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Maarten Janssen, 2014-

CARDS1125

1677. Carta de Sebastião Barbosa de Almeida para Manuel da Silva Pereira.

ResumoO autor agradece ao amigo todos os favores que ele lhe tem feito, e diz-lhe que esteve para ser Conégo de Évora.
Autor(es) Sebastião Barbosa de Almeida
Destinatário(s) Manuel da Silva Pereira            
De Italia, Roma
Para España, Madrid
Contexto

Manuel da Silva Pereira, que viria a ser sogro de Francisco de Melo e Castro, nasceu no Cadaval, freguesia de Nossa Senhora da Conceição, onde foi batizado. Era filho de João Gomes da Silva, mercador de panos que andava pelas feiras, e neto de jornaleiros. O pai tinha nascido em S. Miguel de Genezes, termo de Barcelos, fruto da união de Francisco Alvares, criado, e Maria Gomes, caseira do abade da freguesia, que era oriundo do Cadaval e a tinha daí trazido para que ela continuasse ao seu serviço. Ainda moço, João decidiu tentar a sorte na terra da mãe, onde veio a distinguir-se pela sua participação na administração municipal e na irmandade do Santíssimo Sacramento. A sua vida de feirante permitiu-lhe conhecer a mulher, Isabel, nascida no Bombarral, termo da vila de Óbidos. Dos dois filhos do casal, um, também de nome João, permaneceu na terra, mas o outro, Manuel da Silva Pereira, foi para Lisboa ainda adolescente. Terá sido aí que se tornou protegido do magistrado Duarte Ribeiro de Macedo. Sabia ler e escrever e mostrava-se “capaz de poder ser encarregado de negócios de importância e engenho”, embora não tivesse qualquer grau académico. Seria assim o seu fiel secretário, acompanhando-o nas suas missões diplomáticas em Paris (1668-76), Madrid (1677-79) e Turim (1680). Após a morte do diplomata, de quem foi herdeiro, seria nomeado Guarda-mor do Consulado da Casa da Índia. Cerca de 1685, quando residia na casa da Rua Formosa, freguesia das Mercês, casou com uma vizinha, Michaella Antónia da Silva, muito mais jovem e descendente de funcionários públicos em Portugal e em Espanha. Em 1693, requereu ao Tribunal do Santo Ofício que se fizessem diligências sobre a sua “limpeza de sangue e geração”, bom como da de sua mulher, pois queria candidatar-se ao cargo de Familiar do Santo Oficio. Neste processo de habilitações diz-se que o casal não tinha filhos. Assim, só depois disso terão tido uma menina, D. Maria Joaquina Xavier da Silva. Seria esta filha a estabelecer a ligação de Manuel da Silva Pereira à família Melo e Castro: Maria Joaquina viria a casar com Francisco de Melo e Castro, filho ilegítimo de André de Melo e Castro, 4º Conde das Galveias. Da sua união nasceram depois Manuel Bernardo de Melo e Castro, 1º Visconde da Lourinhã, e Martinho de Melo e Castro, diplomata, ministro e reformador da armada portuguesa no reinado de D. Maria I.

Fontes:

Faria, Ana Maria Homem Leal de. 2005. Duarte Ribeiro de Macedo, um Diplomata Moderno (1618 – 1680). Dissertação de Doutoramento. Universidade de Lisboa.

Faria, Ana Maria Homem Leal de. 2008. Arquitectos da Paz: A Diplomacia Portuguesa de 1640 a 1815, Lisboa, Tribuna da História.

Schedel, Madalena Serrão Franco. 2010. Guerra na Europa e interesses de Portugal: as colónias e o comércio ultramarino. A acção política e diplomática de D. João de Melo e Castro, V Conde das Galveias (1792 -1814). Tese de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita no rosto e verso
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Arquivos de Família
Fundo Casa dos Condes de Galveias
Cota arquivística Maço 5
Transcrição Ana Guilherme
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Fernanda Pratas
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

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Meu Amigo e Sor

Como ha dias me disserão, q o sor emveado e Vm erão chegados a essa Cidade de- Madrid, não quis deixar passar esta ocasião de importunar a Vm com estas Regras em rreconhecimto dos grandes favores q tenho reçebido de Vm o Portador desta he o Connego Manoel Ribeiro Seixas, o qual troiche o Comsr em sua Companhia, per aver estado Com elle em Coimbra, e ser homem de grande bondade e Letras; e Como he tambem da terrinha, e me diser passaria por essa Çidade, tomey a Comfiança de lhe dar esta pa Vm pedindolhe nella Com a comfiança de amigo o rreçeba com sua bondade costumada, e como Vm conhessera Logo q elle he mereçedor de todo o favor que lhe fizer, ainda q elle não tem nada do vmor bufão do marcos, o qual me escreveo Ultimente pella pasta estava ja Cazado Com hũa ingresa, eu Como a conheci antes de partir direi a Vm q não he mto fermosa: mas q tem corpo pa afogar dos marcos e Contentar coatro amigos... eu tive ja alguãns pertençoiñs de Benefiçios, e quasi feito Connego de Evora, mas a minha pouca fortu-na não quis, perqto o sor Cardeal me tem favoreçido de modo q o mesmo Connego poderá mais meudamte referir a Vm Comtudo espero o mesmo favor noutra occasião alcancar o q em duas perdy; o Connego me prome-teo ajudarme com o aviso de alguã bacancia La em Lamego, e q mesmo mandaria expresso por pouco a Vm com alguã Carta, querendo Vm tomar a penna de a mandar Logo q chegar como espero de sua cortesia e bondade, e em cazo q chegue o aviso poucas oras o despois da pozta partida, querendo Vm mandar alcancala, comforme o q custar, q se for necessario mais dez ou 5 mil reis, não quero q Vm tome tome sobre sy dar mais, perqto os meus Cabedais são poucos; eu tomo a comfian-ca de escrever ao sor emviado nesta occasião, mas nisto não lhe toco, per me não ter Lembrado, ainda q sey q basta pedillo a Vm do Armenio não tive mais novas des q partio, nem Vm me avisou mais se elle tinha satisfeito a Vm com o dro franco de Azevedo anda de saude e Vm querendo tomar o trabalho de me escrever podera mandar a Carta com o sobrescrito direito a mim em caza do Sor Cardeal de Norfo, perqto he mais certo. de Paris não tive mais nova nenhuã nem sey q he feito da amada ohinete e se tera ja a memoria esquecida do Piquepux, e eu estimaria saber todas as particularidades da despedida de Vm e do amigo Jozephe de- Crasto. Vm me dara mtas Lembranças a meu amigo João gomes. não sou mais Largo por ora pedindolhe me conserve em sua boa graça, e me- Crea sempre seu amigo e Criado, enqto peço a Deos lhe de mta vida e saude e do temporal o q Vm mais dezeja

Roma 12 de outubro de 1677 Mayor Amigo e Criado de Vm Sebastião Barboza dde Almeida

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