Fernão Rodrigues de Trancoso, frade da ordem dos Socolantes, tal como o próprio refere (PSCR0074), residiu no norte de Itália onde tomou contacto com a comunidade judaica da região. A pedido de uma mulher judia, Mira Charavola, escreveu uma carta ao seu marido, António Rodrigues, de nome judaico Judá Barroca, que havia voltado a Portugal com o intuito de levar a sua família para o norte de Itália (PSCR0075). O mencionado frade escreve então ao embaixador da Coroa portuguesa em Roma, Dom João Telo de Meneses, pedindo-lhe que reenvie à inquisição de Lisboa a carta encomendada por Mira Chavarola e ainda uma outra em que denuncia os feitos de António Rodrigues, que entretanto ficara a residir em Lisboa. A presença deste conjunto de três cartas nos Cadernos do Promotor mostra que o seu pedido foi atendido.
Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.