Snor Rdo Pe João Soares
Meu Primo e Sr
Não sô pr rezão do sangue mas tambem
pla boa amizade e conrespondencia que vm tinha com meu ma
rido e Primo Gregorio Antunes tenho obrigam de participar a vm
a desconsolacão e desamparo em que me acho, e a magoa q me asiste
na sua falta por ser Deos nosso snor servo terallo de minha compa
e levallo pa sy aos 7 de Dzbro do anno passado, ficandome dois meni
nos hum de quinze mezes e outro que pouco mais tem de hum mes de na
cido e suposto tenho a concolacão de falecer com todos os sacramtos da
Igreja por lhe dar logar a sua doenssa comtudo se faz maior a minha
magoa por ver q a sua morte foy ajudada de malificios que lhe fez
huã crioulla por nome Simiana escrava do Cappam João Nunes Fre
moradora a N S da Piedade com os quais lhe emcurtou os dias de vidas
depois de huã larga doenssa de perto de sinco mezes, no discursso dos quais
não ouve remedio que se lhe não fezesse esgotandosse todos os que lhe
apelicarão os medicos surgiois que lhe asistirão que dezemganadoz
de lho não acharem na medicena e de se não emtenderem com tal do
enssa o dezemganarão a que procurasse os que apelica a Igra ja pa a sa
ude do corpo, e ja pa que tratasse da sua alma que espero em Deos tera
em bom lugar pla recignacão e paciencia com q acabou, cercado de
mil tromentoz que padecio na sua doenssa que tambem me marti
rizarão a min plo ver padecer sem remedio, e ainda mais achando
me pejada, e por isso fiquey com mto pouca saude. O meu sentimento
me faz pedir a vm e ao snor D Afonsso Manoel de Noronha (a qm escrevo
pla boa amizade que teve com meu marido) queirão tomar pr sua
conta o dar pte ao sto tribunal da Inquizicão deste cazo pa mandar
tomar conhecimto delle pois a da crioulla publicamte confessou haver
feito os tais maleficios preztes varias ttas cujos nomes vão a margem
e he uzeyra e vezeyra a uzar delles e me consta o mesmo fizera ao sargto
Mor desta prassa Franco do essa baracho que acbou da mesma sorte e oz
tem feito tambem a hua escrava pr nome quiteria q servia o defun
to meu marido sendo soltro a qual esta acabando a vida da mesma
doenssa de seu Primo, e o ter durado mais estes poucos mezes he plos medi
coz
E Sorgiois lhe terem conhecido a emfermide e se lhe não apellicar
remedio algum, porem sem esperanssas de viver. A da crioulla se acha
ja recolhida a cadeya desta cide pla mesma culpa que lhe rezultou de hua
devassa que ex oficio custuma tirar o juis do crime em Janro porem como
nesta terra se não castigão feiticeyroz justamte receyo saia pa fora della
sem o que mereçe semelhante delito em o qual ha mais cumplices que
asociadoz com a da crioulla uzão destes maleficioz e outras semelhantes
diabruraz; e não satisfeita ainda com a morte do defunto meu marido
dizem publica na cadeya que em sahindo pa fora lhe não ha de escapar mo
lher e filhoz e que toda a minha caza ha de levar o mesmo caminho, a vis
ta do que torno a pedir a vm apelicacão deste par ou seya pr via de denuncia
ou como melhor se praticar naquelle santo tribunal pa o que se for necesro
aprezentar esta minha carta vm o faça, e tambem se for necesro fazer al
gua despeza vm não duvide fazella que estarey pronpta a sua satisfacão
com o primro avizo de vm pois o devo fazer asim não por odio nem pr vingan
ca mas prque o meu sintimto e a lembranssa do mto que padeceo meu mari
do me obriga a buscar o dezafogo da minha dor no castigo q o sto tribunal
da inquizicão custuma dar a semelhante gte pa evitar esta peste das republicaz
O par que o do meu marido tinha recomendado a vm de familiar
do sto offo não sey se estara nos termoz de se continuar, eu dezejava q não fica
cem as deligcas em pe quebrado por rezão dos dois meninoz que me ficarão
porem como não sey os termos em que estava cazo que se possa findar com
ellaz vm melhor aconcelhado o fassa e se pa isso não chegarem os 6tes rs que
vm tinha recebido estou pronpta pa toda a mais despeza avizandome do
estado em que fica este negco Permitame vm ocazions de seu servo e supos
to que faltou meu marido não me falte vm com novas suas pois sempre
as hey de estimar como qm venera a pessoa de vm a qm dezejo a mais felix saude
e pesso a Deoz nosso sr lha continue e o Gde ms ans
Ba
de Fevro 20 de 1755
As testemunhas são Ignacio d uzeda da franca morador na Rua dirta
de S Bento, Lourensso duarte meyra mor a N S
da Piedade, o Capam Bento Corra
gomes mor na mesma rua dirta de S Bento, Joaquim de Araojo mor
a N S da Piede
o Pe Pantalião que por sobrenome não perca mor a nossa sra da Piedade, o pretto
forro Jozeph mendes mor a N S da Piede, Anna Maria Correia moradora na
Na Rua dirta de
S Bento todoz da Frga de S Po velho extramuros desta
cide da Bahia, e o Pe Jozeph Mendes
mor na rua da Preguissa e Nicolau
de Uzeda preto forro morador no cais do sodre amboz da frega de N S da concam
da Praia, e Thereza Maria moradora a N S de Nazarethe Frga de S Anna
do Sacramto e as mais que a
publicide do cazo premitir etc
As cartas que vm me escrever venhão
debayxo de capa de meu Pay o sr
Manoel da
Sylva Machado em cuja compa e de minha
May fico com os meus dois meninoz.
Meu Primo e sr A de sima he copia da
que escrevy plo a
vizo e agora torno a repetir a mesma delegca significandolhe de
mais a vm o qto hey de estimar que esteja pessuindo
huá felix saude
eu ainda passo bem molestada Estou certa em q vm se não
descuidara de me fazer o favor que na de sima pedy, e meu Pay reco
menda
a Jozeph Franco da Crus morador nessa cide no cazo de ser
necesro algum dro asista com elle a ordem de vm ou do
sr D Afonco
Manoel de Menezes que com Rco de vmces sera satisfeito nesta a seu
Irmão. A crioulla se acha ainda na cadeya e tem feito boa de
ligca pa sahir della, e o não tem conceguido athe o prezte neste par não
ha pr hora mais novide que possa avizar a vm a qm apetesso todas
as felicidades e pesso a Deos Gde a vm
ms ans Ba 27 de Mco 1755
De vm
Prima mto afetuoza veneradora
Marianna da Ssilva Machado
Mel da Sylva Mdo