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1776. Carta de Dona Josefa Maria do Nascimento Ferreira Sousa para José Anastácio da Cunha, matemático e poeta.

SummaryA autora escreve a José Anastácio da Cunha, dando noticias de uma discípula sua e da doença do rei D. José.; foi anteriormente publicada por Teófilo Braga (1898:625), por António Baião (1924/1953:110-111). A Inquisição resumiu assim o conteúdo do documento: "Carta de D. Teresa [por Josefa] Maria do Nascimento datada em 9 de Novembro de 1776 em que lhe agradece o Drama do Voltaire e a tragedia Bourgeoise".
Author(s) Josefa Maria do Nascimento Ferreira Sousa
Addressee(s) José Anastácio da Cunha            
From S.l.
To S.l.
Context

Pequena biografia de José Anastácio da Cunha (1744-1787), preparada por Fernando Reis para a página "Ciência em Portugal" do Centro Virtual Camõeshttp://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p7.html:

Matemático e poeta, nasceu em Lisboa a 11 de maio de 1744. De ascendência humilde, o seu pai, Lourenço da Cunha, era um pintor com alguma notoriedade, que passou um curto período em Roma de forma a melhorar a sua técnica. A sua mãe, Jacinta Inês, foi criada e recebeu educação elementar. José Anastácio da Cunha foi educado em Lisboa, no Convento de Nossa Senhora das Necessidades que pertencia à Congregação do Oratório. Segundo testemunhos do próprio Anastácio da Cunha à Inquisição, os Oratorianos ensinaram-lhe Gramática, Retórica e Lógica até aos 19 anos. No que diz respeito à Física e à Matemática foi um autodidata. Em 1764 foi nomeado Tenente do Regimento de Artilharia do Porto e colocado na praça de Valença do Minho. O Regimento de Artilharia do Porto era constituído por uma maioria de oficiais estrangeiros, muitos deles protestantes, que influenciaram Anastácio da Cunha. Terá então aderido a ideais como a tolerância, o deísmo e o racionalismo, que vieram a integrar a sua produção científica e poética.

Devido à sua relação de amizade com os oficiais britânicos, aprendeu a falar inglês fluentemente o que, juntamente com os conhecimentos que tinha de outras línguas como o francês, latim, grego e italiano, lhe permitiu traduzir autores como Voltaire, Pope, Otway, Horácio, Rousseau, Holbach, Helvetius e outros. Pensa-se que foi neste período que aderiu à maçonaria, por influência dos seus amigos estrangeiros.

Em 1769 fez, a pedido do Major Simon Frazer, uma memória sobre balística, intitulada Carta Fisico-Mathematica sobre a Tehoria da Polvora em geral e a determinação do melhor comprimento das peças em particular, onde apontava erros e falta de precisão que encontrou em alguns trabalhos sobre artilharia. Em 1773 o Marquês de Pombal nomeou-o lente de Geometria na Universidade de Coimbra, na sequência da Reforma da Universidade levada a efeito em 1772. Anastácio da Cunha não encontrou ambiente propício ao desenvolvimento e aplicação das suas capacidades e após a morte de D. José I, em 1777, foi denunciado à Inquisição, preso em 1 de julho de 1778 e acusado de envolvimento com os protestantes ingleses em Valença, de ler Voltaire, Rousseau, Hobbes e outros autores perigosos e de corromper as gerações mais novas através da sua eloquência. Foi considerado culpado das acusações e excomungado, afastado do seu cargo na Universidade, dos seus títulos e viu confiscados os seus bens. Foi ainda condenado a participar num auto da fé e a ficar encerrado na Congregação do Oratório em Lisboa, após o que seria deportado para a cidade de Évora durante 4 anos. Foi ainda proibido de voltar a Valença e a Coimbra. Após dois anos nos Oratorianos a sua pena foi reduzida a residência obrigatória nos Oratorianos.

Entre 1778 e 1781 teve que se dedicar ao ensino privado para subsistir e em 1783 foi contratado pelo Intendente Pina Manique para o Colégio de S. Lucas da Casa Pia como professor de Matemática, tendo aí elaborado o programa pedagógico da Casa Pia. Enquanto esteve na Casa Pia concluiu a sua obra Princípios Mathematicos. Por volta de 1785-86 perdeu a sua posição na Casa Pia, por razões que se desconhecem. Morreu a 1 de janeiro de 1787.

O processo inquisitorial de José Anastácio da Cunha foi inicialmente estudado e parcialmente publicado por Teófilo Braga, António Baião e João Pedro Ferro: Teófilo Braga (1898) Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza. Tomo III 1700-1800. Lisboa,Typographia da Academia Real das Sciencias (pp. 611-636), António Baião (1924/1953) Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa, Vol. II, Lisboa, Seara Nova (2ª ed.) e João Pedro Ferro (1988) "O processo de José Anastácio da Cunha (1744-1787)", in Inquisição: Comunicações apresentadas ao 1.º Congresso Luso-Brasileiro sobre Inquisição, Vol. III, Lisboa, Sociedade Portuguesa de Estudos do Século XVIII, pp. 1065-1086.

Sobre a vida e obra de José Anastácio da Cunha, consulte-se a edição de Maria Luísa Malato Borralho e Cristina Alexandra de Marinho (2001) José Anastácio da Cunha: Obra literária, Vol. I, Porto, Campo das Letras.

Support quarto de folha de papel escrito nas duas faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra
Archival Reference Processo 8087
Folios 44r-v
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2009

Text: -


[1]
Sr Joze Anastacio da Cunha
[2]
Eu tencionava hoje neste ercecicio demorar-me pa poder mostrar-lhe o qto lhe merecemos as estimaveis ex-perssoens q nos fas da sua saude e afectto:
[3]
porem sabado da Me de Ds e vezita do jubileo tudo me embaraça.
[4]
O q poso é protestarlhe o qto estimamos q milhor da sua cabeça, e q continue a tradução pa termos o gosto de o vermos pa o tempo q esperamos.
[5]
Nos pasamos bem ex-ceto sua Disipula q tem andado com gde defluxo e alem deste tem continuado a padecer as costumadas mulestias não ostante o uzo da quina e varios remedio q tem tu,-mado
[6]
mas qre Ds mortificarnos qdo terão fim:
[7]
Ma Iga portesta não ser emgrata nem preguicoza;
[8]
porem dis q todas as diligcas q fas pa estudar são baldadas; vista a continuação do seo padecer
[9]
porq se huma hora esta levan-tada as outras esta deitada;
[10]
emfim padece continuamte
[11]
Eu lhe emtreguei os livros; e ela lhe fas sinseros agradecimtos de concorer tanto pa a sua concolação:
[12]
ella me dis ficou emcantada com o Drama do Voltaire, e com a tragedia Bourgeoise e q cada no seo genero, tem pa ela grde merecimto
[13]
Ella e sua Irmã se recomdão mto mto
[14]
As notas da Corte são funestissimas
[15]
dizem q Elrei esta dezenganado de não poder viver senão dias
[16]
Ds qra eles se emganem
[17]
da Noiva do Minho, temos notas tristes q está mto desconçolada e q acha o marido mais velho do q lhe dezião com q isto não concorda com a nota q o criado do Robim deo
[18]
todo o emprego do seo obzequio miseramte estimavel sempre porq sousua par veneradora
[19]
D Jozefa Ma doNasco Fera Soza
[20]
9 de Novembro de 1776

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