Amo e sor este Correo não
tive carta de Vm por cuja
cauza fico com cuidado por
imaginar q
andava ocupa
do com a sua jornada q he
a couza q eu mais sinto ter
a Vm tam longe, por cuja ra
zão
fico com muita pena
ainda q ma alevia o sa
ber q Vm logra Saude porq
asim mo escreveo
o Amigo
Don Sebastiam de Miranda
q logo me mandou entre
gar as 12 patacas as quais
o amigo
dom Sebastião de
Miranda digo Dom gabri
el Luis deu logo com a
maior pontualidade q se
pode pelas quais beijo
assim a mão Muitas e repe
tidas vezes pelas honras e mces q me fas: eu ja hoje
foi o pro
dia q sahi fora porem tam fraco q não po
so andar, fui a comfessarme q he o q devia fazer
em pro Lugar, despois ds ajudara. hontem escrevi
hua carta ao sor Mendo foyos em q lhe dezia q as
cauzas
por q não quiz ate gora açeitar a comida q Sua mce
me queria dar
havião sido por me parecer
q esta enfermidade não fose
tão larga, e porq me achava
em comvalesensa em a qual
me hera neçessario fazer mais
gasto lhe pedia me mandase
asistir da cozinha pa ajuda
de convaleser. Respondeo
q me desem tudo o q
me fose ne
cessario: esta suplica lhe
fiz porq me diserão q estava
enfadado comigo por eu não
haver querido açeitar
o q me
mandava dar, por e eu por
saber se era asim, e se per
sestia no mesmo emfado lhe
fiz
fiz esta suplica para q
em cazo q eu não me manda
se dar nada me mudar de
caza, porq
não era rezão q
eu estivese aqui comendo a
minha custa, e com sua reposta
fiquei sosegado, e me deixei
ficar.
Sem embargo
q eu em
o papel q lhe escrevi dava
aquela disculpa porq não havia aseitado, não
era aquela a cauza. a cau
za era, porq aseitando eu a primeira vez a comida q mandava dar, vi
q o picaro
do corrieiro q he o q governa, me mandou ao jantar meijo a
Ratel de carneiro sem mais
pam, e a noite não mandou de sear couza
nenhua, como vi isto ao outro dia vindome perguntar q queria ian
tar, e isto as duas horas
depois de meio dia, lhe Respondi q nada, elle
gostou mto e não me mandou couza nenhua mais, nem entrou mais
a verme sendo q o sor Mendo foyos me veio a ver sinco vezes o
o seis, este cavallero he mto
bom fidalgo
porem não sabe
governarse da porta para den
tro, pelas rezois q direi.
Primeiramente o seo Mor
domo q he o corrieiro
he o
descredito desta caza, porq
faz ofiçio de Mordomo, faz
Ofiçio de comprador, faz
Ofiçio de pagem pegando nas
tochas, e indo
comprar a car
ne o asouge, e o pexe a prasa,
e o q pode furtar furta e o em
via a putas: os outros dois
gentis homens q
trouxe são
pagens, e são gentis homens
porq tomão as tochas com ca
pa e espada, servem a meza
Levando a comida com capas
e o corrieiro tambem faz o mes
mo e serve a meza e leva os
pratos com capa e hua noite
foi alumiar ao sor Conde
de
Oropeza com hua vela: finalte paramos deste Corrieiro murmarão
todos e não so castelhanos, como portuguezes do descredito da caza, e he
tal q manda pedir pais paens emprestados a vezinhança pera por ao
senhor na meza
a horas de comer: os Lacayos zombão dele, porq di
zem q hu corrieiro não he pessoa para os poder mandar, e todos cla
mão pello sor Duarte Ribeiro e por Vm , e não so os Lacayos como
a vezinhansa: o sor Mendo foyos ia sabe
alguas couzas delle, e ia o
ouvera emviado para Portugal se não fora hum frade q aqui esta
dentro de caza Portugues, q
o
desculpa. a sala sempre esta
fechada não se abre senão
quando vem algua vezita, e
quando vem a vezita andão
buscando quem tem a chave
e não parese nenhum, e a ve
zita aguardando, e elles me
tidos todos em caza da taba
queira, porem sabendo o sor
Mendo fojos
hu dia destes o q
pasava em caza da tabaquei
ra, e me parese q hum se
afeiesou a filha q receando
se cazava com ella, mandou
q nenhum entrase la mais,
nem de caza da tabaqueira vie
sem aqui, e q se viese alguem
q lhe desem com hu pao, com
q ia não vão, menos o corrieiro
q a furtadelas vai. fora obra
boa se se lhe puderão
tirar de
caza este corrieiro isto so
sua Alteza lho podia mandar.
