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meia folha de papel escrita no rosto.
duas linhas em branco entre a fórmula de endereço e o início do texto.
O autor dá conta ao destinatário da existência de boatos a seu respeito, boatos esses que permitem desconfiar da sua lealdade para com o povo judeu. Dá-lhe a oportunidade de os desmentir.
Reproduções não dispensam licença da DGARQ/TT.
Este processo diz respeito a Simão Gomes de Almeida, cristão-novo, de 35 anos de idade, acusado de judaísmo. O réu era mercador, filho de Francisco Carvalho e de Brites Gomes, casado com Guiomar Serrana, também cristã-nova, e morador em Londres. Quando o réu tinha 12 anos e vivia com os pais na Guarda, conforme testemunhou, o pai falou-lhe na Lei de Moisés, dizendo-lhe que devia fazer o jejum do dia grande que vem na lua de setembro, os três da rainha Ester que vêm na lua do mês de março, e que jejuasse sempre que alguém morresse. Disse-lhe também que depois do jejum não poderia comer carne e que não devia trabalhar ao sábado, devia vestir camisa lavada à sexta-feira à noite, não devia comer porco, lebre, coelho ou peixe sem escama, entre outros rituais judaicos. Assim, declarou-se judeu e viveu vários anos como tal. Após a sua ida para Londres, apercebeu-se de que desejava ser cristão e decidiu converter-se, tendo disso avisado frei Cristóvão do Rosário, religioso da Ordem dos Pregadores e Pregador da Rainha de Inglaterra, também residente em Londres. As cartas do processo foram entregues como prova disso mesmo.
O réu tinha quatro irmãos e uma irmã: Diogo Carvalho, mercador, casado com Grácia Mendes, António Carvalho, viúvo de Isabel Dias de Almeida, Francisco Carvalho, mercador, casado com Grácia Fernandes, Ayres Carvalho, mercador, solteiro de 24 anos de idade, e Guiomar Serrana, casada com Manoel Gomes Lisboa, mercador. Diogo Carvalho, foi o primeiro a ser preso pela Inquisição, pelo que os outros ainda tentaram fugir. No entanto, Manuel Gomes Lisboa, Francisco Carvalho e a mulher foram apanhados a caminho de Castela. Mencionado como judeu em processos de judaísmo de alguns familiares e amigos, o réu optou por se apresentar à Inquisição com as cartas que havia escrito e recebido; queria assim provar a sua conversão ao cristianismo após a ida para Londres. Julgava que, apresentando-se, poderia conseguir o perdão e alguns benefícios na sua volta a Lisboa com a família, o que de facto aconteceu. Em auto-da-fé de 23 de julho de 1664 o réu foi sentenciado a abjuração em forma, instrução na fé católica, penitências espirituais e pagamento de custas. Cinco dias depois, foi solto.
Warning letter from Jacob José Henriques to Simão Mendes de Almeida, merchant
The author warns the addressee about the rumours being spread in the city concerning him and his loyalty to the Jewish people. He asks for a clarification.
This is the Inquisition lawsuit of Simão Gomes, a 35 years old New Christian accused of Judaism. The defendant was a merchant, son of Francisco Carvalho and Brites Gomes and he was married to Guiomar Serrana, also a New Christian. He lived in London. Simão Gomes confessed having lived several years under the Judaic faith, after his father had taught him the Law of Moses. After he went to London, the defendant realized that he no longer wanted to live as a Jew, but he wished to convert himself to Christianism. He wrote friar Cristóvão do Rosário, a religious member of the ‘Ordem dos Pregadores’ and also the queen of England’s preacher, telling him about his intentions. Since his name was mentioned in several proceedings of family members accused of Judaism, Simão Gomes decided to present his confession to the Inquisition. He presented the letters he had written to friar Cristóvão do Rosário as proof of his conversion to Christianism after arriving at London. This way he hoped to gain forgiveness and some benefits that allowed him to come back to Lisbon with his family. He was well succeeded in his efforts. In an auto-de-fé on 23rd July 1664, the defendant was sentenced to abjuration in the form of instruction in the Catholic faith, spiritual penitence and payment of legal costs. He was released five days later.
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vergonho