PT | EN | ES

Main Menu


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

PSCR1335

1620. Carta de Rui Fernandes de Castanheda para a sua mulher, D. Catarina Faria de Alpoim

SummaryO autor dá instruções à sua mulher para que ela o ajude a melhorar as suas condições de vida na prisão, pois está muito doente.
Author(s) Rui Fernandes de Castanheda
Addressee(s) Catarina Faria de Alpoim            
From Portugal, Lisboa, cárcere da Inquisição
To Portugal, Lisboa, quinta acima do Poço do Bispo
Context

Esta carta encontra-se no processo de Rui Fernandes de Castanheda, meio cristão-novo, preso pela Inquisição por judaísmo em Maio de 1620. Rui Fernandes de Castanheda ia à Galiza, disfarçado de caminheiro, para cobrar uns precatórios quando, ao passar por Caminha, já de noite, foi a casa de um escrivão para os validar e este, achando-o suspeito, pensou que ele estava a tentar fugir do país. Assim, levou-o a casa do ouvidor que o interrogou, acabando Rui Fernandes de Castanheda por confessar que era meio cristão-novo, pelo que foi feito prisioneiro até que se averiguasse a verdade. Rui Fernandes de Castanheda fora, havia pouco tempo, acusado de judaísmo por familiares seus presos pela Inquisição, com quem estava em más relações, por isso, ao ser preso, quis fazer a sua confissão, na esperança de assim não ser castigado. O réu arranjou maneira, enquanto ainda estava em Caminha, de trocar correspondência com a sua esposa, D. Catarina Faria de Alpoim, usando como intermediária uma mulher que o servia no cárcere. Primeiro enviou-lhe uma carta, contando-lhe o que se passara, e com uma série de instruções (PSCR1331) sobre o que fazer para o ajudar, mandando-a cobrar dívidas, enviar-lhe roupa, e entregar uma carta ao seu advogado (PSCR1332) e uma petição aos inquisidores. Depois de Rui Fernandes de Castanheda ter sido levado para Lisboa, para os cárceres da Inquisição, a mulher que o servira em Caminha foi presa e confiscaram ao correio um maço de cartas em estavam incluídas a resposta à primeira missiva (PSCR1333) assim como outras cartas enviadas por D. Catarina Faria de Alpoim (PSCR1334 e PSCR1337) ao seu marido. Antes de partir e chegado a Lisboa, Rui Fernandes de Castanheda continuou a enviar cartas à mulher e a outras pessoas amigas (PSCR1335, PSCR1336 e PSCR1338), por intermédio de um familiar do Santo Ofício chamado António Gonçalves, que ele considerava seu amigo e que o fora buscar a Caminha, tentando obter ajuda, sem sucesso. O seu processo continuou durante vários anos e ele acabou por ser relaxado à justiça secular.

Support 47r-48v
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 7589
Folios 47r-48v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2307670
Transcription Maria Teresa Oliveira
Main Revision Raïssa Gillier
Contextualization Maria Teresa Oliveira
Standardization Raïssa Gillier
Transcription date2016

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

A dona Cna dalpoem q des gde na quintä ariba do poso do bis po onde chamão a encamizada. se for vivo ainda algũ do meu vinho rico mandai hum almude ao portador

Minha molher e senhora de minha alma foi deos servido tocarme o seu dedo como dise david. e porme no mais mizeravel estado q a fortuna podia achegarme com ficar a esta ora metido no carse da enquisisão com nome de judeu sendo eu tão e tão zeloso da ffe como des e vos me sois boa testa troixeme o portador deste q he o sõr amto glz familiar pesoa conhesida e amigo antigo e bem o mostrou em fazer ofisio de pai q serto em toda a vida lhe poderey pagar ainda que lhe dera des mil cruzados o amor e cortezia que me tratou sem me ver gem nẽ trazer gente de guarda cõsigo mais que virmos ambos dormindo em hũa cama e comẽdo a hũa meza tanto amor como se fora meu pai e se asim não fora e tivera tão pouca ventura q me fora buscar outra pesoa ja fora morto por o estado em q estou de doenca e fraqueza de dormir na prizão da vila de caminha tres somanas caregado de feros tantos trabalhos e fraquezas, eu não tenho aqui mais que por os olhos no seo e pedir a jesu xpo e a sua bemdita mai me queirão dar muita pasiensia e livrar de tão grãode falco testemunho e restaurarme minha onra e que me mostre vervos antes que eu acabe esta triste vida e despois faca de mỹ o que for mais seu santo servico pois foi servido q eu nasese pa pasar tão grãodes e ynmencos trabalhos e afrõtas em q ao prezente me vejo q ja de mỹ não sinto tanto porque com acabar esta triste vida descansaria somte o que sinto he vosa discõsolação e dezemparo e pouco remedio mas querera noso sõr que sera por pouco e q vos dara a vos entanto a cõsolação pasiensea e emparo q aveis mister tomando tudo em satisfacão de culpas e pecados, a elle lhe dai todos os agardesementos posiveis como a pesoa que o merese e a quẽ devo quãoto tenho e se des me puzer em liberdade eu protesto de lho saber asas mereser e asi tereis cuidado de lhe mandardes da frurta da quintã e cantaro d azeite quãodo o des der pa o novo que elle vos a de emcaminhar e ajudar no q for nesesario q tem mto entendimto e milhor natureza e creo que em tudo o q o acupardes o aveis de achar

