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Em xbiij de março passado tive hũa de vs do primro de fevereiro
da qual entendo aver reçebido quatro minhas por via de thomas de
carnoça po o qual as eu avia enderesçado mas não de maneira q vs
me dis porq a copia da de xxij de julho e a de xxix d outubro cria
eu lhe serião mandadas por via d Arrauza mas paresçe que frco
biffoli ou não teve nesta parte o cuidado q cumpria ou ellas lhe não
forão a mão a tempo q o podesse fazer/ todavia folgo serẽlhe dadas
porq servirão ao menos de mostrarlhe o cuidado q tenho do q me
manda/ nas derradras não escrevi a vs algũs queixumes
dos meus olhos por ao tempo (louvores ao senhor) me achar algũ
tanto milhor delles e assi não avendo este empedimẽto escrevi
por todas as naos q pera meçina partirão e sou çerto serão minhas
cartas dadas a joão lomelino por o bom cuidado q frco biffoli me es
creve aver tido em lhas enderesçar por via de veneza lhe não
tenho escrito por não aver pera ali outra nao q a que a copia
desta levará/ e vs pode crer e estar satisfeito não faltarei
de por todas vias o avisar de tudo o q qua passa/
As cousas do suez tenho escrito a vs estarem em calma e ter
jafar capitão mãdado a corte e cresse mãdar pedir dez gales
somte pa cõ ellas fazer prezos na costa de melinde ou da india/ A
reposta e resolução desta sua petição se espera cada dia e crese sera a q
elle deseja poq alem de aver mãdado grosso presente aos barõs he feito
deste cairo o q nas minhas passadas escrevi a vs ser
do zebir mto grande amigo seu/ Assi q elle cõ espe
rança e eu cõ cuidado grandissimo d entender tudo o q for
possivel seus desenhos e de tudo o q socceder avisar a vs/
e açerqua das cousas de suez não há q de novo lhe
(como digo) tudo ali está em calma/ aqui no cairo faz e te
nho entendido avera pera se poderem armar xxb galés/
A madra de q avisado tenho ser vindo em quatro naos hé já toda
vinda d Alexandria aqui e os nossos portuguezes passarão os dias
passados o tempo em trazer as costas da borda do nillo a hũa terra
çena q perto está onde se poem em pilha, he antre elle remos mais
de mill//
Tanto q Anrrique da gama aqui chegou compeçou logo a mostrarse a toda
sorte d homẽ crendo q po esta via lhe viria a salvação/ e foi isto tão desor
denadamte q vendo eu os dãnos q daqui lhe poderião vir lhe fiz por hũ
portuguez desses cativos amigo meu entender quã errado caminho
levava pa poder alcãsar o q tanto mostrava desejar e q soubesse
çerto q nesta terã avia hũ homẽ mto particular servidor de vs e que
por sua liberdade faria tudo o q fosse possivel/ a qual cousa seria
mto façil se elle de sua parte puzesse hũa pouca de paçiençia somte
e q çedo por carta de vs veria a çerteza do q lhe dezia/ ficou elle
algũ tanto acquietado com esta esperança e ao seu servidor es
creveo hũa carta e nella me dava conta de suas cousas e me roga
va quisesse verme cõ elle/ não quis eu nesta parte fazerlhe serviço
vendo quã rota a fama de sua fugida entre judeus andava mas não
deixei de o fazer cõçolar o milhor q pude dandolhe a causa por q
ao tempo se não podia por em obra o q eu po elle desejava fazer/
passou algũs dias cõ esta esperança e vendo q o q eu lhe dezia se dillatava
mais do q elle qria tornou de novo a matarme com recados vão e
recados vẽ, e poderão tanto os descõçertos q nesta partida fez q temẽ
do eu hũ mais grave quis cair em hũ não peqeno erro e deter
minei verme cõ elle e antre as mais cousas q cõ elle passei
lhe pedi se lembrasse de quẽ era e q pois nosso señor o avia tra
zido a tal estado soubesse elle averse como homẽ prudente e maduro
e não como mãcebo na qual cõta o tinhão os q de seus descõcertos sa
bião prometendolhe por sua liberdade fazer o q por minha propia
pessoa deveria cõ outras pallavras cõ q elle devera ficar satisfeito, mas
não quis minha vẽtura e triste sorte q isto lhe podesse persuadir
mas queria (sem ponderar o perigo em q todos encorriamos) se puze
sem logo em execução çertos conçeptos (ou por milhor dizer) sonhos
seus/ mas como nosso señor nos maiores trabalhos se ache
quis por sua bondade infinita socorrernos cõ a carta de vs
