Louvado seja o santissimo
sacramento, pa todo sempre
Primita nosso snor que esta ache a Vm com aquela
saude e vida que eu lhe desejo por largos annos e noutro
estado deferente do que o deixei asim pobre como viuvo
mas nosso sor acudira como pode, Novas minhas são,
estar já deos seja louvado em goa e cheguei a goa a pascoa
pasada de seissentos e trinta e quatro annos vindo de diu, com
lisenca do capitão da fortaleza pa me vir curar a goa por ser mto
doente aonde estive em diuu sangrado vinte tres vezes
com ventozas sarjadas sacramentado e ungido quis nosso sor
darme saude seja pa o servir estando em goa tornei adoeser
aonde fui ao espital e me sangrarão quinze vezes e purgado
e outras medisinas que se fazem aos doentes dando gracas
a deos contudo em terras alhas e tendo passado mtos trabalhos
e desgostos e verme so sem ter quem me valese nẽ acudise se
não so deos e mais o padre João galvão filho do sor simão gal
vão amiguo de Vm a quem Vm e mais eu devemos mto emcomen
dar a deos asim a vida do padre João galvão como a do sor seu
pai que ainda o ha de ver diante dos seus olhos porque
he padre mto honrrado e pode mto em goa mas abasta ser
filho de quem he porque afirmo a Vm sor pai que se o pa
dre não fora não sei que ouvera ser de mim porque
tanto que cheguei a goa loguo me buscou hũ lugar de
bombardeiro, na nao nossa snora de belem que qua fiquou
que ds leve a salvamento ao Reino metendose tãobem
nisto o sor inquizidor mor de goa aonde por esta via
mo deu, o sor veador da fazenda Joze pinto pra que veio
por capitão mor na naveta aonde vim e se levar alguã
couza a responder o padre João galvão he que ma busqua e
fiqua por mim e he o que me avia pa me vir pa portu
gal Na Nao Nossa Snora de belem aonde vou que ds
leve a salvamento ao Reino, e Veja Vm com que se pagua
tudo isto que ainda que fora meu parente ou primo se podia
mais fazer que isto que me tem feito mas bem comprio
o padre sua palavrava como tinha dito a Vm que se
deos o trouxese a salvamto Vm viria o que elle fazia comiguo
deos lhe pague nesta vida mais na outra a elle ao sor seu pai
Simão galvão o que me tem feito acresentandolha a vida e os bens
por largos annos mas abasta ser filho de quem he o qual
fiqua mto bem desposto e valente deos seja louvado e nunqua
foi doente depois que veio do reino mas isto he dom de deos
que lhe tem dado e mtas orasois que pedem a nosso sor pella
sua vida e saude lha acresente pa ir remedear o sor seu
pai e ir Cazar a snora sua irmã conforme me tem dito, seu
sobrinho de Vm anto guomes prata vindo da china se
perdeo e he morto e sua molher ja Cazada ma alvres
quando ouve a guerra, em bombaca tudo se abrazou
a foguo e nimguem escapou nẽ em goa ha novas de sua
filha nẽ ama que fis todas as diligensias por isso o seu cri
ado anto friz me deu bom paguo pedindolhe comta das
duas espadas e boseta que Vm mandou pa anto guomes prata
mas abasta ser ratinho e vm com o que lhe emsinou o fes
gente nesta terra como todos me dizem aonde ja não he
barbro senão navega pa fora por estar mto riquo mas hai
mas de pagar antes que me va porque nẽ valido de hũ baza
ruquo me deu nunqua e depois de ter mtos trabalhos e en
fadamtos pasados quantos deos sabe nestas partes
que eu direi e contarei a Vm quando nos viremos me man
da Vm ainda qua queimar o sangue e he nesta con
formidade que so hũa Carta tive de vm aonde vinhã
com outra pa meu primo e me dis vm nella me mandava
duas espadas e huã viola e meo maso de Cordas e perdoe
deos quem escreveo a carta que não pos nella quem
trazia isso aonde perdi mto não me vir a mão porque ouvera
em tudo fazer mto bõs pardaos asim na viola como nas
espadas que vierão pouquas e mais nas cordas tirei hũa
carta de excomunhão e foi pubricada em mtas igrejas
