Meu Sor Rdo Pe
Comissario Manoel da Costa
Denuncîo ao tribal do sto offo por ordem de comfessor Franco
An-
tunes Frra Pintor nal, e mor na Rua das taypas da çide do Portto da
frga de N Sra da Vitoria, de Guiomar Prra mer meretris natural
da
cide de Lxa fa de João Pinto Pra já defunto criado q foi do fi-
dalgo
do Bomjardim, e de sua mer Mna Carva a Lisboana por al-
cunha, Lavadra e mora defronte do Adro de sto Andre frga de sto Ilde-
ffonço extramuros
desta cide, e ella dta denunçiada mora por bayxo
dos selleiros do pão ao
calvario novo defronte da qta das virtudes frga
de sto Ildeffonço; por
prezumpção de ter pacto com o demonio, e por vir
tude de obrar couzas, com q fizesse
comtinuar em corresponderemna
os homens, com qm trata, e tratou illicitamte, e q
outros a procu-
rasem, e pareçesse a todos fermoza, e lhe quizessem bem, e dispendesem
mto com ella.
O q a esta prezumpção me persuadio
foy, q falando eu com
a denunçiada por tempo de Dous mezes, por algũas vezes tive com
ella
algũas dissenssõins, e sem embo de por cauza dellas não querer
falar com a
denunciada, poucos dias se passavão, q eu como violen-
tado não fosse falarlhe,
procurandoa, e dandolhe dinhro mtas vezes
com largueza, e não deixava eu de fazer
reflexão admiran-
dome asim sobre o alvoroço com q a pcurava. como sobre o gastar
tanto com ella, qdo com outras similhantes mers mto menos dispen
dia não
passando de 240 rs, e 480 rs
E andando asim
perplexo, receando q ella me tivesse
feito algua couza, busquei meyos pa me retirar
della, e não me foi
possivel, the que me vali de N Sra da Nativide da fonte da Arca,
fazendolhe hua novena com premessa de hũa esmolla, pedindo-
lhe me acudisse, e fizesse esqueçerme de tal mer, e no ulto
dia da Novena emcontrando Anta Correa mer soltra, vezinha
q foi da denunciada, e hoje mora na viella do ferrás dta frega
de N Sra da Vitoria, e por ser grande
amiga da denunciada,
lhe reprezentei em segredo o sentimto com que andava;
e ella
e ella me respondeo, q em hũa das occazioins, em q eu estava differente
com a denunciada, lhe disera esta, q ja tinha feito as pazes comigo,
e q ella
denunciada fazia aquillo zonbando em chegando a meixer
os paos, q ella dta Anta
Correa sabia; e q em outra occazião lhe disse-
ra a denunciada: «Anta eu hey de
amarrar o Franco Antunes»; o que
ella dta Anta Correa não duvidava fizesse a
denunciada, por ser
de mto mâ alma plo q lhe tinha vto fazer alguas vezes,
e lhe tinha
dto a mesma denunciada, q he tudo o seguinte.
1 Que uzava dar pão abocanhado della denunciada aos homẽns
q entendia
dispenderião mto com ella, na ocazião, em q hião a sua
caza convidandoos pa
comer, ditas primro no pão, e qdo o comião
palavras diabolicas.
2 Que tambem costumava lançar no comer agua, vinho, tres
cabellos de cada hũa
das tres partes do corpo mto miudamte picados,
e raspa, q tirava das unhas dos
pes, e com palavras diabolicas
dava tudo pa os homẽns não pararem sem a procurarem, e dis
penderem mto com ella, e a estimarem, por lhe pareser mto fer
moza, e andarem à
obeda della denunciada, e q tudo qto souvessem
lhe contassem.
3 Que ella denunciada lhe disera, q tinha hũa mão de toupeira
pa fazer
q os homẽns a procurassem, e q pa Snr isso havia de passar
com ella tres portas da
cide, e nellas dizer certas palavras, mas
q inda se não tinha exposto a fazello.
4 Que costumava pór hũa tripeça com os pes pa sima e
nelles punha
tres pedaços de vella de certa medida, q tinha, e acezas
a punha aos pes da
cama, e descalçandosse, e rezando ao que
parecia, andava a paciar com mta pressa sem falar
com nyn
guem, por tempo da reza de hum rozario, e dezia ella denun-
çiada a ella dta
Anta Correa q aquillo era a reza das almas.
