Esta carta quinhentista foi recolhida no fundo Colecção de Cartas, unidade de instalação Cartas Missivas e outros Documentos. Esta unidade agrupa, em 4 maços, documentos dispersos de datação incerta ou incompleta. A partir da informação interna da própria carta, tenta-se inferir datas extremas e dados que a situem e, de alguma forma, a contextualizem.
No contexto da primeira ocupação portuguesa de cidades no Norte de África, surge o documento que aqui trazemos, escrito por Dom Álvaro de Abranches. Era um fidalgo que tinha tido a sua primeira experiência de armas nas praças de Marrocos. De 1513 a 1520 foi mestre sala do rei Dom Manuel I. Depois, foi capitão de Tânger em 1532-1533 e capitão de Azamor de 1534-1537, altura em que terá composto esta carta. Por devassa régia, foi mandado prender no castelo de Lisboa em 1537, sendo perdoado em 1545, mas passou os anos seguintes a contestar uma decisão associada, que o privou dos rendimentos e da capitania de Azamor. O destinatário da carta era Henrique Vieira, um mercador português que terá vivido em Safim, Azamor e Santa Cruz do Cabo de Gué e que, no período de 1536 a 1538, teve papel ativo na obtenção de acordos de paz com os soberanos de Marrocos. Depois da queda de Santa Cruz do Cabo de Gué, empenhou-se no resgate dos cativos e também veio a ter de se defender de acusações que lhe foram apontadas. A carta parece ter contidas algumas das razões que conduziram às acusações contra autor e destinatário.
Bibliografia:
“Vieira (Henrique)”, (s.d.) Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. XXXV, Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia Lda., p.241.
Anselmo Braamcamp Freire, “A Gente do Cancioneiro”, (1907), Lisboa, Revista Lusitana, vol. X, Publicações do Centro de Estudos Filológicos, pp. 271-275.