qua soube que estava negoseado o dinheiro q o rocha me mandou cobrar a ma a madril queira ds q seja serto pa vos ver com mais alento e gosto tambem vos peco por amor q me tendes ser minha liberdade vades falar ao enquizidor frei anto, de sousa, pa vos a dar lisensa pa que cada mes me posais mandar refresco de mimo de fruita e meo alqueire de bolos e algũ dose e hũas azeitonas e limois e laranjas e algũa fruita pois sou tão doente de boubos e do ar e esfalfado e aleizado dos bracos e ser pobre e isto ser obra pia lho aveis de pedir mui encaresidamte por esta rezão volo não negẽ mormte sendo molher cristamvelha e da vosa calidade e que juntamte vos fação m de me querer meter hũa companhia comigo de homẽ cristão velho porque estando coro muito risco porque me dão grãodes asedentes e ymaginacõis de melenconia, e q vos nẽ vosa filha orfã de deos abaixo não tem outro emparo pois por estar ora dezonrado e prezo nẽ vosa irmã nẽ parentes vos querem ver e asy ficais dezomrada e sem remedio estas duas couzas aveis de pedir a frei anto e se for nesesario o aveis de yr pedir do emquizidor geral q he mui benino como vos bem sabeis e lhe pedireis pro q olhe por minha justica q eu sou mui diferente do que elles cuidão q fui acuzado falcamte por enemigos a quẽ antes de me acuzarẽ tinha decrado por escrito aos sõres enquizidores da meza piquena serẽ meus emigos capitais e a cauza do hodio q me tinhão e que vos serdes cristã velha e filha de homẽ fidalgo q sabeis meu coração e ser milhor cristão que vos tambem como todo o mũdo e que diso aveis de ser testa e vosa filha e toda a fidalgia de portugal quẽ coria e conversava e não com cristaos novos q a todos tinha hodio e mo tinhão a asim que he nesesario falarlhe logo e falarlhe cada mes ao tempo q vierdes a sidade mandarme algũ socoro pera elle saber q sois viva e ter niso cõsolação pa alivio de meus trabalhos. asim mais dentro do patio da emquisisão mora o alcaide do carsere a elle e a sua molher falareis e lhe direis quem sois e vosa calidade e a de minha pesoa e de meu pai e lhe pedireis mto me queira favoreser em o q for en sua mão e consolar e animar e dar lisensa pera que lhe mandeis algũs mimos da quĩtã pera dahi da fruita q mandardes partir elle comigo pois sou tão emfermo e não terdes outro emparo pedir aos enquezidores olhem por vosa onra calidade de vosa pesoa e dezemparo voso e de vosa filha orfam falai a molher de antão alves o canches pa que fale ao marido pa q vos mande dar a metade dos rendimtos da fazenda e se vender algua couza a venda inteiramte e vos de en dinheiro a vosa a metade pa vos remedeardes hũa carta vos mandei q me custou quatro dobrois e hũa pataca na qual vos mandava dobrão dentro por sinal e nada vos derão tudo foi como des he servido

por o sõr anto glz me mandareis o q vos mando pedir no rol q com este vai e cõtanto des vos tenha de sua mão e me mostre vervos antes q mora a elle me encomendai de noite e de dia e sabina o mesmo

tambem vos peco mto q tambem vades de caminho quãodo fordes falar a diogo roiz fizico da enquisisão q mora debaixo dos arcos do esprital e pedirlhe me faca ca meter na emfermaria e curarme e fazerme provezão com bos comeres, e que asim queira tambem encomendarme ao alcaide do carsere pa que tambem me favoresa q vai mto nisto e elle he mto onrado e de boa natureza e o fara pa mor de vos e tambem podeis yr a caza de meu primo manoel roiz e de sua casa podeis yr e esto seja feito logo toda brebidade


Legenda:

ExpandedUnclearDeletedAddedSupplied


Download XMLDownload textWordcloudFacsimile viewManuscript line viewPageflow viewSentence view