5 Que
dissera ella denunciada em hũa ocazião a ella dta Anta
Correa, e em outra a felicia
de Mello mer soltra, e vezinha
da denunçiada, q pa ver se os homens lhe
querião bem uzava de
lançar húm vintem em hua tigela de agua. que
6 Que costumava comprar húm pucarinho novo de prado, em
xofar, vinagre, e pimenta,
dizendo antes de ajustar o preço certas
palabras, e vindo pa caza punha tudo no Lume
dentro do pucaro,
e com grande ansia começava a abanar, e a dizer palavras dia
bolicas,
chamando pellos demonios, e prohibia a ella dta Anta Correa, e a Mel Coelho q
a denunciada tem consigo a titulo de sobrin
ho, q não falassem em o nome de Jesus
emqto se não abrazasse com
fogo, o q dentro do pucaro estava, e q ao
dipois o punha debaixo da cama
com o fundo pa sima.
7 E
q tudo isto fazia entre as onze, e meyo dia, âs Ave Marias,
e das onze pa a meya
noute, q sam tres vezes no dia; e q tudo isto
via tambem fazer, e sabia o dto Mel coelho declarado no no 6o,
q he fo de franco coelho cirg cirurgião, e asistente nas ptes do
Brazil, o qual andou amigado com a denunçiada algũns
annos,
e sera o dto rapas de ide 13 pa 14 ans, e susposto a denunciada
o
tenha com titulo de sobro, não tem com ella rezão algũa de pa-
rentesco.
8 E q ella dta Anta Correa tinha por certo conseguir a denunciada
com estas couzas, o seu pretensso effeito; porq falando com ella
denunçiada o Presbitero
Dos da Rocha Pintor, e mor na travessa
do pastelleiro de sto Eloy, q he da
dta frga de N Sra da vitoria,
este despendia no prencipio mto pouco
com ella, e q dipois que
a denunciada lhe fizera o referido logo se alargara com ella
no
dispendio dandolhe mtas couzas de valor, e q inda hoje esta
va dispendendo
mto.
9 E q em outra occazião se gabara ella denunçiada
a ella dta
Anta Correa, q estando fazendo o q fica dto no N
6o a João da
fonca homen de nego desta cide, e mor â ponte nova
frga da
sê, antes q ella acabasse a estava elle ja procurando â porta.
e estando
eu em hum Do, ou dia sto de preceito do mes de 7bro
4a fe passada com
a denunciada â sua janella pella pte de dentro,
passara o dto joão da fonca
pa a dta qta das virtudes a falar
com o Dor juis dos orphãos, q neste
tempo nella asiste, e por
eu saber q a denunciada falava com elle, reparei em que
elle
elle não fes cazo da janella, nem pa ella olhou, e dizendo eu
isto â denunciada
me respondeo ella, q sim andava o dto
joão da fonca a monte por certas rezois,
q entre sy tiveram,
mas q se ella denunciada quizesse logo o faria vir ao Rego
brando com hũa cera, e q o ponto estava em ella dar ordem
a porse nisso; e despois deste
dito quiquei com ella mto asustado
pela suspeita com q della andava.
. E q tambem em outra occazião se gabara a denunciada a
ella
dta Anta Correa, q falando com Jozeph Ribro caixro de Mel
Antunes Lage mercador e mor aos arcos de sam Dos frga
da sê desta cide lhe
fizera por vezes o q se declara no N 6o
âs onze horas da noute, occazião em
q elle estava dormindo
na cama, e acordara mto ansiado, e apertado do coração, e que
não podia parar sem a vir procurar, e ver a denunçiada
a qual dissera isto mesmo o dto
jozeph Ribro, e q ella lhe de
via ter feito algũa couza: porem q ella denunçiada
dis
forçara a resposta dizendo: não te fis nada.
11 E q em
outra occazião disera ella denunçiada a ella dta
Anta Correa, q se lhe não desse
de estar mal com Manoel
frz soldado do Regimto desta cide por rezois q
tiverão, porq
ella denunciada lhe emsinaria a fazer cazo com que
o dto Mel
frz ficasse seu amo, e a procuraçe, o q ella dta Anta
Correa não quis
ademetir etc.
E como me obrigace o comfessor, Dou a
Vmce esta pte; Vmce obra
ra o q for justo. etc V Sa Ds N Sr me gde a Vmce mtos a Porto
15
de 8bro de 1717 a
Servo e cdo De Vmce
Franco Antunes Frra