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Maarten Janssen, 2014-

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1614. Carta de Bárbara Pimentel de Leão para Fernão Rodrigues, cura de Santa Justa.

Author(s)

Bárbara Pimentel de Leão      

Addressee(s)

Fernão Rodrigues                        

Summary

A autora, que no envelope endereça a carta a um João Gonçalves, pasteleiro, para ocultar o verdadeiro destinatário, relata uma viagem que fez a Paris e denuncia vários portugueses que se encontram em Ruão e se converteram ao judaísmo, pedindo ao destinatário que lhe envie precatórios para os mandar prender.

Text: -


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[1]
pelo amor de ds peso a VM fasa niso como lhe mereso, e como quem o fas a hũa orfã, e desemparada, em terras alheas,
[2]
e prometa VM a ese homẽ e tudo o que bem lhe pareser que o que VM fizer averei por bem feito,
[3]
e lembro a VM que mister ter mto semtido em graviel ribeiro porque o dia que tiver dro não a de amanheser em lisboa, e se a de ir pa o geto de veneza onde esta seu filho,
[4]
e não lhe paresa a VM que são isto palavras porque abaixo lhe direi couzas por onde me crea.
[5]
tambem se VM tiver ordem com jolião de gois, e lhe pormeterem dro ele he amigo de o aver, e como quem sabe dese ofisio com mto mais deligemsia fara arecadar
[6]
e pa isto não ha mister mais que algum amigo que lhe fale,
[7]
e sei serto que a VM lhe não faltarão pa nhũa cou-za.
[8]
quamto as pedras bazares, pelo navio que daqui partio escrevi a VM, que não se açhamdo grandes como lhas pedia me mandase quatro onsas das pequenas,
[9]
por serto tenho averme feito m niso, e no mais, que lhe pedi
[10]
e que tudo me venha bem sedo com o favor de ds, no mesmo navio,
[11]
estimo mto a lembransa que VM teve das marmeladas porque tambem me falou nelas a molher de monsior de marilhar,
[12]
e eu lhe dise que as esperava e asim partirei com ela das que VM me fizer m mandar
[13]
não tenho por couza nova o que VM me aviza de luis vas, ser fogido, desa terra, que seu cunhado daria ordem a iso pa que se tornase a vir fazer como ele,
[14]
e tambem pode ser que lhe não faltase o favor de graviel ribeiro, e eitor mendes, porque custumados são a darem semelhante favor, e ajuda,
[15]
eu ate gora dele não soube outras novas mais que as que VM me mandou,
[16]
permita ds por sua mezericordia que onde quer que esteja lhe abra os olhos d alma, e lhe de grasa e emtemdimto com que não torne a perseverar nos pecados em que hũa ves ja cahio,
[17]
pois por estas partes não ha outra couza senão uzarem desas maldades,
[18]
e ainda se não comtemtão com iso e com as fazerem em framsa e frandes escomdidamte, senão que como qua tem mto dro ganhado o vam lograr a sua vomtade demtro no gueto de veneza, como agora o fizerão as pesoas que abaixo nomearei.
[19]
VM sabera que este mes pasado, veio de olamda a esta terra por ser caminho direito, hum irmão de antonio samçhes, que se çhama lopo sançhes, que he hum que se embarasou nesa terra com hũa fidalgua, o qual cazou avera hum ano em olamda com hũa purtugueza
[20]
e não se comtemtou com viver la como vevia senão que com sua molher e hũa cunhada solteira veio por aqui e se foi a meter no geto de veneza a ser judeo descuberto, e andar com fato comprido e bonet amarelo,
[21]
e nesa terra andava a cavalo e com dous criados e paresialhe que hera melhor que todos.
[22]
Andre faleiro, que VM la conheseria mto bem que he cunhado de luis roiz de paiva, e cazado com hũa irmã de duarte gomes, se foi de frandes com dous cunhados seus e suas molheres e filhos a meter tambem no gueto de veneza
[23]
e andão ja pubricamte com bonetes amarelos
[24]
Antonio faleiro irmão do dito andre faleiro, e genrro de felipe denis que mora nesa terra, se foi tambem pa veneza,
[25]
