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Maarten Janssen, 2014-

CARDS5226

1823. Carta Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro, sob o pseudónimo de António Chuço, para Lúcio José de Gouveia, Administrador da Capela Real da Ajuda.

ResumoO autor ameaça o destinatário com violência caso este não lhe pague dinheiro para livrar um preso do Limoeiro. Finge escrever de Vendas Novas.
Autor(es) Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro
Destinatário(s) Lúcio José de Gouveia            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Lisboa, Belém, ao pé do convento da Boa-Hora
Contexto

Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro, que vivia das suas rendas, foi acusado de roubar a Filipa Inácia um Título de Dívida Pública. Filipa Inácia mandou-o rebater a dívida e ele rebateu-a para si mesmo, através de um rebatedor, João Francisco Borges, com uma casa de câmbio na Ribeira Velha. Do Limoeiro, onde aguardava julgamento, o acusado escreveu inúmeras cartas de extorsão usando nomes falsos ‒ fez-se passar por deputado e escreveu sob vários pseudónimos, nomeadamente o de «António Chuço». Esta forma de extorsão representa uma prática que se tornou característica da cadeia do Limoeiro no primeiro quartel de Oitocentos e cuja amplitude em muito beneficiou da instabilidade política e social associada aos primeiros anos do Liberalismo e da ambiência generalizada de vulnerabilidade e suspeição. Luís Caetano Leirós recorria a pessoas no exterior, que contactava da enxovia daquela prisão, para serem portadores da correspondência. Vendo-se em vias de ser condenado, nas suas cartas anónimas a personalidades com peso político dizia-se partidário dos que estavam no governo e acusava os juízes e escrivães que participavam no seu julgamento de atentarem contra o poder ‒ estando inclusivamente a preparar uma revolta ‒ e de serem corruptos, pedindo a sua prisão ou afastamento dos cargos que exerciam. Foi degredado por cinco anos para Angola, sendo contudo libertado antes disso, em 1827 ou 1828, em virtude de um indulto real. Por essa altura foi de novo preso por um crime do mesmo tipo: escrevera cartas de ameaça a pessoas abastadas com o pretenso intuito de libertar um companheiro preso no Limoeiro e prometendo a devolução do dinheiro poucos dias depois do envio. Uma das formas de pressão utilizadas era a de prometer em troca o silêncio do remetente, que estaria na posse de provas incriminatórias que levariam o destinatário à prisão por traição ao rei, então D. Miguel I. Para chegar ao autor destas cartas, as autoridades recorreram à estratégia de enviar a um dos destinatários uma encomenda que teria de ser levantada nos correios, procedendo assim à detenção de quem ali comparecesse com esse fim. Foi desta forma que, após diversas peripécias, se conseguiu deter pela segunda vez Luís Caetano Leirós. Entretanto, um seu tio, Teotónio de Andrade e Castro, chegou a Lisboa vindo de propósito de Tavira, onde era Guarda Mor da Saúde, e auxiliou as autoridades a deslindarem o caso. Foi Teotónio de Andrade quem informou o juiz da existência de processos anteriores, relativos a várias falsificações de documentação, entre elas a do próprio decreto de amnistia por que o réu conseguira libertar-se do degredo em Angola. Para além disso, o tio mostrou-se conhecedor dos processos anteriores com um grande pormenor, conseguindo relacionar factos entre si e provando que pelo menos uma carta, escrita sob o nome de José Maria de Lemos, fora escrita pelo seu sobrinho. Contudo, as restantes cartas de extorsão, embora apresentem algumas fórmulas que Luís Caetano de Leirós usara anteriormente em missivas que assinava como «Capitão Chuço», não aparentavam ser da sua autoria, ou pelo menos da sua mão: a caligrafia e a tipologia de desvios era completamente diferente. Leirós disse-se acusado injustamente pelo seu tio e o réu acabou absolvido por falta de provas, sendo condenado apenas a custear o processo.

Suporte meia folha de papel dobrada, escrita nas três primeiras faces e com o sobrescrito e o P.S. na última.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra L, Maço 5, Número 8, Caixa 12, Caderno 15
Fólios 30r-31r
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição José Pedro Ferreira
Modernização Rita Marquilhas
Data da transcrição2007

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Ao Illmo Snr Luçio Joze de Gobeia G D ms ans adaninistrador da Capela rial daGuda morador o pe do Combento da boa hora em belen etc etc etc Lizboa

VSa me fara o fabor de me prestar 60 mil reis o metal o papel. sendo papel, melhor, pois se mete em Carta fexada, não Como desconfiança o portador, q he pa salbar hum Camarada meo q esta prezo na Cadeia da Cidade. eu o Sou o xuço, Capitão de 2 Codrilhas de 95 homes. veja VSa se me falta o descobre o segredo seja a qm for, eu portesto e lhe juro que lhe lanço fogo e arazo a sua morada e a sua quinta q tem o pe de palma, q em huma note ficão os muros arombados e tudo estragado, e VSa nas mas maos , q mal esteja discoidado, a de çe ber sercado. e se me não falta, eu portesto q no fim deste me sera pago. veja no q se mete! segredo mais segredo! eu Logo o sei se VSa o descobre! não me falte! eu Conto com VSa. portanto VSa me mandara Carta feira a note hum portador as 7 horas a Cadeia da Cide. e qm for, que se ponha sentado no entulho de pedras grandes q estão o pe da esCada do Limoero. e Logo q oiça xamar das grades pelo nome de Fernandes, q va entregar o prezo o q Levar Como ele deçer. e q se va embora. isto sem falta! não mande de dia senão não se fala. e o portador q não saiba do segredo. vejão em q se mete! eu logo tenho abizo e parto Logo a eça terra a faze o q lhe digo, q nen deos lhe balera. mande de note as 7. e q obindo xamar por Fernandes, que va ter onde estiber o prezo e entregue.

seu Vor e C, Je Anto Chuço, Capitão das Codrilhas, Sitio das Vendas Nobas, 10 de Mo 1823

Segredo mais segredo!


Legenda:

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