Contexto | Joaquim de Mira e sua mulher, Maria Joaquina, lavradores
da Herdade dos Andrades (termo de Évora) eram alvo de ameaças contínuas
por parte de um desconhecido. Temendo pelas suas vidas e fazenda,
Joaquim mandou a mulher dar parte do sucedido ao major comandante das
Ordenanças de Évora e mostrar-lhe as cartas que tinham recebido. Para
que não levantassem suspeitas, foram aconselhados a fingir que iam
cumprir as exigências das cartas. Foi assim que, graças ao apoio das
ordenanças, se armou uma emboscada no local combinado para a entrega do
resgate na noite de 15 para 16 de fevereiro de 1824. Surgiu pela estrada
certo "maltês" de bordão às costas, abeirando-se daquele local ermo.
Tratava-se de Hermenegildo José, homem casado de trinta anos e natural
de Montemor-o-Novo. Eram cerca das oito horas da manhã e a sua presença
era particularmente suspeita. Surpreendido por alguém que o estava a
espreitar ‒ um dos militares das ordenanças ‒ procurou voltar para trás,
o que acentuava as suspeitas de ser aquele o presumível autor das
ameaças dirigidas ao casal de lavradores a quem se exigia dinheiro, pão
e carne. Tentou justificar a sua presença naquele local dizendo vir de
Viana e estar a caminho da sua casa, em S. Romão. Chegava, entretanto, o
mensageiro dos lavradores ‒ um moço montado numa jumenta "com um alforje
cheio de pão cozido, uma pouca de carne, e uma moeda de ouro" ‒ além da
carta do lavrador (CARDS0014), em resposta às duas de extorsão que tinha
recebido. Este criado logo reconheceu aquele homem, pois havia sido
criado dos mesmos lavradores. Hermenegildo não conseguiu ludibriar os
militares, que o detiveram, sendo então constituído réu num
processo-crime. Descrito como possuindo "estatura ordinária, cabelo,
barba e olhos castanhos", foi remetido da cidade de Elvas à ordem do
Intendente Geral da Polícia. Pelas informações reunidas, ficava-se a
saber que não só era homem muito mal conceituado, como já tinha
inclusivamente roubado aquele mesmo lavrador. Uma vez detido na cadeia,
confrontou-se a sua letra com a caligrafia das duas cartas (CARDS0012 e
CARDS0013), confirmando-se serem os caracteres bem semelhantes. Com a
constatação de ter sido criado daquele lavrador, tornara-se também óbvio
ter sido por esta via que se inteirara dos bens que o casal
possuía. |