O autor escreve a Ana Vitória pedindo desculpas pela demora, justificando esta com os atrasos do correio por causa das condições meteorológicas e com o seu serviço de padre, que lhe deixava pouco tempo para a escrita.
J M J,
Minha filha em Jezu Christo este Sr te assista sempre com a sua divina graça
e te dê mto do seu amor; pa q fortalecida com este possas levar os trabalhos, q elle
mesmo te permita. Sinto q por meu Respeito tenhas tido tanta mortificação, e afli-
ção; porem entendo q ja estarás aliviada do cuido q te oprimia; porq ha quinze dias
q te escrevi, e ja hades estar entregue da carta, e descansada. A grande demora dos Correios,
os tempos de chuva, q não permitem, q elles cheguem a tempo de se poder escrever, ao ter
mtas vezes, q fazer na minha obrigação he a Cauza destas demoras. Na tua me dizes q
tem lá havido embrulhadas a respto de mim, eu não sei de couza alguma, nem de tal te-
nho noticia; porq ainda q a Religioza, q eu dirigia me deixou, e tomou outro, da minha
parte não houve nada, nem sei q lá haja couza de turbação, só se me não querem dizer.
Tãobem hum Donato q se confessava Comigo me deixou, e só o Capellão Fr Jozé he q con-
tinua a escreverme, o qual tãobem me consta q tem estado com cuido em mim por-
falta de noticias minhas; porem tãobem ja ha de estar descansado; porq por elle he q eu
te escrevi, e te escrevo tãobem esta; porq esse he firme, e não se ha de mudar com tanta fa
cilide Eu graças a ds estou bom, e tenho passado bem nesta terra, e as Religiozas estão mto
satisfeitas, e contentes comigo, e ja cá tenho seis a minha conta, e com esperanças de mais.
A dezoito do mez passado houve huma entrada, e ámanhã Vespera de São Jozé ha outra,
e estão mais tres pa entrar, com q não falta q fazer, e em q me ocupar, mas o q dá trabalho
he qdo morrem. Dezejo q vás continuando as Confissoens, e Comunhoens ainda q com morti-
ficação, e trabalho, mas tudo he precizo pa agradar a N Sr e alcançar o Ceo. Não te des
cuides da sta Oração; pois esta he a q dá fortaleza a Alma pa os trabalhos, e pa vencer as
tentaçoens. Conserva sempre no Coração hum ardente dezejo de agradar em tudo a Ds e de
lhe fazer em tudo a vonte e confia mto neste sr e ama-o bem deveras, e com todo o Coração,
com toda a alma, e com todas as tuas forças, q ainda q são poucas, o mesmo amor tas aumen
tará. Sofre Com paciencia tudo o q se te offerecer de mortificação, e conformate em tudo
com a divina vonte Reziste com valentia a todas as tentaçoens, e prosegue com valor no
serviço de Ds a qm peço me encomendes, e o mesmo te gde como mto e mto dezejo.
Faro
dezassete de Março.
Fr Nicoláo.
Recomendame a Quiteria.