PT | EN | ES

Main Menu


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

Facsimile Lines

1775. Carta de Dona Joana Isabel de Lencastre Forjaz para José Anastácio da Cunha, matemático e poeta.

SummaryA autora fala da sua saúde e da sua estima pelo destinatário; estranha a notícia de ele se ir casar. A Inquisição resumiu assim o conteúdo do documento: "Carta de Joana Izabel Lisboa 4 de Novembro de 1775 em que lhe chama Filosofo, e lhe escreve hum quarteto muito cheio de doutrina libertina = como aspera a virtude = defende o direito da Natureza"."
Author(s) Joana Isabel de Lencastre Forjaz
Addressee(s) José Anastácio da Cunha            
From Portugal, Lisboa
To S.l.
Context

A autora desta carta é uma discreta figura da literatura feminina do século XVIII. Foi inicialmente descoberta pelos historiadores da literatura por ter mandado o soneto em que a carta termina a José Anastácio da Cunha. Dona Joana Isabel correspondia-se com mais poetas para além de José Anastácio. Em Portugal, com Nicolau Tolentino; no Brasil, com Alvarenga Peixoto, Caldas Barbosa, Basílio da Gama e Silva Alvarenga. Organizava convívios literários em sua casa e teria uma rivalidade não totalmente confirmada com outra mulher-autora da sua época, a Marquesa de Alorna. Dona Joana Isabel protagonizou, com outras mulheres da época posterior ao terramoto de 1755, um processo de abertura em que a literatura passou a integrar o estilo de vida das aristocratas e das mulheres da alta burguesia. Bibliografia: Vanda Anastácio, «Mulheres Varonis e Interesses Domésticos. Reflexões acerca do discurso produzido pela História Literária acerca das mulheres escritoras da viragem do século XVIII para o século XIX», in Cartographies. Mélanges offerts à Maria Alzira Seixo, Lisboa, 2003, pp. 537-556.

Esta carta foi anteriormente publicada por Teófilo Braga (1898:624-625), por António Baião (1924/1953:112-113). Pequena biografia de José Anastácio da Cunha (1744-1787), preparada por Fernando Reis para a página "Ciência em Portugal" do Centro Virtual Camõeshttp://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p7.html:

Matemático e poeta, nasceu em Lisboa a 11 de maio de 1744. De ascendência humilde, o seu pai, Lourenço da Cunha, era um pintor com alguma notoriedade, que passou um curto período em Roma de forma a melhorar a sua técnica. A sua mãe, Jacinta Inês, foi criada e recebeu educação elementar. José Anastácio da Cunha foi educado em Lisboa, no Convento de Nossa Senhora das Necessidades que pertencia à Congregação do Oratório. Segundo testemunhos do próprio Anastácio da Cunha à Inquisição, os Oratorianos ensinaram-lhe Gramática, Retórica e Lógica até aos 19 anos. No que diz respeito à Física e à Matemática foi um autodidata. Em 1764 foi nomeado Tenente do Regimento de Artilharia do Porto e colocado na praça de Valença do Minho. O Regimento de Artilharia do Porto era constituído por uma maioria de oficiais estrangeiros, muitos deles protestantes, que influenciaram Anastácio da Cunha. Terá então aderido a ideais como a tolerância, o deísmo e o racionalismo, que vieram a integrar a sua produção científica e poética.

Devido à sua relação de amizade com os oficiais britânicos, aprendeu a falar inglês fluentemente o que, juntamente com os conhecimentos que tinha de outras línguas como o francês, latim, grego e italiano, lhe permitiu traduzir autores como Voltaire, Pope, Otway, Horácio, Rousseau, Holbach, Helvetius e outros. Pensa-se que foi neste período que aderiu à maçonaria, por influência dos seus amigos estrangeiros.

