Frei Joaquim de Foios elogia a obra do destinatário. A Inquisição resumiu assim o conteúdo do documento: "Carta de Joaquim de Foyos datada em Lisboa a 17 de julho de 1772 em que lhe reprehende de traduzir a oração universal de Pope que contem cousas que não cabem no homem cristão esta faz algua carga ao R[éu]".
Sr
Jozè Anastasio da Cunha.
Não lhe sei encarecer, o qto, há muito tempo,
desejava boas noti-
cias suas. O Tenente João Baptista, em que
VM tem hũ
grande admirador, e hum amigo, que
conhece e sabe avali-
ar o seu merecimo foi quem
me deu noticias individuaes;
e isto mto por
acaso, porque eu não tinha conhecimo algum
do
tal João Bapta mas vindo aqui à livraria desta
casa, me fallou na sua Arithmetica Universal, e
me repetio alguns versos, dos
que VM tinha feito. de-
pois me trouxe a Arithmetica
e os versos, os quaes a-
ctualme parão na
ma mão.
Qto a confissão, que
VM faz dos seus erros, creyo que
he em
pte necessaria, e em parte não. E
primeirame pelo
que toca aos versos,
prescindindo da materia, não são in-
dignos de apparecer, porque em todos elles
são os pensa-
mtos verdadeiros, e muito
frequenteme nobres e poeti-
cos; assim a
huns sustenta os a verdade, a outros levan-
ta os a novidade, a belleza, e ainda
a sublimide. A
Ode sobre a Empresa da Academia de
Valencia he hum
Dithyrambo, de que gostei muito. Os Heroicos, que tem
por
epigraphe Veritati sacrum contem muita
coiza
boa e verdadeirame poetica. Porem a materia
de quasi todos
os outros versos não sei eu, nem saberá ninguem desculpar
corrompe e perde não só o Christão, mas ate o homem. Sim
estão de coizas deste
genero cheyas as obras dos poetas, mas