PSCR0038
1576. Cópia de carta de Manuel Leitão, ex-guarda do Santo Ofício, para Álvaro Mendes
Author(s)
Manuel Leitão
Addressee(s)
Álvaro Mendes
Summary
O autor agradece as ajudas prestadas durante o seu cativeiro, dá noticias do que com ele se passa e faz algumas recomendações sobre outros conhecidos.
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Snor
Noso snor de a vm tanta
vida
e saude e descanso como deseja
amen.
ha hora q noso sor me
fez merce de o v a
primeira vez ainda
q nunqua o tinha
visto conheci logo en
sua pa sua grande bondade e
vdade e crea q com iso atee
o psente não sinto nada minha prissão
ẽ
cõparação do q antes a sintia e por assi
ser
descobri a vm
meus segredos e alheos
q
ẽportão tanto como vm sabe e noso
sor lhe pague coãtas merces me tem feitas
por
q eu nam sam bastante
pa isso senão
cõ o encomendar a noso
sor como sẽpre faco e
numqua serei
emgrato se noso sor daqui me tirar
algũa ora
pa o servir como seu cativo este por
tador
me disse q lhe mandase dizer o
q qua
me mandou e tambem o
q lhe deu a elle que
he o seginte. a
primeira vez me troxe duas camissas
novas e seis tostois hos quaes por heu
saber suas
ncessidades q sam grandes lhos dei.
it per ou
tra vez me deu hum queijo.
it per outra me troxe
ũa
pouca de pimenta e cravo. it
per
outra vez hũa pescada sequa. o q diz
q
vm lhe
deu pera elle he o seginte.
it per hũa vez hum
cruzado e por duas
vezes cada hũa hum tostão
per outra coatro vinteis por outra vez seis
vin
teis pa duas pescadas hũa me deu como
digo
outra pa elle isto tudo como digo he o
q diz q
vm lhe deu he se isto nam bastar veja
vm o que soma tudo en
dro e mandemo dizer he
mandarlhei hum
assignado ẽ como o receby de vm
e facame merce dizer aos sores amigos
q me não
mandem
nada atee q me não mãdem
dizer se ha algũa cousa
desa pobreza que
ficou onde sabem e q então
mandarei
pedir o q ouver mister
porq elles não me
estam em nenhũa
obriguacão senão por
suas bondades he vtude ho
queren fazer he
coando não ouver nada cõ trinta
rs
q me dão
me mãterei como lhe
qua fiz ainda q seja como
o trabalho q noso
snor sabe e en poder de quem
mto pouco lhe lembra isso se não aperearme
cada
vez mais como dira o portador. he q me
respondão
aos dous q lhe mãdei tantos
cerrados derradeiros
e disto folgarei vir logo
a reposta de vm. qua nam ha novas que lhe
mande mais
q este velhaco magarefe
de bezera foi os
dias passados chamado a
mesa pa reconhecer hum
homẽ ho que elle
chama o ãoRiquinho
q prenderão pouco ha
q veo de costaninopla e
q ha de fazer com
elle grande dano nesta
terra. he tambem
loguo como vm de qua for escreveo
mtas cousas
a mesa
q aqui passou antes
q o prendesem
e outras
mtas embrulhadas
q tem feitas de
q
agora não dou conta
porq não sei se se
enfadar a
vm com isso outro dia o farei se
me der
lca he tambem murmura qua
de
vm que lhe prometeo hum vistido e
q nam lho mando q como
daqui sair
q lhe ha de fazer hum ferro mas
vm lhe
dee hũa figua he não aja medo delle nẽ
veja nem vaa a sua casa nem de
nimgem
nem tenha com elle nhũa comversacão
porq he hum mao bargante bebado
este conselho tome de mim como de grãde
amiguo
porq elle ficara como quẽ he.
peco a
vm
q por este portador me mãode
hum piqueno de pano
pa mandar qua
fazer a estas presas hum
par de tocadores
pa a cabeca porq sam
mto mal desposto
dellaa e leveme em cõta
tanto atrevimto
porq a ncessidade ho causa he o tempo
da prissão
tam conprido he mais presos
necessitados não tem outro officio senão
pedir.
aos sres companheiros se lhe parecer
me faram
beijar as mãos por min he
mandeme dizer se sabe como esta meu
primo
luis Aires he nam lhe falle em min.
pecolhe me leve ẽ conta
tãotos enfadamtos
noso
sor o tenha da sua mão sempre he
o livre de
trabalhos he todos suas cousas.
seu cativo
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