mais q po outra de mỹ cõ mto contentamto reçebida
entendendo elle o officio q eu avia feito em avisar
delle a vs e o q me mãda por sua liberdade aja de fazer se
acquietou e esta çerto da liberdade q nosso señor po sua mise
ricordia lhe dará/ eu folgo em estremo entender os desejos
q vs della tem poq quanto sinto serẽ elles maiores, tanto
mais me esforçarei a nisso servir, e darme o cargo desta
obra reçebo po merçe grandissima espero servila em cau
sas em q mais por seu serviço se arrisque, e o q neste
negoçeo dis lhe farei não quero sirva de mais q de me
resçer o q diguo elle tenha ordenado entregarse a judeus
do qual proposito o eu tirei e tinha determinado dar este
cargo a hũ christão amigo meu e desta determinação
me tenho tambem por bom respeito tirado e tenho outro
q cõ mta industria e cuidado e a salvamto de todos faria cõ a
juda de nosso señor tudo o q vs neste caso pode desejar,
seu amo esta por baxa deste cairo e crese virá mto presto
outro em seu luguar porq segũdo a uzança turquesqua
não he esse o seu/ se elle se fosse seria pa nos hũ grãde bém
poq em se querendo partir o poderiamos fazer nosso feito
e mto a nosso salvo, e isto estou esperãdo e terei çerteza po
todo maio/ e sendo caso q o dito baxa aqui fique tenho deter
minado tanto q esta çerteza tiver metelo em hũa ca
sa q ja pa isso tenho mto secreta e nella estara até a cousa
se resfriar e depois darei ordem como passe a essa corte
e casa, e isto cõ ajuda de nosso señor seria té o fim de setẽbro/
ora vs deve estar mto satisfeito e cõfiar q neste nego
çeo farei tudo o q for neçessario, e viva seguro e cõtẽte
porq a menor parte desta obra tenho mais a cargo q todas
minhas cousas jũtas poq tanto o amor q a suas cousas
tenho q quando eu bem fizesse po seu serviço mais
daquillo q eu posso não deixaria por isso de ser mto menos
do q eu devo e do q eu qria poder po elle fazer/ e nesta
não tenho mais q dizerlhe somte pedirlhe cõsole
cõ ao señor Amto da gama e a sora dona isabel
da silva encomẽdandolhe q cõ orações seja ajudado
nosso proposito e entenção poq isto hé o de q a
mais neçessidade//
Já por meçina tenho dado aviso da reçebida das suas de 2 e ulto
de novẽbro/ o dupplicado q dis averme po veneza mãdado não te
nho té agora avido, mas esperasse cada dia nao po a qual o terei cõ
os xxb # q na sua dis por a dita via me mãda//
o que açerqua dos escravos me mãdo diga aos portuguezes e fiado
res / fiz/ e na esperança q em vs tem vivẽ todos mto cõtẽtes//
Eu tenho escrito a vs os nomes dos q novamte são vindos e cõ
esta serão tambẽ escritos por elles mesmos, agora morreo
aqui hũ tal castanho q era patrão de fusta//
Terei cuidado de fazer o offiçio q me mãda cõ o mocadão creo
aceptará de boa võtade a merçe q vs lhe offereçe//
Dos corrimtos d Anto pinto me não espanto q ja sei serem
todos esses homẽs criados na india nessas nossas partes
tanganheiros, mas não queria q sua enfermidade fosse
tal q causasse algũa tardança e enpedisse sua vida/
Folgo mto em estremo ser André Ribro cheguado a
essa casa, fez o q eu lhe rogei, nẽ d homẽ tão honra
do esperava eu menos//
Com o visorei ser tal devemos todos estar cõtentes, quei
ra nosso señor faça de manra como estes imigos não
gozẽ tanto de nos como, te aqui fizerão/ ainda q passa
do o cabo de boa esperãça dizem cursarẽ logo outros vẽtos
Eu escrevi a vs ser surrate toma
do por Ilerei de cambaia por assi mo affir
marẽ da parte d hũ sequeira q aqui está ca
tivo/ mas depois soube não aver mais
q pagar o capitão daqlla fortaleza tributo
a Ilerei nosso senor/
aviso a vs da mta quantidade d espeçias q aos
o estreito os dous anos passados veo e se espera
ainda este, e quero crér q tanta copia como aquí
vejo vir não podera passar sem consentimto dos que
aqllas partes governão/ e crea ser mto mais do que
nas passadas tenho dito poq cada dia entrão neste cairo ca
ravanas do tór e cóçer e não trazẽ outra cousa que
espeçias e tenho sabido serem entradas d hũ anno
a esta parte neste cairo çínquoenta mil quintães
d espeçias de toda sorte e o mais hé pimẽta, cousa q
não sei eu se a vs parescera fabulosa/ mas já
