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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1416

1603. Carta de Paulo Gomes, mercador, para Luís Falcão, jurista.

ResumoO autor relata a sua saída de Aveiro para Bordéus e queixa-se de um juiz que lhe extorquiu dinheiro para o proteger de uma ameaça de perseguição inquisitorial, afinal uma falsa ameaça.
Autor(es) Paulo Gomes
Destinatário(s) Luís Falcão            
De Bordéus
Para Portugal, Esgueira, Aveiro
Contexto

A Diogo Nabo Pessanha, juiz de fora de Aveiro, competia cumprir as determinações recebidas por via da Inquisição de Coimbra, nomeadamente, buscar e prender os indivíduos constantes em cada rol emanado por aquele tribunal. Contudo, ao constituir-se uma fonte privilegiada de semelhante informação, vários cristãos-novos o procuraram no sentido de se anteciparem a mandados de prisão que os visassem, pelo que o juiz acabou por se ver envolvido em vários casos de corrupção. Mandava avisos e recados para que os perseguidos se ausentassem e, em troca, recebia subornos. O conjunto de cartas conservadas no processo serviu para corroborar as denúncias que contra ele se apresentaram na Inquisição de Coimbra. A carta PSCR1415 foi entregue por Miguel Gomes ao seu irmão Manuel Henriques a fim de que este fosse denunciar o caso.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita no rosto e no verso do primeiro fólio e com sobrescrito no último.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 609
Fólios 68r-v, 69v
Socio-Historical Keywords Ana Leitão
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Raïssa Gillier
Contextualização Ana Leitão
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

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Ao Ldo Luis fallquam que deus guarde em aveiro jhus Ma em bordeos a 24 de novembro de 1603 anos

Posto que VM me nam quis escrever temdo, portador tam certo como foi frco da fonqua portador desta, nem por iso ei de deixar de lhe fazer estas breves regras pa nellas lhe pedir me mande mtas novas suas, pois sabe o gosto e amor, com que sempre folgarei de ouvir boas novas suas, as quais queira deos me venham sempre como este seu compadre e amigo lhe deseja, e o nan ter eu feito isto ha mtos dias nam foi por me faltar vontade, mas como eu qua andava enfadado esperando todos os dias me tirasse deos de lla em pas minha molher e fos e mos trouxesse diante meus olhos nam andava de todo e em cuidar do modo que me vim sem falar com nenhum amigo e estava ao sabado a noite em minha caza bem quieto, e que ho ladram do juis me aVia de mandar Recado que logo me saisse porque pella menham me avia de prender, proque tinha en sua mão hum Rol de diogo vas pereira pa iso e me fes sair a meanoite sem me despedir de nenhum amigo nem parente, so a fim de levar corenta mil reis que minha molher lhe deu e des mil reis que me la devia e Vinte mil reis que me levou per outra falsidade, mas querera deos que page tudo por junto pois me fes desaquietar de minha naturesa e amigos, Mas oje nan me peza de me ver qua pois estou en boa terra aonde nan faltam igreijas, e mosteiros nem o mais necesario asim pa a alma como pa o corpo, seja deos louvado que me trouxe a ella e me livrou de testemunhos falsos que com verdade estava tan livre da inquisisão como VM, mas nan de testemunhos falsos seja deus louvado que me tirou de lla em pas e me trouxe a este bordeos aonde fiquo con saude a deus louvores e toda minha caza, e mui preestes pa o serviço de VM, a quem peço me mande mtas novas suas e dos mais amigos e do que ha de novo, e con isto guarde deos a VM desta sua caza de bordeos oje 24 de novenbro de 1603 anos

de seu compadre e amigo Paullo gomez

Legenda:

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