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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1276

[1600]. Carta de Álvaro Vaz para Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa.

Autor(es)

Álvaro Vaz      

Destinatário(s)

Miguel de Castro                        

Resumo

O autor dirige-se ao Arcebispo de Lisboa, dando-lhe conta das injustiças que dizia ter sofrido perante a Inquisição, pedindo intervenção na restituição da sua honra e bom nome.
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Ao Sõr Arcebispo de Lisboa E meu Sõr Ilustrissimo Snor

Dee nosso Snor a Vossa S espirito de verdadeiro e sancto pastor ao qual officio convẽ não espedacar, mas apascentar, dar vida, cöservar defender, e por a vida com o verdadeiro pastor Xpõ meu sor, per impedir tantos peccados mortaĩs de testimunhos falsos quantos se cometẽ ca dia nas casas da Inquisisão de Portugal ho qual tanto se alegra o in-ferno ,(como a fe nos ensina) e tanto festejão os Inquisidores (como a ex-periencia fes conhecer) q foi de scerta sciencia q servẽ as Inquisisões de Portugal de escolas pa ensinar judaismos, o heresias aquelles q não sabendo mais q ser christãos, erão mais catholicos q os Inquisidores, ho q testimunho e sei de certa sciencia, q oje dia trabalho de redusir almas a Xpõ meu sor, as quais elles laa nas Inquisisões perverterão, ou forão a causa de sua perversão, e perdisão. de modo q são as Inquisisões de Portugal alfandegas do inferno onde se se pagão aos demonios tributos de juramẽtos falsos, e testimunhos falsos, e tantos males se seguẽ, o qual an de pagar a Ds mui bem os Inquisidores, não ficando isentos de culpa hos q pelos Inquisidores indusidos, ou movidos de ameças ou per tormẽto, cometẽ as tais culpas, q isto sei de certa sciencia, q o anno q injustamẽte como Anas, Caiphas, e Pilates, injusta e falsamẽte derão cõtra mim sentẽça, matarão tres pesoas tormẽtos, foão mel Thomas escrevẽte de Evora, frco d oliveira de Villa viçosa, e outra pesoa de Serpa. E quãtos quantos testimunhos falsos forão queimados. Ds vee, e affirmo q sofre mais os hereges de Gineva, e Rochela do q lhe agrada a Inquisisão de Portugal. E ha VS pode escusar desculpa na morte de Xpõ nosso sor, os q podera excusar os Inquisidores da Inquisisão, e quer saber VS quanto q ameaçando me, e fasendome diser testimunhos falsos disião q assistia naquella mesa da Inquisisão o spirito s no q sei de certa sciencia q blasfemavão, porq o spirito sancto não pode assistir a falsidades, de modo q delles mesmos, per altos juisos de Ds, e pa perdissão sua, estao escondida a diabolica invenção q procedem. Eu lhe escrivi quatro vezes retratandome dos testimunhos falsos q ameacos de morte desestrada me fiserão diser, obedecendo ao preceito de meus cõfessores. VS pode ver a carta q a elles escrevo esta, e pesso q as mostre a mesa da consciencia, e aos snres guovernadores, e os desembargadores do passo e todos os doctores Theologos de Portugal e obrigo a todos per preceito de charidade christã mandem, e fação restituir, e restaurar a honra de Ds causarẽ tantos males a seu sacerdote; e escandalisarẽ os Catholicos cuidando aver caido sacerdote culpas hereticas e alem disto pa q outros per meu exẽplo não caiõ en culpas ou heresias, q falsamte me imposerão; e obrigo aos Inquisidores sob pena de maldição de Ds q me restituão toda a honra, e danos q causarão. Alegrese VmS q teve seu Bispado cõfessor e sacerdote q ainda q não tam dignamẽte, todavia legitimamẽte fasia seu officio no q a elle tocava, sempre tive intenção de celebrar, e cõsegrar, na missa, sempre tive intẽcão de absolver nas cõfisões, tanto q acõtesia per escrupulo repetir duas veses a forma d' absolvição, e assi seria eu absoluto a hora da morte polo cõfessor como tive sempre