hum dia foi o corrieiro
comprar carne e entrou no asouge a cavalo,
o q não se acostuma ca, os
carniseiros q tal virão derãolhe hua surriada e elle apunhou a espada,
e perguntadolhe quem
era soubese q era Mordomo do sor Mendo fojos, e
o senhor Mendo fojos soube disto, e desde q o soube numca
mais o levou
no coche consigo. com o que a vista disto não se fala em outra couza
mais q no governo do sor Duarte Ribeiro,
e de Vm, e na sua modestia
todos a hua boca, crea Vm q estas dezordens desta caza tem dado
mayor credito
Vmces, q sem embargo q ficarão em bom credito
he agora quatro vezes ma
ior com as dezordens
desta caza
azerca dos pagens tam
bem não faltou quem ia dise
se ao sor Mendo fojos q neçe
sitava de dois meninos
pe
quenos q servisem de pagens
e ia estava niso, e o frade lho
tirou da cabesa dizendolhe q
para q
queria mais gastos.
Veja Vm q politico he o fra
de para tomarem seos conselhos
tambem fora obra sua q
aqui
não estivera este frade fora
do seo comvento. mto mais ha
q dizer ira em outro ca
pitolo porq he
materia q
requere ir em outro apar
tados. eu sinto mto dizer,
isto porq não paresera a
Vm
bem q estando eu em
hua caza de portas adentro
conte as faltas della, porem eu não digo mal do sor Mendo fojos,
digo
mal do mao governo de quem o governa, pelo zelo q tenho de q
não censurem a este sor a cozinha
nunca tem forma de carvão
q estão os negros chamando e o corrieiro o da a quem quer: e so
a Vm e ao sor
duarte Ribeiro disera eu e contara estas couzas
a quem estou tam obrigado, e porq não paresese mal a Vmces
o contalas
o hia dilatando, e bem conheso q pella parte de Vm
e do senhor duarte Ribeiro
estou seguro de que se saiba
q eu faço este avizo, e
com tudo isto o Receava fa
zer, o mais q tenho q dizer
ia q comesei
ira no correo
quem como ia dise.
A esta hora me emvi
ou dom domingos pinheiro
aqui hua carta de Vm que
me livrou do
cuidado com q
ia disse a Vm ficava de me
não escrever: domingo esta
sangrado e me mandou dizer
o desculpase
para com Vm
de lhe não escrever: Vm da
minha parte beijara a mão
ao sor duarte Ribeiro pella
mce q me faz das cartas q
me diz a do duque sera mto
boa e q venha com encare
simento, e ia q falamos
em o duque me alembrou
q pode ser q lhe de alguas notiçias da
comunicasão q pode suceder
tenha em esa corte Frco de Mendonça
q ca esta em caramanchel aonde
ficou qdo Vm se foi; e o porq digo isto he porq
recolheo e tem em caza
aquele portuges q se chama thomas da costa. com quem Vm falou em
caza de dom frco
de la puebla, este tal he de Cluos , e he mto da
parcialidade do Padre Antonio Vaz da companhia q la prenderão
e foi com elle daqui a ingalaterra, e Anto Vas era mto do Mendon
ca, e o thomas da Costa mto de Antonio Vas.
e agora este tal thomas
da costa foi os tempos atras
a lisboa, e o quizerão la pren
der por traidor dizendo que
acompanhava daqui
ao Pe
Antonio a inglaterra, e ou
tras couzas de q eu tenho al
guas notiçias, e se as ave
riguar farei avizo a Vmces
e tambem ao duque por fazer
em isto serviso ao noso Prin
çipe. e porq estas materias
são de tanta importançia co
mo
Vm sabe não as comoni
que com ninguem, nem a
dom Sebastião de Miranda
fale em thomas da costa nada
sobre thomas da costa porq||porque
he seo amigo; e tambem
me parese q Vm me escre
va em nome mudado da
qui por diante e seia o
nome Amador dias da
Costa e
seia pelo Correo
e não por outra via, q eu as irei buscar ao correo pesoalmente
e com isto me pode escrever seguramente
e falar mais largamente
sobre os negoçios q lhe pareser, e me quizer perguntar e saber:
escuzado era fazer a Vm estas
advertençias porq sabe o que
ha de fazer, porem mais vem quatro olhos q dois. o demais
guardo para o Correo q
vem: ao sor duarte Ribeiro não es
crevo porq fazendo a Vm
he
o mesmo.
Ca prenderão estes dias
muitos Judeos. e prende
rão pela inquisisão ao
Aguazil Agostinho da
Silva e a sua mulher
quem tal pensava.
Não posso mais a ds
q gde a Vm Madrid em
4 de Abril
de 680
Amo e servidor de Vm q s m B
Mel Borges da Silva