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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

[1619-1621]. Carta de soror Dona Joana Baptista, freira, para destinatário desconhecido.

ResumoA autora pede que o destinatário tenha piedade de uma freira que, em seu entender, foi injustamente denunciada. Elenca uma série de factos que atestam ter aquela mulher sido vítima de falsos testemunhos por parte dos seus inimigos. Explica igualmente as razões que geraram o conflito entre as partes.
Autor(es) Joana Baptista
Destinatário(s) Anónimo284            
De S.l.
Para S.l.
Contexto

Rafaela de Santo António foi presa a 7 de julho de 1620, permanecendo no cárcere até 3 de abril do ano seguinte. No Santo Ofício de Coimbra foi constituído um processo contra Rafaela por culpas de judaísmo, baseado em várias denúncias, nomeadamente de Filipa de São Francisco, freira no mesmo convento e entretanto também presa. Com efeito, foi comprovado que algumas freiras praticavam o judaísmo, o que transgredia em absoluto os princípios não só da ordem que professavam, como da própria igreja católica. Rafaela alegou em tribunal não ser filha biológica de um cristão-novo, de quem a mãe enviuvara, mas im de Diogo de Sá de Meneses, "fidalgo conhecido e dos mui nobres." Efetivamente, a mãe teria conseguido esconder a sua gravidez do futuro marido, com quem já vivia. Por isso mesmo, a mãe internou-a aos quatro anos de idade no convento da Madre de Deus de Monchique de Miragaia (Porto), onde as religiosas seguiam a regra de Santa Clara (Ordem dos Frades Menores, Província de Portugal da Observância). No seu processo, encontramos várias cartas abonatórias, colhidas pela abadessa, Clara Antónia de Vilhena, e outras freiras, na tentativa de ilibar a ré das culpas que se formavam contra ela, e de zelar pelo seu bem-estar enquanto permanecesse no cárcere. É de assinalar, em particular, o testemunho redigido pela mãe da ré, em que esclarece a sua filiação. Este foi escrito em risco de morte e encaminhado por intermédio do seu padre confessor, remotando a cerca de 25-26 anos à data dos autos. Trata-se de um caso não livre de contrariedades: a abadessa, muito embora tenha redigido uma carta abonatória e feito várias diligências a favor da ré, ao chegar às contraditas e à defesa testemunhou em contrário. No final, os inquisidores chegariam à conclusão de que as culpas tinham sido originadas pela prestação de falsos testemunhos, nascidas de certas contendas de Rafaela com determinadas companheiras recolhidas na mesma casa e que ela denunciara. Foi por isso prontamente absolvida e liberta, tornando àquela instituição.

Suporte três folhas de papel de carta escrita em todas as faces dos fólios 19 e 20 e no rosto do fólio 21
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 2388
Fólios 19r-21r
Socio-Historical Keywords Ana Leitão
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Fernanda Pratas
Contextualização Pedro Pinto
Modernização Fernanda Pratas
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2016

Page 20r > 20v

[1]

he grãde ha fama da vertude e zelo e carida

[2]
de de vosa merse q iso me deu animo pera fazer esta
[3]
e pedir por ha paixão des ponha hos olhos de pia
[4]
dade ē rafaela de s antonio pera ha mãndar tratar
[5]
e alumiála porq muitas enemigas e depois
[6]
q hae sta se descubrirão mtas ela não caira em quē
[7]
a culpou porq ca se mostravã suas amigas e ter
[8]
lheiã feito mto mal porq como souberã q ela fora
[9]
ha q acuzou ē segredo ha mor parte da fazēda
[10]
e ouro e prata q ficou nesta casa de lopo diz e seus
[11]
filhos ao fico e a poder d escumunhõs a tirarão da
[12]
mão destas enenimigas a que ficou ētregue esta
[13]
mina porq a não gastarão lhe tomarão tão
[14]
grãde odio e detreminãcão i vingarse dela e a
[15]
cumularãose todos pelo todos seus parētes
[16]
pera lhe fazērē mal porq quãdo a prēde
[17]
rão todas as q ca estão folgarão por o
[18]
mau trato q se lhe dava porq sēpre
[19]
lhe dava mas novas das da nasão seus parētes
[20]
delas fazias desatinar ela não falava ē ne
[21]
nhũ ne cõversava as da nasão eles e las
[22]
lhe tinhã tão grãde odio q nos faz pareser
[23]
q por se vingarē dela a culparão
[24]
rimão conigo la de cũbra q chão

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