intenção de absolver e assi nos mais sacramẽtos q ministrei, e recebi pelo q pesso a VS e ainda obrigo mande publicar isto as terras de seu Bispado pa honra de Ds a a qual deve prevalecer mais q o credito dos inquisidores, e não os tema VS q isto he obrigação de direito natural, q tẽ força cõtra tudo ho positivo e digo mais q envejando o demonio as confissões invalidas, q pela pregação do Evangelho da na terceira dominga da quaresma, me vinhão a mão, e sabendo como Eu ẽcaminhava as almas, misit in cor eorum, ut traderer ego: vierãome cõfissões de dous annos; de anno; de sete, e de desoito, hũas per vergonha de culpas, outras per ignorancia de cõfessores, isto quis o demonio me pedir, mas Ds tirando de males, bens da a aprender diversas linguas pa q tendo Eu todo o mundo per aposento em diversas linguoas sirva a Ds q en hũa per ameassos dos Inquisidores ho offendi faça VS merce escrever e ẽcomendar ao prior da igreja de S Pedro de Torres Vedras q mande cõprir as dividas, e obrigações q lhe pesso pa ho qual mãdo dar algũ dinheiro. E esta fara VS merce mandar ao Sor Arcebispo de Evora pa q elle seu Arcebispado mande faser e publicar a mesma restauração q os Inquisidores são obrigados a faser, publicarẽ como injustamente fui preso, e cõdenado como ser de certa sciencia q forão tãtos de Evora, e outras partes. do q fiqua claro q todos os males seguintes de hũa falsidade forão injustamẽte causados, e faça VS merce mandar dar ordem q o meu patrimonio seja restitudo, per q não deve cousa algũa a Elrei, e quero q seja per ẽtretanto dado, e q o q se a Molher de Duarte pinto, e filha do Ldo Jorge Nunes de torres vedras não ouvera de deixar o sor Dom Luis de Portugal de ver e ajudar os filhos do doctor Lopo Vaz q lhe afirmo q forão sempre e são mais christãos q elle, e q he elle obrigado a pagar cõsciencia cento e setenta mil rs q a sra condessa devia a meu pai, e isto de dinheiro ẽprestado, ho qual he obrigado o sor Dom Luis a pagar a Diogo d oliveira meu cunhado e os theologos q outra cousa sentirẽ, não sentẽ bem na cõsciencia. O padre frei João de Portugal q ouvera elle mais de crer a experiencia de toda a vida do Doctor Lopo Vaz e seus filhos, q as falsidades causadas per invẽção e ameaços dos Inquisidores, os quais pa remedio de sua salvação tem necesidade de restituirẽ tambem honras, vidas, bens q per meios injustos, e illicitos forão causa, q fossem diminuidos, quãtos injustamẽte ensambenitarão, quãtos queimarão testimunhos falsos, q pa diser mõte, Mestre Alvaro surgião fui condenado e queimado trinta ou quarẽta testimonhas todas falsas, e he isto certo. Cuidavão os Inquisidores de acreditar sua Inquisisão comigo e não fiserão outra cousa q publicar ao mundo minha christandade, e manifestar, e faser notorio a todas as nações as falsidades e juramẽtos falsos q nas Inquisosões de Portugal cada dia se cometẽ, de q os Inquisidores darão a Ds a estreitissima conta q ha no mundo q se ganhẽ bispados a conta de destruir minha honra? a Ds deixo a vingança. O Sor Dom Theotonio de Evora não pagou bẽ a Roma pois retorno das verdades Catholicas q de Roma recebemos, elle lhe pagou livros ou cartapassios de testimunhos falsos, e de falsidades e mentiras q os Inquisidores fiserão diser; q chegão a festejar tãtos falsos testimunhos q ẽvolvendoos velludo carmesim lhe dão o proprio lugar q a igreja Sancta e mai minha, daa e ordem aos Evangelhos de Xpõ Jesu, pa serẽ publicados. Ds vee, aguarda, e dissimula q a VS de longa vida ã seu servisso, e sua gloria. porq per modos injustos causão os Inquisidores jurarẽ huns falso cõtra os outros per isso digo assima q injustamente ẽsambe-nitão, e queimão os mui Catholicos.

Criado Alvaro Vaz Ao Sõr Arcebispo de Lisboa E meu Sõr

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