PSCR0049
[1577]. Carta de autora não identificada para [Manuel Reinel], licenciado em Medicina.
Author(s)
Anónima42
Addressee(s)
Anónimo261
Summary
A autora dá notícias suas e da sua família, relembrando ao destinatário pormenores de um envolvimento amoroso entre ambos.
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Sor
Escrever lhe eu tera vosa m por cosa nova eu asi vi cosa nova
ẽ o portador que
dixe ser filho de vm que não sei se
vos brade o como veo não tendo vm
houtro como
ele diz ele me veo a ver e a todas as mais parentas folga
ra
em vos criar por o conhecer bem mas da maneira que
ele vem não poso eu crer que e filho e por iso
não foi de mim mais agazalhado nem de ninguem e
cõ medo de o não ser e seremos ẽguanadas porque
o costumão a fazer nesta tera de que vem muitos ma
les e as peçoas
homradas fogem de todo aquylo
que lhe pode vyr trabalho. Sor ele dara novas
a vm do que vyo e sabe mto por ẽtero e das vydas
de todos, da minha
lhe quero eu dar eu sor ca
sei tres vezes como sabera aguora vay em houto anos
que estou viuva em casa de meu filho ele me tem
muito homradamẽte e mto
homrado e virtuoso
e mto bem eista e asi he sua molher não tem filhos
nem numqua pario vai ẽ quinze anos e suas irmãs
tem a mais velha quoatro
filhos e a mais moça
fylho e fylha e a mais velha tem hũ filho mto frer
mouso e as quatro filhas a minha soubrinha
filha de minha irmã a mais moça tem
duas
fylhas e hũ fylho esta viuva de poqo tornou a
mĩ digo sor que eu
casei meu filho cõ minha
soubrinha e a tomei sem nada e fui eu melhor
tya que meu tyo que ds perdõe que por
eu ser pobre não me quys por nora e
tomou a
filha de minha pryma por o dinheiro e não por
mais frermosa nem
por mais dresquerta nem por
mais molher mas ds como digo ds lho perdoe
que me tyrou o meu e a quẽ eu tanto quis que
quãdo sounho cõ vosa m me não
peza na
da e cõ as soras suas irmãs e cõ as janelas da sua
casa de baxo.
que aguora quãdo sounho todo o paçado e agoura
sounho
algũas horas não sou triste que ja que não vejo
vosasmerçes folgo de hos ver
por sounhos que mtas vezes
me pareçe que os vejo e falo como se foçe asy nisto
faz o pacado amor e me lebra ẽtre houtras cosas as
cartas que me vm
escrevia hymda as tenho e me le
bra hũa noite de ẽ hemdoenças adando as
igregas
dexo isto e torno a meu queixume que tenho de
meu tio que eu
fora hyda casada e vos sor tambem
mes o dinhero que eu agora tenho se ẽtam o
tevera
eu fora mulher de vosa m hymda que era metade
castilhano e
castilhano gente tam baxa por deradeyro
todos avemos de morer asi os riquos
como os pobres como
as da ma casta como as da boa e não fiqua senão ds
e a virgem maria nosa sora
Senhor
A
sora sua irma do meu nome aja esta por sua e que soube
como estava mto
fermosa e riqua que folgey mto mas que seu es
pouzo esta mto velho e carreguado
de trabalhos e sem mai
nem irmã e tem a irmã e soubrinha ẽ casa e muitas
dema
das e pouquo lembramça dela nem falar nela por so
nhos e tem hũ filho
que adoura esta pobre digo po
bre que hey doo dela e que ds se lembre dela
e de suas
irmas asi as viuvas como a moça e a morta, ds a perdoe
a todas
minhas ẽcomẽdas e que lhes beijo as mãos mtos
cẽtos de vezes a sora sua sougra
de vm e as soras suas
filhas e que sobede do trabalho de hũ seu neto ds
sabe quãto me pezou e não ay mais que dar graças a
ds e a nosa sora e roguar lhe que de vida aos vivos
pa servir a ds. a sora sougra de vosa m que
bem
sentira quãto desgosto senteremos cõ as novas d ese
filho lhe ser
tãmto deshoubidiente e ser feito de sua
vontade pa dar nojato a todos ele não
fiquou riquo
nem nos o poderemos ajudar ẽ nada eu a trỹta e
quatro anos
que o não vi nem sei como e feito
ele bem me podia ver a mỹ mas eu a ele não
praza
a ds e a virgem maria que o veja eu cõ vida e desquaço
e asi o
rougo eu a ds e que ho tire ds de tanta
poubresa e que não mora a fome e que se
lẽbre ds
de sua moçedade. sor por o meu melhor firmado
saberias todas as
novas de minha casa e da gente que
tinha toda moreo no tempo da peste que foram
hou
to cãtivos braquos e houto negros todos os mais cria
dos ẽ casa e hũ
não siti tãnto como siti ese que
me dixe ser filho se ho e que era morto
não
sei se deixou algũa cosa nem sei de que moreho
não folgara que
vivera pa por ele saber de todas
vosas merçe e sobre todas saber da sora sua
sougra
como esta se esta mto velha eu lhe quero mto que
a ningem devo eu
mais que a ela que me deo hũa
albarada de prata quãdo casei e houtrem não
de
vo nada nem valia de meo real e folgo mto
vm lhe de hũ abraco por mĩ
mto apertado
e lhe beije as mãos muitas vezes por todas e que
lhe dou
novas que estou mto bem ds seja louvado
e cõ mta saude e mto bem desposta e cõ
todos os me
os detes mto alvos e lypos e hando mto dereta
como dira o
filho de vm que bem me vio e
dira se e verdade e vem labrado de seda e
cosedo
e velado que asi me achou cõ minha soubrinha a qual
he muito honrada e vertuosa e minha amigua e me quer mto e mais
que filha obidemte
e asi meu filho he mto honrado e ami
go a ds sam me mto obidentes ẽ tudo que
me fazem ser
moça isto digo que diga vm a sora sua sougra porque
sei que
a de folgar mto asi como eu folgo cõ seu bem
não tenho que mais lhe diga nem a
vosa merçe nem as
soras suas irmãs porque não sei falar por carta o que
quiria isto abasta e pa vm seu beijo pois o fez ds tam
desquerto e letrado ds
lhe de muita vida cõ saude pa
servir a ds e a nosa sora e a todas as soras e
filhos e
netos amẽ lembrame isto que se seu sougro que
ds perdoe deixara
a meu pai o que deixou a quem
o deixou que ele o tevera agoura e não lhe
fizera
o mal que feze por lhe pedirem o seu eles sam agora
hos mais
riquos e validos cõ o alheho isto basta
pa vosa merçe.
Sor
hũa liaor medez que foi minha vyzynha se vosa merçe a
vir lhe diga que hos seis mil rs que eu tinha seos que
seu conhado
mos tomou por gestiça por hũa percuraçam
que tinha sua e que lhos não pude
tirar pa lhos mãdar
se ela hi não estever o for morta o escreva ysto a
sua
filha por me fazer merçe e asi as novas de todos
feyta de noite as doze oras cõ muitas lagrimas de
vomtade e saudades
grades que cheguã ao coraçam
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