e inda não esta metido no gueto porque espera que desa terra venha seu sogro felipe denis, com seus dous gemros, filhas e filho, pa todos se meterem juntos,
[26]
e se vem á mão este felipe denis e seus gemrros farão petisão a el rei e pedirão lisemsa pa se virem
[27]
e dirão que vem a frandes a cazar algum paremte o porão outro sogeito
[28]
e eles vem pa o que asima digo.
[29]
fora hũa obra de mta mezericordia que nesa terra se lhe estrovara esta vimda pa que não viesem a perder suas almas.
[30]
seja ds louvado que lhe da fazemda e bẽis pa uzarem tamtas maldades comtra sua fee.
[31]
afirmo a VM que me fazem estas couzas ficar pasmada de ver a pouqua vergonha com que qua se fazem estes,
[32]
e VM emtemda como lhe digo que graviel ribeiro como tiver dro a de fazer o mesmo e que por iso he nesesario terse mto temto nele e fazelo prender pela semtemsa q esta em poder de frco d estrada escrivão dos corregedores do sivel.
[33]
mto estimei as boas novas que VM me da desa terra
[34]
queira noso snor que sempre VM de bem em melhor.
[35]
as que poso dar a VM desta terra, sam bem deferentes porque tudo val a pezo d ouro,
[36]
e agora perese a gemte porque este rei abaixa toda a moeda, e não ha aver comprar nada porque não esta inda averiguado a como an de valer, e emquamto se ordena nimguem quer tomar dro
[37]
e he lastima ver o que vai
[38]
a tudo ds acuda como pode e guarde a VM e lhe de mto boas festas melhoradas com boas emtradas de anos e tudo seja como lhe dezejo.
[39]
depois de ter esta escrito, me mandou çhamar hum prezidemte amigo meu desta terra, e me pedio mto escrevese a VM que por serviso de ds, e de sua fee, quizese VM dar ordem com que na emquesisão se lhe dese hũa sertidão por que cõstase as culpas por que se prendem nesa terra as pesoas por judias,
[40]
e isto por rezão que os portuguezes desta vila dizem, que o guardarem eles qua os sabados e jejuarem as segundas fras e comerem pães asmos e outras velhacarias que fazem, o fazem por ser custume de lisboa,
[41]
e com isto se defendem, e tapão as bocas a todos,
[42]
e pa que o rei emtemda que he tudo mentira, e que eles o não fazem senão por serem judeos, pa iso estimara mto vir esta sertidão, porque com ela os castigarão a todos, como meresem porque a gemte desta terra, não quer comsemtir que aja judeos nela,
[43]
e se comsemtem a estes he como digo por dizerem se governão ao modo da sua terra,
[44]
que como souberem pela sertidão que peso, ser mentira, os castigarão de maneira com que outros não tenham atrevimto de fogirem de lisboa pa se virem qua.
[45]
tambem nesta terra esta hum homẽ que VM sera lembrado fogio da emquesição, hũa bespora de sam joão por hum buraco que fes, o qual se çhama qua miguel de oliveira,
[46]
e comtamdo eu este cazo a este snor prezidemte me dise, que se da emquesisão mandasem hum precatorio que ele o prenderia logo, e o mandaria em hum navio prezo a esa sidade,
[47]
VM por serviso de ds e de sua fee mostre estes dous capitolos ao snor prior e o snor simão lopes, e paresendolhe bem isto que peso, mo mandem porque logo o farei embarcar
[48]
e se ele, se çhamava la outro nome que não seja miguel de oliveira, dira no precatorio que he hum homẽ que em lisboa se çhamava fulano, e que agora tem por emformasão se çhama qua miguel d oliveira
[49]
e çhamandose la este mesmo nome, bem pode vir direito, e por forsa a ha de estar o seu nome na emque-sisão de quamdo o prenderão.
[50]
e vindo este precato-rio dira
[51]
ao snor pro prizidemte e mais snores prizi-demtes, e as mais justisas da corrte de ruão,
[52]
e asim o precatorio como a sertidão que peso vira justificada por joão vel e luis godim e não por nhũm purtu-gues
[53]
e fasa VM isto como quem he pois he em serviso de noso snor que se me ele der vida eu farei q nhum judeu aja em fransa.
[54]
Barbara pimentel de leão

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