me acovarda o possuhir pouco pera
por essa
Rezão deixar de satisfazer
áquele negocio
porq vos affirmo passa tudo pello
contrario, porq bem de
veis vós entender os
encargos delle e o q eu sentiria quando tivesse
effeito
vervos sem os beis q vos havia de
dezejar forsosamte assim
q vós estais
em
mto bom estado; e eu a menos como sempre e
mais ainda; e como em mi
vive o amor tão firme, não pode faltar o cuidado
de vos hir ver tanto, q ti
ver ocasião, (q pode ser seja cedo) e de vos acudir, e
amparar do milhor modo
q o tempo, grande mestre d tudo, der Lugar;
porq em breve se experimẽ
tão nele
graves mudanças, e o q hoje hé impossivel amenham
hé difficultozo
e noutro dia mto facil; e
com isto viveis com alegria, e vos não de cuidado couza
alguma, sequer por
não molesendes a quem vos quer e dezeja tanto
Lxa
16 de
Agosto de 665
Irmão Migel