nimguẽ sahio entenda, vm que não tem ventura nestas
partes delha deos nos Ceos e a nos todos porque quem
naseo pa ser pobre por mto que ande e fasa ha de selo
nesta vida mas na outra sera riquo da gloria e bem
aventurãsa pelos trabalhos e mizerias que tem pasado
nesta vida so esta Carta tive de vm a qual tenho mto
guardada pa lhe amostar quando nos viremos e mais,
a quem na escreveo, se deos quizer e for servido q asim seja
as embarquasois que vierão do reino todas tres vierão a salvamto e che
garão a goa dia de são frco que he a quatro de outubro, o tabaquo
valeo o aratel a doze e a treze e a quinze pardaos e quem o trouxe
fes milhor seu fato nelle que tudo o que veio de portugal pa qua
ate com paulo lopes tive trabalho pa me pagar as duas folhas
que vm me mandou porque as tinha vendidas quando vim de
diuu, não ha que esperar, destas partes porque tudo esta acabado
que val mais a pobreza de portugal que todo o bem da india balte
zar fra que he o que mora em belem que he da terra de vm vai
na nao belem donde eu vou e sempre deos seja louvado andou
rijo e mto valente e bem desposto e fiqua ao tempo que escrevo esta
a Vm são orasois da snora sua molher e de sua mai estimei mto estar
vm ja amiguo com ana paula deme mtos recados ao sor meu
padrinho João de brito, e ao sor Luquas canes qua nos falou o seu
moso e que se elle tomara o seu conselho que elle não viera a estas
partes e que tinha mto trosido a orelha e não lhe bastava sangue
juntamte me de mtos recados ao sor mel friz e ao sor dominguos dias
asim punheiro, como o que fas ferros de e ao sor figueredo,
de valverde e ao sor bertolameu luis e ao sor anto lourenso e ao sors
mel Jorge, e mel rodrigues e ao sor Matheus nunes, e ao sor Romão,
Jorge e em particular ao sor meu padrinho frco Lopes e ao sor
meu amiguo miguel alvres, e ao sor frco vieira e ao sor frco rebe
lo grande amiguo de Vm e ao sor gerardo glz a meu amiguo,
felipe vieira q e ao sor frco Jorge amiguo grande de Vm e ao sor
meu amiguo do meu corasão simão da costa e a sora sua molher
que sedo ds querendo nos avemos de ver e ao sor meu compadre
João roiz e a todos os de sua Caza e a minha prima Ana paula
e primo simão mendes ja que Vm são ja amiguos e so mandei a sua
carta a seu irmão que esta em masquate mto rijo e valente e
grande soldado e que ja tem grande biguode de valentão esta
carta foi escrita com duas penas porque a primeira levarão
na os ratos, então marquei outra ao outro dia, por isso quem
na ler não se espante desta falta escrevo esta por a caravela
que vai diante de avizo e aos mais que por mim perguntarẽ
lhe de mtos recados e a meu compadre frco Cardozo e ao sor pero de vera
que me esquesia a quem ds gde como eu desejo por largos annos
goa a 30 de dezenbro, de 634 annos
filho de vm que mto lhe quer
Dominguos Montro
este arreio que vem de seissentos e trinta e sinquo vão so pa o reino
duas naos a nossa nao belem que qua fiquou e a nao Capitania
que veio do Reino a naveta e o galião fiquão qua emcomendenos
a deos e a virgem do rozario nos leve a salvamto e nos livrece d enimigos
ca falei com domingos duarte eu quando lhe levei a encomenda
elle não estava em caza deixea a seu matalote que lha dese
quando viese elle deu lhe so as cartas e tomou a encomenda pa sim
elle em portugal fiquou e mora com sua Caza leveme deos a salvamto
que elle ma paguara diante de domingos duarte que vai na capita
nia este, felipe viera que diguo atras nesta que mando mtos re
cados que vm por mim lhe de he o fonileiro que mora na ribei
ra junto ao terreiro e os mesmos recados me de vm ao sor meu
amiguo ambrozio jaques que mto sedo ds querendo nos avemos de
ver a quẽ ds gde como pode e eu dezejo a 30 de dezenbro de 634 annos
filho de vm que mto lhe que ate morte
Dominguos Montro