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[1730]. Carta de Joana da Trindade para a sua avó.
Author(s)
Joana da Trindade
Addressee(s)
Anónima8
Summary
A autora conta à sua avó pormenores do envolvimento amoroso de uma ama, empregada pela avó, com um padre.
Text: -
sinto a morer as couzas q Vm dis no
seu Escrito pois pudia fiar de mim q mais avia punir
pelo q lhe toqua do q por
criadas
Emfim adiente q a minha
furtuna he galante
Esta mosa dis q se Vm soubera
o q he Esa ama lhe não avia por culpa
nenhuma que
Ela dizelo a ama do ser Anto Garadas hera pa q Ela lho dise
se Esta qua se não atrevia a dizelo q
Em huã ocazião Em ca
za qdo la Estavão todos lhe teve Ela a chave da sua arca Es
condida mtos dias como Vm soube a qual chave servia
num
caxamzinho da snra D theodora
E huã ocazião a fui achar com
Ele aberto E lhe tirou hum corno de agevixe de tremolas
E eu
lhe dise não bulise Em
couza nenhuma q se lhe tirase algua
couza se avia achar menos,
qdo Vm as mandou aos capuxos
a via sacra Estando Elas de joelhos la dentro
se ergeo ela
E lhe falou
E ele lhe dise viese pa fora q dentro na Igra se não
falava
E ela veio pa fora E lhe falou fora todo o tempo
q ela
quis
E lhe dise lhe queria mto q Ele a tinha Emfeitisado q
Emqto ele Estivese Em Lxa se não
avia ela hir Embora
E se confesava a ele todas as vezes q Vm a mandava a Igra
sem Vm o saber
q Ela dise mtas
vezes queria fugir Com ele
Eu lhe dise hera isso tenta
são do demonio
a agoa de cordova duas vezes a levou a Igra
pa lha dar deu lha dentro no Confesunario
E num dia de são
João q Vm a mandou ao recio ver as capelas com a preta
o qual pe Emcontrou la E veio a falar com ele todo o Ca
minho e tempo q Ela quis
E tão Emlevada deixou perder
a perta
E o dipois andou douda por ela E a preta a chorar
E a
foi achar na rua dos canos
E numa ocazião Estando Ela
la E Vm em caza pasou Ele pelo rego
E ela lhe queria
abir a porta do quintal para Ele Emtrar
pa dentro pa lhe
lhe falar na Esquada
Eu lhe dise me não metia com iso q ao De
pois o não queria pagar
se ela o fizese
Eu navia dizer a snr
E ela se retirou não fes mas na Igra lhe falava todas as
vezes q la hia,
o
corno
de agevixe me deu Ela a mim
E me dise se me perguntasem q mo dera disese Eu o troxera
de alcobasa
E lhe tirou hum rotario de contas brancas com co
rola de prata
E ela me dise falava
as mais das noites Com o Moxila de Lourenço Caetano da ginela
da camara
E ele lhe deu os dois pentes de tataruga q
ela me Em
prestou qdo vim
E por Vm não saber os deu ela a seu Ir
mão as Escondidas pa q lhos dese a ela diente de Vm
dizendo
q Ele lhos dava
E lhe deu hum lenso de canbraia
E lhe deu hum
Coarto de ouro q Ela gastou na nazare qdo la foi
E lhe dava
tudo
pela ginela
E ela he q me dezencaminhava pa q Eu não
fose a Vm homilde porq dezia q qdo
a gente se mostrava a
Vm homilde antão Estava Vm pior
E q tudo he a mesma
verdade
q se ela lhe levanta algum testemunho q ela lho não
perdoi
E lhe dise tudo de Izabel logo qdo Ela veio de alcobasa
E defamou a sua caza de sorte q Ela o não pudia Cer
dise q
suas mces Estavão tão pobres q Estavão devendo as orelhas
E venderão as cazas pa se remediarem E quada ora lhe vinhão
os devedores a porta E q o ser respondia não tinha com q pagar
o q Eu achei tudo mentira
Eu detremino ter sedo grade q
ja a pedia mas diseme a me pra me daria a reposta
Em ma dan
do logo avizo a Vm q nela lhe dira o mais
mas q a ama
foi
o demonio q com ela se meteu q se ela não fora tanto sua
alcoviteira não ficara Ela tão culpada mas q agora lhe
peza não dizer tudo a
Vm
q todas as noites tirava a Vm
as chaves debaixo da cabiseira pa lhe revolver tudo qto Vm tinha
Eu não falei com niguem q Ela se mo alevanta
Ds sabe a verda
de q na caza de Vm nunqua tive Esa ofoiteza
pa a grade
fica
mais q he o q pude saber
Neta E serva de Vm
Joanna
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