O autor escreve a Ana Vitória desculpando-se
por, com as suas ocupações, não ter escrito antes, apesar de ter tido
vontade. Dá conselhos práticos sobre conduta religiosa, bem como para
que a destinatária não se deixasse levar ou enganar pelas tentações e se
mantivesse firme na sua fé.
[1] |
J
M
J,
Minha filha em Jezus Christo este sr te assista sempre com a sua divina graça
|
---|
[2] |
e te dê mto do seu amor, pa
q fortalecida com este possas triunfar de teus
inimigos, e con
|
---|
[3] | tinuar fervoroza no serviço de
No
Sr O Correyo passado dezejei escreverte; porem
acheime
|
---|
[4] | tão anfastiado de escrever, por estar sempre neste exercicio,
q nem a minha gente escrevi.
|
---|
[5] | Agora este
Correyo sim tenho dés Cartas a q responder; porem
começo na vespera pa ter tem
|
---|
[6] | po, e a tua
he a segda
pa
q não fiques sem resposta. Vejo o
q me dizes a Respto
de confessares,
|
---|
[7] | e não duvido q tenhas com isso
trabalho; porq todos fogem de gente escrupuloza, e
nisso
|
---|
[8] | todos tem a
paxorra, q eu tenho pa
as sofrer; porem he precizo teres com isso paciencia, e
|
---|
[9] | hireste remediando como
puderes, ja q
No
Sr assim o dispôs. Vai fazendo sempre a tua
|
---|
[10] |
oração, e não te deixes vencer da preguiça; ainda q
nella não estejas com todo o socego, e
|
---|
[11] |
recolhimto
q dezejas; porq como
faças da tua parte a diligencia, tens feito a tua obriga-
|
---|
[12] | ção, o mais
corre por conta de N
Sr Tãobem deves fazer
diliga por não faltar a via sa-
|
---|
[13] | cra, ainda q não tenhas tempo
pa a vizitar toda. Em
qto ás Comunhoens, podes fazelas
qdo-
|
---|
[14] | não tiveres embaraço na consciencia, e
o interior se inclinar pa ellas, ainda
q seja fora
|
---|
[15] | dos dias, em
q o costumas fazer, ou mais das vezes,
q te está determinado; e isto o podes
|
---|
[16] |
fazer sem escrupulo, qdo não tiveres peccado certo.
No q toca ás tentaçoens he certo que
|
---|
[17] | ellas são
mais diabolicas do q naturaes, e assim deves
desprezalas, e não fazer cazo dellas.
|
---|
[18] | Conserva sempre a
vonte firme em não querer peccar, e do
q sentes não faças cazo, mas
|
---|
[19] | foge logo
pa
No
Sr afirma bem nelle a tua
vonte Não desfaleças nem desmayes nunca
|
---|
[20] | ainda
q te sintas tibia, e froxa;
porq
N
Sr permite isso mtas
vezes pa
q a creatura ande
|
---|
[21] | humilhada, e desconfiada de si,
e das suas obras, q he o q
mto aproveita. O ponto está
|
---|
[22] | em não faltar aos
exercicios costumados, e fazelos sempre seja como for, ainda
q sempre de
|
---|
[23] | ves fazer
diliga pelos fazer bem, e com atenção a
ds Foge de todo o peccado, e abomina tu-
|
---|
[24] | do o q pode ser offensa de
N
Sr mas não te prendas com escrupulos. Está firme
nesta ver
|
---|
[25] | dade, q ninguem pecca sem
querer, e q não ha culpa aonde não ha aceitação da
vontade.
|
---|
[26] | As tentaçoens qto quer
q sejão grdes e
impertinentes, se a creatura se mortifica com ellas,
|
---|
[27] | dezeja não as ter, he
certo q não consente, e
q não tem nellas peccado. Conformate em
|
---|
[28] | tudo com
a vonte de N
Sr
e offerecelhe tudo o
q padeces, e sofre com paciencia os teus
tra
|
---|
[29] | balhos, e mortificaçoens, q tudo
he pa bem teu. Dezejo q
estejas melhor da tua fraqueza,
|
---|
[30] | e desfalecimto
pa
q possas continuar com valor no serviço de
No
Sr Recomendame a tua
|
---|
[31] | Irmam, e a
Quiteria, e a R. V. huma grde
saude Eu fico bom, graças a
ds Encomendame
|
---|
[32] | a este sr
q te gde como
mto dezejo.
|
---|
[33] |
Faro
nove de Junho.
|
---|
[34] |
Fr
Nicoláo.
|
---|