Em 1769 fez, a pedido do Major Simon Frazer, uma memória sobre balística, intitulada Carta Fisico-Mathematica sobre a Tehoria da Polvora em geral e a determinação do melhor comprimento das peças em particular, onde apontava erros e falta de precisão que encontrou em alguns trabalhos sobre artilharia. Em 1773 o Marquês de Pombal nomeou-o lente de Geometria na Universidade de Coimbra, na sequência da Reforma da Universidade levada a efeito em 1772. Anastácio da Cunha não encontrou ambiente propício ao desenvolvimento e aplicação das suas capacidades e após a morte de D. José I, em 1777, foi denunciado à Inquisição, preso em 1 de julho de 1778 e acusado de envolvimento com os protestantes ingleses em Valença, de ler Voltaire, Rousseau, Hobbes e outros autores perigosos e de corromper as gerações mais novas através da sua eloquência. Foi considerado culpado das acusações e excomungado, afastado do seu cargo na Universidade, dos seus títulos e viu confiscados os seus bens. Foi ainda condenado a participar num auto da fé e a ficar encerrado na Congregação do Oratório em Lisboa, após o que seria deportado para a cidade de Évora durante 4 anos. Foi ainda proibido de voltar a Valença e a Coimbra. Após dois anos nos Oratorianos a sua pena foi reduzida a residência obrigatória nos Oratorianos.

Entre 1778 e 1781 teve que se dedicar ao ensino privado para subsistir e em 1783 foi contratado pelo Intendente Pina Manique para o Colégio de S. Lucas da Casa Pia como professor de Matemática, tendo aí elaborado o programa pedagógico da Casa Pia. Enquanto esteve na Casa Pia concluiu a sua obra Princípios Mathematicos. Por volta de 1785-86 perdeu a sua posição na Casa Pia, por razões que se desconhecem. Morreu a 1 de janeiro de 1787.

O processo inquisitorial de José Anastácio da Cunha foi inicialmente estudado e parcialmente publicado por Teófilo Braga, António Baião e João Pedro Ferro: Teófilo Braga (1898) Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza. Tomo III 1700-1800. Lisboa,Typographia da Academia Real das Sciencias (pp. 611-636), António Baião (1924/1953) Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa, Vol. II, Lisboa, Seara Nova (2ª ed.) e João Pedro Ferro (1988) "O processo de José Anastácio da Cunha (1744-1787)", in Inquisição: Comunicações apresentadas ao 1.º Congresso Luso-Brasileiro sobre Inquisição, Vol. III, Lisboa, Sociedade Portuguesa de Estudos do Século XVIII, pp. 1065-1086.

Sobre a vida e obra de José Anastácio da Cunha, consulte-se a edição de Maria Luísa Malato Borralho e Cristina Alexandra de Marinho (2001) José Anastácio da Cunha: Obra literária, Vol. I, Porto, Campo das Letras.

Support quarto de folha de papel escrito nas duas faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra
Archival Reference Processo 8087
Folios 45r-v
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2009

Page 45r > 45v

[1]
Sr Joze Anastacio
[2]

A sua carta que eu sinceramte estimei quanto se pode esti-

[3]
mar não chegou a ma mão a tempo de poder responder no
[4]
mesmo correio: uma dor terrivel que me tolhia a respiração
[5]
e uma febre ardente pos em perigo a ma vida e em comfuzão
[6]
a ma familia de sorte que me não derão as cartas cenão qdo
[7]
a ma molestia começou a ceder. Mas quem não sabe que este
[8]
foi o motivo de eu deixar sem resposta as cartas em que eu me
[9]
vejo tão lizongeada, como julgaria a ma falta de agradeci-
[10]
mento? Quaze todo o Mundo julga sobre aparencias; mas
[11]
como os Filosofos se separão desta carreira eu sei certamte
[12]
que não terei cido condenada. Os seus verssos que eu tenho
[13]
lido mtas vezes achandolhe sempre uma nova beleza, bas-
[14]
tão para dar um grande merecimento ao seu Autor;
[15]
em que arebatamento éra necessario que a Alma
[16]
estivece quando se fizerão quanto sofreria o coracão!
[17]
alem disso, as imformações de um tão bom conhece-
[18]
dor como o seu Amo; e as de mil outras Pessoas que fa-
[19]
lão no seu nome com respeito, tudo concorre para

Text viewWordcloudFacsimile viewPageflow viewSentence viewSyntactic annotation