pode sér que o q direi lhe dará algũa cór de verdade/
A renda desta speçia estava agora faz tres annos em
cem saccos (tem cada sacco seiçentos e vinta çinquo
cruzados) e de dous anos a esta parte arribou a
duzentos e çinquoenta saccos em tres anos/ e assi
A renda d Alexandria estava em trezentos saccos e
po causa da mta quantidade de pimẽta q na terra
há arribou a quinhentos saccos em tres annos/
ora veja vs esta puia a qual não seria se a
mta copia d espeçias não fosse, as naos venezea
nas q ao porto d Alexandria vẽ não levão outra
cousa q espeçias e se as não ouvesse nhũa entraria
nelle/ e o mesmo digo das de frança/ eu não sei a causa
por q s Al permite q os mercadores da india tratẽ
neste estreito pois disso lhe vẽ grande dãno// não
seria mto milhor q pois as naos q ao estreito vẽ partẽ
dos portos de s Al ou donde ao menos os podẽ obriguar
q s Al quizer ordenar q nhũa nao sob pena
castigo entrasse neste estreito/ e quẽ quizesse/
navegasse pera ormus, e os direitos que
quer outro porto do estreito ao turco pagão, pagasse a s Al
e dali poderião levar os mercadores suas roupas
q hé porto do sophí e dali por terra a halepo, e damasco,
como agora fazem/ resultarião daqui mtos proveitos
a s Al, o primro q descarregando os mercadores suas
mercadorias em ormus não se poderia furtar tãta
quantidade de pimta| como por qua se faz/ o 2º q paga
rião os direitos em ormus/ o 3º q não vindo por
esta parte nẽ po aqlla tanta quantidade de pimẽta
serião venezeanos neçessitados hir po ella a portugal/
o 4º e mais importante q vedandose esta navegação
o turco não teria gales em moquá, nẽ averia suaquẽ
nẽ coçer e o estreito não seria tão abũdante de naos
gelvas e outros navios como agora hé/ e não leva
rião a india tantas mercadorias ao bem dos nossos
tão contrairos como agora levão/ poq as naos q pa
a india vão não levão senão cobre, azouge, enxofre,
lanças, espadas, cavallos, e turcos/ veu q cada ano vẽ
hũa nao de surrate mto grossa carregada de pimta e não
leva outra cousa q armas e turcos cõprados po seu
dro/ ora os capitães de s Al não vem isto/ porq
dara o visorrei cartas ao capitão de surrate pa po
der mãdar naos ao estreito pois hé çerto ser imigo e não
pretẽder outro q nosso dãno e avisar os turcos de nossas
cousas/ contẽtome cõ aver tocado estas cousas assi em
breve sobre as quães creo fará vs o descurso neçessario/
Manda o visorrei tres catures ao estreito a quẽ novas
d armada, nũqua tamanho erro ví/ o suez
esteril de todos os do estreito, e a elle não
de nhũa parte, assi po caresçer de pão agoa e das mais
neçessarias como po o turco po causa d armada q alí
está dar esta ordem/ e não hé como a nossa ribra de goa
q não vẽ turco nẽ mouro daqllas partes q não saiba
q não saiba dizer quantos pregos tem o galeão são luís
assi q a gelva ou navio q o nosso catur tomar não
pode do q no suez se faz dizer cousa çerta/ senão de
ouvida/ o são homẽs curiosos de saber, delleitão se de
novas/ a mais rustica e bestial gente q ha no mũdo/
descalsa/ nua morta de fome e de çede, se mãda
saber novas do Abexim hé outro/ mas d armada hé
impossivel saberẽ outras salvo as q já algũas ve
zes levarão, . s.. falsas, inçertas e algũas vezes dã
vosas/ quanto milhor seria q s Al ordenasse como
neste cairo estivesse hũ homẽ de quẽ este cargo se
podesse cõfear pa q vendo as cousas por seus olhos
possa dar o aviso neçessario assi na india como em
portugal, e seria tambẽ cousa mui expediente
ordenar s Al como nesta carreira andassẽ dous
homẽs indianos christãos pa q do q aqui estivesse
levassẽ cada monção cartas a india/ e desta manra
se saberia çerto o q se faz e s Al seria servido
e escuzarse hião gastos e risco das fustas q ao es
treito por esta causa vem/
Do Abexim não tenho nova algũa, os frades ou embaixa
dores ainda aqui estão, do q delles se fizer avisarei/
e não se offeresçendo outro peço a nosso señor faça
tão contente quanto ha feito a mỹ em mo
por señor, e peçolhe aja por bem reconhesçer/
sempre por tão verdadro e obrigado q
eu lhe sou/ do cairo 4 d Abril 1561/
Beija as Illes mãos de vs/
Mathias bicudo furtado