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Maarten Janssen, 2014-

CARDS4022

1656. Carta ditada por Catarina Mendes ao seu enteado Manuel Leitão de Oliveira para o seu marido, Sebastião Rodrigues de Oliveira, licenciado.

ResumoA autora preocupa-se com a sorte do marido, preso pela Inquisição, e descreve-lhe tudo quanto tem sofrido ultimamente. O filho, que serve de escriba, parece intercalar no ditado algum texto de sua autoria.
Autor(es) Catarina Mendes
Destinatário(s) Sebastião Rodrigues de Oliveira            
De Portugal, Elvas
Para S.l.
Contexto

Segundo o depoimento feito perante a Inquisição por Manuel Leitão de Oliveira, de 12 anos, filho de Filipa Grácia, falecida, e do licenciado Sebastião Rodrigues de Oliveira, advogado, preso com os seus irmãos e tios na Inquisição de Évora, três cartas deste processo são apócrifas. Para acalmar a madrasta (e também para receber umas prometidas alvíssaras), resolveu forjar cartas do punho de seu pai, supostamente emitidas da cadeia pública de Elvas. Quase todas as mulheres da casa (a avó, a madrasta e uma tia) acreditaram, e ditaram cartas de resposta, as quais, obviamente, nunca chegaram ao destino. Toda a correspondência foi ficando na mão de Manuel Leitão, que acabou por entregá-la à Inquisição ao ser obrigado a ilibar o pai e os tios da culpa de revelar o segredo do Santo Ofício. No seu depoimento, a madrasta, Catarina Mendes, relatou o seguinte (edição modernizada: «em seis dias do mês de Setembro, seu enteado, vendo-a desconsolada, o qual se chama Manuel Leitão de Oliveira, e que estava chorando, lhe disse que se não desconsolasse, que ele sabia que seu pai e seus tios estavam em sala livre, e ela lhe replicou «Minino, como pode ser isso saber-se? Porque naquela casa há muito segredo...», e ele lhe respondeu que tinha pessoa que lhe levasse cartas a seu pai, e ela respondente, pelo desejo que tinha de saber de seu marido, sem malícia algũa, pela desconsolação em que vivia, creu ao dito seu filho por ser minino inocente. E por ele lhe dizer que não lhe havia de dizer que pessoa era por onde havia de ir o dito escrito, ela com boa fé lhe disse que fizesse a dita carta e a remetesse, já que lhe não queria dizer quem era a pessoa. E o dito Manuel Leitão escreveu o escrito e o cerrou e tomou a carta e se foi de casa [...].» IAN/TT, Inquisição de Évora, livro 225, fl. 372v (audiência de Catarina Mendes, Elvas, 10/11/1656). Quanto a Manuel Leitão, justificou assim a sua conduta (edição modernizada): «disse que vendo ele que sua madrasta estava sempre chorando, desejando saber novas de seu marido, e pai d'ele, respondente, e que prometia muito a quem lhe desse novas de seu marido, ele por sua ignorância lhe disse que escrevesse ela um escrito, que ele tinha per quem o mandar, e que ele mesmo escreveu um escrito, que estava nos que ali oferecia, e que a ele respondeu ele mesmo outro escrito, que é dos primeiros apresentados, e fingiu que vinha de seu pai. E que logo sua madrasta escreveu outro escrito pela mão d'ele, respondente, que ele disse mandava a seu pai, e ele o levou dizendo que o mandava a seu pai. E que assim foram e vieram três escritos e três respostas, que todos ele respondente escreveu, e eram os que ali mostrava.» Id. ibid., fls. 357v-358r. As cartas estão publicadas em Rita Marquilhas (2005) "Una gran sala con la puerta abierta: cartas imaginarias desde la cárcel de la Inquisición (Portugal, siglo XVII)", Castillo Gómez, A. e V. Sierra Blas (eds.), Letras bajo sospecha. Gijón (Asturias), Ediciones TREA: 43-75.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Évora, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 225
Fólios 352r-v
Transcrição Rita Marquilhas
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2005

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Serta estou snor ldo sebastião Roiz de olivra que nos naiores trabalhos e tromtos acode noso snor Jhus xpo e o seo devino esperito alumearnos e aClararnos a nosa onrra e verdade que asĩ emtendo Claramte que o devino esperito me abryu esta porta pa algũ alivio de minhas aflisois e tromentos que padeso na soledade e auzensia da Vista de Vm e de que tenho algũ alivio he de me dezerem que ja esta Clara a nosa Verdade e de que Vm pasa Com saude mas a minha he poCa mas noso snor Como pai de mezeriCordia me da esforso e ajuda pa poder Com os trabalhos eu snor pay paso Com grandes saudades da Vista de Vm estive sangrado 4 vezes ja agora grasas a deos Com saude pa emComendar a deos a Vm minha yrmão e minha aVo Com saude e minha aVo mesia gomes inda Com as quartas mto frasCa sintindo mto nosos trabalhos e a beata tãobem suas yrmãs Com mto Cudado de nos emComendarẽ a noso snor que nos aCuda maria da mota meado agosto pario lhe fes noso snor merCe pario menino que ate emtonses pasou Com mto trabalho agora bem dito seja deos pasa melhor o menino Chamase joão andre e fransisquinho sem saude Leanor Lopes mto fraqua e sempre me parese que tẽ febre e o seo retrato e o de medisa tudo he hũa mesma Couza sebastiana e os meninos Com saude mandenos Vm novas suas e de todos seos yrmaos o Coregedor me pedio Vinte mil e setesentos e sinCoenta reis de que tive tão grande desgosto Como o pro dia dos meos trabalhos nãy e pello dinro senão pella sẽ rezão e sẽi justisa por quererem por a Vm na Conta dos peiteiros e a molher do mediCo tãobem deo outros Vinte mil e sete sentos e sonCoenta reis e heo mandey pedir a pegdo musqura e Lianor Lopes pello Conego e elle respondeo que não podia fazer nada diso e se elles querião que o mandasẽ Chamar da meza e que lhe emsinasem o padre noso e aue maria que elle que não queria a fama que Vm la tẽ adVirtulhe que a tenho pormetido as orfas de guiomar mendes que me aCompanharão em todas as novenas e o Chapeo que Vm levou he mt roim pedira Vm que lhe mandẽ merCar outro e se Vm la quer Vestido preto mandar lho ei e as robetas estão gastadas e se quizer que lho made fazer lhe amandeno diser

de Caza de setenbro de 1656

noso snor traga a Vm e os snores seus yrmaos a Vista de nosos olhos depresa emtã fasa noso snor de mi aquilo que for mais pa seo sto serviso

Caterina mendes

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