A presente carta encontra-se no processo de Catarina Dias, "A vidreira" (vendedora de vidro na Ribeira de Lisboa), presa a 11 de novembro de 1576, por culpas de bigamia. Casara em Lisboa com João de Medina, calceteiro, estando já casada com Gonçalo Eanes, ainda vivo. Cerca de vinte anos antes, poucos meses depois de se ter casado com Catarina Dias, Gonçalo Eanes partira para o Brasil onde exercera a profissão de serrador. Em 1576 já vivia da sua fazenda, tendo escravos serradores em sua casa. Encontrando-se muito doente, escreveu ao padre Gregório Serrão para ele tentar que a mulher fosse ter com ele. Em abril de 1577, o padre Gregório Serrão, que na altura residia em Lisboa, no mosteiro de Santos, entregou a carta na Mesa do Santo Ofício, abrindo o processo de Catarina Dias, no decorrer do qual as testemunhas chamadas à Mesa do Santo Ofício e que tinham estado com Gregório Serrão no Brasil afirmaram que ele estava muito doente e com "ruins cores".
Catarina Dias, "A Vidreira", foi sentenciada a degredo para o Brasil, para se reunir ao marido, mas fugiu (possivelmente para Almada) antes de cumprir a pena.
Request letter sent from Gonçalo Eanes, a sawmill owner, to Gregório Serrão, a Jesuit priest.
The author asks the addressee to try to make his wife join him in Brazil before he dies.
Catarina Dias, a woman who sold glass in the Lisbon market square was arrested and accused of bigamy by the Inquisition in 1576. She had married a sawmill worker, Gonçalo Eanes, twenty years earlier, just before he went to Brazil, where he became rich as a sawmill owner. He lived by his rent and had several sawmil slaves in his house in Bahia. Catarina Dias remarried a paver, João de Medina, while her first husband was still alive and the letter here published was given to the Inquisition by its addressee as a proof of her guilt.